quarta-feira, 17 de setembro de 2025

A Linguagem de Deus

    Falando a seus seguidores sobre a plena Unção de Jesus, São João Batista disse no Evangelho Segundo São João: "Com efeito, Aquele que Deus enviou fala a linguagem de Deus, porque Ele concede o Espírito sem medidas." Jo 3,34

    O próprio Jesus atestaria esse diferencial, quando questionou os judeus: "Por que não compreendeis Minha linguagem?" Jo 8,43a

    Realmente estava diante de um terrível obstáculo: "... Minha Palavra não penetra em vós." Jo 8,37b

    De fato, essa é a mais grave consequência dos erros do livre arbítrio, e Nosso Senhor não podia deixar de apontar: "Quem é de Deus ouve as Palavras de Deus, e se vós não as ouvis é porque não sois de Deus." Jo 8,47

    E disse aos religiosos de Seu tempo, aludindo a Sua própria Ressurreição, no Evangelho Segundo São Lucas: "Se não ouvirem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer ainda que algum dos mortos ressuscite." Lc 16,31

    Ora, Jesus bem sabia que Sua Paixão seria uma frustração para os próprios Apóstolos, como disse no Evangelho Segundo São Mateus, citando o Livro do Profeta Zacarias: "Esta noite serei para todos vós uma ocasião de queda. Porque está escrito: 'Ferirei o Pastor, e as ovelhas do rebanho serão dispersadas (Zc 13,7).' Mas depois de Minha Ressurreição, Eu precedê-vos-ei em Galileia." Mt 26,31-32

    E mesmo após ressuscitar, Ele vai dizer a dois de Seus discípulos, que partiram para Emaús no Domingo da Ressurreição apesar dos testemunhos que ouviram: "Jesus disse-lhes: “Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo que os Profetas anunciaram!" Lc 24,25

    A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios abordou essa importante questão: "Ora, nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer as Graças que Deus nos prodigalizou e que pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela sabedoria humana, mas pelo Espírito, que exprime coisas espirituais em termos espirituais." 1 Cor 2,12-13

    E também reclamou deles: "A vós, irmãos, não pude falar-vos como a homens espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo. Eu dei-vos leite a beber, e não sólido alimento porque ainda não podíeis suportar. Nem ainda agora o podeis, porque ainda sois carnais. Com efeito, enquanto houver entre vós ciúmes e contendas, não será porque sois carnais e procedeis de um totalmente humano modo?" 1 Cor 3,1-3

    O mesmo aconteceu com os seguidores de sua tradição, que escreveram na Carta aos Hebreus: "Teríamos muita coisa a dizer sobre isso, e coisas bem difíceis de explicar dada vossa lentidão em compreender... A julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Contudo, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da Palavra de Deus. E tornastes-vos tais que precisais de leite em vez de sólido alimento! Ora, quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma profunda doutrina, porque é ainda criança. Mas o sólido alimento é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal." Hb 5,11-14

    Assim como a Carta de São Paulo aos Romanos reclamou: "Vou servir-me de corrente linguagem entre os homens, por causa da fraqueza de vossa carne." Rm 6,19a

    Entretanto, citando o Livro do Profeta Isaías, ele dizia que não se tratava de palavreado, sutileza ou falsos cuidados, mas de interpretação da mais pura realidade: "Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o Evangelho. E isso sem recorrer à habilidade da arte da oratória, para que não se desvirtue a Cruz de Cristo. A linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma divina força. Está escrito: 'Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes (Is 29,14).'" 1 Cor 1,17-19

    Por isso, a Carta de São Paulo a São Tito vai recomendar, além da Sã Doutrina, total comedimento de palavras: "Igualmente exorta os moços a serem morigerados, e em tudo mostra-te modelo de bom comportamento: pela integridade na Doutrina, gravidade, sã e irrepreensível linguagem, para que o adversário seja confundido, não tendo de nós mal algum a dizer." Tt 2,6-8