sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

As Ilusões do Mundo

    Conforme a Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, o Maligno seduz as preguiçosas consciências, a começar por aqueles que desvirtuam a Verdade para acobertar seus pecados: "Ele usará de todas seduções do mal com aqueles que se perdem, por não terem cultivado o amor à Verdade, que teria podido salvá-los." 2 Ts 2,10

    E são muitos os artifícios do inimigo para afastar-nos de Deus. As seduções do Mal acontecem através da riqueza, como o Segundo Livro de Macabeus diz da estratégia dos adversários de Israel em batalhas, corrompendo seus guerreiros: "Todavia, os companheiros de Simão, seduzidos pelo dinheiro..." 2 Mc 10,20

    Através de voluptuosas palavras, como está no Livro de Provérbios, em referência à conversa de uma prostituta: "Seduziu-o à força de palavras e arrastou-o com as lisonjas de seus lábios." Pr 7,21
    
    Através da paixão sensual, como o Livro do Profeta Daniel anotou, quando ele julgou dois anciãos, juízes de Israel, que tentaram forçar Susana a adulterar: "... foi a beleza que te seduziu..." Dn 13,56

    Através da promiscuidade, como, no Livro de Jó, este renomado personagem questionou a Deus procurando sua culpa: "Se meu coração foi seduzido por uma mulher..." Jó 31,9

    Através do desejo de transgressão, como a Carta de São Paulo aos Romanos reconhece: "Porque o pecado, aproveitando a ocasião do Mandamento, me seduziu..." Rm 7,11

    Ele também aponta a ignorância, como a Carta de São Paulo aos Efésios exorta os cristãos: "Portanto, eis o que digo e conjuro no Senhor: não persistais em viver como os pagãos, que andam à mercê de suas frívolas idéias. Têm o entendimento obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantêm-nos afastados da Vida de Deus. Indolentes, entregaram-se à dissolução, à apaixonada prática de toda espécie de impureza." Ef 4,17-19

    Por revelação, a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo diz que multidões iriam procurar falsas doutrinas e falsos mestres que se ajustassem a seus pecados: "Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a Sã Doutrina da Salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, para si ajustarão mestres. Apartarão os ouvidos da Verdade e atirar-se-ão às fábulas." 2 Tm 4,3-4

    E ainda segundo o Apóstolo dos Gentios, aqueles que não buscam nem a Paz nem a Verdade, manipuladores e manipulados, terão trágico futuro: "Mas os perversos e impostores irão de mal a pior, sedutores e seduzidos." 2 Tm 3,13

    Ora, na parábola do semeador, Jesus diz da própria Palavra de Deus, mesmo quando semeada em fértil terreno. Está no Evangelho segundo São Marcos: "... a ilusão das riquezas, as múltiplas cobiças sufocam a boa semente e tornam-na infrutífera." Mc 4,19

    sobre aqueles que se escandalizam com a Sã Doutrina, Ele firmou no Evangelho segundo São Mateus: "Toda planta que Meu Pai Celeste não plantou será arrancada pela raiz. Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, ambos tombarão na mesma vala." Mt 15,13-14

    A síntese das ilusões, pois, é a própria mentira, que também é uma ofensa a Deus porque ofusca Suas revelações. Ciente deste mal, o Livro de Salmos cantava: "Afastai-me do caminho da mentira, e fazei-me fiel à Vossa Lei." Sl 118,29

    Para o Livro de Eclesiástico, ela é um triste e gritante sinal: "A mentira é no homem uma vergonhosa mancha: não deixa os lábios das mal-educadas pessoas." Eclo 20,26

    E Nosso Salvador disse do Demônio, no Evangelho segundo São João: "Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira." Jo 8,44b

    Pois ele tem vários nomes, mas sua obra é só a perdição das almas. O Livro do Apocalipse de São João apontou: "... o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro." Ap 12,9

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

O Pão da Vida Eterna

    Jesus disse aos judeus, no Evangelho segundo São João, depois de multiplicar pães e peixes: "Eu sou o Pão Vivo que desceu do Céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente. E o Pão, que Eu hei de dar, é Minha Carne para a Salvação do mundo." Jo 6,51

    Contrapondo-Se ao maná (cf. Êx 16,14) comido pelos israelitas no deserto, Ele havia-lhes ensinado: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: Moisés não vos deu o Pão do Céu, mas Meu Pai é Quem vos dá o verdadeiro Pão do Céu. Porque o Pão de Deus é o Pão que desce do Céu e dá Vida ao mundo." Jo 6,32-33

    E na mesma ocasião disse que não há Vida Plena se não nos alimentarmos de Seu Corpo: "... se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos." Jo 6,53

    Para tanto, Ele instituiu a Eucaristia na Santa Ceia, na noite do início de Sua Paixão, como se lê no Evangelho segundo São Lucas: "Em seguida, tomou o pão e depois de ter dado graças, partiu-O e deu-lhO, dizendo: 'Isto é Meu Corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de Mim.'" Lc 22,19

    E instou-nos a buscá-la: "Trabalhai não pela comida que perece, mas pela que dura até a Vida Eterna, que o Filho do Homem vos dará. Pois n'Ele Deus Pai imprimiu Seu sinal." Jo 6,27

    A multidão que havia comido dos pães e dos peixes multiplicados, bem entendeu Sua mensagem, pois pediu: "Senhor, dá-nos sempre deste Pão!" Jo 6,34

    E Ele respondeu: "Eu sou o Pão da Vida..." Jo 6,35

    Essa memória, portanto, como sinal de perfeito acolhimento do testemunho dos Apóstolos, foi muito bem preservada não só pelos Doze como por discípulos e seguidores desde o início, logo após o Pentecostes. Está no Livro dos Atos dos Apóstolos: "Eles perseveravam na Doutrina dos Apóstolos, na reunião em comum, na fração do Pão e nas orações." At 2,42

    A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, com propriedade, afirma que a Comunhão Eucarística é o principal fator da Unidade da Igreja: "Uma vez que há um único Pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só Corpo, porque todos nós comungamos do mesmo Pão." 1 Cor 10,17

    Por ela, ainda segundo ele, devemos reviver e atualizar o Sacrifício de Cristo: "Assim, todas vezes que comeis desse Pão e bebeis desse Cálice, lembrais a Morte do Senhor, até que Ele volte." 1 Cor 11,26

    Pois Ele é Nossa Páscoa, nossa passagem para a Jerusalém Celestial (cf. Ap 21,2), para a Vida Eterna: "Pois Nossa Páscoa, Cristo, foi imolada. Celebremos, pois, a festa, não com o velho fermento nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os Pães sem fermento, de pureza e de Verdade." 1 Cor 5,8

    Mas ele também adverte que não confundamos a Santa Eucaristia com qualquer outro rito: "Não podeis beber ao mesmo tempo o Cálice do Senhor e o cálice dos demônios. Não podeis participar ao mesmo tempo da Mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou queremos provocar a ira do Senhor? Acaso somos mais fortes que Ele?" 1 Cor 10,21-22

    Não por acaso, no Pai Nosso, ainda que também Se referindo ao diário alimento, Nosso Salvador ensinou-nos a pedir ainda no Sermão da Montanha, de leitura no Evangelho segundo São Mateus: "O Pão Nosso de cada dia dai-nos hoje..." Mt 6,11

    Pois sobre o alimento propriamente dito, Ele já havia citado o Livro de Deuteronômio, quando por Satanás foi tentado no deserto: "Está escrito: 'Não só de pão vive o homem, mas de toda Palavra de Deus (Dt 8,3).'" Lc 4,4

    E a entrada dos eleitos na Vida Eterna terá a festividade de um indizível banquete, como o Cordeiro de Deus ordenou no Livro do Apocalipse de São João: "Escreve: 'Felizes os convidados para a Ceia das Núpcias do Cordeiro.'" Ap 19,9

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

O Evangelho da Reconciliação

    A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios diz do Ministério da Igreja: "Tudo isso vem de Deus, que Consigo nos reconciliou, por Cristo, e nos confiou o ministério desta reconciliação. Porque é Deus que, em Cristo, Consigo reconciliava o mundo, não levando mais em conta os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação. Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em Nome de Cristo, e é Deus mesmo que vos exorta por nosso intermédio. Em Nome de Cristo, rogamo-vos: reconciliai-vos com Deus!" 2 Cor 5,18-20

    E eis como a Carta de São Paulo aos Efésios menciona o Evangelho: "Estejam, portanto, bem firmes: cingidos com o cinturão da Verdade, vestidos com a couraça da justiça, os pés calçados com o zelo para propagar o Evangelho da Paz..." Ef 6,14-15

    De fato, desde o Sermão da Montanha, Jesus mostrou o Caminho pedindo nossa iniciativa. Está no Evangelho segundo São Mateus: "Se estás, portanto, para fazer tua oferta diante do Altar e lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá tua oferta diante do Altar e primeiro vai reconciliar-te com teu irmão. Só então vem fazer tua oferta." Mt 5,23-24

    No mesmo sentido, no Evangelho segundo São JoãoNosso Salvador deu à Santa Igreja o poder para ministrar o Sacramento da Reconciliação: "Disse-lhes outra vez: 'A Paz esteja convosco! Como o Pai Me enviou, Eu envio a vós.' Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,21-23

    Por isso, a Carta de São Paulo aos Filipenses exige testemunho de vida de parte dos cristãos: "Cumpre, somente, que em vosso proceder vos mostreis dignos do Evangelho de Cristo." Fl 1,27a

    E a Carta de São Paulo aos Gálatas garante a origem da Palavra de Deus: "Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho por mim pregado nada tem de humano. Não o recebi nem o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo." Gl 1,11

    Já a Primeira Carta que São Paulo aos Tessalonicenses afirma o poder que o Evangelho tem em si mesmo, como Divina Palavra que é: "Nosso Evangelho foi-vos pregado não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção. Sabeis o que temos sido entre vós para vossa Salvação." 1 Ts 1,5

    Ele diz que no Evangelho se tem a Glória de Jesus, quer dizer, a própria personificação de Deus, e que só a sedução do inimigo pode evitar que a percebamos: "Se nosso Evangelho ainda estiver encoberto, está encoberto para aqueles que se perdem, para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo obcecou a tal ponto que não percebem a Luz do Evangelho, onde resplandece a Glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que claramente transpareça que este extraordinário poder provém de Deus e não de nós." 2 Cor 4,3-4.7

    Ora, exaltando a preciosidade do Sangue de Jesus, a Carta de São Paulo aos Romanos atestou: "Se, quando ainda éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela Morte de Seu Filho, com muito mais razão, estando já reconciliados, seremos salvos por Sua Vida. ... nós gloriamo-nos em Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo, por Quem desde agora temos recebido a reconciliação!" Rm 5,10-11

    Povos de todas nações, portanto, têm em Jesus a verdadeira oportunidade de reconciliar-se com Deus, como o Apóstolo dos Gentios diz: "Ele quis, assim, a partir do judeu e do pagão, criar em Si um só novo homem, estabelecendo a Paz. Quis reconciliá-los com Deus, ambos em um só Corpo, por meio da Cruz." Ef 2,15a-16b

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Deus Amigo

    Até nas acusações que Lhe faziam os falsos religiosos, Jesus era reconhecido por Seu amistoso proceder para com os mais afastados da . No Evangelho segundo São Mateus, Ele mesmo relatou o que d'Ele diziam: "É um comilão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos e dos pecadores." Mt 11,19

    Ao paralítico, descido numa maca através do telhado da casa de São Pedro, Ele vai curar-lhe primeiro a alma, o que também fez com docilidade. Está no Evangelho segundo São Lucas: "Meu amigo, teus pecados são-te perdoados." Lc 5,20

    De outro que reclamava do irmão sua parte da herança, Ele delicadamente recusa o encargo de arbitragem: "Meu amigo, quem Me constituiu juiz ou árbitro entre vós?" Lc 12,14

    Na parábola dos trabalhadores, na qual aqueles que começaram no fim do dia recebem o mesmo salário daqueles que trabalharam todo dia, Ele cordialmente responde a quem Lhe reclama de uma suposta injustiça: "Amigo, Eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? Acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que Me pertence?" Mt 20,13.15

    E àquele que numa parábola se comporta com humildade, sentando-se nos últimos lugares mesmo sendo importante pessoa, Jesus assim Se dirige: "Amigo, vem mais para cima." Lc 14,10

    Mesmo quando tratava das mais sérias questões, Ele amistosamente falava à multidão: "Digo-vos, Meus amigos: não tenhais medo daqueles que matam o corpo e depois disto nada mais podem fazer. Mostrá-vos-ei a Quem deveis temer: temei Àquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno! Sim, eu digo-vos: a Este temei." Lc 12,4-5

    Ora, a Paz, realmente sobrenatural, que Ele derramou sobre Seus Apóstolos para que a distribuíssem, jamais se perde: "Em qualquer casa em que entrardes, primeiro dizei: 'A Paz esteja nesta casa.' Se ali morar algum amigo da Paz, vossa Paz repousará sobre ele. Senão, ela retornará a vós." Lc 10,5-6

    Pois, como ensinava, a construção do Reino de Deus resume-se em fazer amigos, mesmo que estejamos nas situações de maior pecaminosidade: "Eu digo-vos: fazei-vos amigos com a injusta riqueza, para que, no dia em que ela vos faltar, eles vos recebam nos eternos tabernáculos." Lc 16,9

    De fato, quando São Lázaro faleceu, Jesus, numa das duas vezes em que foi visto chorando, a ele referiu-Se com ternura. O Evangelho segundo São João narrou: "Nosso amigo Lázaro adormeceu. Eu vou acordá-lo." Jo 11,11

    Realmente não Se prevalecia de Sua divindade, e tratava os Apóstolos como amigos. Disse-lhes na noite em que se iniciaria Sua Paixão: "Vós sois Meus amigos, se fazeis o que vos mando." Jo 15,14

    E explicou: "Não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz Seu Senhor. Mas chamei-vos amigos, pois dei-vos a conhecer tudo quanto ouvi de Meu Pai." Jo 15,15

    Ora, pouco antes de ser traído, Nosso Senhor vai chamar o próprio Judas Iscariotes de amigo: "Amigo, faz já o que tens a fazer." Mt 26,50

    Esse não era um aparente costume, ou só pessoalmente usado. Ele tinha falado em amigos até para os seguidores de São João Batista, ao afirmar Sua presença como Deus entre os homens: "Podem os amigos do Esposo afligir-se enquanto o Esposo está com eles? Dias virão em que lhes será tirado o Esposo, então eles jejuarão." Mt 9,15

    Para nossa perfeita instrução, pois, como parâmetro Ele nos deixou a dimensão de Seu amor antes de partir com os Apóstolos para o Horto das Oliveiras, onde seria preso: "Ninguém tem maior amor que Aquele que dá Sua vida por Seus amigos." Jo 15,13

São Paulo combatia Divisões na Igreja

    Exatamente ao contrário da escandalosa postura de descarados inventores de 'igrejas', o Apóstolo dos Gentios era um fervoroso defensor da Unidade da Igreja. E não o fez só presencialmente. Quase todas suas cartas manifestam essa vigilância em defesa do Corpo Místico de Cristo. A Carta de São Paulo aos Filipenses, por exemplo, vai pedir: "Se me é possível, pois, alguma consolação em Cristo, algum caridoso estímulo, alguma Comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, completai minha alegria deixando-vos guiar pelos mesmos propósitos e pelo mesmo amor, em harmonia buscando a Unidade. Tende um mesmo amor, uma só alma e os mesmos pensamentos. Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos." Fl 2,1-3

    Mesmo a despeito de seu próprio ministério, a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios corrigiu: "Rogo-vos, irmãos, em Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que todos estejais em pleno acordo e que entre vós não haja divisões. Vivei em boa harmonia, no mesmo Espírito e no mesmo sentimento. Pois acerca de vós, irmãos meus, fui informado pelos que são da casa de Cloé que há contendas entre vós. Refiro-me ao fato de que entre vós se usa esta linguagem: 'Eu sou discípulo de Paulo'; 'eu, de Apolo'; 'eu, de Cefas'; 'eu, de Cristo'. Então estaria Cristo dividido? É Paulo quem foi crucificado por vós? É em nome de Paulo que fostes batizados?" 1 Cor 1,10-13

    Ora, a Carta de São Paulo a São Tito expressamente fala sobre o Antigo Testamento: "Quanto a tolas questões, genealogias, contendas e disputas relativas à Lei, foge delas, porque são inúteis e vãs. O homem que assim fomenta divisões, depois de advertido a primeira e a segunda vez, evita-o, visto que esse tal é um perverso que, perseverando em seu pecado, se condena a si próprio." Tt 3,10-11

    Tinha salvaguardado a Tradição Oral mesmo à época da Carta de São Paulo aos Romanos, quando só havia o Evangelho segundo São Mateus, e em aramaico. Ele foi bem específico: "Rogo-vos, irmãos, que desconfieis daqueles que causam divisões e escândalos, apartando-se da Doutrina que recebestes. Evitai-os!" Rm 16,17

    Por isso, ele mesmo apresentava-se como um mero retransmissor da Palavra de Deus, pedindo que lhe imitassem na fidelidade de conservador: "Eu lembro-vos, irmãos, o Evangelho que vos preguei, e que tendes acolhido, no qual estais firmes. Por ele sereis salvos se o conservardes como vos preguei. De outra forma, em vão teríeis abraçado a . Eu transmiti-vos, primeiramente, o que eu mesmo havia recebido." 1 Cor 15,1-3a

    Falando na Unidade do Espírito, na Paz e no Corpo Místico de Cristo, portanto, a Carta de São Paulo aos Efésios, quando ele já padecia grandes sacrifícios, pregou humildade em nome da Igreja Una: "Exorto-vos, pois, prisioneiro que sou pela causa do Senhor, que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados, com toda humildade e amabilidade, com grandeza de alma, mutuamente suportando-vos com caridade. Sede solícitos em conservar a Unidade do Espírito no vínculo da Paz. Sede um só Corpo e um só espírito, assim como por vossa vocação fostes chamados a uma só esperança." Ef 4,1-4

    Invocando o próprio Santíssimo Sacramento, vai ser mais explícito ao escrever aos cristãos da cidade de Corinto: "Uma vez que há um único Pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só Corpo, porque todos nós comungamos do mesmo Pão." 1 Cor 10,17

    Disse, da mesma forma, aos cristãos de Roma: "Pois como em um só corpo temos muitos membros, e cada um dos nossos membros tem diferente função, assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só Corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro." Rm 12,4-5

    E diz da Unção do Santo Paráclito: "Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formarmos um só Corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres. E todos fomos impregnados do mesmo Espírito." 1 Cor 12,13

    Por isso, seguia implorando "... para que não haja dissensões no Corpo, e que os membros tenham o mesmo cuidado uns para com os outros." 1 Cor 12,25

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

O Mistério do Mal

    Como é bem sabido, mesmo em casos de deliberados castigos de Deus, nem só os maus padecem, como se viu quando Aarão conseguiu amenizar Sua cólera durante o Êxodo. O Livro de Sabedoria narrou: "Verdade é que a prova da morte também feriu os justos, e numerosos foram os que ela abateu no deserto." Sb 18,20a

    O sofrimento dos pobres, citado no Livro de Eclesiastes, também é fonte de desolação quando não se percebe a consolação de Deus: "Pus-me, então, a considerar todas opressões que se exercem debaixo do sol. Eis aqui as lágrimas dos oprimidos e não há ninguém para consolá-los. Seus opressores fazem-lhes violência, e não há ninguém para consolá-los." Ecl 4,1

    Assim como corriqueiras e mundanas injustiças: "Há outra vaidade que acontece na Terra: há justos, aos quais acontecem males como se tivessem praticado as obras dos ímpios, e há ímpios aos quais tudo corre bem, como se tivessem praticado as obras dos justos." Ecl 8,14a

    Por isso, o Livro do Profeta Isaías, contemplando a sofrida história de Israel, vai interrogar Deus: "Como nos deixastes andar longe de Vossos caminhos e endurecestes nossos corações para não termos temor a Vós?" Is 63,17a

    No Livro de Jó, este homem conhecido por sua grande paciência, em seu emblemático sofrimento também se desesperou: "A Terra está entregue nas mãos dos maus, e com um véu Ele cobre os olhos de Seus juízes. Se não é Deus Quem faz isso, quem é?" Jó 9,24

    Já um amigo seu, lembrando elementos da Criação, vai afirmar: "Pois o mal não sai do pó, e o sofrimento não brota da terra: é o homem quem causa o sofrimento como as faíscas voam no ar." Jó 5,6-7

    A Primeira Carta de São João também denuncia em nossas más inclinações a origem do mal: "Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas do mundo." 1 Jo 2,16

    Mas eis que a Carta de São Paulo aos Romanos diz: "Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm comparação alguma com a futura Glória, que deve ser-nos manifestada." Rm 8,18

    A Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses esclarecidamente reconhece: "Porque o mistério da iniquidade já está em ação, apenas esperando o afastamento daquele que o detém." 2 Ts 2,7

    E a Carta de São Paulo aos Efésios recomenda: "Vigiai, pois, com cuidado sobre vossa conduta: que ela não seja conduta de insensatos, mas de sábios que ciosamente aproveitam o tempo, pois os dias são maus." Ef 5,15-16

    O Apóstolo dos Gentios afirma, contudo, que a Graça é muito maior que o mal, e sempre o transformará num bem incomparavelmente superior: "Mas onde abundou o pecado, superabundou a Graça. Assim como o pecado reinou para a morte, assim também reinaria a Graça pela justiça para a Vida Eterna, por meio de Jesus Cristo, Nosso Senhor." Rm 5,20-21

    Por isso, a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios trata de exaltar os Sacramentos como mais importante parte na obra da Redenção: "E tudo isso se faz por vossa causa, para que a Graça se torne copiosa entre muitos e redunde o sentimento de gratidão, para Glória de Deus. É por isso que não desfalecemos. Ainda que vá arruinando-se nosso homem exterior, nosso interior renova-se de dia para dia. Nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, proporciona-nos um eterno peso de incomensurável Glória. Porque não miramos as coisas que se vêem, mas sim as que não se vêem. Pois as coisas que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas." 2 Cor 4,15-17

    Enfim, no Evangelho segundo São Mateus, o próprio Jesus deixou claro que cada dia haveria de ser enfrentado sem que nos desesperemos quanto a provações ou ao futuro: "Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá suas próprias preocupações. A cada dia basta seu mal." Mt 6,34

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Oração, Jejum e Esmola

    Há vários modos de cumprir a penitência, que é estabelecida pelo Sacerdote, e assim obter de Deus o perdão dos pecados. Contudo, os padres mais frequentemente falam em oração, jejum e esmola, inspirados nas palavras do próprio Jesus, que recomenda no Sermão da Montanha, anotado no Evangelho segundo São Mateus:

    "Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em Verdade, digo-vos: já receberam sua recompensa. Quando orares, entra em teu quarto, fecha a porta e ora a Teu Pai em segredo. E Teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensá-te-á." Mt 6,5-6

    "Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um abatido semblante para manifestar aos homens que jejuam. Em Verdade, digo-vos: já receberam sua recompensa. Quando jejuares, perfuma tua cabeça e lava teu rosto." Mt 6,16-17

    "Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em Verdade, digo-vos: já receberam sua recompensa. Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita." Mt 6,2-3

    Nosso Salvador, porém, também advertiu do necessário perdão a ser oferecido antes de qualquer oração. Está no Evangelho segundo São Marcos: "E quando vos puserdes de pé para orar, perdoai, se tiverdes algum ressentimento contra alguém, para que Vosso Pai, que está nos Céus, também perdoe vossos pecados. Mas se não perdoardes, Vosso Pai que está nos Céus tampouco perdoará vossos pecados." Mc 11,25-26

    Ora, o Arcanjo São Rafael já havia falado dessas práticas no Livro de Tobias, dizendo a Tobit, seu pai: "Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos escondidos tesouros de ouro. Porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a Misericórdia e a Vida Eterna..." Tb 12,8-9

    E há vários exemplos de jejum, ou abstinência. Por primeiro, destaca-se São João Batista, que foi um penitente por vida, como se vê no Evangelho segundo São Lucas, complementado por São Mateus: "O menino foi crescendo e fortificava-se em espírito, e viveu nos desertos até o dia em que se apresentou diante de Israel. João usava uma vestimenta de pelos de camelo e um cinto de couro em volta dos rins. Alimentava-se de gafanhotos e silvestre mel." Lc 1,80; Mt 3,4

    O próprio Jesus, em Sua última Páscoa, apontou o gesto de uma viúva no Templo, que fielmente cumpria os Mandamentos da Lei e vivia tão somente das Graças de Deus: "Jesus sentou-Se defronte do cofre de esmola e observava como o povo nele deitava dinheiro. Muitos ricos depositavam grandes quantias. Chegando uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, no valor de apenas um quadrante. Ele chamou Seus discípulos e disse-lhes: 'Em Verdade, digo-vos: esta pobre viúva deitou mais que todos que lançaram no cofre, porque todos deitaram do que tinham em abundância. Esta, porém, de sua indigência, pôs tudo que tinha para seu sustento.'" Mc 12,41-44

    A Primeira Carta de São Pedro, por sua vez, lembrando o Livro de Provérbios, exalta a excelência da caridade, seja material ou espiritual: "Antes de tudo, mantende entre vós uma ardente caridade, porque ela cobre uma multidão de pecados. (Pr 10,12)" 1 Pd 4,8

    Aos fariseus, Jesus recomendou a caridade material como modo de purificação dos objetos de diário uso: "Antes dai esmola do que possuís, e todas coisas sê-vos-ão limpas." Lc 11,41

    E a todos, a ativa caridade material ou espiritual: "... porque tive fome e Me deste de comer; tive sede e Me deste de beber; era peregrino e Me acolheste; nu e Me vestiste; enfermo e Me visitaste; estava na prisão e viestes a Mim. Em Verdade, Eu declaro-vos: todas vezes que fizestes isto a um destes meus pequeninos irmãos, foi a Mim mesmo que o fizestes." Mt 25,35-36.40b

sábado, 22 de fevereiro de 2025

A Natureza do Pecado e a Libertação

    A Primeira Carta de São João diz que os pecados se apoderam do ser humano por três más propensões: a exacerbação dos impulsos da carne, que se faz patente na luxúria; a cobiça por bens materiais, bem representada pela avareza e pela inveja; e os devaneios do ego, presentes na vaidade, invariavelmente instilada pela soberba: "Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas do mundo." 1 Jo 2,16

    E Jesus foi claro ao falar da escravidão do pecado, pois em muitos casos essa situação se arrasta por anos e, na pior delas, o 'verme' causador não morrerá nem mesmo no inferno. Está no Evangelho segundo São Mateus: "Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um só olho, que, tendo os dois, ser jogado no inferno, onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga." Mt 18,8-9

    Por isso, para o impenitente, a situação ainda é mais difícil. Diz o Livro do Eclesiástico: "Para o mal do orgulhoso não existe remédio, pois uma planta de pecado está enraizada nele, e ele não compreende." Eclo 3,30

    O Livro de Salmos, portanto, recorria a Quem de fato poderia ajudá-lo: "Tende piedade de mim, Senhor, segundo Vossa bondade. E conforme a imensidade de Vossa Misericórdia, apagai minha iniquidade. Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado." Sl 50,3-4

    Ora, essa é a postura de um autêntico cristão, pois sequer somos plenamente cientes de todos nossos pecados. O salmista segue cantando: "Ainda que Vosso servo neles atente, com todo cuidado guardando Teus juízos, quem pode, entretanto, ver as próprias faltas? Purificai-me das que me são ocultas." Sl 18,12-13

    Pois a Paixão de Cristo tem como objetivo afastar-nos ou livrar-nos da escravidão do pecado, assim como de todos males que afligem a alma e eventualmente o corpo. Foi o que Nosso Senhor disse no 'discurso inaugural' de Sua Vida pública, no Evangelho segundo São Lucas, lendo o Livro do Profeta Isaías: "O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu. E enviou-Me para anunciar a Boa Nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a Redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os oprimidos, para publicar o ano da Graça do Senhor. (Is 61,2)" Lc 4,18-19

    De fato, no Evangelho segundo São João, Ele promete a verdadeira liberdade dos filhos de Deus: "Se o Filho vos libertar, pois, sereis verdadeiramente livres." Jo 8,36

    Ciente disso, a Carta de São Judas rende saudação "Àquele que é poderoso para preservar-nos de toda queda e apresentar-nos diante de Sua Glória, imaculados e cheios de alegria..." Jd 24

    Nosso corpo, portanto, como nos oferecemos na Santa Missa, deve estar morto para o pecado. A Carta de São Paulo aos Romanos diz: "Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em verdade, está morto pelo pecado, mas o espírito vive pela justificação." Rm 8,10

    E como precisamos da força do Espírito Santo agindo em nós para vencermos as más inclinações, o Apóstolo do Gentios celebra a imensa dádiva que foi o Pentecostes: "A Lei do Espírito de Vida libertou-me, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte." Rm 8,2

    Assim, certos de nossas fraquezas, nosso dever é resistir, porque, conforme a Carta de São Tiago, delas surgem os pecados: "Feliz o homem que suporta a tentação. Porque depois de sofrer a provação receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que O amam. Cada um é tentado por sua própria concupiscência, que o atrai e alicia. A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado. E o pecado, uma vez consumado, gera a morte." Tg 1,12.14-15

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Jesus e o Pai Nosso

    A oração ensinada por Jesus, e rezada em todo mundo, é um flagrante da intimidade do Divino Mestre com o Pai Celeste, sempre em nosso favor. O Evangelho segundo São Mateus narrou o que seria o melhor 'retrato' de Jesus. Nosso Senhor disse: "Eis como deveis rezar:..." Mt 6,9

    Ao recitar "Pai Nosso, que estais no Céu...", desde o início usando o plural 'nosso', Jesus instituiu uma prece que, apesar de perfeita para a piedade pessoal, pois sempre devemos interceder pelos demais (cf. Mt 5,44), preferencialmente deve ser rezada em coletivo, para levar-nos à imprescindível Comunhão. Assim já afirmamos nosso semelhante como irmão, Deus como Pai e os Céus como morada, d'Ele e nossa, por sermos Seus filhos e pela certeza de que Ele jamais nos abandona (cf. 1 Sm 12,22).

    Em seguida, Ele faz recordar: "... santificado seja Vosso Nome..." Está ensinando que, mesmo quando rezamos, devemos santificar o Nome de Deus, pois o segundo dos Mandamentos diz que não podemos usá-Lo em vão (cf. Êx 20,7). O Nome de Deus, porém, por Si já é santo. Portanto, urge que nós o santifiquemos no dia-a-dia por nosso comportamento, uma vez que ousamos invocá-Lo como Pai.

    "... venha a nós Vosso Reino...": aqui assentimos que Deus reina, que queremos fazer parte de Seu Reino, e que ele venha o quanto antes para todos nós, sem discriminação nem egoísmo, ostensiva e definitivamente determinando o fim desse frágil e conflitante estado em que se encontra a humanidade.

    "... seja feita Vossa vontade, assim na Terra como nos Céus." Como verdadeiros filhos de Deus, voluntariamente aceitamos submeter-nos a Seus desígnios, e não Lhe impor os nossos, que no mínimo são imperfeitos. Para tanto, o principal exemplo é o próprio Jesus, que viveu a total submissão aos planos de Deus, mesmo que isto tenha significado a Cruz, e sob idênticas condições pedimos que Sua vontade imediatamente se cumpra aqui na Terra, como já acontece nos Céus (cf. Ap 4,8-11).

    Após os celestes assuntos, Nosso Senhor passa a enfocar os terrenos. "O Pão Nosso de cada dia dai-nos hoje...": de Sua modelar humildade, Ele insta-nos a pedir aquilo de que essencialmente precisamos, aqui simbolizado pelo alimento de cada dia, sem nenhuma gula nem ambição. Vale dizer: nada de ávido enriquecimento, ou seja, desmedida fartura, nem de falsa prudência, ou seja, abastado estoque, mas autêntica na Divina Providência. E como "Nem só de pão vive o homem (Dt 8,3)", nesse pedido também se expressa nossa diária carência do verdadeiro Pão da Vida, que é a Hóstia Consagrada, a Comunhão Eucarística, o Corpo e o Sangue de Cristo.

    No primeiro dos três últimos pedidos, Jesus segue pedindo não por Si mesmo, senão por nós, pois bem conhece nossas fraquezas. Ele ditou: "Perdoai nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido..." Claramente exorta-nos a assumir que erramos e a pedir perdão. Aí deve ser lembrado o Sacramento da Confissão, também por Ele instituído (cf. Jo 20,23), que é uma obrigação para que se possa receber o Santíssimo Sacramento. Observe-se, ademais, que só podemos pedir um perdão proporcional ao que oferecemos a nossos irmãos! E se nada perdoamos, sequer podemos recitar esta oração: estaríamos mentindo ao rezar a Deus!

    No penúltimo pedido, Ele ensina-nos a solicitar ajuda contra as fraquezas da carne e da alma, pois devemos reconhecer-nos frequentemente expostos ao assédio do Mal: "... e não nos deixeis cair em tentação..."

    Contudo, caso venhamos a cair em tentação, em último pedido Ele recomenda clamar para que o Pai nos livre da completa dominação do inimigo: "... mas, livrai-nos do Mal."

    Como Jesus viveu e ensinou, portanto, ousemos chamar Deus de Pai e aceitar que 'Assim seja!', quer dizer, o "Amém!"

Os Obstáculos à Oração

    A Santa Igreja reconhece 4 obstáculos ao bem rezar. Jesus dizia da distração, no Evangelho segundo São Lucas: "Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus." Lc 9,62b

    Conforme o Evangelho segundo São Mateus, também ensinou: "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro." Mt 6,24a

    E mencionou as mundanas ilusões: "O terreno que recebeu a semente entre os espinhos representa aquele que bem ouviu a Palavra, mas nele os cuidados do mundo e a sedução das riquezas sufocam-na e tornam-na infrutuosa." Mt 13,22

    Eis que a Primeira Carta de São Pedro pedia prontidão, 'arregaçar as mangas': "Cingi, portanto, os rins de vosso espírito, sede sóbrios e colocai toda vossa esperança na Graça que vos será dada no Dia em que Jesus Cristo aparecer." 1 Pd 1,13

    Já a Carta de São Paulo aos Romanos exorta contra a aridez: "Não relaxeis vosso zelo. Sede fervorosos de espírito. Servi ao Senhor." Rm 12,11

    E a Carta de São Paulo aos Gálatas questiona: "Onde está agora aquele vosso entusiasmo? Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos." Gl 4,15a;6,9

    Jesus, pois, garantiu aos Apóstolos quando eles expulsaram maus espíritos pela primeira vez: "... alegrai-vos porque vossos nomes estão escritos nos Céus." Lc 10,20

    Ora, o Príncipe dos Apóstolos pedia, citando o Livro de Salmos: "Como recém-nascidas crianças, com ardor desejai o leite espiritual que vos fará crescer para a Salvação, se é que tendes saboreado quão suave o Senhor é (Sl 33,9)." 1 Pd 2,2-3

    Contra a preguiça, Nosso Salvador alertou os Apóstolos na noite de início de Sua Paixão, na leitura do Evangelho segundo São Marcos: "Vigiai e orai, para não cairdes em tentação!" Mc 14,38

    Porque disse que devemos resistir à negligência e ao pouco-caso: "Propôs-lhes Jesus uma parábola, para mostrar que sempre é necessário rezar sem jamais deixar de fazê-lo." Lc 18,1

    A Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo vai dizer: "Antes é preciso que o lavrador trabalhe com afinco, se quer boa colheita." 2 Tm 2,6

    Exortava, então, a Carta de São Paulo aos Efésios à plena caridade espiritual: "Intensificai vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no Qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos cristãos." Ef 6,18

    Quanto à pouca fé, Jesus admoestou logo depois do Domingo de Ramos: "Por isso, digo-vos: tudo que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e sê-vos-á dado." Mc 11,24

    Prometeu-nos, nesses dias, tudo que estivesse em Comunhão com os projetos do Pai: "Tudo que pedirdes com na oração, vós alcançá-lo-eis." Mt 21,22

    E dizia sobre as demais realizações espirituais: "Em Verdade, digo-vos: se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda..." Mt 17,20

    Os seguidores da tradição de São Paulo ensinam na Carta aos Hebreus: "Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois para achegar-se a Ele primeiro é necessário que se creia que Ele existe, e que recompensa aqueles que O procuram." Hb 11,6

    O próprio Apóstolo dos Gentios, por fim, lembrou os imprescindíveis auxílios do Divino Paráclito: "Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza. Porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com inefáveis gemidos." Rm 8,26

    Pois Nosso Senhor afirmou que é pela perseverança que recebemos o Espírito de Deus: "Eu digo-vos: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, abrir-se-lhe-á. ... Vosso Pai Celestial dará o Espírito Santo aos que LhO pedirem." Lc 11,9-10.13

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Os Profetas

     Sobre o período que antecedeu o exílio em Babilônia, o Livro de Neemias reconheceu perante Deus, dizendo sobre os israelitas: "Vossa paciência para com eles durou muitos anos. Vós fazíei-lhes admoestações pela inspiração de Vosso Espírito, que animava Vossos Profetas." Ne 9,30a

    E os Profetas sempre estiveram em meio ao povo de Deus, como nos tempos do Livro do Profeta Ezequiel: "Naqueles dias, depois de ter-me falado, entrou em mim um Espírito que me pôs de pé. Então eu ouvi Aquele que me falava, o Qual me disse: 'Filho do homem, Eu envio-te aos israelitas, nação de rebeldes, que se afastaram de Mim. Eles e seus pais revoltaram-se contra Mim até o dia de hoje. Quer te escutem, quer não, pois são um bando de rebeldes, ficarão sabendo que entre eles houve um Profeta.'" Ez 2,2-3.5

    Aliás, o Livro do Profeta Amós diz, todos projetos de Deus são comunicados em primeiríssima mão a estes luminosos protagonistas: "Porque o Senhor Javé nada faz sem revelar Seu segredo aos Profetas, Seus servos." Am 3,7

    Os seguidores da tradição de São Paulo atestaram esse proceder ao longo da Revelação, na Carta aos Hebreus: "Muitas vezes e de diversos modos, outrora falou Deus a nossos pais pelos Profetas." Hb 1,1

    Isso deu-se até os tempos do Primeiro Livro de Macabeus, que, falando de um tempo pouco antes da Vinda de Jesus, reconheceram este castigo: ".... desde o dia em que tinham desaparecido os Profetas." 1 Mc 9,28a

    O Livro do Profeta Daniel, pois, confessou a Deus pela destruição que sobreveio a Jerusalém: "Não escutamos Vossos servos, os Profetas, que falaram em Vosso Nome a nossos reis, a nossos chefes, a nossos antepassados e a todo povo da terra. Recusamos ouvir a voz do Senhor, Nosso Deus. Não seguimos as Leis que Ele nos oferecia pela boca de Seus servos, os Profetas." Dn 9,6.10

    Ora, Jesus, que é a essência dos Sagrados Livros, afirmou aos líderes judeus em Sua segunda visita à Cidade Santa em vida pública, no Evangelho segundo São João: "Vós perscrutais as Escrituras, julgando nelas encontrar a Vida Eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de Mim. Se crêsseis em Moisés, pois, certamente creríeis em Mim, porque ele escreveu a Meu respeito." Jo 5,39.46

    E delimitou o tempo de vigência da Lei e dos Profetas, apontando São João Batista como um marco. Está no Evangelho segundo São Mateus: "Porque os Profetas e a Lei tiveram a Palavra até João." Mt 11,13

    Ele próprio, aliás, foi anunciado como um Profeta. Estava entre as prescrições de Moisés ao povo de Israel, no Livro de Deuteronômio: "O Senhor, Teu Deus, dentre teus irmãos suscitará um Profeta como eu. É a Ele que devereis ouvir." Dt 18,15

    Assim, o Livro do Apocalipse de São João vai dizer: "Porque o profético espírito não é outro senão o testemunho de Jesus." Ap 19,10

    A Carta de São Paulo aos Romanos também atestou: "Paulo, servo de Jesus Cristo, escolhido para ser Apóstolo, reservado para anunciar o Evangelho de Deus. Ele outrora o prometera por Seus Profetas na Sagrada Escritura, e diz a respeito de Seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor..." Rm 1,1-3

    E no Livro dos Atos dos Apóstolos, São Pedro afirmou perante os primeiros não-judeus que seriam admitidos na Santa Igreja: "Sobre Ele, todos Profetas dão o seguinte testemunho: todo aquele que acredita em Jesus receberá, em Seu Nome, o perdão dos pecados." At 10,43

    Os atuais profetas, portanto, nossos Sacerdotes, têm específicas funções perante o povo de Deus, conforme a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: "Aquele que profetiza, porém, fala aos homens, para edificá-los, exortá-los e consolá-los." 1 Cor 14,3

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

A Sabedoria

    Citando o Livro do Profeta Isaías, a Primeira Carta de São Paulo ao Coríntios diz: "Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o Evangelho, e isso sem recorrer à habilidade da arte oratória, para que não se desvirtue a Cruz de Cristo. A linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma divina força. Está escrito: "Destruirei a sabedoria dos sábios e anularei a prudência dos prudentes (Is 29,14)." Onde está o sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus por loucura a sabedoria deste mundo?" 1 Cor 1,17-20

    E a Carta de São Paulo aos Efésios reza: "Rogo ao Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória, que vos dê um espírito de Sabedoria que vos revele o conhecimento d'Ele..." Ef 1,17

    Já a Carta de São Tiago ensina: "Se alguém de vós necessita de Sabedoria, peça-a a Deus, que a todos generosamente concede, com simplicidade e sem recriminação, e sê-lhe-á dada. Mas peça-a com , sem nenhuma vacilação, porque o homem que vacila se assemelha à onda do mar, levantada pelo vento e agitada de um lado para o outro." Tg 1,5-6

    Diz mais: "Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre com um bom proceder suas obras repassadas de doçura e de Sabedoria. Mas se no coração tendes um amargo ciúme e gosto por contendas, não vos glorieis nem mintais contra a Verdade. Esta não é a Sabedoria que vem do alto, mas uma terrena, humana, diabólica sabedoria. A Sabedoria, porém, que vem de cima, é primeiramente pura, depois pacífica, condescendente, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, nem fingimento." Tg 3,13-15.17

    Ora, o próprio Livro de Sabedoria explica: "Resplandescente é a Sabedoria, e sua beleza é inalterável: os que a amam, facilmente descobrem-na; os que a procuram, encontram-na. Ela antecipa-se aos que a desejam. Quem, para possuí-la, se levanta de madrugada, não terá trabalho, porque a encontrará sentada à sua porta. Fazê-la objeto de seus pensamentos é a perfeita prudência, e quem por ela vigia, em breve não terá mais cuidado. Ela mesma vai à procura dos que dela são dignos. Ela aparece-lhes nos caminhos cheia de benevolência, e vai ao encontro deles em todos seus pensamentos, porque, verdadeiramente, desde o começo, seu desejo é instruir, e desejar instruir-se é amá-la. Mas amá-la é obedecer às suas leis, e obedecer às suas leis é a garantia da imortalidade. Ora, a imortalidade faz habitar junto a Deus, assim o desejo da Sabedoria conduz ao Reino!" Sb 4,12-20

    E completa: "Ela é um sopro do poder de Deus, uma límpida irradiação da Glória do Todo-poderoso. É ela uma efusão da Eterna Luz, um espelho sem mancha da atividade de Deus, e uma imagem de Sua bondade. Embora única, tudo pode. Imutável em si mesma, renova todas coisas. Ela derrama-se de geração em geração nas santas almas, e forma os amigos e os intérpretes de Deus, porque Deus somente ama quem vive com a Sabedoria! É ela, com efeito, mais bela que o sol e ultrapassa o conjunto dos astros. Comparada à luz, ela sobreleva-se, porque à luz sucede a noite, enquanto que, contra a Sabedoria, o mal não prevalece." Sb 7,25-30

    Não por acaso, no Evangelho segundo São Mateus, Nosso Salvador mesmo vai dizer daqueles que percebem Seus sinais: "Eu bendigo-Te, Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, Eu bendigo-Te, porque assim foi de Teu agrado." Mt 11,25b-26

    E também disse daqueles que acolhem tanto a São João Batista como a Ele mesmo, supostos extremistas: "A quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos sentados nas praças que gritam aos seus companheiros: 'Tocamos a flauta e não dançais, cantamos uma lamentação e não chorais.' João veio, ele não bebia e não comia, e disseram: 'Ele está possesso de um demônio.' O Filho do Homem vem, come e bebe, e dizem: 'É um comilão e beberrão, amigo dos publicanos e dos pecadores.' Mas a Sabedoria foi justificada por seus filhos." Mt 11,16-19