Se a ira de Deus parece por demais pesada, e Seus castigos causam algum pavor, convém que tenhamos sempre presente a flagelação que foi a Paixão de Cristo, Seu ato máximo de amor para redimir-nos e livrar-nos da perdição. Os seguidores da tradição de São Paulo escreveram na Carta aos Hebreus: "Por isso, Ele é o Mediador do Novo Testamento. Por Sua morte expiou os pecados cometidos no decorrer do Primeiro Testamento, para que os eleitos recebam a eterna herança que lhes foi prometida." Hb 9,15
Devemos-Lhe, portanto, obediência: "E uma vez chegado ao fim de Sua vida terrena, tornou-Se Autor da Eterna Salvação para todos que Lhe obedecem..." Hb 5,9
Pois depois de viver a condição humana, Ele sentou-Se à direita do Pai como Nosso Defensor: "Eis porque Cristo entrou, não em santuário feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do verdadeiro Santuário, mas no próprio Céu, para agora Se apresentar em nosso favor ante a face de Deus." Hb 9,24
De fato, Sua chegada aos Céus foi precedida da expulsão de Satanás, porque tendo vencido o pecado, e pelo Mandamento do amor, Ele abriu-nos o Caminho da Redenção. No Livro do Apocalipse, São João Evangelista diz ter ouvido uma forte voz no Céu: "Agora chegou a Salvação, o poder e a realeza de Nosso Deus, assim como a autoridade de Seu Cristo, porque foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que dia e noite os acusava diante do Nosso Deus." Ap 12,10
Essa é a razão pela qual a Primeira Carta de São João nos diz com carinho e esperança: "Filhinhos meus, isto escrevo-vos para que não pequeis. Mas se alguém pecar, temos um advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo." 1 Jo 2,1
E a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo diz a Quem devemos gratidão: a Jesus, o Ser Humano. De fato, tal mediação já significou a própria Salvação, pois Jesus é Deus, e sendo Deus não precisaria interceder: "Porque há um só Deus e há um só Mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, um Homem que como resgate Se entregou por todos." 1 Tm 2,5-6a
Pois mesmo entre nem sempre compreensíveis desígnios, essa é a essência do projeto do Pai, como está na Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses: "Porquanto Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a Salvação por Nosso Senhor Jesus Cristo." 1 Ts 5,9
E voltando a falar de Jesus, o Último Apóstolo diz: "É Ele que nos liberta da futura ira." 1 Ts 1,10
Ora, Jesus deixou claro qual era Sua Missão já no episódio que deu nome aos irmãos 'Boanerges', numa das vezes que subiu a Jerusalém. Foi registrado no Evangelho segundo São Lucas: "Enviou diante de Si mensageiros que, tendo partido, entraram em uma povoação dos samaritanos para arranjar-Lhe pousada. Mas não O receberam, por Ele dar mostras que ia para Jerusalém. Vendo isto, Tiago e João disseram: 'Senhor, queres que mandemos que desça fogo do Céu e os consuma?' Jesus voltou-Se e severamente repreendeu-os: 'Não sabeis de que espírito sois animados. O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para salvá-las.' Foram, então, para outra povoação." Lc 9,52-56
Contudo, apontando os desmandos dos religiosos de Sua época, Nosso Salvador não deixou de pronunciar os oito retumbantes 'Ai de vós', dois quais aqui citamos os três primeiros. São palavras do Evangelho segundo São Mateus: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Vós fechais aos homens o Reino dos Céus. Vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar. Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Devorais as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso, sereis castigados com muito maior rigor. Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, dele fazeis um filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos." Mt 23,13-15