segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Um Retrato de São Paulo

 

    Foi na carta escrita à igreja de Filipos, que fica na Grécia, mas à época sob domínio dos macedônios, a primeira cidade da Europa a receber o Evangelho, que São Paulo nos deixou um mais conciso retrato de sua santidade. Além de exalar avançada espiritualidade, ele menciona o que é considerado o primeiro registro da hierarquia da Igreja, já se consolidando nas primeiras décadas. Ele diz na saudação inicial: "Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos santos em Jesus Cristo, que se acham em Filipos, com epíscopos e diáconos..." Fl l,1

    E vai citar o pretório, que era o tribunal romano, deixando claro que estava preso: "Em todo pretório e por toda parte tornou-se conhecido que é por causa de Cristo que estou preso." Fl 1,13

    Apesar disso, nosso Santo não está triste, ou sequer contrariado. É a carta em que mais fala em alegria! Mais vezes até que na Segunda aos Coríntios, que é bem mais extensa! Ainda nos primeiros versículos, ele inscreve: "Em todas minhas orações, sempre rezo com alegria por todos vós, recordando-me da cooperação que haveis dado na difusão do Evangelho, desde o primeiro dia até agora." Fl 1,4-5

    No último capítulo, ele torna a exortar e insiste: "Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!" Fl 4,4

    E, estejamos certos, ele não falava de alegria por vão entusiasmo, pois já estamos diante de um Paulo preparado, que profetiza o próprio martírio: "Meu ardente desejo e minha esperança são que em nada serei confundido, mas que, hoje como sempre, Cristo será glorificado em meu corpo (disto tenho toda certeza), quer por minha vida quer por minha morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro." Fl 1,20-21

    Então pede pela união entre os discípulos e assim pela Unidade da Igreja, pois sabia que esse era o mais brilhante sinal que os seguidores do Nazareno poderiam dar: "Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela  do Evangelho..." Fl 1,27

    Na verdade, ele tão somente lembrava uma condição que Jesus havia firmado: "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." Jo 13,35

    E, em tocante modéstia, o Último Apóstolo implorava por essa unidade em nome da Comunhão que com eles tinha, como uma consolação pelas tribulações que passava: "Se me é possível, pois, alguma consolação em Cristo, algum caridoso estímulo, alguma comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, completai minha alegria permanecendo unidos. Tende um mesmo amor, uma só alma e os mesmos pensamentos. Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos." Fl 2,1-3

    Alertava-os, ademais, do Caminho da Cruz: "... porque a vós é dado não somente crer em Cristo, mas ainda sofrer por Ele." Fl 1,29

    Por ter perfeitamente entendido, e na própria carne, a mensagem de Jesus, ele aproveita para pregar humildade e obediência. Eis uma parte do 'Hino Cristológico', que ele recita: "Sendo Ele de divina condição, não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-Se aos homens. E sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-Se ainda mais, tornando-Se obediente até a morte, e morte de Cruz." Fl 2,6-8