Embora muito mais se fale do amor de Deus, também se deve ter claro Sua ira, como se viu em punição pelo pecado da idolatria durante o Êxodo. Aliás, a fúria de Deus alcança até mesmo os já falecidos, como Ele mesmo diz no cântico de Moisés, que estava em seus últimos anos, visto no Livro do Deuteronômio: "Eles provocaram Meu ciúme com um falso deus, e irritaram-Me com seus vazios ídolos. O fogo da Minha ira está a arder e vai queimar até à mansão dos mortos, vai devorar a Terra e seus produtos, e abrasar o alicerce das montanhas." Dt 32,21-22
Pois mesmo com todas frequentes intervenções de Moisés, nem todos israelitas entraram na Terra Santa. Mais tarde, através do Livro dos Salmos, Ele justificou: "Por isso, em Minha ira, jurei que não haveriam de entrar no lugar de descanso que lhes prometera!" Sl 94,11
E dado que Israel não acolhia Seus Profetas, Ele usou da brutalidade dos inimigos exércitos para corrigir Seu povo. São registros do Segundo Livro de Crônicas, quando se deu a destruição do Templo de Jerusalém e o exílio da Babilônia: "Então Deus suscitou contra eles o rei dos caldeus, que, no próprio edifício do Santuário, mandou matar Seus jovens, e não poupou nem o adolescente, nem a donzela, nem o ancião, nem a mulher de cabelos brancos. O Senhor entregou-lhe tudo." 2 Cr 36,17
Ademais, os Profetas também eram encarregados de anunciar Seus castigos, como vemos no Livro do Profeta Isaías, cem anos antes, ao falar do símbolo máximo da ira de Deus: Seu Dia: "Lamentai-vos, porque o Dia do Senhor está próximo como uma devastação provocada pelo Todo-poderoso. Eis que virá o Dia do Senhor, implacável Dia, de furor e de ardente cólera, para reduzir a Terra a um deserto e dela exterminar os pecadores." Is 13,6.9
O Livro do Profeta Amós, quase um século antes, lamenta por aqueles que tratam o Dia do Juízo com insolência: "Ai daqueles que desejam ver o Dia do Senhor! Que será para vós o Dia do Senhor? Trevas, e não luz!" Am 5,18
E o Livro do Profeta Sofonias, de século e meio mais tarde, exercitava o povo no temor ao Senhor pedindo penitência: "Curvai-vos, curvai-vos, gente sem pudor, antes que nasça a sentença e o dia passe como a palha. Antes que caia sobre vós o ardor da ira do Senhor; antes que caia sobre vós o Dia da indignação do Senhor!" Sf 2,1-2
Porque a ira de Deus, de tão real e efetiva, tem-se manifestado de tal forma que os maus anjos, Satanás entre eles, já foram punidos. Diz a Segunda Carta de São Pedro: "Pois se Deus não poupou os anjos que pecaram, mas precipitou-os nos tenebrosos abismos do inferno onde os reserva para o Julgamento..." 2 Pd 2,24
Na parábola das ovelhas e dos cabritos, que consta do Evangelho segundo São Mateus, Jesus, dias antes de Sua última Páscoa, também Se pronunciou nesse sentido: "Retirai-vos de Mim, malditos! Ide para o eterno fogo destinado ao Demônio e aos seus anjos." Mt 25,41
São João Batista também se pronunciou sobre a ira de Deus, e, como única solução, apontava para a Redenção oferecida na Pessoa de Cristo. É seu discurso antes de ser preso, quando soube que Jesus já havia iniciado Seu Ministério, como está no Evangelho de São João: "Aquele que crê no Filho tem a Vida Eterna. Quem não crê no Filho não verá a Vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus." Jo 3,36
No mesmo sentido, a Carta de São Paulo aos Gálatas, chamando-os de insensatos por desvios já dentro do cristianismo, prega a purificação do corpo e da alma para que não mais ofendêssemos o Pai Celeste: "Mortificai vossos membros, pois, no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. Dessas coisas provém a ira de Deus sobre os descrentes." Cl 3,5-6
Assim, pois, a Carta de São Paulo aos Romanos explica a paciência de Deus: "Ou desprezas as riquezas de Sua bondade, tolerância e longanimidade, desconhecendo que a bondade de Deus te convida ao arrependimento? Mas pela tua obstinação e impenitente coração, vais acumulando ira contra ti, para o Dia da Cólera e da revelação do justo Juízo de Deus..." Rm 2,4-5