segunda-feira, 21 de outubro de 2024

O Purgatório

 

    Referindo-Se ao Juízo Particular e ao Juízo Final, Jesus falou em duas oportunidades para o perdão, afirmando que certos pecados, sem o necessário arrependimento, não terão perdão automático pela Divina Misericórdia. O Evangelho segundo São Mateus registrou: "Todo aquele que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste nem no vindouro século." Mt 12,32

    Também claramente apontou que há maiores e menores punições, diferente do inferno, onde a punição é total, e do Céu, onde não há punições. É do Evangelho segundo São Lucas: "Aquele servo que conheceu a vontade de Seu Senhor, mas não se preparou e não agiu conforme Sua vontade, será açoitado muitas vezes. Todavia, aquele que não a conheceu e tiver feito coisas dignas de chicotadas, será açoitado poucas vezes." Lc 12,47-48a

    E no Livro do ApocalipseSão João Evangelista assim explica a diferença entre os Santos e os que ainda estão purificando-se, quando o termo 'mil anos' significa um perfeito, completo período, o tempo para a total purificação da alma: "Os outros mortos não tornaram à vida até que se completassem os mil anos. Esta é a Primeira Ressurreição. Feliz e Santo é aquele que toma parte na Primeira Ressurreição!" Ap 20,5-6a

    Com efeito, o Purgatório era uma cogitação teológica recorrente entre o povo judeu, como vemos no Segundo Livro dos Macabeus. Diz de Judas Macabeus, o líder judeu que pôs fim a dominação dos gregos em Israel: "Mas se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que piedosamente morrem, esse era um bom e religioso pensamento. Eis porque ele pediu um expiatório sacrifício: para que os mortos fossem livres de suas faltas." 2 Mc 12,45-46

    Mas há muito, desde o Livro do Deuteronômio, temos outra sentença de Deus, pronunciada depois do anúncio da Vinda do Cristo, que indica até onde vai Seu fogo purificador. Eis o Purgatório: "O fogo de Minha ira está a arder, e vai queimar até à mansão dos mortos..." Dt 32,22

    E conforme a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, aqueles que, mesmo tendo edificado suas vidas em Cristo, não alcançarem a imediata Redenção, serão purificados por um fogo devorador: "Agora, se alguém edifica sobre este fundamento (Cristo), com ouro, ou com prata, ou com preciosas pedras, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O Dia do Juízo demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém de alguma maneira passando através do fogo." 1 Cor 3,12-16

    Ora, ao falar do imorredouro 'verme' do pecado, Nosso Salvador mesmo havia dito do processo da Salvação, aqui na Terra ou no Purgatório. O Evangelho segundo São Marcos diz: "Porque todo homem será salgado pelo fogo." Mc 9,46

    E como parece bastante óbvio, não se pode chegar aos Céus sem uma completa purificação da alma. Foi o que apontaram os seguidores de São Paulo, ao falar do necessário processo de santificação na Carta aos Hebreus: "Procurai a Paz com todos e ao mesmo tempo a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor." Hb 12,14

    Pois, segundo a Primeira Carta de São Pedro, no Reino de Deus não há lugar para impureza alguma, porque em Cristo renascemos "... para uma incorruptível, incontaminável e imarcescível herança, reservada para vós nos Céus..." 1 Pd 1,4

    De fato, se houvesse apenas Céu e inferno como destinos após a morte, Deus não teria porque Se compadecer dos mortos, pois, depois de julgados, ou eles já estariam totalmente salvos ou condenados para sempre. Mas está no Livro de Rute, uma estrangeira que se converteu ao Deus de Israel: "Noemi disse à nora (Rute): 'Que ele (Booz) seja abençoado por Javé, que não deixa de ter Misericórdia dos vivos e dos mortos.'" Rt 2,20