sexta-feira, 31 de outubro de 2025

A Coroa da Vida

    Desde o Livro do Profeta Isaías, sete séculos antes de Jesus, foi revelado que Deus tem uma especial coroa para nos oferecer, quando trata da Salvação e da Jerusalém Celestial: "Eles chegarão a Sião com cânticos de triunfo, e uma eterna alegria coroará suas cabeças. A alegria e o gozo possuí-los-ão..." Is 35,10

    O Livro de Sabedoria, ao referir-se a essa dádiva de Deus, fala de uma coroa de rei, numa alusão ao poder que ela confere, e remete à Divina Glória: "Mas os justos viverão eternamente. Sua recompensa está no Senhor, e o Altíssimo cuidará deles. Por isso, receberão a régia coroa de Glória..." Sb 5,15-16

    No Livro de Eclesiástico, tal coroa é a Glória de que os anjos já usufruem: "Moisés foi amado por Deus e pelos homens: sua memória é abençoada. O Senhor deu-lhe uma glória semelhante à dos santos (anjos)... Sobre sua tiara colocou uma coroa de ouro, onde estava gravado o cunho da santidade, da Glória e da honra..." Eclo 45,1-2.14

    Porque apesar de todos contratempos, o amor a Deus é regiamente recompensado, como a Carta de São Tiago nos diz: "Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da Vida que Deus prometeu àqueles que O amam." Tg 1,12

    Contudo, tal coroa nada tem de ostentação. Muito pelo contrário, trata-se de outra glória, a Glória da eternidade. É da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: "Os atletas abstêm-se de tudo. Eles, para ganhar uma perecível coroa. Nós, para ganharmos uma imperecível." 1 Cor 9,25

    Ora, quanto a ela, a Primeira Carta de São Pedro só faz menção por ocasião da Glória da Vida Eterna, e dos presbíteros cobra responsabilidade sobre as paróquias da Santa Igreja Católica: "Eis a exortação que dirijo aos anciãos que estão entre vós, porque sou ancião como eles, fui testemunha dos sofrimentos de Cristo e com eles serei participante daquela Glória que há de manifestar-se. Velai sobre o rebanho de Deus, que vos é confiado. E quando aparecer o Supremo Pastor, recebereis a imperecível coroa de Glória." 1 Pd 5,1-2.4

    E na Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo, ele, sentindo aproximar-se o fim de sua vida terrena, suspira: "Resta-me, agora, receber a coroa da justiça, que o Senhor, Justo Juiz, me dará n'Aquele Dia. E não somente a mim, mas a todos aqueles que com amor aguardam Sua Aparição" 2 Tm 4,8

    Nos Céus, estas coroas já estão antecipadamente distribuídas a inominados 'anciãos' (anjos), que representam o leigo ou ordenado Sacerdócio, desde que Deus Pai entrega o domínio da Terra ao Cordeiro. Está no Livro de Apocalipse de São João: "Imediatamente, fui arrebatado em espírito. No Céu havia um trono, e nesse trono estava sentado um Ser. Ao redor havia vinte e quatro tronos, e neles, sentados, vinte e quatro anciãos vestidos de brancas vestes e com coroas de ouro na cabeça." Ap 4,2.4

    No início destas revelações ao Amado Discípulo, Jesus avisou de uma tribulação a tentar uma específica diocese de Ásia de então: a da cidade de Esmirna. Contudo, Ele segue prometendo a coroa da Vida, pois Ele é o Senhor da Vida! "Nada temas ante o que hás de sofrer. Por estes dias, o Demônio vai lançar alguns de vós na prisão, para vos pôr à prova. Tereis tribulações durante dez dias. Sê fiel até a morte e dá-te-ei a coroa da Vida." Ap 2,10

    Ademais, Ele promete Sua proteção durante as tribulações aqui na Terra, através da diocese da cidade de Filadélfia. E assim como o Príncipe dos Apóstolos, São Tiago Menor e São João Apóstolo já eram em vida (cf. Gl 2,9), o vencedor também se tornará coluna em Sua Igreja: "Porque guardaste a Palavra de Minha paciência, também te guardarei da hora da provação, que está para sobrevir ao mundo inteiro, para provar os habitantes da Terra. Venho em breve. Conserva o que tens, para que ninguém tome tua coroa. Farei do vencedor uma coluna no Templo de Meu Deus, de onde jamais sairá..." Ap 3,10-12

    Maria Santíssima, Nossa Mãe Celeste, também foi coroada. E de tão especial forma que o Ministério dos Apóstolos, que representam as 12 tribos de Israel, é apenas estrelas em Sua coroa. No Novo Testamento, Ela é a primeira e única pessoa que foi nomeadamente coroada por Deus. Nela, portanto. cumpriu-se esta promessa feita havia vários séculos: "Em seguida, no Céu apareceu um grande sinal: uma Mulher revestida do sol, tendo a lua debaixo de seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Ela deu à luz um Filho, um Menino, Aquele que deve reger todas pagãs nações com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e de Seu trono." Ap 12,1.5

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

O Ser Humano e a Perfeição

    Fazendo-nos lembrar nossa divina origem e filiação, Jesus mesmo exortou durante o Sermão da Montanha no Evangelho Segundo São Mateus, citando um preceito dado por Deus a Moisés no Livro de Levítico, para ser transmitido ao israelitas (cf. Lv 19,2): "Portanto, sede perfeitos, assim como Vosso Pai Celeste é perfeito." Mt 5,48

    E na Carta de São Paulo aos Colossenses, ele exorta-nos a restaurar nossa divina imagem (cf. Gn 1,26) através do amor a Deus de todo entendimento (cf. Mc 12,30): "Vós despiste-vos do velho homem com seus vícios, e revestiste-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento." Cl 3,9-10

    Pois, como a Carta de São Paulo aos Efésios prega, Cristo é nossa medida, nossa perfeita reconciliação com o Pai: "... até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo." Ef 4,13

    Por isso, os Apóstolos anunciaram-nO, para que cheguemos a Sua estatura, como o Apóstolo dos Gentios fez: "A Ele é que anunciamos, admoestando todos homens e instruindo-os em toda Sabedoria, para tornar todo homem perfeito em Cristo." Cl 1,28

    De fato, Nosso Salvador prometeu que, se O tomarmos como Mestre, alcançaremos Sua maturidade. Foi ainda antes de convocar os Doze Apóstolos, na narrativa do Evangelho Segundo São Lucas: "O discípulo não é superior ao Mestre, mas todo perfeito discípulo será como Seu Mestre." Lc 6,40

    Ora, os autênticos seguidores de Jesus recebem Sua Glória, que Ele mesmo derramou sobre os Apóstolos como prova do Advento e do amor do Pai, para que a Santa Igreja Católica viva a Unidade da Santíssima Trindade vive. No Evangelho Segundo São João, na noite em que ia ser entregue, Ele rezou ao Pai: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim. Para que sejam perfeitos na Unidade, e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,22-23

    E é pela obediência à Palavra de Deus que chegamos à santidade, conforme a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo: "Toda Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus torna-se perfeito, capacitado para toda boa obra." 2 Tm 3,16-17

    Por isso, a Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses reza Àquele que no-las pode dar: "O Deus da Paz conceda-vos perfeita santidade. Que todo vosso ser, espírito, alma e corpo, seja conservado irrepreensível para a Vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo!" 1 Ts 5,23

    A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, no mesmo sentido, associa a perfeição à presença de Deus em nós: "Tendei à perfeição, animai-vos, tende um só coração, vivei em Paz, e o Deus de amor e Paz estará convosco." 2 Cor 13,11

    E sobre o meramente mundano comportamento, a Carta de São Paulo ao Romanos prega: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe agrada e o que é perfeito." Rm 12,2

    A Sabedoria, pois, tem mostrado que a perfeição vem pela prática da caridade, seja material seja espiritual. Este Santo vai dizer: "Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição." Cl 3,14

    Por isso, para que ela esteja em nós de modo cada vez mais vivo, a Carta de São Paulo aos Filipenses explica: "Peço, em minha oração, que vossa caridade se enriqueça cada vez mais de compreensão e critério, com que possais discernir o que é mais perfeito, e tornei-vos puros e irrepreensíveis para o Dia de Cristo..." Fl 1,9-10

    E a Primeira Carta de São Pedro diz que esta é uma obra de Deus: "O Deus de toda Graça, que vos chamou em Cristo a Sua Eterna Glória, depois que tiverdes padecido um pouco, aperfeiçoá-vos-á, torná-vos-á inabaláveis, fortificá-vos-á." 1 Pd 5,10

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Novos Céus e Nova Terra

    Sete séculos antes da Encarnação de Cristo, no Livro do Profeta Isaías, Deus já tinha prometido que, para bem realizar Sua justiça, criaria novos céus e nova Terra: "... porque as desgraças de outrora serão esquecidas, já não lhes volverão ao espírito. Pois Eu vou criar novos céus e nova Terra. O passado já não será lembrado, já não volverá ao espírito, mas será experimentada a eterna alegria e felicidade daquilo que vou criar." Is 65,16b-18a

    Ele promete, portanto, a verdadeira felicidade, quer dizer, os Céus, para que nele Seus filhos vivam a eternidade: "'Pois, assim como os novos céus e a nova Terra, que vou criar, devem subsistir diante de Mim', declara o Senhor, 'assim devem subsistir vossa raça e vosso nome.'" Is 66,22

    Longe de atemorizar, portanto, a intenção de Deus ao revelar o fim dos tempos é exclusivamente garantir a realização de Sua justiça, e assim oferecer Consolação a Seu povo. Foi exatamente nestes termos que o Livro de Eclesiástico interpretou as visões do Profeta Isaías: "Por uma poderosa inspiração, ele viu o fim dos tempos, e consolou aqueles que choravam em Sião. Ele anunciou o futuro até a eternidade, assim como as coisas ocultas antes que se cumprissem." Eclo 48,27-28

    Falando sobre esse assunto, o temível Dia do Senhor, a Segunda Carta de São Pedro deu detalhes. Mas sua maior preocupação é com a purificação de nosso Coração, para que efetivamente alcancemos esta promessa de Deus: "Naquele dia, os céus passarão com um assombroso estrondo, os elementos abrasados dissolver-se-ão e a Terra será consumida com todas obras que ela contém. Uma vez que todas estas coisas hão de desagregar-se, considerai qual deve ser a santidade de vossa vida e de vossa piedade, enquanto esperais e apressais o Dia de Deus, esse Dia em que, inflamados, os céus hão de dissolver-se e, abrasados, os elementos hão de fundir-se! Nós, porém, segundo Sua promessa, esperamos novos céus e uma nova Terra, nos quais habitará a justiça." 2 Pd 3,10-13

    Ora, o próprio Jesus falou sobre idênticos e cósmicos fenômenos, que sucederão a Grande Tribulação por Ele anunciada (cf. Mc 13,19). Foi durante Sua última Páscoa em Jerusalém, enquanto preparava os Apóstolos, como o Evangelho Segundo São Mateus narra: "Logo após estes dias de Tribulação daqueles dias, o sol vai ficar escuro, a lua não mais brilhará e as estrelas cairão do céu, e os poderes do espaço ficarão abalados." Mt 24,29

    E no Evangelho Segundo São Lucas, também depois do Domingo de Ramos, Ele deu detalhes da reação da humanidade diante de tão estarrecedores acontecimentos: "Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. E na Terra, as nações cairão em desespero, apavoradas com o barulho do mar e das ondas. Os homens desmaiarão de medo e ansiedade, pelo que vai acontecer a toda Terra..." Lc 21,25-26

    Afirmou o fim de todo Universo, em contraponto à perenidade de Sua Palavra. Está entre Seus últimos ensinamentos na Cidade Santa: "Os céus e a Terra desaparecerão, mas Minhas palavras não desaparecerão." Lc 21,33

    Em perfeita concordância, o Príncipe dos Apóstolos vai reafirmar o poder do Verbo Encarnado, também indicando o final destino de tudo que conhecemos: "Mas os céus e a Terra que agora existem são guardados pela mesma Divina Palavra, e reservados para o fogo no Dia do Juízo e da perdição dos ímpios." 2 Pd 3,7

    Para nós, no entanto, sem os auxílios do Espírito de Cristo é inimaginável tamanho poder que Deus manifestará. Mas Ele tornou a revelá-lo quase ao fim o Livro de Apocalipse de São João, para que fosse registrado como parte também da Nova Aliança: "Vi, então, um grande trono branco e Aquele que nele Se sentava (Deus). Os céus e a Terra fugiram de Sua face, e já não se achou lugar para eles." Ap 20,11

    Com efeito, das revelações que teve, o Amado Discípulo também narra a Recriação: "Vi, então, um novo céu e uma nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira Terra desapareceram..." Ap 21,1a

    E testemunhou mais esta visão: "Então Aquele que está assentado no trono disse: 'Eis que Eu renovo todas coisas.' Ainda disse: 'Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.' Novamente disse-me: 'Está pronto! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Começo e o Fim.'" Ap 21,5-6a

terça-feira, 28 de outubro de 2025

São Judas Tadeu, Apóstolo

    Foi um dos mais reservados Apóstolos, de quem poucos registros ficaram, mas nem por isso se pode deduzir que tenha sido menos ativo. De fato, não é muito mencionado. E aparece nas listas dos Apóstolos nos Evangelhos sempre entre os últimos dos Doze. O Evangelho Segundo São Mateus, por exemplo, apontou: "Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro, depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 10,2-4

    E o Evangelho Segundo São Lucas, que não o chama de Tadeu, mas de Judas, seu primeiro nome, só o menciona à frente de Judas Iscariotes: "Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e dentre eles escolheu Doze, que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelota; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor." Lc 6,13-16

    Parente de Jesus, ele é citado como um de Seus irmãos por São Mateus e no Evangelho Segundo São Marcos, que reproduzimos: "Não é Ele o carpinteiro, o Filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?" Mc 6,3

    É São Judas que questiona Jesus, no Evangelho Segundo São João, quanto a Seu modo de manifestar-Se pessoa a pessoa, pois gostaria de vê-Lo manifestando-Se o quanto antes ao mundo todo, de forma gloriosa e em definitivo. Nessa passagem, fica evidente o respeito com que ele trata Jesus, chamando-O de Senhor, detalhe que também desmistifica a ideia de que seria Seu irmão, como pretendem alguns, e assim simplesmente pela absoluta falta de intimidade: "Pergunta-Lhe Judas, não o Iscariotes: 'Senhor, por que razão hás de manifestar-Te a nós e não ao mundo?' Respondeu-lhe Jesus: 'Se alguém Me ama, guardará Minha Palavra e Meu Pai amá-lo-á. E Nós viremos a ele, e nele faremos Nossa morada.'" Jo 14,22-23

    Ele ainda tem seu nome nas listas dos Onze presentes no Cenáculo, pouco antes da vinda do Espírito Santo por ocasião do Pentecostes, conforme o Livro de Atos dos Apóstolos, onde mais uma vez (cf. Lc 6,16) São Lucas exclusivamente o indica como irmão de São Tiago Menor, não de Jesus, e de novo como o último deles, atrás até de São Simão Zelota, que dos Doze é o menos citado. Ademais, nosso evangelista aponta a presença da Santíssima Virgem, Mãe da Santa Igreja Católica: "Tendo entrado no Cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelota, e Judas, irmão de Tiago. Todos eles unanimemente perseveravam em oração, juntamente às mulheres, entre elas Maria, Mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele." At 1,13-14

    Por fim, nosso Santo assina uma epístola na qual providencialmente se identifica com irmão de São Tiago Menor, assim como São Lucas, de expresso modo, o identificou por duas vezes. Essa passagem deixa ainda mais claro que ele não era irmão de Jesus, nem filho de Nossa Senhora ou sequer de São José, como ainda mais delirantes pretendem. Ele mesmo faz questão de apresentar-se, talvez justamente para esclarecer esse assunto, diz-se irmão de Tiago, filho da Maria esposa de Cleófas, ou Alfeu (cf. Mc 3,18), seu equivalente hebraico, e parenta de Maria Santíssima. Ele não se identifica como irmão de Jesus, como seguramente faria se o fosse, mas como Seu servo: "Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago..." Jd 1

    A Carta de São Judas também não é extensa. Ele justifica-a apenas para corroborar o que 'os Apóstolos' ensinavam, como se não fosse um deles, para deixar seu testemunho sobre Cristo e já alertar das correntes heresias, exortando os fiéis a não desanimarem com o escárnio que sofriam. E deixa um importante registro de que a Revelação já estava encerrada, portanto só cabe ser explicitada, chamando-a de ''': "Caríssimos, estando eu muito preocupado em escrever-vos a respeito de nossa comum Salvação, senti a necessidade de dirigir-vos esta carta para vos exortar a pelejar pela fé, de uma vez para sempre confiada aos Santos. Pois certos ímpios furtivamente se introduziram entre nós, os quais desde muito tempo estão destinados para este Julgamento. Eles transformam em dissolução a Graça de Nosso Deus, e negam Jesus Cristo, Nosso Único Mestre e Senhor. Mas vós, caríssimos, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas pelos Apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam: 'No fim dos tempos virão impostores, que viverão segundo suas ímpias paixões. Homens que semeiam a discórdia, homens sensuais que não têm o Espírito Santo.'" Jd 3-4.17-19

    Nela, demonstrando o mesmo respeito que se viu no Evangelho Segundo São João, por seis vezes ele menciona o Nome de Jesus, e em todas chama-O de Cristo. E, como visto, também O chama de 'Nosso Único Mestre e Senhor', ou seja, nenhum resquício de familiar intimidade, muito menos de sanguínea irmandade.

São Simão Zelota, Apóstolo

    Certamente, o menos conhecido dentre os Doze Apóstolos. Nas listas, sempre é citado entre os últimos pelos evangelistas, duas das três vezes à frente apenas de Judas Iscariotes, e no Evangelho Segundo São Mateus é chamado de 'cananeu', por seu engajamento no movimento nacionalista de então: "Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro, depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e TadeuSimão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 10,2-4

    Assim como o Evangelho Segundo São Marcos (cf. Mc 3,18), que serviu de texto base para os demais, o Evangelho Segundo São Lucas aponta o apelido de zelota, em referência ao apaixonado zelo que seu grupo religioso tinha pelas Escrituras, desejoso de vê-las plenamente respeitadas: "Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e escolheu Doze dentre eles, que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro. André, seu irmão. Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado zelota. Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor." Lc 6,13-16

    Após esta citação, São Simão só mais uma vez será nominalmente citado, seja nos Evangelhos ou nos demais Livros do Novo Testamento: na lista dos Onze, já sem Judas Iscariotes, claro!, do Livro de Atos dos Apóstolos, logo após a Ascensão de Jesus e pouco antes do Pentecostes, quando o Amado Médico de novo o coloca, por algum motivo, à frente de ninguém menos que São Judas Tadeu, um dos chamados 'irmãos' de Jesus. E repete, chamando-o de zelota, além de registrar a essencial presença da Santíssima Virgem para a formação da Santa Igreja Católica: "Tendo entrado no cidade, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelota, e Judas, irmão de Tiago. Todos eles unanimemente perseveravam em oração, juntamente às mulheres, entre elas Maria, Mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele." At 1,13-14

    Mas como zelota, e assim íntimo companheiro de São Pedro, era ele que possuía a outra espada que os Apóstolos levavam, como vemos momentos antes de partirem para o Horto das Oliveiras, onde Jesus iria rer entregue. Em sequência à Santa Ceia, o Divino Mestre havia ordenado: "Depois ajuntou: 'Quando vos mandei sem bolsa, sem mochila e sem calçado, faltou-vos porventura alguma coisa?' Eles responderam: 'Nada.' 'Mas agora', disse-lhes Ele, 'aquele que tem uma bolsa, tome-a. Aquele que tem uma mochila, igualmente tome-a. E aquele que não tiver uma espada, venda sua capa para comprar uma.' Eles replicaram: 'Senhor, eis aqui duas espadas!' 'Basta!', respondeu Ele." Lc 22,35-36.38

    De fato, uma das espadas era levada pelo Príncipe dos Apóstolos, como vemos no Evangelho Segundo São João, exatamente quando Nosso Senhor foi preso pelos guardas dos líderes judeus de Jerusalém: "Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. Mas Jesus disse a Pedro: 'Enfia tua espada na bainha! Não hei de beber o Cálice que o Pai Me deu?" Jo 18,10-11

    Assim como São Tiago Menor e São Judas Tadeu, que eram parentes próximos de Jesus (cf, Mc 15,40 e Jd 1), e ainda São Tomé e Judas Iscariotes, de São Simão Zelota não ficou registrado em que momento ele passou a acompanhar Jesus, diferente do que aconteceu com os demais Apóstolos. Mas baseando-se no Evangelho de São João, é muito provável que ele também tenha sido convidado para as bodas de Caná, talvez pelo próprio São Pedro, e assim presenciado o milagre da transformação da água em vinho. Com efeito, nesta ocasião e pelo local, o Amado Discípulo, como ocular testemunha e de tão pontuais e cronológicos registros, dá a entender que o grupo dos Apóstolos já estava formado, exceto pela ausência de São Mateus, que só seria chamado em Cafarnaum (cf. Mc 2,14), onde Jesus foi morar após deixar Nazaré (cf. Mt 4,13): "Este foi o princípio dos sinais. Jesus realizou-o em Caná de Galileia. Manifestou Sua Glória, e Seus discípulos creram n'Ele." Jo 2,11

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

A Ira de Deus

    Embora muito mais se fale do amor de Deus, também se deve ter claro Sua ira, como se viu em punição pelo pecado da idolatria durante o Êxodo. Aliás, pelo pecado da idolatria, a fúria de Deus alcança até mesmo os já falecidos, como é o caso Purgatório, pois Ele mesmo diz no cântico de Moisés, que estava em seus últimos anos, visto no Livro de Deuteronômio: "Eles provocaram Meu ciúme com um falso deus, e irritaram-Me com seus vazios ídolos. O fogo de Minha ira está a arder e vai queimar até à mansão dos mortos, vai devorar a Terra e seus produtos, e abrasar o alicerce das montanhas." Dt 32,21-22

    Pois mesmo com todas frequentes intervenções de Moisés, nem todos israelitas entraram na Terra Santa. Mais tarde, através do Livro de Salmos, Ele mesmo justificou: "Por isso, em Minha ira, jurei que não haveriam de entrar no lugar de descanso que lhes prometera!" Sl 94,11

    E dado que Israel não acolhia Seus Profetas, Ele usou da brutalidade do inimigo exército, os babilônios, para corrigir Seu povo. São registros do Segundo Livro de Crônicas, quando se deu a destruição do Templo de Jerusalém e o exílio em Babilônia: "Em vão o Senhor, Deus de seus pais, havia-lhes enviado avisos sobre avisos por meio de Seus mensageiros, pois tinha compaixão de Seu povo e de Sua própria habitação. Eles zombavam de Seus enviados, desprezavam Seus conselhos e riam de Seus Profetas, até que a ira de Deus se desencadeou sobre Seu povo e não houve mais remédio. Então Deus suscitou contra eles o rei dos caldeus, que, no próprio edifício do Santuário, mandou matar Seus jovens, e não poupou nem o adolescente, nem a donzela, nem o ancião, nem a mulher de cabelos brancos. O Senhor entregou-lhe tudo." 2 Cr 36,15-17

    Ademais, os Profetas também eram encarregados de anunciar Seus castigos, como vemos no Livro do Profeta Isaías, cem anos antes, ao falar do símbolo máximo da ira de Deus: Seu Dia, o Dia do Juízo Final: "Lamentai-vos, porque o Dia do Senhor está próximo como uma devastação provocada pelo Todo-Poderoso. Eis que virá o Dia do Senhor, implacável Dia, de furor e de ardente cólera, para reduzir a Terra a um deserto e dela exterminar os pecadores." Is 13,6.9

    Ora, o atual inferno, para onde seguem as más almas, ainda não é a definitiva condenaçãoE a ira de Deus, de tão real e efetiva, tem-se manifestado de tal forma que os maus anjos, Satanás entre eles, já foram punidos. Diz a Segunda Carta de São Pedro: "Pois se Deus não poupou os anjos que pecaram, mas precipitou-os nos tenebrosos abismos do inferno onde os reserva para o Julgamento..." 2 Pd 2,24

    Na parábola das ovelhas e dos cabritos, que consta do Evangelho Segundo São Mateus, Jesus, dias antes de Sua última Páscoa, também Se pronunciou nesse sentido: "Retirai-vos de Mim, malditos! Ide para o eterno fogo destinado ao Demônio e aos seus anjos." Mt 25,41

    São João Batista igualmente advertia da ira de Deus, e, como única solução, apontava para a Redenção oferecida na Pessoa de Cristo. É seu discurso antes de ser preso, quando soube que Jesus já havia iniciado Seu Ministério, como está no Evangelho Segundo São João: "Aquele que crê no Filho tem a Vida Eterna. Quem não crê no Filho não verá a Vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus." Jo 3,36

    Em mesmo sentido, a Carta de São Paulo aos Colossenses, chamando-os de insensatos por desvios já dentro do cristianismo, prega a purificação do corpo e da alma para que não mais ofendêssemos o Pai Celeste: "Mortificai vossos membros, pois, no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. Dessas coisas provém a ira de Deus sobre os descrentes." Cl 3,5-6

    Assim, pois, a Carta de São Paulo aos Romanos via no lento vagar dos tempos a paciência de Deus, à espera de nossa Confissão, de nossa sincera conversão: "Ou desprezas as riquezas de Sua bondade, tolerância e longanimidade, desconhecendo que a benignidade de Deus te convida ao arrependimento? Mas por obstinação e impenitente coração, vais acumulando ira contra ti, para o Dia da Cólera e da revelação do justo Juízo de Deus..." Rm 2,4-5

domingo, 26 de outubro de 2025

O Amor de Deus

    O sagrado autor do Livro de Sabedoria belamente percebeu o amor de Deus: "Tendes compaixão de todos, porque Vós podeis tudo. E para que se arrependam, fechais os olhos aos pecados dos homens. Porque amais tudo que existe, e não odiais nada do que fizestes, porquanto, se o odiásseis, não o teríeis feito de modo algum. Como poderia subsistir qualquer coisa, se não a tivésseis querido, e conservar a existência, se por Vós não tivesse sido chamada? Mas poupais todos seres, porque todos são Vossos, ó Senhor, que amais a vida." Sb 11,23-26

    Por isso, o rei Davi canta no Livro de Salmos, pedindo perdão em nome de Seu amor: "Ó Deus, tem piedade de mim conforme Tua Misericórdia. Em Teu grande amor, cancela meu pecado." Sl 51,3

    E afere-lhe o justo valor: "Porque Vosso amor me é mais precioso que a vida..." Sl 63,4

    De fato, firmando a promessa da Nova Aliança, Deus mesmo disse ao povo de Israel no Livro do Profeta Isaías: "'Mesmo que as montanhas oscilassem e as colinas se abalassem, jamais Meu amor te abandonará e jamais Meu pacto de Paz vacilará,' diz o Senhor, que Se compadeceu de ti." Is 54,9-10

    Se vez e outra somos castigados, pois, se bem observarmos os acontecimentos, também é fácil atestar Sua infinita afabilidade. Porque ainda através deste Profeta, Ele também afirmou: "Num acesso de cólera, de ti volvi Minha face. Mas em Meu eterno amor, de ti tenho compaixão." Is 54,8

    Não seria, porém, o amor, e tão simplesmente o amor, ainda hoje, a mais difícil lição que Jesus tenta ensinar-nos? Será que nós compreendemos, ao menos um pouco, a dimensão de Seu amor? Concebemos, ao menos episodicamente, que podemos amar como Ele nos ama? No Evangelho Segundo São João, Ele estabeleceu esse parâmetro, na noite da Santa Ceia: "Este é Meu Mandamento: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amo." Jo 15,12

    Mas a pergunta é: que amor é esse que O levou a morrer por nós? Realmente percebemos o exemplo de tantos Santos e Mártires? Também chegaríamos, por amor, a essas consequências? De toda forma, essa é a meta por Ele estabelecida e demonstrada por Sua Paixão: "Ninguém tem maior amor que aquele que dá sua vida por seus amigos." Jo 15,13

    Mas também deixou patente que não podemos ser amados por Deus se não amarmos a Ele, Seu Filho: "Pois o próprio Pai vos ama, porque vós Me amastes e crestes que saí de Deus." Jo 16,27

    Por isso, ressaltando o valor da perseverança para que vençamos a insensibilidade, a inconstância e a faltosa consciência, Nosso Senhor recomendou-nos em ensinamentos finais: "Se guardardes Meus Mandamentos, sereis constantes em Meu amor, como Eu também guardei os Mandamentos de Meu Pai e persisto em Seu amor." Jo 15,10

    E a despeito dos insondáveis desígnios de Deus, alguma luz nos é dada sobre Sua didática quando lemos esta passagem do Livro de Provérbios: "Meu filho, não desprezes a correção do Senhor, nem te espantes de que Ele te repreenda, porque o Senhor castiga aquele a quem ama, e pune o filho a quem muito estima." Pr 3,11-12

    E na Carta de São Paulo aos Efésios, ele reza: "... que poderosamente sejais robustecidos por Seu Espírito em vista do crescimento de vosso homem interior. Que Cristo habite pela em vossos corações, arraigados e consolidados no amor, a fim de que possais, com todos cristãos, compreender qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, isto é, conhecer o amor de Cristo, que desafia todo conhecimento..." Ef 3,16-19

    Ora, a Carta de São Tiago, que era um dos chamados 'irmãos' de Nosso Senhor (cf. Mt 27,56), dizendo do Espírito Santo, justifica: "Todo aquele que quer ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus. Ou imaginais que em vão diz a Escritura: 'Sois amados até o ciúme pelo Espírito que em vós habita?'" Tg 4,4b-5

sábado, 25 de outubro de 2025

Jesus, A Verdadeira Perfeição

    Como os seguidores da tradição de São Paulo atestam na Carta aos Hebreus, mesmo os Profetas não puderam chegar à perfeição antes da manifestação do Cristo, pois foi Ele que nos trouxe a plenitude da Graça (cf. Jo 1,16): "E, no entanto, todos estes mártires da não conheceram a realização das promessas! Porque Deus, que tinha para nós uma melhor sorte, não quis que eles chegassem sem nós à perfeição." Hb 11,39-40

    A Primeira Carta de São Pedro assim explicava o ápice da Revelação, que se deu na Cruz do Calvário, dizendo aos cristãos: "Esta Salvação tem sido o objeto das investigações e das meditações dos Profetas que proferiram oráculos sobre a Graça que vos era destinada. Eles investigaram a época e as circunstâncias indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava e profetizava os sofrimentos do mesmo Cristo e as Glórias que deviam segui-los." 1 Pd 1,10-11

    De fato, enquanto Deus, Jesus é a própria perfeição, e assim elevou o Antigo Testamento à perfeição com Seus ensinamentos, abrindo para nós o caminho da perfeição. Ele advertiu logo no Sermão da Montanha, ou seja, ainda no início de Seu Ministério, como lemos no Evangelho segundo São Mateus: "Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim para os abolir, mas sim para os levar à perfeição." Mt 5,17

    Por isso, o rico jovem que se julgava perfeito, numa arrogância, aliás, característica da juventude, foi convidado à verdadeira perfeição por Jesus, que Se encaminhava a Jerusalém para Sua última Páscoa: "Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois vem, e segue-Me!" Mt 19,21

    Tal Graça, portanto, não nos seria concedida sem o Sacrifício de Cristo, que nos purifica por Seu Sangue através da Igreja Católica Apostólica Romana, ao conceder-nos o perdão dos pecados. Os discípulos de São Paulo afirmam: "Por uma só oblação, Ele realizou a definitiva perfeição daqueles que recebem a santificação." Hb 10,14

    Porque só em Cristo temos o Sacerdote da Eternidade, que nos trouxe a Eterna Aliança, como eles prosseguem: "Se a perfeição tivesse sido realizada pelo sacerdócio levítico, porque é sobre este que se funda a legislação dada ao povo, que necessidade ainda havia de que surgisse outro Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, e não segundo a ordem de Aarão? E é notório que Nosso Senhor nasceu da tribo de Judá, tribo à qual Moisés nada encarregou ao falar do sacerdócio. Isto torna-se ainda mais evidente se se tem em conta que Este outro Sacerdote, que surge à semelhança de Melquisedec, foi constituído não por prescrição de uma lei humana, mas por Sua imortalidade. Porque está escrito: 'Tu és eternamente sacerdote, segundo a ordem de Melquisedec.' Pois a Lei nada levou à perfeição. Apenas foi portadora de uma melhor esperança que nos leva a Deus." Hb 7,11.14-17.19

    Ora, por Sua Paixão, Jesus tornou-Se o modelo da perfeição, ainda segundo eles, que disseram de Deus: "Aquele para Quem e por Quem todas coisas existem, desejando conduzir à Glória numerosos filhos, deliberou elevar à perfeição, pelo sofrimento, o Autor da Salvação deles, para que Santificador e santificados formem um só todo. Por isso, Jesus não hesita em chamá-los Seus irmãos..." Hb 2,10-11

    Pois imbuídos da devida prudência, devemos estar cientes que viver a perfeição nesse mundo é um grande privilégio. Eles afirmaram aos hebreus, referindo-se aos Santos: "Vós, ao contrário, aproximaste-vos da montanha de Sião, da cidade do Deus Vivo, da Jerusalém Celestial, das miríades de anjos, da festiva assembleia dos primeiros inscritos no Livro dos Céus, e de Deus, Universal Juiz, e das almas dos justos, que chegaram à perfeição..." Hb 12,22-23

    Versando sobre Cristo, portanto, a Carta de São Paulo aos Colossenses assentou: "Porque aprouve a Deus fazer n'Ele habitar toda plenitude, e por Seu intermédio, ao preço do próprio Sangue na Cruz, Consigo reconciliar todas criaturas, restabelecendo a Paz a tudo quanto existe na Terra e nos Céus. Sendo vós alheios a Deus, e inimigos por vossos pensamentos e más obras há bem pouco tempo, eis que agora Ele vos reconciliou pela morte de Seu Corpo Humano, para que possais apresentar-vos santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai." Cl 1,19-22

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Os Sinais do Céu

    Jesus argumentou sobre sinais. No Evangelho Segundo São Mateus, escribas e fariseus vieram pedir-Lhe uma prova, e Ele cobrou-lhes maturidade espiritual e coerência quanto a Sua manifestação: "Ele respondeu-lhes: 'Quando vem a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado. E de manhã: Hoje haverá tormenta, porque o céu está de um sombrio vermelho. Hipócritas! Sabeis distinguir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos?" Mt 16,2-4

    Após a repercussão do exorcismo e da cura que Ele realizou num endemoninhado cego e mudo, a religiosos destes mesmos grupos já havia dito que teriam que se contentar com o milagre da Sua Ressurreição, prenunciado no sinal que havia sido dado no Livro de Jonas: "'Mestre, queremos ver um sinal feito por Ti.' Respondeu-lhes Jesus: 'Esta adúltera e perversa geração pede um sinal, mas não lhe será dado outro sinal que aquele do Profeta Jonas. Do mesmo modo que Jonas esteve três dias e três noites no ventre do peixe, assim o Filho do Homem ficará três dias e três noites no seio da terra." Mt 12,38b-40

    Ora, Nosso Salvador é o mais evidente sinal de Deus, como está no Livro do Profeta Isaías, e para o mundo todo, pela Santa Igreja Católica: "Naquele tempo, o Rebento de Jessé, que Se ergue como um sinal para os povos, será procurado pelas nações e gloriosa será Sua morada." Is 11,10

    Mas também sinal de contradição: Ele é Deus e vai ser assassinado; é Deus de amor e vai ser odiado. Foi isso que o religioso Simeão disse a Nossa Senhora no dia da Apresentação do Menino Jesus no Templo de Jerusalém, como está Evangelho Segundo São Lucas: "Eis que este Menino está destinado a ser causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações." Lc 2,34-35a

    Pois está claro que as Graças de Deus nos serão cobrados. No Evangelho Segundo São João, sobre todos que foram testemunhas oculares de Seus ensinamentos e obras, Jesus mesmo vai dizer aos Apóstolos em despedida, pouco antes do início de Sua Paixão: "Se Eu não viesse e não lhes tivesse falado, não teriam pecado. Mas agora não há desculpa para seu pecado. Se Eu não tivesse feito entre eles obras, como nenhum outro fez, não teriam pecado. Mas agora as viram, e odiaram a Mim e a Meu Pai." Jo 15,22.24

    Já o simples povo de Israel, reagia do mais costumeiramente humano modo diante de Seus curas. Isso via-se desde o começo de Sua vida pública e continuou: "Naquele tempo, Jesus foi para o outro lado do mar de Galileia, também chamado de Tiberíades. Uma grande multidão seguia-O, porque via os sinais que Ele operava a favor dos doentes." Jo 6,1-2

    Por isso, depois das profecias contras as cidades de Corazim, Betsaida e Cafarnaum, Ele faz esta oração ao Pai, exaltando exatamente Seus desígnios quanto à Revelação: "Eu bendigo-Te, Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequenos." Mt 11,25

    E deixou claro que não apenas sinais revelariam o Salvador: "Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão sinais e portentos para seduzir, se possível for, até os escolhidos." Mc 13,22

    O testemunho e os sinais que temos da Igreja, porém, são inconfundíveis. Os seguidores da tradição de São Paulo argumentam na Carta aos Hebreus: "Como, então, escaparemos nós se agora desprezarmos a mensagem da Salvação, tão sublime, primeiro anunciada pelo Senhor e depois confirmada pelos que a ouviram, comprovando-a o próprio Deus por sinais, prodígios, milagres e pelos dons do Espírito Santo, repartidos segundo a Sua vontade?" Hb 2,3-4

    E como está na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, a observação do cumprimento das profecias será cobrada, mais uma vez, daqueles que dizem que acreditam: "... as profecias são um sinal, não para os infiéis, mas para os fiéis." 1 Cor 14,22

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Visões e Aparições (II)

    No Novo Testamento, as revelações começam com a aparição do Arcanjo São Gabriel ao sacerdote São Zacarias, para anunciar o nascimento de São João Batista, seu filho. É do Evangelho Segundo São Lucas: "Apareceu-lhe, então, um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do incenso. Vendo-o, Zacarias ficou perturbado e o temor assaltou-o. Mas o anjo disse-lhe: 'Não temas, Zacarias, porque tua oração foi ouvida: Isabel, tua mulher, dá-te-á um filho, e chamá-lo-ás João." Lc 1,11-13

    Seis meses depois, este mesmo Arcanjo vai aparecer a Maria Santíssima na mais remota região de Israel, para lhe anunciar o Nascimento de Nosso Salvador: No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade de Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria. Entrando onde ela estava, disse-lhe: 'Ave, cheia de Graça, o Senhor é contigo.'" Lc 1,26-28

    E assim, na noite de Natal, uma multidão de anjos apareceu a pastores da cidade de Belém, lugar de recenseamento de São José (cf. Lc 2,4), para que fossem adorar o Menino Jesus: "Nos arredores havia uns pastores, que durante as vigílias da noite guardavam seu rebanho nos campos. Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a Glória do Senhor refulgiu ao redor deles, e tiveram grande temor. O anjo disse-lhes: 'Não temais! Eis que vos anuncio uma Boa Nova que será alegria para todo povo: hoje, na Cidade de Davi, vos nasceu um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto servi-vos-á de sinal: achareis um Recém-Nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura.' E subitamente ao anjo juntou-se uma multidão do Celeste Exército, que louvava a Deus e dizia: 'Glória a Deus no mais alto dos Céus, e Paz na Terra aos homens, objetos da divina benevolência.'" Lc 2,8-14

    A vida pública de Jesus começa com Seu Batismo por São João Batista, quando se deu a primeira manifestação conjunta da Santíssima Trindade, pois Lhe apareceu o Espírito Santo e se ouviu a voz do Pai. O Evangelho Segundo São Mateus apontou: "De Galileia, foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de por ele ser batizado. João recusava-se: 'Eu devo ser batizado por Ti e Tu vens a mim?' Mas Jesus respondeu-lhe: 'Deixa por agora, pois convém que cumpramos toda justiça.' João então cedeu. Depois que Jesus foi batizado, logo saiu da água, e eis que os Céus se abriram e se viu sobre Ele descer, em forma de Pomba, o Espírito de Deus. E do Céu baixou uma voz: 'Eis Meu Amado Filho, em quem ponho Minha afeição." Mt 3,13-17

    Depois de ser tentado no deserto, Nosso Salvador foi socorrido por Seus anjos: "Em seguida, o Demônio deixou-O, e os anjos aproximaram-se d'Ele para servi-Lo." Mt 4,11

    Em Sua Transfiguração, seis dias depois de ser reconhecido por São Pedro como Cristo, apareceram-Lhe Moisés e Elias, que foram vistos por Seus mais íntimos Apóstolos. Era, assim como em Seu Batismo, mais uma simultânea manifestação da Santíssima Trindade, pois a Nuvem é uma das sete formas assumidas pelo Espírito Santo: "Seis dias depois, Consigo Jesus tomou Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha. Lá Se transfigurou em presença deles: Seu rosto brilhou como o sol, Suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com Ele. Pedro então tomou a palavra e disse-Lhe: 'Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, farei aqui três tendas: uma para Ti, uma para Moisés e outra para Elias.' Ele ainda falava, quando veio uma luminosa Nuvem e os envolveu. E daquela Nuvem fez-se ouvir uma voz que dizia: 'Eis Meu Amado Filho, em Quem pus toda Minha afeição. Ouvi-O!'" Mt 17,1-5

    E conforme o Evangelho Segundo São João, após ressuscitar e aparecer a Santa Maria Madalena, a São Pedro (cf. Lc 24,34) e a dois discípulos que partiram para Emaús, Jesus apareceu ao Colégio dos Apóstolos ainda no Domingo da Ressurreição, e deu aos Sacerdotes da Santa Igreja Católica o poder para perdoar os pecados: "Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-Se em meio a eles. Disse-lhes Ele: 'A Paz esteja convosco! Como o Pai Me enviou, Eu também vos envio.' Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,19-23

    Tempos depois de Sua Ascensão, Jesus apareceu no caminho de Damasco ao Apóstolo dos Gentios, à época chamado Saulo, um fariseu que, segundo ele mesmo, prendia e açoitava cristãos (cf. At 22,19). A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios anotou: "E por último de todos, também apareceu a mim, como a um abortivo. Porque eu sou o menor dos Apóstolos, e não sou digno de ser chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus." 1 Cor 15,8-9

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Visões e Aparições (I)

    A veracidade da religião que temos se deve ao fato de que ela foi inteiramente revelada: toda Doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana foi revelada pela Santíssima Trindade! Ora, nós acolhemos a Revelação em sua plenitude, que foi feita através de visões e aparições pelo próprio Deus. Tanto que, não ter visões no Antigo Testamento era sinal de más relações com Deus, conforme o Primeiro Livro do Profeta Samuel: "O jovem Samuel servia ao Senhor sob os olhos de Heli. A Palavra do Senhor era rara naqueles dias, e as visões não eram frequentes." 1 Sm 3,1

    É nessa atmosfera que é prometido o Pentecostes, quando as visões se tornariam abundantes pela plena ação do Espírito Santo na Santa Igreja Católica, como está no Livro do Profeta Joel. Deus disse-lhe: "Depois disso, acontecerá que derramarei Meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões. Farei aparecer prodígios no céu e na Terra, sangue, fogo e turbilhões de fumaça." Jl 3,1.3

    O Livro das Lamentações, escrito depois da destruição de Jerusalém e do Templo, quando o povo de Israel foi levado ao exílio em Babilônia, também se ressente de seu tempo: "Mesmo os Profetas não mais recebem as visões do Senhor." Lm 2,9b

    Foi mesmo muito grave castigo, como de depreende do Livro do Profeta Amós, de mais de 100 anos antes deste flagelo: "Porque o Senhor Javé nada faz sem revelar Seu segredo aos Profetas, Seus servos." Am 3,7

    E o Livro de Provérbios, que começou a ser escrito ainda no tempo do rei Salomão, atestava a importância que têm essas divinas interveniências: "Por falta de visão, o povo vive sem freios..." Pr 29,18a

    Por vezes, porém, a culpa era do próprio povo, como se vê no Livro do Profeta Isaías, que foi contemporâneo de Miqueias: "'Ai dos rebeldes filhos', diz o Senhor, 'eles seguem um plano que não vem de Mim. Concluem alianças sem Meu consentimento, acumulando, assim, falta sobre falta. Porque este é um povo rebelde, são mentirosos filhos, filhos que se recusam a ouvir as instruções do Senhor. Eles dizem aos videntes: 'Não vejais.' E aos Profetas: 'Não nos anuncieis a Verdade! Dizei-nos coisas agradáveis, profetizai-nos fantasias.'" Is 30,1-2.9-10

    Ora, no Livro de Gênesis, Deus apareceu por várias vezes a Abraão, instruindo-o, como antes de destruir Sodoma e Gomorra, quando veio anunciar-lhe um filho: "O Senhor apareceu a Abraão nos carvalhos de Mambré, quando ele estava assentado à entrada de sua tenda, no maior calor do dia. Abraão levantou os olhos e viu três Homens de pé diante dele. No mesmo instante, levantou-se da entrada de sua tenda, veio-Lhes ao encontro e prostrou-se por terra. E Ele disse-lhe: 'Voltarei a tua casa dentro de um ano, a esta época, e Sara, tua mulher, terá um filho.'" Gn 18,1-2.10

    Também apareceu a Jacó, neto da Abraão, e numa das vezes para lhe confirmar o nome de Israel: "Quando Jacó voltou de Padã-Arã, Deus novamente apareceu-lhe e abençoou-o. 'Teu nome,' disse-lhe Ele, 'é Jacó. Tu, porém, não te chamarás mais assim, mas Israel.' E chamou-o Israel." Gn 35,9-10

    Mas, nesses assuntos, Moisés realmente era um privilegiado, como se Lê no Livro de Êxodo: "Quando Moisés se dirigia para a Tenda, todo mundo levantava-se, cada um diante da entrada de sua tenda, para o seguir com os olhos até que entrasse na Tenda. E logo que ele acabava de entrar, a coluna de Nuvem descia e punha-se à entrada da Tenda, e o Senhor entretinha-Se com Moisés. O Senhor entretinha-Se com Moisés face-a-face, como um homem fala com seu amigo. Voltava depois Moisés ao acampamento, mas seu ajudante, o jovem Josué, filho de Nun, não se apartava do interior da Tenda." Êx 33,8-9.11

    Séculos depois, porém, no Livro do Profeta Ezequiel, este protagonista, que também era sacerdote, foi encarregado por Deus para desmentir os falsos profetas, ainda no exílio de Babilônia: ""A Palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: 'Filho do Homem, profetiza contra os profetas israelitas que pretendem profetizar, dize àqueles que profetizam de sua própria cabeça: Escutai a Palavra do Senhor!' Eis o que diz o Senhor Javé: 'Ai dos insensatos profetas que seguem sua própria inspiração sem terem tido visão alguma. Assim como chacais nos esconderijos, tais são teus profetas, ó Israel. Não é verdade que não tendes senão ineptas visões, e não fazeis senão enganadoras predições quando dizeis: Oráculo do Senhor, quando Eu não falei coisa alguma?''" Ez 13,1-4.7

terça-feira, 21 de outubro de 2025

O Purgatório

 

    Referindo-Se ao Juízo Particular e ao Juízo Final, Jesus deixa claro que há duas possibilidades de perdão, afirmando que certos pecados, sem o necessário arrependimento, não terão perdão automático pela Divina Misericórdia. O Evangelho Segundo São Mateus registrou: "Todo aquele que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste nem no vindouro século." Mt 12,32

    E claramente apontou que há maiores e menores punições. Ora, estas só podem acontecer no Purgatório, pois no Céu não haverá punição alguma, e, no inferno a punição será total, sem meio termo. No Purgatório, sim, conforme a gravidade dos pecados haverá as correspondentes e expiatórias punições, ou seja, as intermediárias punições. É do Evangelho Segundo São Lucas: "Aquele servo que conheceu a vontade de Seu Senhor, mas não se preparou e não agiu conforme Sua vontade, será açoitado muitas vezes. Todavia, aquele que não a conheceu e tiver feito coisas dignas de chicotadas, será açoitado poucas vezes. Àquele a quem muito se deu, muito será pedido, e a quem muito se houver confiado, mais será reclamado." Lc 12,47-48

    O Livro de Apocalipse de São João também explica a diferença entre os Santos, que já ressuscitaram e nos Céus estão reinando com Ele (cf. Ap 20,4), ou seja, que participam da Primeira Ressurreição, e aqueles que ainda estão purificando-se. O termo 'mil anos' significa um perfeito, completo período, o tempo para a total purificação da alma: "Os outros mortos não tornaram à vida até que se completassem os mil anos. Esta é a Primeira Ressurreição. Feliz e Santo é aquele que toma parte na Primeira Ressurreição!" Ap 20,5-6a

    Afirmativamente, havia mais de dois séculos que o Purgatório era uma cogitação teológica recorrente entre o povo judeu, como vemos no Segundo Livro de Macabeus. Diz de Judas Macabeus, o líder judeu que pôs fim a dominação dos gregos em Israel: "Mas se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que piedosamente morrem, esse era um bom e religioso pensamento. Eis porque ele pediu um expiatório sacrifício: para que os mortos fossem livres de suas faltas." 2 Mc 12,45-46

    Mas há muito, desde o Livro de Deuteronômio, temos outra sentença de Deus, proferida depois do anúncio do Advento, que indica até onde vai Seu fogo purificador. Eis o Purgatório: "O fogo de Minha ira está a arder, e vai queimar até à mansão dos mortos..." Dt 32,22

    E conforme a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, aqueles que, mesmo tendo conduzido suas vidas segundo a Doutrina de Nosso Senhor, não alcançarem a imediata Redenção, serão purificados por um fogo devorador: "Agora, se alguém edifica sobre este fundamento (Cristo), com ouro, ou com prata, ou com preciosas pedras, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O Dia do Juízo demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo. O fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém de alguma maneira passando através do fogo." 1 Cor 3,12-16

    Ora, ao falar do imorredouro 'verme' do pecado, contra o qual exige radicais mudanças, Nosso Salvador mesmo havia dito do processo da Salvação, aqui na Terra ou no Purgatório. Está no Evangelho Segundo São Marcos: "Porque todo homem será salgado pelo fogo." Mc 9,46

    E como deve ser bastante óbvio, não se pode chegar aos Céus sem uma completa purificação da alma. Foi o que os seguidores da tradição de São Paulo apontaram, ao falar do necessário processo de santificação na Carta aos Hebreus: "Procurai a Paz com todos e ao mesmo tempo a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor." Hb 12,14

    Enfim, repete-se: se houvesse apenas Céu e inferno como destinos após a morte, Deus não teria porque Se compadecer dos mortos, pois, depois do Juízo Particular (cf. Hb 9,27), ou eles já estariam prontamente redimidos ou irreversivelmente condenados. Mas está no Livro de Rute, uma estrangeira que se converteu ao Deus de Israel: "Noemi disse à nora (Rute): 'Que ele (Booz) seja abençoado por Javé, que não deixa de ter Misericórdia dos vivos e dos mortos.'" Rt 2,20