Dentre tantos outros aperfeiçoamentos de vida espiritual, promovidos por Jesus, quantidade e qualidade de ensinamentos que só podem ser explicadas por Sua divina natureza, reconhece-se que Ele também aprimorou a fé por trazê-la para o campo de concretas atitudes. Para começar, mesmo sendo Deus, Ele viveu, anunciou o amor e morreu como mero ser humano. O Evangelho segundo São João testemunhou logo nas primeiras linhas: "E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós." Jo 1,14
E ainda mais forte demonstração foi aceitar a pura e crua realidade, não importa quão difícil, como desígnio de Deus, que se viu em Sua Paixão. Ele rezou no Horto das Oliveiras, na noite em que seria preso, no texto do Evangelho segundo São Mateus: "Meu Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice! Todavia, não se faça o que Eu quero, mas sim o que Tu queres." Mt 26,39b
Não Lhe bastava, pois, que seguíssemos os Mandamentos! Pedia mesmo que nos entregássemos à evangélica pobreza e tudo confiássemos à Divina Providência, como recomendou ao rico jovem que se julgava Santo: "Disse-Lhe o jovem: 'Tenho observado tudo isto desde minha infância. Que ainda me falta?' Respondeu Jesus: 'Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me!'" Mt 19,20-21
Noutra passagem, em mais uma magistral síntese do que representavam as Escrituras até então, Ele anunciou a chamada 'lei de ouro', e falava apenas de atitudes, não de fé: "Tudo que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a Lei e os Profetas." Mt 7,12
Na parábola do bom samaritano, quando atribuiu um bom exemplo justamente ao povo mais menosprezado pelos judeus, Jesus questionou um doutor da Lei, levando-o a deduzir a excelência da compaixão, e recomendou sua prática, como se lê no Evangelho segundo São Lucas: "'Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?' Respondeu o doutor: 'Aquele que usou de Misericórdia para com ele.' Então Jesus lhe disse: 'Vai, e faze o mesmo.'" Lc 10,36-37
Ressaltando o autêntico amor ao próximo, na parábola do Juízo Final Ele concede a Salvação apenas aos que usam de concretos gestos. Vale notar, mesmo falando sobre tão importante tema, que Ele nada disse sobre fé ou prática religiosa: "Vinde, benditos de Meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e Me deste de comer; tive sede e Me deste de beber; era peregrino e Me acolheste; nu e Me vestiste; enfermo e Me visitaste; estava na prisão e viestes a Mim. Em Verdade, Eu declaro-vos: todas vezes que fizestes isso a um destes Meus pequeninos irmãos, foi a Mim mesmo que o fizestes.’" Mt 25,34-36
Ele não Se referia só aos pobres. Há muitos à nossa volta, carentes de quem lhes sirva. É a lição do episódio do Lava-Pés: "Logo, se Eu, Vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós também deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz, assim vós também façais. Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob condição de praticá-las.'" Jo 13,14-15.17
E ao tratar de leis religiosas, na leitura do Evangelho segundo São Marcos, Ele coloca o cuidar do ser humano em primeiro lugar, como quando defendeu os Apóstolos que debulhavam espigas de trigo pelo caminho, por não terem o que comer: "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado..." Mc 2,27
A Santa Missa, portanto, não é um encontro de 'puritanos', mas de arrependidos pecadores que em mútuo acolhimento revivem e atualizam o Sacrifício Pascal. Ele disse: "Os sãos não precisam de médico, mas os enfermos. Não vim chamar os justos, mas os pecadores." Mc 2,17