domingo, 2 de novembro de 2025

Todos os Finados

    No Evangelho Segundo São Lucas, a poucos dias de Sua Paixão e respondendo em Jerusalém a uma provocação dos saduceus, que não acreditavam na Ressurreição dos Mortos, Jesus disse: "Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos. Porque para Ele todos vivem." Lc 20,38

    Com efeito, a alma é imortal, como Ele deixou claro no Evangelho Segundo São Mateus: "Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes temei Àquele que pode precipitar a alma e o corpo na geena." Mt 10,28

    Disse-o ainda mais claro, no Evangelho Segundo São João, quando acusou os líderes religiosos de terem o Demônio como pai (cf. Jo 8,44), e não Abraão, exatamente por não ouvirem a Deus: "Quem é de Deus ouve as palavras de Deus, e se vós não as ouvis é porque não sois de Deus. Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se alguém guardar Minha Palavra, jamais verá a morte." Jo 8,47.51

    Mesmo os mortos, portanto, se n'Ele crerem, lá onde estiverem viverão, pois Ele é a própria Ressurreição, o poder de dar a Vida, como afirmou instantes antes de ressuscitar São Lázaro: "Eu sou a Ressurreição e a Vida. Aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá." Jo 11,25

    A perspectiva da Vida Eterna já se vislumbrava no Antigo Testamento, como vemos no Livro de Sabedoria: "Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará. Aparentemente estão mortos, aos olhos dos insensatos. Seu desenlace é julgado como uma desgraça e sua morte como uma destruição, quando na Verdade estão na Paz! Se aos olhos dos homens suportaram uma correção, a esperança deles era portadora de imortalidade, e por terem sofrido um pouco, receberão grandes bens, porque Deus, que os provou, os achou dignos de Si. Ele provou-os como ouro na fornalha, e acolheu-os como holocausto." Sb 3,1-6

    Pois a verdadeira morte é a eterna condenação, o que não ocorrerá àqueles que obedecem a Deus, como Jesus assegurou nas revelações do Livro de Apocalipse de São João. Note-se, aí Ele também pede que os fiéis não deixem de ouvir suas dioceses, pelas quais o Divino Paráclito lhes fala (cf. Ap 2,7.17.29;3,6.13.22): "Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: 'O vencedor não sofrerá dano algum da segunda morte.'" Ap 2,11

    De fato, a segunda morte, ou a geena de que Nosso Senhor fala, é o definitivo inferno, onde se fará sentir a ausência de Deus, o que se depreende das últimas revelações ao Amado Discípulo: "O mar restituiu os mortos que nele estavam. Do mesmo modo, a morte e a subterrânea morada. Cada um foi julgado segundo suas obras. A morte e a subterrânea morada foram lançadas no lago de fogo. A segunda morte é esta: o lago de fogo." Ap 20,13-14

    E como a Carta de São Paulo aos Romanos ensina sobre a Salvação, a morte entrou no mundo pelo pecado, mas através de Jesus veio infinitamente mais: a Divina Graça: "Por isso, como por um só homem entrou no mundo o pecado, e pelo pecado a morte, assim a morte passou a todo gênero humano, porque todos pecaram... Mas o dom da Graça não se compara com o pecado. Pois se a falta de um só causou a morte de todos, com muito mais razão o dom de Deus e o benefício da Graça, obtida por um só Homem, Jesus Cristo, foram copiosamente concedidos a todos. Assim como o pecado reinou para a morte, a Graça agora reina para a Vida Eterna, por meio de Jesus Cristo, Nosso Senhor." Rm 5,12.15.21

    Ele pregava: "... as aspirações da carne levam à morte, e as aspirações do espírito levam à Vida e à Paz. Pois se viverdes segundo a carne, morrereis. Mas se pelo espírito matardes o carnal procedimento, então vivereis." Rm 8,6.13

    Doutrinariamente, o rito de rezar pelos mortos já havia sido inspirado pelo Divino Paráclito antes da Vinda de Cristo. O Segundo Livro de Macabeus, por flagrante incoerência rejeitado por alguns, registra esta piedosa obra de Judas Macabeus, líder de Israel em religiosa, política e militar revolta que resultou na expulsão final dos dominadores gregos: "Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados. Belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na Ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, por eles teria sido vão e supérfluo rezar." 2 Mc 12,44-45