Para começar, o Evangelho Segundo São João afirma que nem a vida pública de Nosso Salvador foi registrada por completo: "Jesus ainda fez muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que deveriam escrever-se." Jo 21,25
Nosso Senhor mesmo advertiu-o aos Apóstolos. Contudo, garantiu que Seus ensinamentos seriam arrematados por Seu Espírito, e que Ele guiaria a Santa Igreja Católica em cada nova situação, como se viu pelos séculos: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas agora não podeis suportá-las. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão." Jo 16,12-13
O Santo Espírito, portanto, veio em Nome de Jesus, e assim agiu para que nada do que Ele tinha ensinado aos Apóstolos fosse esquecido, como Nosso Senhor garantiu: "Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em Meu Nome, ensiná-vos-á todas coisas e recordá-vos-á tudo que vos tenho dito." Jo 14,26
Por isso, Ele deu toda autoridade a Sua Igreja, que é guiada por Seu Espírito, à qual ninguém pode negar-se a ouvir, sob pena de excomunhão. Está no Evangelho Segundo São Mateus: "Se nem mesmo à Igreja ele der ouvidos, seja tratado como se fosse um pagão ou um cobrador de impostos." Mt 18,17
E referindo-Se às sete dioceses de Ásia de então, Ele vai repetir por sete vezes no Livro de Apocalipse de São João: "Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas." Ap 2,7.11.17.29;3,6.13.22
Ora, é evidente que Deus não Se encerra nas Sagradas Escrituras; Ele é infinitamente maior que elas. As próprias Escrituras afirmam essa limitação. Sobre o Antigo Testamento, por exemplo, lemos na Carta aos Hebreus, dos seguidores da tradição de São Paulo: "A Lei, por ser apenas a sombra dos futuros bens, não sua real expressão..." Hb 10,1
O próprio Jesus apontava tal dificuldade desde o início de Sua Missão, quando disse a Nicodemos, um sábio fariseu de então: "Disse Jesus: 'És doutor em Israel e ignoras estas coisas? Se vos tenho falado das terrenas coisas e não Me credes, como crereis se vos falar das celestiais?'" Jo 3,10.12
E nas primeiras décadas do cristianismo, a Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, a quem o Apóstolo dos Gentios primeiro escreveu, claramente menciona que o Evangelho foi ouvido, e não lido: "No mais, irmãos, de nós ouvistes a maneira como deveis proceder para agradar a Deus, e já o fazeis. Rogamo-vos, pois, e exortamo-vos no Senhor Jesus a que progridais sempre mais. Pois conheceis as instruções que vos demos da parte do Senhor Jesus." 1 Ts 4,1-2
Na inexistência do Evangelho escrito em grego, a língua universal de então, quando havia apenas o de São Mateus, em aramaico e pouco difundido, a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios semelhantemente ressaltou a importância da Palavra falada, pois sabia que seus sermões não haviam sido fruto de humanos artifícios: "Minha palavra e minha pregação longe estavam da persuasiva eloquência da Sabedoria. Eram, antes, uma demonstração do Espírito e do divino poder, para que vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus." 1 Cor 2,4-5
Aliás, a Carta de São Paulo aos Romanos não falou em leitura espiritual, quando explicou como se chega à fé: "Logo, a fé provém da pregação, e a pregação exerce-se em razão da Palavra de Cristo." Rm 10,17
