A Bíblia frequentemente cita a Glória de Deus, e por vezes difunde o significado dessa expressão nas mais diversas figuras. Mas é possível unificar estas referências, pois remetem ao esplendor do próprio Deus, como o Livro do Profeta Ezequiel descreveu: "Acima dessa abóbada, havia uma espécie de trono, semelhante a uma pedra de safira, e bem no alto dessa espécie de trono, uma Humana Silhueta. Vi que Ela possuía um vermelho fulgor, como se houvesse sido banhada no fogo, desde o que parecia ser Sua cintura, para cima, enquanto que, para baixo, vi algo como fogo que esparzia clarões por todos lados. Como o arco-íris que aparece nas nuvens em dias de chuva, assim era o resplendor que a envolvia. Era esta visão a imagem da Glória do Senhor." Ez 1,26-28
Falando em imagem, ao invés do próprio Deus, tal deflexão é justificada por nossa impossibilidade de contemplar, durante a vida terrena, a face de Deus na plenitude de Sua Glória. É o que atesta o Livro do Êxodo: "Moisés disse: 'Mostrai-me Vossa Glória.' E Deus respondeu: 'Vou fazer passar diante de ti todo Meu esplendor, e pronunciarei diante de ti o Nome de Javé. Dou Minha Graça a quem quero, e uso de Misericórdia com quem Me apraz. Mas,' ajuntou o Senhor, 'não poderás ver Minha face, pois o homem não poderia ver-Me e continuar a viver. Eis um lugar perto de Mim,' disse o Senhor; 'tu estarás sobre a rocha. Quando Minha Glória passar, pô-te-ei na fenda da rocha e cobri-te-ei com a mão até que Eu tenha passado. Depois retirarei a mão e vê-Me-ás por detrás. Quanto à Minha face, ela não pode ser vista.'" Êx 33,18-23
No Evangelho segundo São João, após multiplicar pães e peixes e oferecer o Pão do Céu, Jesus confirmou estas visões como deflexões, dizendo de Si mesmo: "Não que alguém tenha visto o Pai, pois só Aquele que vem de Deus, Esse é que viu o Pai." Jo 6,46
No entanto, pela manifestação do Salvador e a retirada do véu, sabemos que Cristo é a própria Glória de Deus, como escreveram os seguidores da tradição de São Paulo apontaram na Carta aos Hebreus: "Esplendor de Sua Glória e imagem de Seu ser..." Hb 1,3
Também o disse São João Apóstolo, ao referir-se à Encarnação do Cristo: "E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. E vimos Sua Glória, a Glória que o Filho Único recebe de Seu Pai, cheio de Graça e de Verdade." Jo 1,14
Os milagres que Jesus realizou, por conseguinte, igualmente eram inefáveis sinais de Sua Onipotência, como quando transformou água em vinho nas Bodas de Caná. E aí se tem um segundo tipo de deflexão do que é a Glória de Deus: "Este foi o primeiro milagre de Jesus. Realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou Sua Glória, e Seus discípulos creram n'Ele." Jo 2,11
Sua Transfiguração, enfim, foi o momento em que o esplendor dos Céus refulgiu, ainda que não tenha sido em sua totalidade. É da narrativa do Evangelho segundo São Lucas: "E eis que falavam com Ele dois personagens: eram Moisés e Elias, que apareceram envoltos em Glória, e falavam da morte d'Ele, que havia de cumprir-se em Jerusalém." Lc 9,30-32
E por Sua vitoriosa passagem para a Vida Eterna, Jesus rezou ao Pai ainda no cenáculo, na noite em que seria preso: "Pois agora, Pai, glorifica-Me junto a Ti, concedendo-Me a Glória que tive junto a Ti antes que o mundo fosse criado." Jo 17,5
Contudo, em terceiro tipo de deflexão, não é difícil perceber que toda Criação é pura manifestação da Glória de Deus. Os serafins vistos por Isaías rezavam: "Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos. Sua Glória enche toda terra!" Is 6,3b
Já Nosso Salvador veementemente criticou os que buscam as mundanas glórias, apontando-as como intransponíveis empecilhos à fé. Foi perante os líderes religiosos em Jerusalém, que O acusavam de transgredir a Lei por haver curado um paralítico em dia de sábado: "Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a Glória que é só de Deus?" Jo 5,44