quarta-feira, 8 de maio de 2024

A Moralidade das Paixões

 

    É o objeto da paixão que determina se ela é boa ou má, porque seus impulsos passam pela consciência moral. Do vocabulário cristão, seu maior exemplo é a própria Paixão de Cristo: "Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara Sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim." Jo 13,1

    Nosso Salvador aponta o coração como fonte das paixões, pois é onde se combinam a sensibilidade e a consciência, que geram a vontade. Ele disse: "O bom homem tira boas coisas do bom tesouro de seu coração, e o mau homem tira más coisas de seu mau tesouro, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio." Lc 6,45

    O Livro da Sabedoria menciona esse 'freio moral' como sendo a virtude da temperança: "E se alguém ama a justiça, seus trabalhos são virtudes; ela (a Sabedoria) ensina a temperança e a prudência, a justiça e a força: não há, na vida, nada que seja mais útil aos homens." Sb 8,7

    O Livro do Eclesiástico, pois, reza a Deus: "Afastai de mim a intemperança! Que a paixão da volúpia não se apodere de mim e não me entregueis a uma alma sem pejo e sem pudor!" Eclo 23,6

    São Paulo apontava a existência dessa consciência moral entre os pagãos: "Eles mostram que o objeto da Lei está gravado em seus corações, dando-lhes testemunho sua consciência, bem como seus raciocínios, com os quais mutuamente se acusam ou se escusam." Rm 2,15

    Ora, ele diz do Evangelho aos fiéis como leis inscritas no coração: "Não há dúvida de que vós sois uma carta de Cristo, redigida por nosso ministério e escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus Vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, em vossos corações." 2 Cor 3,3

    E assim resume a Missão de Jesus, numa exortação à religiosidade, contrária à vida de dissolução: "Veio para ensinar-nos a renunciar à impiedade e às mundanas paixões, e a viver neste mundo com toda sobriedade, justiça e piedade..." Tt 2,12

    As paixões são muitas. Com seus correspondentes opostos, as principais são amor e ódio, desejo e medo, e alegria e tristeza. E o Divino Mestre tratou de revelar os verdadeiros tesouros, e onde nós os guardamos: "Não ajunteis para vós tesouros na Terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no Céu, onde nem as traças nem a ferrugem os consomem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está teu tesouro, lá também está teu coração." Mt 6,19-21

    Porque assim como fonte das boas paixões, que embora mais conhecidas não sejam as mais cultuadas, Ele fazia questão de ressaltar o coração como fonte das más paixões: "Porque é do coração que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias." Mt 15,16

    São Judas Tadeu, por sua vez, profetiza o surgimento de deturpadores da Sã Doutrina: "No fim dos tempos virão impostores, que viverão segundo suas ímpias paixões. Homens que semeiam a discórdia, homens sensuais que não têm o Espírito. Mas vós, caríssimos, mutuamente edificai-vos sobre o fundamento de vossa santíssima ." Jd 1,18-20a