quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Jesus desmistificou

 

    Dentre tantos outros aperfeiçoamentos de vida espiritual promovidos por Jesus, quantidade e qualidade de ensinamentos que só podem ser explicadas por Sua divina natureza, reconhece-se que Ele também aprimorou a por trazê-la para o campo de concretas atitudes. Para começar, Ele mesmo, sendo Deus, viveu, anunciou o amor e morreu como mero ser humano. São João Evangelista testemunhou: "E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós." Jo 1,14

    E ainda mais forte demonstração foi aceitar a pura e crua realidade, não importa quão difícil, como desígnio de Deus, como se viu em Sua Paixão: "Meu Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice! Todavia, não se faça o que Eu quero, mas sim o que Tu queres." Mt 26,39b

    Não Lhe bastava, pois, que seguíssemos os Mandamentos! Pedia mesmo que nos entregássemos à evangélica pobreza e tudo confiássemos à Divina Providência, como recomendou ao rico jovem: "Disse-Lhe o jovem: 'Tenho observado tudo isto desde minha infância. Que ainda me falta?' Respondeu Jesus: 'Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me!'" Mt 19,20-21

    Noutra passagem, em mais uma magistral síntese do que representam as Escrituras, Ele anunciou a chamada 'lei de ouro', e falava apenas de atitudes, não de fé: "Tudo que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a Lei e os Profetas." Mt 7,12

    Na parábola do bom samaritano, quando atribuiu um bom exemplo justamente ao povo mais menosprezado pelos judeus, Jesus questionou um doutor da Lei, levando-o a deduzir a excelência da compaixão, e recomendou sua prática: "'Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?' Respondeu o doutor: 'Aquele que usou de Misericórdia para com ele.' Então Jesus lhe disse: 'Vai, e faze o mesmo.'" Lc 10,36-37

    Ressaltando o autêntico amor ao próximo, na parábola do Juízo Final Ele concede a Salvação apenas aos que usam de concretos gestos. Vale notar, mesmo falando sobre tão importante tema, que Ele nada disse sobre fé ou prática religiosa: "Vinde, benditos de Meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e deste-Me de comer; tive sede e deste-Me de beber; era peregrino e acolheste-Me; nu e vestiste-Me; enfermo e visitaste-Me; estava na prisão e viestes a Mim. Em Verdade, Eu declaro-vos: todas vezes que fizestes isso a um destes Meus pequeninos irmãos, foi a Mim mesmo que o fizestes.’" Mt 25,34-36

    Ele não Se referia só aos pobres. Há muitos à nossa volta, carentes de quem lhes sirva: "Logo, se Eu, Vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós também deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz, assim vós também façais. Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob condição de praticá-las.'" Jo 13,14-15.17

    E ao tratar de leis religiosas, Ele coloca o cuidar do ser humano em primeiro lugar, como quando defendeu os Apóstolos que debulhavam espigas de trigo pelo caminho, por não terem o que comer: "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado..." Mc 2,27

    Santa Missa, portanto, não é um encontro de 'puritanos', mas de arrependidos pecadores que em mútuo acolhimento revivem e atualizam o Sacrifício Pascal. Ele disse: "Os sãos não precisam de médico, mas os enfermos. Não vim chamar os justos, mas os pecadores." Mc 2,17