Para além da dicotomia 'de frente para Deus, Luz; de costas para Ele, trevas', o fato é que há muitas nuances em nossa relação com Deus, tanto de Luz quanto de trevas, e vez e outra Ele confunde não somente pessoas, mas inteiras coletividades. E a despeito do que não nos foi revelado, essa é uma de Suas estratégias de correção, ou mesmo de castigo. Como exemplo dessas nuances, e de educadores castigos, temos a mensagem que Jesus mandou através do anjo da igreja de Laodiceia, no Livro do Apocalipse de São João: "Conheço tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te. Eu repreendo e castigo aqueles que amo. Reanima teu zelo, pois, e arrepende-te." Ap 3,15-16.19
Ou mesmo um devastador castigo, precedido, note-se, de um entorpecedor ministério, como Deus determinou no Livro do Profeta Isaías sobre os israelitas, antes da destruição de Jerusalém e do exílio na Babilônia, e Nosso Senhor vai invocar, ainda que dando outro desfecho: "Obceca o coração desse povo, ensurdece-lhe os ouvidos, fecha-lhe os olhos, de modo que não veja nada com seus olhos, não ouça com seus ouvidos, não compreenda nada com seu espírito. Até que as cidades fiquem devastadas e sem habitantes, as casas, sem gente, e a terra, deserta." Is 6,10a.11b
Ora, a Santíssima Trindade já usava desse artifício desde o conhecido episódio da Torre de Babel, quando os homens queriam uma construção que chegasse aos Céus, anotado no Livro de Gênesis: "Vamos descer e confundir a língua deles, para que um não entenda a língua do outro." Gn 11,7
No Livro dos Salmos, especificamente os de Davi, que devem ser entendidos como o próprio Jesus rezando ao Pai, vemos um constante pedido para que Deus atordoe os sentidos Seus inimigos: "Fiquem confusos e cobertos de ignomínia aqueles que se alegram com Meus males, sejam envoltos em confusão e opróbrio aqueles que contra Mim se erguem com soberba." Sl 35,26
Referindo-se ao próprio Cristo, a Carta de São Paulo aos Romanos fez menção ao Profeta Isaías: "E Israel tropeçou na Pedra de escândalo, como está escrito: 'Eis que ponho em Sião uma Pedra de escândalo, um Rochedo que faz cair. Quem n'Ele crer não será confundido' (Is 8,14;28,16)." Rm 9,32b-33
Ademais, a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios anotou: "Vede, irmãos, vosso grupo de eleitos: não há entre vós muitos sábios, humanamente falando, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. Mas Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os sábios, e escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte." 1 Cor 1,26-27
Sobre o domínio do Maligno nos últimos tempos, a Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses afirma que do próprio Pai vem mais poder nesse sentido: "... Deus enviá-lhes-á um poder que os enganará e os induzirá a acreditar no erro." 2 Ts 2,11
Aliás, Jesus mesmo alegrou-Se com a Divina Providência, quando atestou que o Pai não revela indiscriminadamente Seu poder, pois até Seus discípulos expulsavam demônios. Está no Evangelho segundo São Lucas: "Pai, Senhor do Céu e da Terra, Eu dou-Te graças porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos." Lc 10,21b
Realmente havia difíceis assuntos, que dependiam de vivência sob a Divina Luz, como Nosso Senhor disse aos Apóstolos sobre o celibato, que seria adotado pela Santa Igreja. O Evangelho segundo São Mateus apontou: "Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado." Mt 19,11b
E disse de Sua Missão: "Vim a este mundo para fazer uma discriminação: os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos." Jo 9,39