São Lucas, como vemos nas entrelinhas da Carta de São Paulo aos Colossenses, não era judeu: "Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, primo de Barnabé. A respeito de Marcos, recebestes instruções. Se ele for ter convosco, acolhei-o. Jesus, chamado Justo, também vos saúda. Dentre os judeus, somente estes três trabalham comigo pelo Reino de Deus." Cl 4,10-11
Mas percebendo desde o início a importância do Apóstolo dos Gentios, que por erudição e profunda espiritualidade brilhava cada vez mais em suas missões, este evangelista, que também era estudioso, tornou-se um de seus mais íntimos colaboradores no anúncio da Boa Nova. Está na saudação da Carta de São Paulo a Filemon: "Epafras, meu companheiro de prisão por Cristo Jesus, saúda-te. Igualmente, Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus colaboradores." Fm 1,23-24
Além de São Paulo, São Lucas conheceu e também conviveu com alguns ou mesmo com todos demais Apóstolos, dos quais obteve privilegiadas informações. Por isso, resolveu escrever seu Evangelho em concorrência com tantos outros, inclusive aqueles que mais tarde viriam a ser apenas apócrifos. Ele declara logo no início: "Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como nos transmitiram aqueles que desde o princípio foram testemunhas oculares e que se tornaram Ministros da Palavra. A mim também pareceu, depois de diligentemente haver investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo, para que conheças a solidez daqueles ensinamentos que tens recebido." Lc 1,1-4
Ele também registrou os primeiros capítulos da História da Igreja, o fundamental Livro dos Atos dos Apóstolos, onde temos importantíssimos detalhes sobre como Jesus ministrava Seus ensinamentos, sobre a ação do Espírito Santo e sobre o nascimento da Tradição Cristã: "Em minha primeira narração, ó Teófilo, contei toda sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus, desde o princípio até o dia em que, depois de ter dado pelo Espírito Santo Suas instruções aos Apóstolos que escolhera, foi arrebatado ao Céu. E a eles manifestou-Se vivo depois de Sua Paixão, com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas do Reino de Deus. E comendo com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem o cumprimento da promessa de Seu Pai, 'que ouvistes', disse Ele, 'de Minha boca. Porque João batizou na água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui a poucos dias.'" At 1,1-5
Nesse Livro, São Lucas várias vezes inclui-se na narrativa, pois de fato tomou parte de um longo período da vida e das viagens de São Paulo. Na viagem a Macedônia eles teriam-se encontrado pela primeira vez, por volta do ano 51 da nossa era. Foi logo após a aparição do anjo desta nação: "De noite, Paulo teve uma visão: um macedônio, em pé, diante dele, rogava-lhe: 'Passa à Macedônia e vem em nosso auxílio!' Assim que teve essa visão, procuramos partir para a Macedônia, certos de que Deus nos chamava a pregar-lhes o Evangelho." At 16,9-10
Nosso Santo acompanhou o Último Apóstolo na viagem a Roma, já sob custódia da guarda imperial, onde seria julgado por César. De fato, ele havia sido preso pelo tribuno em Jerusalém, dada uma agitação popular ocorrida por sua presença no Templo, sob forte segurança transferido para Cesareia, pois os judeus tinham plano para assassiná-lo, e aí foi mantido em cárcere por dois anos: "Logo que foi determinado que embarcássemos para a Itália, Paulo foi entregue com outros presos a um centurião da coorte augusta, chamado Júlio." At 27,1
E na despedida da carta aos colossenses, escrita pouco tempo antes de seu martírio, São Paulo diz-nos a profissão de São Lucas, que então o acompanhava em sua segunda prisão em Roma: "Saúdam-vos, enfim, Lucas, o amado médico..." Cl 4,14
Podemos dizer que São Lucas é o Evangelista do Espírito Santo, pois vai mencioná-Lo mais que os outros evangelistas juntos: são 14 vezes. E no Livro dos Atos dos Apóstolos, início do tempo da Igreja, fica clara a importância que São Lucas Lhe confere: são 39 menções, quando com nitidez vemos que o Divino Espírito é Deus e francamente põe-Se à frente da Igreja. Aliás, como o próprio Jesus havia predito (cf. Jo 16,13).
Da mesma forma, pode-se dizer que São Lucas é o Evangelista de Nossa Senhora. Por não ser judeu, e assim em mais abrangente perspectiva contemplar a tradição deles, refere-se à Santíssima Virgem por 12 vezes, quer dizer, também mais que os outros evangelistas juntos. E este assim como entre tantos outros detalhes de que nos informa, como a Anunciação, a visita a Santa Isabel, as palavras de Seu Magnificat e importantíssimos fatos da infância de Jesus, como Sua Páscoa em Jerusalém aos 12 anos de idade, quando expressou indissociabilidade da Casa do Pai (cf. Lc 2,49), e Sua submissão a Seus pais (cf. Lc 2,51). Anotou, ademais, a expressiva formação religiosa da Mãe de Deus, como sua natural reação à aparição de São Gabriel Arcanjo (cf. Lc 1,29).