Referindo-Se ao Juízo Particular e ao Juízo Final, Jesus deixa claro que há duas possibilidades de perdão, afirmando que certos pecados, sem o necessário arrependimento, não terão perdão automático pela Divina Misericórdia. O Evangelho Segundo São Mateus registrou: "Todo aquele que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste nem no vindouro século." Mt 12,32
O Livro de Apocalipse de São João também explica a diferença entre os Santos, que já ressuscitaram e nos Céus estão reinando com Ele (cf. Ap 20,4), ou seja, que participam da Primeira Ressurreição, e aqueles que ainda estão purificando-se. O termo 'mil anos' significa um perfeito, completo período, o tempo para a total purificação da alma: "Os outros mortos não tornaram à vida até que se completassem os mil anos. Esta é a Primeira Ressurreição. Feliz e Santo é aquele que toma parte na Primeira Ressurreição!" Ap 20,5-6a
Afirmativamente, havia mais de dois séculos que o Purgatório era uma cogitação teológica recorrente entre o povo judeu, como vemos no Segundo Livro de Macabeus. Diz de Judas Macabeus, o líder judeu que pôs fim a dominação dos gregos em Israel: "Mas se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que piedosamente morrem, esse era um bom e religioso pensamento. Eis porque ele pediu um expiatório sacrifício: para que os mortos fossem livres de suas faltas." 2 Mc 12,45-46
Mas há muito, desde o Livro de Deuteronômio, temos outra sentença de Deus, proferida depois do anúncio do Advento, que indica até onde vai Seu fogo purificador. Eis o Purgatório: "O fogo de Minha ira está a arder, e vai queimar até à mansão dos mortos..." Dt 32,22
E conforme a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, aqueles que, mesmo tendo conduzido suas vidas segundo a Doutrina de Nosso Senhor, não alcançarem a imediata Redenção, serão purificados por um fogo devorador: "Agora, se alguém edifica sobre este fundamento (Cristo), com ouro, ou com prata, ou com preciosas pedras, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O Dia do Juízo demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo. O fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém de alguma maneira passando através do fogo." 1 Cor 3,12-16
Ora, ao falar do imorredouro 'verme' do pecado, contra o qual exige radicais mudanças, Nosso Salvador mesmo havia dito do processo da Salvação, aqui na Terra ou no Purgatório. Está no Evangelho Segundo São Marcos: "Porque todo homem será salgado pelo fogo." Mc 9,46
E como deve ser bastante óbvio, não se pode chegar aos Céus sem uma completa purificação da alma. Foi o que os seguidores da tradição de São Paulo apontaram, ao falar do necessário processo de santificação na Carta aos Hebreus: "Procurai a Paz com todos e ao mesmo tempo a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor." Hb 12,14
Enfim, repete-se: se houvesse apenas Céu e inferno como destinos após a morte, Deus não teria porque Se compadecer dos mortos, pois, depois do Juízo Particular (cf. Hb 9,27), ou eles já estariam prontamente redimidos ou irreversivelmente condenados. Mas está no Livro de Rute, uma estrangeira que se converteu ao Deus de Israel: "Noemi disse à nora (Rute): 'Que ele (Booz) seja abençoado por Javé, que não deixa de ter Misericórdia dos vivos e dos mortos.'" Rt 2,20
