Como é bem sabido, mesmo em casos de deliberados castigos de Deus, nem só os maus padecem, como se viu quando Aarão conseguiu amenizar Sua cólera durante o Êxodo. O Livro de Sabedoria narrou: "Verdade é que a prova da morte também feriu os justos, e numerosos foram os que ela abateu no deserto." Sb 18,20a
O sofrimento dos pobres, citado no Livro de Eclesiastes, também é fonte de desolação quando não se percebe a consolação de Deus: "Pus-me, então, a considerar todas opressões que se exercem debaixo do sol. Eis aqui as lágrimas dos oprimidos e não há ninguém para consolá-los. Seus opressores fazem-lhes violência, e não há ninguém para consolá-los." Ecl 4,1
Assim como corriqueiras e mundanas injustiças: "Há outra vaidade que acontece na Terra: há justos, aos quais acontecem males como se tivessem praticado as obras dos ímpios, e há ímpios aos quais tudo corre bem, como se tivessem praticado as obras dos justos." Ecl 8,14a
Por isso, o Livro do Profeta Isaías, contemplando a sofrida história de Israel, vai interrogar Deus: "Como nos deixastes andar longe de Vossos caminhos e endurecestes nossos corações para não termos temor a Vós?" Is 63,17a
No Livro de Jó, este homem conhecido por sua grande paciência, em seu emblemático sofrimento também se desesperou: "A Terra está entregue nas mãos dos maus, e com um véu Ele cobre os olhos de Seus juízes. Se não é Deus Quem faz isso, quem é?" Jó 9,24
Já um amigo seu, lembrando elementos da Criação, vai afirmar: "Pois o mal não sai do pó, e o sofrimento não brota da terra: é o homem quem causa o sofrimento como as faíscas voam no ar." Jó 5,6-7
A Primeira Carta de São João também denuncia em nossas más inclinações a origem do mal: "Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas do mundo." 1 Jo 2,16
Mas eis que a Carta de São Paulo aos Romanos diz: "Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm comparação alguma com a futura Glória, que deve ser-nos manifestada." Rm 8,18
A Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses esclarecidamente reconhece: "Porque o mistério da iniquidade já está em ação, apenas esperando o afastamento daquele que o detém." 2 Ts 2,7
E a Carta de São Paulo aos Efésios recomenda: "Vigiai, pois, com cuidado sobre vossa conduta: que ela não seja conduta de insensatos, mas de sábios que ciosamente aproveitam o tempo, pois os dias são maus." Ef 5,15-16
O Apóstolo dos Gentios afirma, contudo, que a Graça é muito maior que o mal, e sempre o transformará num bem incomparavelmente superior: "Mas onde abundou o pecado, superabundou a Graça. Assim como o pecado reinou para a morte, assim também reinaria a Graça pela justiça para a Vida Eterna, por meio de Jesus Cristo, Nosso Senhor." Rm 5,20-21
Por isso, a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios trata de exaltar os Sacramentos como mais importante parte na obra da Redenção: "E tudo isso se faz por vossa causa, para que a Graça se torne copiosa entre muitos e redunde o sentimento de gratidão, para Glória de Deus. É por isso que não desfalecemos. Ainda que vá arruinando-se nosso homem exterior, nosso interior renova-se de dia para dia. Nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, proporciona-nos um eterno peso de incomensurável Glória. Porque não miramos as coisas que se vêem, mas sim as que não se vêem. Pois as coisas que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas." 2 Cor 4,15-17
Enfim, no Evangelho segundo São Mateus, o próprio Jesus deixou claro que cada dia haveria de ser enfrentado sem que nos desesperemos quanto a provações ou ao futuro: "Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá suas próprias preocupações. A cada dia basta seu mal." Mt 6,34