sábado, 30 de novembro de 2024

Santo André Apóstolo

    O irmão de São Pedro é considerado o 'protocletos', que em grego significa 'primeiro convocado', uma referência ao chamado que recebeu de Jesus, que no Evangelho segundo São João nominalmente foi o primeiro. Religioso e sensível, já era discípulo de São João Batista quando Jesus Se apresentou para ser batizado: "No seguinte dia, lá estava João outra vez com dois de seus discípulos. E ao avistar Jesus, que ia passando, disse: 'Eis o Cordeiro de Deus.' Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. Voltando-Se Jesus, e vendo que O seguiam, perguntou-lhes: 'Que procurais?' Disseram-Lhe: 'Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?' 'Vinde e vede', respondeu-lhes Ele. Foram aonde Ele morava e com Ele ficaram aquele dia. Era cerca da décima hora. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que O tinham seguido." Jo 1,35-40

    Entre os Apóstolos, também é o primeiro a afirmar e a anunciar Jesus como o Messias, além de convocar um novo discípulo, o próprio São Pedro. São João Evangelista, em sequência, também narrou esse episódio: "Logo foi ele, então, à procura de seu irmão e disse-lhe: 'Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo).' Levou-o a Jesus, e Jesus, nele fixando o olhar, disse: 'Tu és Simão, filho de João. Serás chamado Cefas (que quer dizer pedra)!'" Jo 1,35-42

    Por essa frase, vemos que Jesus demonstra conhecer São Pedro e também seu pai, portanto, também pai de Santo André, sinal de Sua Onisciência. Assim, desde o primeiro encontro, segundo São João, Jesus já teria dado o novo nome de São Pedro. E como São Filipe, Santo André e São Pedro eram de Betsaida, nome que significa 'casa da pesca', lugar próximo a Cafarnaum e ao Mar da Galileia: "Filipe era natural de Betsaida, cidade de André e Pedro." Jo 1,44

    Sabemos que, junto ao irmão, Santo André fazia parte de uma colônia de pescadores, mas, após Se retirar para o deserto por 40 dias, Jesus retornou e convidou-os para que pescassem almas, no texto do Evangelho segundo São Mateus: "Desde então, Jesus começou a pregar: 'Fazei penitência, pois o Reino dos Céus está próximo!' Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão (chamado Pedro) e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. E disse-lhes: 'Vinde após Mim, e fá-vos-ei pescadores de homens.' Na mesma hora, abandonaram suas redes e seguiram-nO." Mt 4,17-20

    Santo André era solteiro e morava com São Pedro, cuja casa foi dote de casamento, pois morava com a sogra, conforme a narrativa do Evangelho segundo São Marcos: "Dirigiram-se para Cafarnaum. E já no dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e pôs-Se a ensinar. Assim que saíram da sinagoga, dirigiram-se com Tiago e João à casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama, com febre, e sem tardar falaram-Lhe a respeito dela. Aproximando-Se Ele, tomou-a pela mão e levantou-a. Imediatamente a febre deixou-a e ela pôs-se a servi-los." Mc 1,21.29-31

    Na lista dos Apóstolos, Santo André aparece em segundo lugar no Evangelho segundo São Mateus e no Evangelho segundo São Lucas, o qual vamos citar, atrás apenas do irmão, o Príncipe dos Apóstolos: "Naqueles dias, Jesus retirou-Se a uma montanha para rezar, e aí passou toda noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e escolheu Doze dentre eles, que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelota; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor." Lc 6,12-16

    E é através de Santo André que São Filipe leva um importantíssimo recado a Jesus, quando Nosso Salvador percebe que Seu Nome já havia chegado a países vizinhos, e por isso anuncia a chegada de Sua hora: "Havia alguns gregos entre os que subiram para adorar durante a festa. Estes aproximaram-se de Filipe (aquele de Betsaida da Galileia) e rogaram-lhe: 'Senhor, quiséramos ver Jesus.' Filipe foi e falou com André. Então André e Filipe disseram-no ao Senhor. Respondeu-lhes Jesus: 'É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado. Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só. Se morrer, produz muito fruto.'" Jo 12,20-24

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Jesus desmistificou

    Dentre tantos outros aperfeiçoamentos de vida espiritual, promovidos por Jesus, quantidade e qualidade de ensinamentos que só podem ser explicadas por Sua divina natureza, reconhece-se que Ele também aprimorou a por trazê-la para o campo de concretas atitudes. Para começar, mesmo sendo Deus, Ele viveu, anunciou o amor e morreu como mero ser humano. O Evangelho segundo São João testemunhou logo nas primeiras linhas: "E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós." Jo 1,14

    E ainda mais forte demonstração foi aceitar a pura e crua realidade, não importa quão difícil, como desígnio de Deus, que se viu em Sua Paixão. Ele rezou no Horto das Oliveiras, na noite em que seria preso, no texto do Evangelho segundo São Mateus: "Meu Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice! Todavia, não se faça o que Eu quero, mas sim o que Tu queres." Mt 26,39b

    Não Lhe bastava, pois, que seguíssemos os Mandamentos! Pedia mesmo que nos entregássemos à evangélica pobreza e tudo confiássemos à Divina Providência, como recomendou ao rico jovem que se julgava Santo: "Disse-Lhe o jovem: 'Tenho observado tudo isto desde minha infância. Que ainda me falta?' Respondeu Jesus: 'Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me!'" Mt 19,20-21

    Noutra passagem, em mais uma magistral síntese do que representavam as Escrituras até então, Ele anunciou a chamada 'lei de ouro', e falava apenas de atitudes, não de fé: "Tudo que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a Lei e os Profetas." Mt 7,12

    Na parábola do bom samaritano, quando atribuiu um bom exemplo justamente ao povo mais menosprezado pelos judeus, Jesus questionou um doutor da Lei, levando-o a deduzir a excelência da compaixão, e recomendou sua prática, como se lê no Evangelho segundo São Lucas: "'Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?' Respondeu o doutor: 'Aquele que usou de Misericórdia para com ele.' Então Jesus lhe disse: 'Vai, e faze o mesmo.'" Lc 10,36-37

    Ressaltando o autêntico amor ao próximo, na parábola do Juízo Final Ele concede a Salvação apenas aos que usam de concretos gestos. Vale notar, mesmo falando sobre tão importante tema, que Ele nada disse sobre fé ou prática religiosa: "Vinde, benditos de Meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e Me deste de comer; tive sede e Me deste de beber; era peregrino e Me acolheste; nu e Me vestiste; enfermo e Me visitaste; estava na prisão e viestes a Mim. Em Verdade, Eu declaro-vos: todas vezes que fizestes isso a um destes Meus pequeninos irmãos, foi a Mim mesmo que o fizestes.’" Mt 25,34-36

    Ele não Se referia só aos pobres. Há muitos à nossa volta, carentes de quem lhes sirva. É a lição do episódio do Lava-Pés: "Logo, se Eu, Vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós também deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz, assim vós também façais. Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob condição de praticá-las.'" Jo 13,14-15.17

    E ao tratar de leis religiosas, na leitura do Evangelho segundo São Marcos, Ele coloca o cuidar do ser humano em primeiro lugar, como quando defendeu os Apóstolos que debulhavam espigas de trigo pelo caminho, por não terem o que comer: "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado..." Mc 2,27

    Santa Missa, portanto, não é um encontro de 'puritanos', mas de arrependidos pecadores que em mútuo acolhimento revivem e atualizam o Sacrifício Pascal. Ele disse: "Os sãos não precisam de médico, mas os enfermos. Não vim chamar os justos, mas os pecadores." Mc 2,17

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

O Reino dos Céus

    Para concluir o espetáculo de crueldades da Paixão de Cristo, o governador da Judeia fez-Lhe mais essa humilhação, registrada no Evangelho segundo São João: "Pilatos redigiu uma inscrição e fixou-a por cima da Cruz. Nela estava escrito: 'Jesus de Nazaré, Rei dos judeus.'" Jo 19,19

    Mas até Seu último suspiro houve gente humilde à Sua volta. No Evangelho segundo São Lucas, Dimas, mesmo sendo um ladrão e passando por momentos de grande dor e agonia, soube perceber a injustiça que estava acontecendo. Tocado pelo Espírito Santo e arrependido, ele reconheceu em Jesus o Salvador: "Jesus, lembra-Te de mim, quando tiveres entrado em Teu Reino!" Lc 23,42

    Após Sua Ressurreição, e pouco antes de definitivamente subir aos Céus, os Apóstolos quiseram saber quando Ele iria instaurar materialmente Seu Reino. Mas Ele ainda teria que enviar o Espírito Santo, para que nós assumíssemos a construção Igreja. É leitura do primeiro capítulo do Livro dos Atos dos Apóstolos: "'Senhor, é porventura agora que ides instaurar o Reino de Israel?' Respondeu-lhes Ele: 'Não vos pertence saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou em Seu poder, mas descerá sobre vós o Espírito Santo e dá-vos-á força. E sereis Minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judeia e Samaria e até os confins do mundo.'" At 1,6-8

    Os Sacerdotes de Cristo, portanto, já estão reinando, pelo serviço de Salvação que nos prestam. É o que o Livro do Apocalipse de São João atesta: "Quando recebeu o livro, os quatro seres e os vinte e quatro anciãos (tanto uns como os outros, anjos, e das mais elevadas hierarquias) prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um uma cítara e taças de ouro cheias de perfume, que são as orações dos Santos. Cantavam um novo cântico, dizendo: 'Tu és digno de receber o Livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, a preço de Teu Sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça. E deles fizeste para Nosso Deus um Reino de Sacerdotes, que reinam sobre a Terra.'" Ap 5,8-10

    São Paulo e São Barnabé, no entanto, bem sabiam que, a exemplo da Cruz, alcançar o Reino da Justiça é uma dolorosa tarefa, dada a oposição do mundo e do Maligno que cotidianamente afrontam a Igreja. Mas, pelo Sacramento da Crisma, eles recomendavam a todos fiéis que resistissem, pregando nas cidades por onde passavam: "Confirmavam as almas dos discípulos e exortavam-nos a perseverar na , dizendo que é necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações." At 14,22

    Na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, portanto, o Último Apóstolo pede-nos um testemunho de vida, que damos através de nossas atitudes: "Porque o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em atos." 1 Cor 4,20

    E afirma que após o Juízo Final, quando da Criação do novo Céu e da nova Terra, o Reino de Jesus será repassado a Deus Pai: "Depois, virá o fim, quando entregar o Reino a Deus, ao Pai, depois de haver destruído todo principado, toda potestade e toda dominação. E quando tudo Lhe estiver sujeito, então o próprio Filho também renderá homenagem Àquele que Lhe sujeitou todas coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos." 1 Cor 15,24.28

    Das revelações que teve de Nosso Senhor, o Amado Discípulo assim descreveu o trono e o Reino de Deus, que se perfaz na Santíssima Trindade: "Imediatamente fui arrebatado em espírito. No Céu havia um trono, e nesse trono estava sentado um Ser. E Quem estava sentado Se assemelhava, pelo aspecto, a uma pedra de jaspe e de sardônica. Um halo, semelhante à esmeralda, nimbava o trono. Ao redor havia vinte e quatro tronos, e neles, sentados, vinte e quatro anciãos vestidos de brancas vestes e com coroas de ouro na cabeça. Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões. Diante do trono ardiam sete tochas de fogo, que são os sete espíritos de Deus. Depois disso, vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de brancas vestes e palmas na mão... o Cordeiro... é Senhor dos senhores e Rei dos reis." Ap 4,2-5;7,9;17,14a

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

O Testemunho do Pai e do Espírito Santo

    Jesus avisou aos Apóstolos da manifestação do Espírito Santo, que no Pentecostes completaria a Revelação da Santíssima Trindade, como mais uma oportunidade para n'Ele crer. Ele disse-lhes após a Santa Ceia, como o Evangelho segundo São João registrou: "Entretanto, digo-vos a Verdade: a vós convém que Eu vá! Porque se Eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se Eu for, enviá-Lo-ei. Ele convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em Mim." Jo 16,7.9

    É mesmo específica a missão do Santo Espírito. Ele disse instantes antes: "Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de Mim. Ele glorificá-Me-á, porque receberá do que é Meu e anunciá-vos-á." Jo 15,26;16,14

    Ela não é fácil nem imediata, porém, porque Ele age em função da Igreja. E ela também sofre perseguição, ainda segundo Ele nessa mesma noite: "Se Me amais, guardareis Meus Mandamentos. E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,15-17

    A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, de fato, atestaria Sua imprescindível inspiração para que se proclame a divindade de Jesus: "... ninguém pode dizer: 'Jesus é o Senhor', senão sob a ação do Espírito Santo." 1 Cor 12,3b

    Por isso, a Primeira Carta de São João é tão incisiva: "Quem é mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse é o anticristo, que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega o Filho, não tem o Pai." 1 Jo 2,22-23a

    E como Jesus previu, São João Apóstolo indica outro sinal do Santo Paráclito: "Quem conhece a Deus, ouve-nos. Quem não é de Deus, não nos ouve. É nisto que conhecemos o Espírito da Verdade e o espírito do erro." 1 Jo 4,6b

    Diz que o maior dom de Deus Pai, a Vida Eterna, está em Cristo: "E o testemunho é este: Deus deu-nos a Vida Eterna, e esta Vida está em Seu Filho. Quem possui o Filho, possui a Vida. Quem não tem o Filho de Deus, não tem a Vida." 1 Jo 5,11-12

    E ainda conforme o Amado Discípulo, Jesus é o principal testemunho de Deus Pai: "Aquele que crê no Filho de Deus, em si tem o testemunho de Deus. Aquele que não crê em Deus, d'Ele faz um mentiroso, porque não crê no testemunho que Ele deu em favor de Seu Filho." 1 Jo 5,10

    Suas obras, portanto, eram testemunhos de Deus Pai, e por elas, invocando a Comunhão da Santíssima Trindade, Nosso Salvador humildemente pediu aos Apóstolos na última noite entre eles: "As palavras que vos digo, não as digo de Mim mesmo, mas o Pai, que permanece em Mim, é que realiza Suas próprias obras. Crede-Me: estou no Pai e o Pai em Mim. Crede-o ao menos por causa destas obras." Jo 14,10b-11

    E diante da dúvida dos religiosos de Jerusalém, Ele havia-lhes explicado enquanto passeava no Templo: "Os judeus rodearam-nO e perguntaram-Lhe: 'Até quando nos deixarás na incerteza? Se Tu és o Cristo, dize-nos claramente.' Jesus respondeu-lhes: 'Eu digo-o, mas não credes. As obras que faço em Nome de Meu Pai, dão testemunho de Mim. Entretanto, não credes, porque não sois de Minhas ovelhas.'" Jo 10,24-26

    Ele até tentou argumentar com os judeus durante Sua segunda festa em Jerusalém, invocando o testemunho de São João Batista, Seus milagres e as próprias Escrituras: "Mas tenho maior testemunho que o de João, porque as obras que Meu Pai Me deu para executar, essas mesmas obras que faço, testemunham a Meu respeito que o Pai Me enviou. E o Pai que Me enviou, Ele mesmo deu testemunho de Mim. Vós nunca ouvistes Sua voz nem vistes Sua face... e não tendes Sua Palavra permanentemente em vós, pois não credes n'Aquele que Ele enviou. Vós perscrutais as Escrituras, nelas julgando encontrar a Vida Eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de Mim." Jo 5,36-39

terça-feira, 26 de novembro de 2024

Um Retrato de São Paulo

    Foi na Carta de São Paulo aos Filipenses, cristãos de Filipos, na Grécia, mas à época sob domínio dos macedônios, a primeira cidade da Europa a receber o Evangelho, que o Último Apóstolo nos deixou um mais conciso retrato de sua santidade. Além de exalar avançada espiritualidade, ele menciona o que é considerado o primeiro registro da hierarquia da Igreja, já se consolidando nas primeiras décadas. Diz na saudação inicial: "Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos santos em Jesus Cristo, que se acham em Filipos, com epíscopos e diáconos..." Fl l,1

    E vai citar o pretório, que era o tribunal romano, deixando claro que estava preso: "Em todo pretório e por toda parte tornou-se conhecido que é por causa de Cristo que estou preso." Fl 1,13

    Apesar disso, nosso Santo não está triste, ou sequer contrariado. É a carta em que mais fala em alegria! Mais vezes até que a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, que é bem mais extensa! Ainda nos primeiros versículos, ele inscreve: "Em todas minhas orações, sempre rezo com alegria por todos vós, recordando-me da cooperação que haveis dado na difusão do Evangelho, desde o primeiro dia até agora." Fl 1,4-5

    No último capítulo, ele torna a exortar e insiste: "Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!" Fl 4,4

    E, estejamos certos, ele não falava de alegria por vão entusiasmo, pois já estamos diante de um Paulo preparado, que profetiza o próprio martírio: "Meu ardente desejo e minha esperança são que em nada serei confundido, mas que, hoje como sempre, Cristo será glorificado em meu corpo (disto tenho toda certeza), quer por minha vida quer por minha morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro." Fl 1,20-21

    Então pede pela união entre os discípulos, e assim pela Unidade da Igreja, pois sabia que esse era o mais brilhante sinal que os seguidores do Nazareno poderiam dar: "Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela  do Evangelho..." Fl 1,27

    Na verdade, ele tão somente lembrava uma condição que Nosso Senhor mesmo havia firmado, dizendo aos Apóstolos depois da Santa Ceia, conforme o Evangelho segundo São João: "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." Jo 13,35

    E, em tocante modéstia, o Apóstolo dos Gentios implorava por essa unidade em nome da Comunhão que com eles tinha, como uma consolação pelas tribulações que passava: "Se me é possível, pois, alguma consolação em Cristo, algum caridoso estímulo, alguma comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, completai minha alegria permanecendo unidos. Tende um mesmo amor, uma só alma e os mesmos pensamentos. Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos." Fl 2,1-3

    Alertava-os, ademais, do Caminho da Cruz: "... porque a vós é dado não somente crer em Cristo, mas ainda sofrer por Ele." Fl 1,29

    Por ter perfeitamente entendido, e na própria carne, a mensagem de Jesus, ele aproveita para pregar humildade e obediência. Eis uma parte do 'Hino Cristológico', que ele recita: "Sendo Ele de divina condição, não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-Se aos homens. E sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-Se ainda mais, tornando-Se obediente até a morte, e morte de Cruz." Fl 2,6-8

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

"A Realidade é o Corpo de Cristo"

    Desde o início, a manifestação de Jesus foi plenamente identificada com a Cruz, tornando-Se o elemento central da pregação dos Apóstolos e diáconos. É o que se nota, por exemplo, após o martírio de Santo Estevão, nos apontamentos do Livro dos Atos dos Apóstolos: "Assim Filipe desceu à cidade de Samaria, pregando-lhes o Cristo." At 8,5

    E apesar de ter sido um fervoroso fariseu, após uma aparição de Nosso Senhor, o jovem São Paulo rapidamente percebeu onde estava a Verdade, entrando em ação lá mesmo no lugar de sua conversão: "Saulo, porém, sentia crescer seu poder e confundia os judeus de Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo." At 9,22

    Pois como grande conhecedor do Antigo Testamento, este Apóstolo deu-se conta que Nosso Salvador já havia encarnado e ressuscitado, como pregou na primeira visita aos judeus da cidade de Tessalônica, na Grécia: "Explicava e demonstrava, à base das Escrituras, que era necessário que Cristo padecesse e ressurgisse dos mortos. 'E este Cristo é Jesus que eu vos anuncio.'" At 17,3

    Mas a Encarnação de Cristo, enquanto capítulo da Revelação da Santíssima Trindade, vai muito além do que as palavras dizem. Deus é muito maior do que podemos expressar. Na Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, o Último Apóstolo segue: "Ele (Deus) é que nos fez aptos para ser Ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." 2 Cor 3,6

    E nem todos têm a Graça da presença do Espírito de Deus em si, como Segunda Carta de São João diz. Dentre estes, ele aponta os falsos mestres: "Muitos sedutores têm saído pelo mundo afora, os quais não proclamam Jesus Cristo encarnado." 2 Jo 1,7

    Contudo, quem recebeu o Espírito Santo sabe Quem é Jesus, e também sabe que nasceu de novo. A Primeira Carta de São João assegura: "Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, nasceu de Deus..." 1 Jo 5,1a

    Por isso, a Primeira Carta de São Pedro, privilegiada testemunha da Transfiguração, afirma a absoluta Majestade de Jesus, citando classes de anjos: "Esse Jesus Cristo, tendo subido ao Céu, está assentado à direita de Deus, depois de ter recebido a submissão dos anjos, dos principados e das potestades." 1 Pd 3,22

    Sua Vida é nosso parâmetro, portanto, e representa o pleno cumprimento da Lei, quer dizer, do Antigo Testamento . Foi o que a Carta de São Paulo aos Romanos concluiu: "Porque a finalidade da Lei é Cristo..." Rm 10,4

    Por Ele temos a definitiva purificação, segundo a Carta de São Paulo aos Colossenses: "Há bem pouco tempo éreis vós alheios a Deus e inimigos por vossos pensamentos e más obras, mas eis que agora Ele (Jesus) vos reconciliou pela morte de Seu Corpo Humano, para que vos possais apresentar Santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai." Cl 1,21-22

    E assim sabemos que, como Sua Doutrina, Jesus é eterno, é Deus, como os seguidores da tradição de São Paulo afirmam na Carta aos Hebreus: "Jesus Cristo sempre é o mesmo: ontem, hoje e por toda eternidade." Hb 13,8

    De fato, em resposta a Santa Marta, pouco antes da Ressurreição de São Lázaro, seu irmão, Jesus afirmou ser a própria Vida. Está no Evangelho segundo São João: "Eu sou a Ressurreição e a Vida." Jo 11,25

    O Último Apóstolo bem compreendeu o que significa ser cristão neste mundo, ou seja, ser Igreja: "O que falta às tribulações de Cristo, completo em minha carne, por Seu Corpo que é a Igreja." Cl 1,24b

    E aferindo Sua grandeza em comparação às tradições religiosas dos judeus, ele vai dizer: "Tudo isto não é mais que sombra d'Aquele que devia vir. A realidade é o Corpo de Cristo." Cl 2,17

domingo, 24 de novembro de 2024

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

    O Reinado de Cristo já está em vigor e sempre foi uma certeza, embora muitos teimem em não aceitar. De fato, no Evangelho segundo São João, ao ser inquirido por Pilatos, Jesus disse a Verdade: "'Meu Reino não é deste mundo. Se Meu Reino fosse deste mundo, Meus súditos certamente teriam pelejado para que Eu não fosse entregue aos judeus.' Então Lhe perguntou Pilatos: 'És, portanto, Rei?' Respondeu Jesus: 'Sim, Eu sou Rei. É para dar testemunho da Verdade que nasci e vim ao mundo. Todo aquele que é da Verdade, ouve Minha voz.'" Jo 18,36-37

    Pois o Arcanjo São Gabriel, falando sobre Jesus, já havia revelado a Nossa Senhora, como está no primeiro capítulo do Evangelho segundo São Lucas: "Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus dá-Lhe-á o trono de Seu pai Davi. Reinará eternamente na Casa de Jacó, e Seu Reino não terá fim." Lc 1,32-33

    E esse foi o reconhecimento feito por São Bartolomeu Apóstolo, ao atestar o poder de onisciência de Nosso Salvador, logo no primeiro instante em que O encontrou, dias após ser batizado por São João Batista: "Falou-Lhe Natanael: 'Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel.'" Jo 1,49

    Sua instituição, no entanto, já se havia dado no próprio Céu, feita por Deus Pai, como se lê no Livro do Profeta Daniel: "Sempre olhando a noturna visão, vi um Ser, semelhante ao Filho do Homem, vir sobre as nuvens do Céu: dirigiu-Se para o lado do Ancião, diante de Quem foi conduzido. A Ele foram dados império, Glória e realeza, e todos povos, todas nações e todas línguas serviram-nO. Seu domínio será eterno, nunca cessará, e Seu Reino jamais será destruído." Dn 7,13-14

    Conforme o Primeiro Livro de Crônicas, o rei Davi até cogitou a construção do Templo, mas Deus mesmo interveio e assim determinou a respeito da Igreja, ou seja, do Corpo Místico de Cristo: "Quando Davi se instalou em sua casa, disse ao Profeta Natã: 'Eis que moro numa casa de cedro e a Arca da Aliança do Senhor está debaixo de uma Tenda.' Natã respondeu: 'Faze o que teu coração te sugere, porque Deus está contigo.' Mas, na seguinte noite, a Palavra de Deus foi dirigida a Natã, nestes termos: 'Vai e dize a Davi, Meu servo: Eis o que diz o Senhor: Não és tu que Me construirás a Casa em que habitarei. Quando teus dias se acabarem e tiveres ido juntar-te a teus pais, levantarei tua posteridade após ti, num de teus filhos, e firmarei Seu Reino. É Ele que Me construirá uma Casa e firmarei Seu Trono para sempre. Serei para Ele um Pai, e Ele será para Mim um Filho; e nunca retirarei d'Ele Meu favor como retirei daquele que reinou antes de ti. Eu estabelecê-Lo-ei em Minha Casa e em Meu Reino para sempre, e Seu Trono será firme por todos séculos.'" 1 Crô 17,1-3.11-14

    O próprio Jesus, aliás, afirmou esta invencibilidade através da Igreja, que é a representação material e espiritual de Seu Reino. Foi logo depois de prometer edificar Sua Igreja sobre São Pedro, na narrativa do Evangelho segundo São Mateus: "As portas do inferno não prevalecerão contra ela." Mt 16,18b

    Ora, pela boa vontade daqueles que acolhem Sua Palavra, Ele garantiu que Seu Reino já se faz sensivelmente presente entre nós: "O Reino de Deus não virá de ostensivo modo. Nem se dirá: Ei-lo aqui; ou: Ei-lo ali. Pois o Reino de Deus já está no meio de vós." Lc 17,20b-21

    E como portentoso e cósmico sinal, sábios reis de pagãs nações, inspirados pelo Espírito Santo, viram e seguiram a Estrela que anunciava a vinda do 'Rei dos judeus', sabendo que Ele é Deus, pois queriam adorá-Lo: "Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do Oriente a Jerusalém. Perguntaram eles: 'Onde está o Rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos Sua Estrela no Oriente e viemos adorá-Lo.'" Mt 2,1-2

sábado, 23 de novembro de 2024

A Paciência de Cristo

    Nosso resgate não foi um acontecimento qualquer. Conforme a Primeira Carta de São Pedro, nossa teimosia acabou custando muito caro: "Porque vós sabeis que não é por perecíveis bens, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados de vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso Sangue de Cristo..." 1 Pd 1,18

    Ele abertamente afirma o Sacrifício do Cristo, para que não seja menosprezado: "Eis a exortação que dirijo aos anciãos que entre vós estão. Porque como eles sou ancião, fui testemunha dos sofrimentos de Cristo..." 1 Pd 5,1

    Pois em Seu sofrer, que era absolutamente humano, Jesus aprendeu e ensinou que com obediência aceitemos os desígnios de Deus, em especial os mais difíceis. Os seguidores da tradição de São Paulo dizem na Carta aos Hebreus: "Assim também Cristo não atribuiu a Si mesmo a Glória de ser Pontífice. Esta foi-Lhe dada por Aquele que Lhe disse: 'Tu és Meu Filho, hoje Te gerei (Sl 2,7).' Nos dias de Sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, Àquele que podia salvá-Lo da morte, e foi atendido por Sua Misericórdia. Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve." Hb 5,5.7-8

    De fato, em profundidade Ele experimentou a condição humana, como se viu enquanto agonizava na Cruz do Monte Calvário, na leitura do Evangelho segundo São Marcos: "E à hora nona Jesus bradou em alta voz: 'Elói, Elói, lammá sabactáni?', que quer dizer: 'Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste (Sl 21,2)?'" Mc 15,34

    Diante destes fatos, eis que a Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses reza: "Quanto a vós, temos plena certeza no Senhor de que estareis cumprindo e continuareis a cumprir o que vos prescrevemos. Que o Senhor dirija vossos corações para o amor de Deus e para a paciência de Cristo." 2 Ts 3,4-5

    Pois as divinas dádivas operam muito mais que uma simples melhora na terrena vida. É muito maior, como a Carta de São Paulo aos Romanos diz: "... o dom de Deus é a Vida Eterna em Cristo Jesus, Nosso Senhor." Rm 6,23

    Tudo isso, portanto, encerra-se no grande plano do Pai. A Carta de São Paulo aos Efésios registrou: "Em Seu amor, predestinou-nos a sermos adotados como Seus filhos por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de Sua livre vontade..." Ef 1,5

    Tocado por tanta benevolência, e absolutamente convicto da nossa vitória pela Redenção oferecida por Jesus, o Último Apóstolo pergunta: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? ... nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, Nosso Senhor." Rm 8,35.39

    Não estamos, pois, nem sozinhos nem ao sabor de uma vida sem sentido. Cristo é uma grande prova do amor de Deus e de Seus cuidados para conosco, como ele diz aos cristãos da cidade de Éfeso: "Mas Deus, que é rico em Misericórdia, impulsionado pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em consequência de nossos pecados, deu-nos a Vida junto a Cristo. É por Graça que fostes salvos! Junto a Ele, ressuscitou-nos e fez-nos assentar nos Céus, com Cristo Jesus. Ele assim demonstrou pelos futuros séculos a imensidão das riquezas de Sua Graça, pela bondade que tem para conosco, em Jesus Cristo." Ef 2,4-7

    Pregam, pois, os discípulos de São Paulo: "Porquanto os filhos participam da mesma natureza, da mesma carne e do sangue, Ele também participou a fim de destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o Demônio, e libertar aqueles que, por medo da morte, toda vida estavam sujeitos a uma verdadeira escravidão. Veio em socorro, não dos anjos, e sim da raça de Abraão, e por isso convinha que em tudo Se tornasse semelhante a Seus irmãos, para ser um Compassivo e Fiel Pontífice no serviço de Deus, capaz de expiar os pecados do povo. De fato, por ter Ele mesmo suportado tribulações, está em condição de vir em auxílio dos que são atribulados." Hb 2,14-18

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O Poder da Igreja

    Após ressuscitar, Jesus investiu Seus Apóstolos e discípulos com autoridade e poder. Essa é Sua força que permanece entre os homens para a edificação de Sua Igreja, que tem a notória função de confirmar Sua divindade. No Evangelho segundo São Marcos, Ele disse aos Onze no Domingo da Ressurreição: "'Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão demônios em Meu Nome, falarão novas línguas, manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal. Imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados.' Os discípulos partiram e pregaram por toda parte. O Senhor cooperava com eles, e confirmava Sua Palavra com os milagres que a acompanhavam." Mc 16,17-18.20

    Com efeito, como Nosso Salvador afirmou quando foi reconhecido por São Pedro como o Messias, a Igreja é invencível. Está no Evangelho segundo São Mateus: "As portas do inferno não prevalecerão contra ela." Mt 16,18b

    De maior importância, pois, é o poder de perdoar os pecados, que, conforme o Evangelho segundo São João, Ele exclusivamente deu a Seus Sacerdotes, Graça que nos é concedida pelo Sacramento da Reconciliação com Deus: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos." Jo 20,22a-23

    Nem toda manifestação de poder, contudo, tem por intenção fazer-nos participar do Reino de Deus. Satanás realiza espetáculos que enganam os olhos e a muitos afastam da Sã Doutrina, como o próprio Jesus avisou aos Apóstolos após o Domingo de Ramos: "Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão milagres a ponto de seduzir, se possível fosse, até mesmo os escolhidos." Mt 24,24

    De fato, falando de um tempo em que muitos abandonariam a fé, esse também foi um aviso da Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses: "A manifestação do ímpio será acompanhada, graças ao poder de Satanás, de toda sorte de enganadores portentos, sinais e prodígios." 2 Ts 2,9

    Apesar da ousadia de insurgir-se em combate contra o próprio Deus, porém, não resta dúvida que o poder do inimigo não prosperará, como as visões do Livro do Apocalipse de São João atestam. Ele disse dos inimigos de Deus, seres espirituais e poderosos da Terra, que nos últimos tempos se unirão: "Combaterão contra o Cordeiro, mas o Cordeiro vencê-los-á, porque é Senhor dos senhores e Rei dos reis." Ap 17,14a

    Até lá, na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, o Último Apóstolo assim descreve o poder da Igreja, que é o Reino de Sacerdotes, citando várias classes de anjos caídos: "Depois virá o fim, quando entregar o Reino a Deus, ao Pai, depois de haver destruído todo principado, toda potestade e toda dominação. Porque é necessário que Ele reine, até que ponha todos inimigos debaixo de Seus pés. O último inimigo a derrotar será a morte, porque Deus tudo sujeitou debaixo de Seus pés. E quando tudo Lhe estiver sujeito, então o próprio Filho também renderá homenagem Àquele que Lhe sujeitou todas coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos." 1 Cor 15,24.26-28

    Ora, fazendo lembrar as trombetas que destruíram as muralhas de Jericó (cf. Js 6,20), a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios asseverava: "Não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações. Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo." 2 Cor 10,4-5

    Quanto aos Santos, cujas almas alcançam a santidade e são a verdadeira face da Igreja, Jesus prometeu-lhes, dirigindo-Se à igreja de Tiatira através de São João Apóstolo, grande poder ainda sobre este mundo: "Então ao vencedor, ao que praticar Minhas obras até o fim, lhe darei poder sobre as pagãs nações. Ele regê-las-á com cetro de ferro, como se quebra um vaso de argila, assim como Eu mesmo recebi o poder de Meu Pai. E dá-lhe-ei a Estrela da Manhã." Ap 2,26-28

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Igreja Itinerante, Santificante e Glorificante

    A Comunhão Eucarística, isto é, o Sacramento do Pão e do Vinho, verdadeiramente Corpo e Sangue de Cristo, simboliza, além de nossa perfeita união com Deus, nossa vida em plena união com nossos irmãos em Cristo. Assim formamos a Igreja, que vive três estágios: a Igreja itinerante, nós na Terra; a Igreja santificante, os mortos no Purgatório; e a Igreja glorificante, aqueles que nos Céuscontemplam a face de Deus, junto a Seus anjos.

    A Carta de São Paulo aos Efésios, pois, referia-se à Igreja itinerante como os 'Santos', termo hoje restrito ao Papa e aos canonizados: "Com toda sorte de preces e súplicas, constantemente orai no Espírito. Prestai vigilante atenção neste ponto, intercedendo por todos santos." Ef 6,18

    Assim, em nossa deve ficar a bela e reconfortante lembrança da Oração a Unidade feita por Jesus, pedindo ao Pai que a Igreja esteja sempre onde Ele estiver, como lemos no Evangelho segundo São João. É lá, junto a Ele, que estão os Santos canonizados, mas também os não canonizados, cuja história só Deus e pessoas mais próximas conheceram, assim como aqueles que já foram purificados no Purgatório. Eles 'não cessam de interceder por nós': "Pai, aqueles que Tu Me deste, quero que eles estejam Comigo, onde Eu estiver, para que contemplem a Glória que Me deste, pois Me amaste antes da criação do mundo." Jo 17,24

    O Amado Discípulo, mais longevo dos Apóstolos, viveu o bastante para confirmar o sucesso dessa oração de Jesus, bem como o reinado dos Santos. Como visão, registrou o cântico dos quatro seres e dos vinte e quatro anciãos (todos anjos!) a Nosso Senhor, no Livro do Apocalipse de São João: "Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado, e com Teu Sangue adquiriste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação. Deles fizeste para Nosso Deus um Reino de Sacerdotes. E eles reinarão sobre a Terra." Ap 5,9-10

    E dos próprios Santos ele atestou, quando também explicou a condição dos que ainda estão no Purgatório: "Também vi tronos, sobre os quais se assentaram aqueles que receberam o poder de julgar: eram as almas dos que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, e todos aqueles que não tinham adorado a Fera ou sua imagem, que não tinham recebido seu sinal na fronte nem nas mãos. Eles viveram uma Nova Vida e com Cristo reinaram por mil anos. Os outros mortos não tornaram à vida até que se completassem os mil anos." Ap 20,4-5a

    Citando a Comunhão da Santíssima Trindade, Jesus mesmo disse como acontecia a intercessão feita pelos Santos da Igreja, quando começou a despedir-Se dos Apóstolos após a Santa Ceia. Seus pedidos são feitos ao Pai, em Seu Nome, e pelo próprio Pai são atendidos: "Naquele dia pedireis em Meu Nome, e já não digo que rogarei ao Pai por vós. Pois o próprio Pai vos ama, porque vós Me amastes e crestes que saí de Deus." Jo 16,26-27

    E como Aquele que veio reunir até as ovelhas perdidas, não se pode duvidar do sucesso de Sua Missão. Referindo-Se aos pagãos ainda por serem convertidos por Sua Igreja, Ele abertamente disse aos fariseus em plena Cidade Santa: "Eu sou o Bom Pastor. Conheço Minhas ovelhas e Minhas ovelhas conhecem a Mim, como Meu Pai Me conhece e Eu conheço o Pai. Dou Minha Vida por Minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Também preciso conduzi-las. Ouvirão Minha voz, e haverá um só rebanho e um só Pastor." Jo 10,14-16

    Inspirado, o Último Apóstolo tinha bem claro que esse é o projeto do Pai, como escreveu aos fiéis da igreja da cidade de Éfeso: "Ele manifestou-nos o misterioso desígnio de Sua vontade, que em Sua benevolência desde sempre formara, para realizá-lo na plenitude dos tempos - desígnio de em Cristo reunir todas coisas: as que estão nos Céus e as que estão na Terra." Ef 1,9-10

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Não há Deus sem Jesus

     Jesus, sem dúvida, 'interpôs-Se' entre Deus e o mundo, apresentou-Se como o único caminho que leva ao Pai. Ele disse aos Apóstolos após a Santa Ceia, como o Evangelho segundo São João registrou: "Ninguém vem ao Pai senão por Mim." Jo 14,6b

    Afirmou, ao fim da preparação que deu aos Apóstolos na narrativa do Evangelho segundo São Mateus, que só era possível conhecer o Pai se Ele O revelasse: "Ninguém conhece o Filho, senão o Pai. E ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-Lo." Mt 11,27b

    Nas primeiras palavras de São João Evangelista, as próprias visões que até então se tinha de Deus seriam meras representações, e só em Jesus chegariam à plenitude: "Ninguém jamais viu Deus. O Único Filho, que está no seio do Pai, foi Quem O revelou." Jo 1,18

    Só por Jesus, portanto, devemos viver, porque assim é o projeto do Pai. É o que a Primeira Carta de São João diz: "Nisto manifestou-se o amor de Deus para conosco: em ter-nos enviado ao mundo Seu Único Filho, para que por Ele vivamos." 1 Jo 4,9

    A Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, invocando Sua Paixão, diz o mesmo, pois a Comunhão dos Santos envolve a Igreja itinerante, que está na Terra, e a santificante, que está no Purgatório: "Ele morreu por nós, a fim de que nós, quer em estado de vigília, quer de sono, vivamos em união com Ele." 1 Ts 5,10

    E conforme o inspirado testemunho de São João Batista, após o Batismo de Nosso Senhor, só através da manifestação de Jesus que podemos atestar a veracidade de Deus: "Aquele que recebe Seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro." Jo 3,33

    Nosso Salvador, porém, foi ainda mais longe e deu-nos um novo conceito de Deus, que mais tarde seria entendido como a Santíssima Trindade. Ele afirmou perante os judeus no Templo de Jerusalém, durante a Festa da Dedicação: "Eu e o Pai somos Um." Jo 10,30

    De fato, em Sua última Páscoa, clamando em Jerusalém, Ele explicou-Se nestes termos: "Aquele que crê em Mim, crê não em Mim, mas n'Aquele que Me enviou. E aquele que Me vê, vê Aquele que Me enviou." Jo 12,44b-45

    E denunciando o ódio que o mundo tem a Deus, sentenciou na noite em que seria preso, quando menciona uma passagem do Livro dos Salmos: "Se Eu não viesse e não lhes tivesse falado, não teriam pecado. Mas agora não há desculpa para seu pecado. Se Eu não tivesse feito entre eles obras, como nenhum outro fez, não teriam pecado. Mas agora as viram e odiaram a Mim e a Meu Pai. Foi, porém, para que se cumpra a Palavra que está escrita em Sua Lei: 'Odiaram-Me sem motivo (Sl 34,19; 68,5).'" Jo 15,22.24-25

    Até explicou o porque da confusão que os judeus de Jerusalém viviam, durante a Festa das Tendas: "Respondeu Jesus: 'Não conheceis nem a Mim nem a Meu Pai. Se Me conhecêsseis, certamente também conheceríeis a Meu Pai.'" Jo 8,19b

    Ainda disse que, por Sua Palavra, que corresponde ao veredicto, o Pai seria honrado. Foi depois que curou o cego de nascença na Cidade Santa: "Porque o Pai não julga ninguém, mas entregou todo Julgamento ao Filho. Desse modo, todos honrarão o Filho, bem como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, não honra o Pai, que O enviou." Jo 5,22-23

    Rejeitar a Igreja, pois, que é o sustentáculo da Verdade, é rejeitar Deus. Ele disse aos 72 discípulos enviados adiante aos lugares onde havia de ir, na leitura do Evangelho segundo São Lucas: "Quem vos ouve, a Mim ouve. E quem vos rejeita, a Mim rejeita. E quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou." Lc 10,16

    E assim Ele resumiu a obra da Redenção perante uma multidão à margem do Mar da Galileia, após multiplicar pães e peixes e falar do Pão do Céu: "Perguntaram-Lhe: 'Que faremos para praticar as obras de Deus?' Respondeu-lhes Jesus: 'A obra de Deus é esta: que creiais n'Aquele que Ele enviou.'" Jo 6,28-29

terça-feira, 19 de novembro de 2024

A Encarnação do Cristo (II)

    A Encarnação do Cristo assim foi descrita no Evangelho segundo São João: "E o Verbo fez-Se carne, e habitou entre nós. E vimos Sua Glória, a Glória que o Único Filho recebe de Seu Pai, cheio de Graça e de Verdade." Jo 1,14

    Como se vê, o Verbo, ou seja, a Palavra de Deus, é o próprio Jesus. E o mistério da Comunhão da Santíssima Trindade, aqui mencionados apenas o Pai e o Filho, existe 'desde o início dos tempos'. O Amado Discípulo tentou descrevê-lo: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto a Deus, e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito." Jo 1,1.3

    Seu Nascimento, portanto, era o pleno cumprimento de mais uma profecia, pois Maria era da tribo de Davi. A Carta de São Paulo aos Romanos diz: "Este Evangelho outrora prometera Deus por Seus Profetas, na Sagrada Escritura, acerca de Seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor, descendente de Davi quanto à carne..." Rm 1,2-3

    E ainda que São José não fosse Seu pai biológico, igualmente tinha essa ascendência, como o Evangelho segundo São Lucas registrou : "José também subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, a Judeia, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi... " Lc 2,4

    Entretanto, do povo escolhido por Deus para ser mensageiro da Salvação, muitos não acolheram o Cristo, talvez por ser 'humano demais', ou ainda, haveria 'dois deuses'? Imaginem então a compreensão da Terceira Pessoa de Deus, o Espírito Santo? Mas, quanto ao Jesus humano, Deus não nos fez à Sua imagem e semelhança? São João Evangelista testemunhou: "Estava no mundo e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O reconheceu. Veio para o que era Seu, mas os Seus não O receberam. Mas a todos aqueles que O receberam, aos que creem em Seu Nome, deu-lhes o poder de tornarem-se filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus." Jo 1,10-13

    Os imundos espíritos, contudo, prontamente reconheciam-nO e tentavam revelar Sua identidade, como se viu em seu primeiro dia em Cafarnaum, á frente da casa de São Pedro: "De muitos saíam demônios, dizendo aos gritos: 'Tu és o Filho de Deus.' Mas Ele severamente repreendia-os, não lhes permitindo falar, porque sabiam que Ele era o Cristo." Lc 4,4

    O povo de Jerusalém, vendo Seus milagres e como Ele deixava sem palavras os religiosos, também começou a desconfiar de Sua verdadeira identidade. Foi durante a Festa das Tendas: "Algumas das pessoas de Jerusalém diziam: 'Não é Este Aquele a Quem procuram tirar a vida? Todavia, ei-Lo que fala em público e não Lhe dizem coisa alguma. Porventura reconheceram as autoridades que Ele é o Cristo?'" Jo 7,26

    Alguns, entretanto, mesmo atestando Suas obras, ficavam em dúvida: "Muitos do povo, porém, creram n'Ele e perguntavam: 'Quando vier o Cristo, fará mais milagres que Este faz?'" Jo 7,31

    Entretanto, a maioria dos religiosos de Jerusalém continuavam vacilantes, mesmo em Sua última Festa da Dedicação, quando O abordaram no Templo: "Os judeus rodearam-nO e perguntaram-Lhe: 'Até quando nos deixarás na incerteza? Se Tu és o Cristo, dize-nos claramente.'" Jo 10,24

    Sua Revelação, porém, tinha que ser completa, e, em Sua última Páscoa em Jerusalém, Ele mesmo começou a interrogar os fariseus sobre o Messias: "Que pensais vós do Cristo?" Mt 22,42

    Já havia perguntado aos próprios Apóstolos o que eles pensavam sobre Sua Pessoa, seis dias antes de Sua Transfiguração (cf. Mt 17,1): "E vós, quem dizeis que Eu sou?" Lc 9,20a

    E São Pedro, sempre o primeiro e inspirado por Deus Pai (cf. Mt 16,17), respondeu: "O Cristo de Deus." Lc 9,20b

    A verdade é que, para melhor interpretação dos fatos e das Escrituras, acolher Sua Revelação essencialmente passa pela Vontade de Deus, como Nosso Senhor mesmo ensinou em Cafarnaum, na sinagoga, dias depois de multiplicar pães e peixes: "Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o atrair..." Jo 6,44