Que a Cruz não nos seja nem mesmo um contrassenso! Se o mundo crucificou Jesus, foi porque ou não sabia o que fazia ou não era digno d'Ele. E se Ele aceitou a crucificação foi para demonstrar, além de Sua Paixão pela Salvação da humanidade, o divino projeto da Ressurreição da Carne. Pois noutro aparente paradoxo, foi na Cruz que o Homem Jesus foi elevado à Glória. Com efeito, ao ser procurado por judeus de outras nações, Ele percebeu que Sua Missão estava chegando ao fim, e disse: "É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado." Jo 12,23b
E por ela redimiu a humanidade: "E quando Eu for levantado da terra, a Mim atrairei todos homens." Jo 12,32
Essa Universal Redenção, por Seu Sangue na Cruz, é a razão de ser de Sua Encarnação. São Paulo prega: "Porque aprouve a Deus fazer n'Ele habitar toda plenitude, e por Seu intermédio reconciliar Consigo todas criaturas. Por intermédio d'Aquele que, ao preço do próprio Sangue na Cruz, restabeleceu a Paz a tudo quanto existe na Terra e nos Céus." Cl 1,19-20
Para muitos, é notório, essa forma de viver, buscando a comunhão com os mais fracos e cotidianamente aceitando as mortificações, ao invés de Sabedoria vai na contramão do atual e corriqueiro hedonismo. Para o Último Apóstolo, porém, muito mais que um discurso, tal devoção é a própria fonte de resistência, e por isso garantia da Salvação: "A linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma divina força." 1 Cor 1,18
Pois como ele argumenta, foi pelo Sacrifício da Cruz, a rigor da milenar e divina tradição judaica, que nossos pecados foram perdoados: "Sepultados com Ele no Batismo, com Ele também ressuscitastes por vossa fé no poder de Deus, que O ressuscitou dos mortos. Mortos pelos vossos pecados e pela incircuncisão de vossa carne, novamente chamou-vos à Vida em companhia d'Ele. É Ele que nos perdoou todos pecados, cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na Cruz." Cl 2,12-14
Portanto, esta é uma radical decisão pela Unção do Divino Espírito Santo, como o Apóstolo dos Gentios diz: "Pois aqueles que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito." Gl 5,24-25
Porque é na mortificação da carne, ainda segundo ele, que rendemos a Jesus o verdadeiro culto: "Meu ardente desejo e minha esperança são que em nada serei confundido, mas que, hoje como sempre, Cristo será glorificado em meu corpo, tenho toda certeza disto, quer pela minha vida quer pela minha morte." Fl 1,20
De fato, só unidos a Cristo, morto na Cruz, podemos glorificar a Deus. Nosso Salvador disse: "Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: tampouco podeis dar fruto se não permanecerdes em Mim. Nisto é glorificado Meu Pai, quando produzis muitos frutos tornando-vos Meus discípulos." Jo 15,4.8
São João Evangelista conclui: "Nisto temos conhecido o amor: Jesus deu Sua Vida por nós. Nós também devemos dar a nossa vida pelos nossos irmãos." Jo 3,16