Nesta celeste oração, a segunda mais importante da Santa Igreja Católica, quando dizemos "Ave Maria...", repetindo as palavras do Arcanjo São Gabriel no Evangelho Segundo São Lucas, usamos uma saudação em latim, 'Ave', a mais comum no Império Romano, com a qual se reverenciava o próprio imperador, dizendo 'Ave César'. Ela equivale a nosso 'Salve', aliás, empregado na oração 'Salve Rainha' e na cumprimentação 'Salve Maria'.
Quando afirmou "... o Senhor é convosco.", São Gabriel Arcanjo atestava mais um privilégio de Maria: que Deus já era com ela antes mesmo da concepção ou do Nascimento do Emanuel, que é "Deus conosco (Is 7,14)", previsto havia 700 anos no Liro do Profeta Isaías. Aferia mesmo, para além da onipresença de Deus, a companhia que Ele eternamente lhe faz, pois não "está" com ela, mas "é" com ela, lembrando Sua natureza incriada, quer dizer, essencial e independente de tudo que existe, de qualquer condição, como declarou a Moisés no Livro de Êxodo: "EU SOU AQUELE QUE É." Êx 3,14a
Ao reconhecer, e em alta voz, "Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o Fruto de vosso ventre.", Santa Isabel, que ficou cheia do Espírito Santo tão somente por ouvir a saudação da Santíssima Virgem (cf. Lc 1,41), afirmava, por notória inspiração do Divino Paráclito, pois de nada havia sido informada, sua Bem Aventurança frente toda e qualquer mulher na face da Terra, uma bendição tão grande quanto a do próprio Cristo, o Fruto de seu ventre, que a Igreja, acrescentando a esta frase, tratou de nomear para oportunamente mencionar Seu Santíssimo Nome (cf. Êx 20,7): "Jesus."
Invocá-la, portanto, como "Santa Maria...", faz lembrar passagens exclusivamente dirigidas a Deus, como: "Só Vós sois Santo... (Ap 15,4b)" e "Ninguém é Santo como o Senhor (1 Sm 2,2)." Com efeito, é evidente que só Deus é Santo por excelência. Mas Jesus mesmo, que veio fundar Sua Santa Igreja, rezou ao Pai pelos Apóstolos no Evangelho Segundo São João, pedindo: "Santifica-os pela Verdade (Jo 17,17a)." Ou ainda podemos citar uma longínqua ordem do Próprio Deus aos israelitas nos tempos de Moisés, do Livro de Levítico: "Vós santificá-vos-eis e sereis Santos, porque Eu sou Santo (Lv 11,44b)." Ora, se a Verdade de Deus, que é o próprio Jesus (cf. Jo 14,6), não santificou Seus fiéis, ou o Eterno Pai não atendeu o pedido de Seu Filho, em que mais poderíamos crer? Como não acreditar, então, que Sua própria Mãe foi santificada?
Chamá-la de "... Mãe de Deus... é uma óbvia dedução das palavras da pergunta que se fez Santa Isabel, por ocasião desta mesma visita de Maria Santíssima: "De onde me vem esta honra de vir a mim a Mãe de Meu Senhor (Lc 1,43)?" Ora, negar que Maria é Mãe de Deus é negar que Jesus, por algum instante sequer, deixou de ser Deus! Isso é heresia! E se Santa Isabel foi inspirada pelo Espirito Santo para proclamar esta Verdade (cf. Lc 1,41), quem está soprando ao ouvido daqueles que sustentam essa negação? Sem meias palavras, a Segunda Carta de São João diz: "Muitos sedutores têm saído pelo mundo afora, os quais não proclamam Jesus Cristo que Se encarnou. Quem assim proclama é o Sedutor e o Anticristo." 2 Jo 1,17
Ao pedir-lhe "... rogai por nós pecadores...", nós reconhecemo-nos pobres pecadores, absolutamente carentes da Graça, e recorremos à Piedosíssima Mãe, à Medianeira de todas Graças, sempre pronta para interceder pelos necessitados como se viu nas Bodas de Caná, quando pediu a Jesus: "Eles já não têm vinho (Jo 2,3)." Ora, nos Céus as almas dos Santos intercedem a Deus, como vemos no Livro de Apocalipse de São João: "... vi debaixo do altar as almas dos homens imolados por causa da Palavra de Deus e do testemunho de que eram depositários. E clamavam em alta voz, dizendo: 'Até quando Vós, que sois o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficareis sem fazer justiça e sem vingar nosso sangue contra os habitantes da Terra (Ap 6,9b.10)?'" Como, pois, não poderia interceder a Mãe de Nosso Salvador, que nomeadamente foi a primeira pessoa vista no Céu em corpo e alma (cf. Ap 12,1)?
E instando-a "... agora e na hora de nossa morte.", com humildade admitimos nossas prementes misérias e seu indispensável auxílio no seriíssimo momento em que seguiremos para o Juízo Particular. Com efeito, os seguidores da tradição de São Paulo apontaram na Carta aos Hebreus: "Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o Juízo..." Hb 9,27
Enfim, pronunciando "Amém.", confiante e preferencialmente colocamo-nos nas mãos da única que gerou, vestiu, amamentou, asseou, alimentou, ensinou a andar e a falar o Todo-Poderoso feito Carne (cf. Jo 1,14).
