domingo, 18 de maio de 2025

O Perfume de Cristo

 

    Dois dias antes da Páscoa em que seria imolado, uma mulher derramou um caro perfume sobre a cabeça de Jesus. O Evangelho Segundo São Mateus narra este episódio: "Encontrava-Se Jesus em Betânia, na casa de Simão, o leproso. Estando à mesa, aproximou-se d'Ele uma mulher com um vaso de alabastro, cheio de caro perfume, e derramou-o em Sua cabeça. Vendo isto, os discípulos disseram indignados: 'Para que este desperdício? Poder-se-ia vender este perfume por um bom preço e dar o dinheiro aos pobres!'" Mt 26,6-9

    O Evangelho Segundo São João, porém, aponta que apenas Judas Iscariotes tomou essa atitude. E com todas letras diz que ele assim agiu denunciando-se, porque roubava da bolsa de oferendas, das quais Jesus e os Apóstolos viviam: "Mas Judas Iscariotes, um de Seus discípulos, aquele que havia de trai-Lo, disse: 'Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?' Dizia isso não porque ele se preocupasse com os pobres, senão porque era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela lançavam." Jo 12,4-6

    A despeito dessa divergência, a resposta de Jesus é praticamente a mesma: "Derramando esse perfume em Meu Corpo, ela fê-lo em vista de Meu sepultamento." Mt 26,12

    Foi em seguida a essa resposta, aliás, que Ele reafirmou uma triste profecia sobre a pobreza, um mal que a humanidade jamais será capaz de extinguir: "Pois sempre tereis convosco os pobres, mas a Mim nem sempre tereis." Jo 12,8

    De fato, a pressa com que Ele foi sepultado não permitiu os ritos judaicos, que só tentariam realizar no Domingo da Ressurreição. O Evangelho Segundo São Lucas apontou: "As mulheres, que tinham vindo de Galileia com Jesus, acompanharam José. Elas viram o túmulo e o modo como o Corpo de Jesus ali fora depositado. Elas voltaram e prepararam aromas e bálsamos. No dia de Sábado, observaram o preceito do repouso. No primeiro dia da semana, muito cedo, dirigiram-se ao sepulcro com os aromas que haviam preparado." Lc 23,55-56;24,1

    Assim se conclui que o perfume que embalsamou o Corpo de Jesus foi, na verdade, o da anônima pecadora, conforme São Mateus. Fato que, diante da reação dos Apóstolos, levou Jesus a dizer-lhes: "Por que molestais esta mulher? É uma boa ação que ela Me fez. Em Verdade, digo-vos: onde quer que este Evangelho venha a ser pregado, pelo mundo inteiro, em sua memória será contado o que ela fez." Mt 26,10-13

    Ou na versão de São João Evangelista, foi aquele derramado pela própria Santa Maria de Betânia, irmã de Santa Marta e São Lázaro. Esse unção teria acontecido com ainda maior antecedência, antes do Domingo de Ramos, o que não se deve estranhar porque a decisão para matar Jesus já tinha sido tomada pelos judeus (cf. Jo 11,53): "Seis dias antes da Páscoa, foi Jesus a Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele ressuscitara. Deram ali uma ceia em Sua honra. Marta servia e Lázaro era um dos convivas. Tomando Maria uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa encheu-se do perfume do bálsamo." Jo 12,1-3

    Já a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios faz referência ao perfume de Cristo que seria exalado pelos Apóstolos e fiéis transmissores da Palavra de Deus: "Mas graças sejam dadas a Deus, que sempre nos concede triunfar em Cristo, e que por nosso meio difunde o perfume de Seu conhecimento em todo lugar. Para Deus somos o perfume de Cristo entre os que se salvam e entre os que se perdem. Para estes, na verdade, odor de morte e que dá a morte. Para os primeiros, porém, odor de Vida e que dá a Vida." 2 Cor 2,14-16a

    Na Carta de São Paulo aos Efésios, de fato, diz da Crucificação de Jesus como de um perfume de alta estima: "Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós Se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável perfume." Ef 5,2

    A Carta de São Paulo aos Filipenses também diz que nosso ofertório é como um perfume: "Agora tenho tudo em abundância. Tenho até demais, depois que recebi de Epafrodito vossas ofertas. Elas são como um suave perfume, um sacrifício aceito e agradável a Deus." Fl 4,18