quinta-feira, 31 de outubro de 2024

A Coroa da Vida

    O Livro da Sabedoria, ao referir-se a essa dádiva de Deus, fala de uma coroa de rei, numa alusão ao poder que ela confere, e remete à Divina Glória: "Mas os justos viverão eternamente. Sua recompensa está no Senhor, e o Altíssimo cuidará deles. Por isso, receberão a régia coroa de Glória..." Sb 5,15-16

    De fato, tal coroa é a Glória de que os Santos usufruem nesse mundo: "Moisés foi amado por Deus e pelos homens: sua memória é abençoada. O Senhor deu-lhe uma glória semelhante à dos Santos... Sobre sua tiara colocou uma coroa de ouro, onde estava gravado o cunho da santidade, da Glória e da honra..." Sb 45,1-2.14

    Pois o amor a Deus é regiamente recompensado, como a Carta de São Tiago nos diz: "Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da Vida que Deus prometeu àqueles que O amam." Tg 1,12

    Contudo, tal coroa nada tem de ostentação. Muito pelo contrário, trata-se de outra glória, a Glória da eternidade. É versículo da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: "Os atletas abstêm-se de tudo. Eles, para ganhar uma perecível coroa. Nós, para ganharmos uma imperecível." 1 Cor 9,25

    Ora, a Primeira Carta de São Pedro só faz menção à Glória da Vida Eterna, e dos presbíteros cobra total responsabilidade sobre o rebanho: "Eis a exortação que dirijo aos Anciãos que estão entre vós, porque sou Ancião como eles, fui testemunha dos sofrimentos de Cristo e com eles serei participante daquela Glória que há de manifestar-se. Velai sobre o rebanho de Deus, que vos é confiado. E quando aparecer o Supremo Pastor, recebereis a imperecível coroa de Glória." 1 Pd 5,1-2.4

    E sentindo aproximar-se o fim de sua vida terrena, na Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo, ele suspira: "Resta-me, agora, receber a coroa da justiça, que o Senhor, Justo Juiz, me dará naquele dia. E não somente a mim, mas a todos aqueles que com amor aguardam Sua Aparição" 2 Tm 4,8

    Nos Céus, estas coroas já estavam antecipadamente distribuídas a inominados 'Anciãos' (anjos), que representam o leigo ou ordenado Sacerdócio, desde que Deus Pai enseja entregar o domínio da Terra ao Cordeiro. Está no Livro do Apocalipse de São João: "Ao redor havia vinte e quatro tronos, e neles, sentados, vinte e quatro Anciãos vestidos de brancas vestes e com coroas de ouro na cabeça." Ap 4,4

    No início destas revelações ao Amado Discípulo, Jesus avisou de uma tribulação a tentar uma específica diocese: a de Esmirna. Contudo, Ele segue prometendo a coroa da Vida, pois Ele é o Senhor da Vida! "Nada temas ante o que hás de sofrer. Por estes dias, o Demônio vai lançar alguns de vós na prisão, para pôr-vos à prova. Tereis tribulações durante dez dias. Sê fiel até a morte e dá-te-ei a coroa da Vida." Ap 2,10

    Ademais, Ele promete Sua proteção durante as tribulações aqui na Terra, através da diocese de Filadélfia. E assim como o Príncipe dos Apóstolos já era em vida, o vencedor também se tornará coluna em Sua Igreja: "Porque guardaste a Palavra de Minha paciência, também te guardarei da hora da provação, que está para sobrevir ao mundo inteiro, para provar os habitantes da Terra. Venho em breve. Conserva o que tens, para que ninguém tome tua coroa. Farei do vencedor uma coluna no Templo de Meu Deus, de onde jamais sairá..." Ap 3,10-12

    Maria, Nossa Mãe, também foi coroada. E de tão especial forma que o Ministério dos Apóstolos, que representam as 12 tribos de Israel, é apenas estrelas em Sua coroa. No Novo Testamento, Ela é a primeira e única pessoa que foi nomeadamente coroada por Deus. Nela, portanto. cumpriu-se esta promessa feita havia vários séculos: "Em seguida, no Céu apareceu um grande sinal: uma Mulher revestida do sol, tendo a lua debaixo de seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Ela deu à luz um Filho, um Menino, Aquele que deve reger todas pagãs nações com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e de Seu trono." Ap 12,1.5

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

O Ser Humano e a Perfeição

    Fazendo-nos lembrar nossa origem e divina filiação, Jesus exortou durante o Sermão da Montanha, narrado no Evangelho segundo São Mateus: "Portanto, sede perfeitos, assim como Vosso Pai Celeste é perfeito." Mt 5,48

    E na Carta de São Paulo aos Colossenses, ele exorta-nos a restaurar nossa divina imagem através da intimidade com Deus: "Vós despiste-vos do velho homem com seus vícios, e revestiste-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento." Cl 3,9-10

    Pois Cristo é nossa medida, nossa perfeita reconciliação com o Pai. Consta na Carta de São Paulo aos Efésios: "... até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo." Ef 4,13

    Por isso, como lemos na Carta de São Paulo aos Colossenses, os Apóstolos anunciaram-nO, para que cheguemos à Sua estatura: "A Ele é que anunciamos, admoestando todos homens e instruindo-os em toda Sabedoria, para tornar todo homem perfeito em Cristo." Cl 1,28

    De fato, Nosso Salvador prometeu que, se O tomarmos como Mestre, alcançaremos Sua maturidade. Foi ainda antes de convocar os Doze Apóstolos, na narrativa do Evangelho segundo São Lucas: "O discípulo não é superior ao Mestre, mas todo perfeito discípulo será como Seu Mestre." Lc 6,40

    Ora, só os autênticos seguidores de Jesus recebem Sua Glória, que Ele mesmo derramou sobre os Apóstolos, pois ela é o sinal de Sua passagem entre nós assim como de Sua verdadeira Igreja, preservada na Santa Unidade. No Evangelho segundo São João, em preparação para despedir-Se deles, Ele rezou ao Pai: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim. Para que sejam perfeitos na Unidade, e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,22-23

    E é pela obediência à Palavra de Deus que chegamos à santidade, conforme a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo: "Toda Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus torna-se perfeito, capacitado para toda boa obra." 2 Tm 3,16-17

    Na Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, o Último Apóstolo reza: "O Deus da Paz conceda-vos perfeita santidade. Que todo vosso ser, espírito, alma e corpo, seja conservado irrepreensível para a Vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo!" 1 Ts 5,23

    A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, no mesmo sentido, associa a perfeição à presença de Deus em nós: "Tendei à perfeição, animai-vos, tende um só coração, vivei em Paz, e o Deus de amor e Paz estará convosco." 2 Cor 13,11

    E sobre o meramente mundano comportamento, a Carta de São Paulo ao Romanos diz: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe agrada e o que é perfeito." Rm 12,2

    A Sabedoria, pois, tem mostrado que a perfeição vem pela prática da caridade, seja material seja espiritual. Este Santo vai dizer aos da cidade de Colossos: "Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição." Cl 3,14

    Por isso, para que ela esteja em nós de modo cada vez mais vivo, a Carta de São Paulo aos Filipenses rezava: "Peço, em minha oração, que vossa caridade se enriqueça cada vez mais de compreensão e critério, com que possais discernir o que é mais perfeito, e tornei-vos puros e irrepreensíveis para o Dia de Cristo..." Fl 1,9-10

    E a Primeira Carta de São Pedro, inspiradamente, diz que esta é uma obra de Deus: "O Deus de toda Graça, que vos chamou em Cristo à Sua Eterna Glória, depois que tiverdes padecido um pouco, aperfeiçoá-vos-á, torná-vos-á inabaláveis, fortificá-vos-á." 1 Pd 5,10

terça-feira, 29 de outubro de 2024

A Ira de Deus

    Embora muito mais se fale do amor de Deus, também se deve ter claro Sua ira, como se viu em punição pelo pecado da idolatria durante o Êxodo. Aliás, a fúria de Deus alcança até mesmo os já falecidos, como Ele mesmo diz no cântico de Moisés, que estava em seus últimos anos, visto no Livro do Deuteronômio: "Eles provocaram Meu ciúme com um falso deus, e irritaram-Me com seus vazios ídolos. O fogo da Minha ira está a arder e vai queimar até à mansão dos mortos, vai devorar a Terra e seus produtos, e abrasar o alicerce das montanhas." Dt 32,21-22

    Pois mesmo com todas frequentes intervenções de Moisés, nem todos israelitas entraram na Terra Santa. Mais tarde, através do Livro dos Salmos, Ele justificou: "Por isso, em Minha ira, jurei que não haveriam de entrar no lugar de descanso que lhes prometera!" Sl 94,11

    E dado que Israel não acolhia Seus Profetas, Ele usou da brutalidade dos inimigos exércitos para corrigir Seu povo. São registros do Segundo Livro de Crônicas, quando se deu a destruição do Templo de Jerusalém e o exílio da Babilônia: "Então Deus suscitou contra eles o rei dos caldeus, que, no próprio edifício do Santuário, mandou matar Seus jovens, e não poupou nem o adolescente, nem a donzela, nem o ancião, nem a mulher de cabelos brancos. O Senhor entregou-lhe tudo." 2 Cr 36,17

    Ademais, os Profetas também eram encarregados de anunciar Seus castigos, como vemos no Livro do Profeta Isaías, cem anos antes, ao falar do símbolo máximo da ira de Deus: Seu Dia: "Lamentai-vos, porque o Dia do Senhor está próximo como uma devastação provocada pelo Todo-poderoso. Eis que virá o Dia do Senhor, implacável Dia, de furor e de ardente cólera, para reduzir a Terra a um deserto e dela exterminar os pecadores." Is 13,6.9

    O Livro do Profeta Amós, quase um século antes, lamenta por aqueles que tratam o Dia do Juízo com insolência: "Ai daqueles que desejam ver o Dia do Senhor! Que será para vós o Dia do Senhor? Trevas, e não luz!" Am 5,18

    E o Livro do Profeta Sofonias, de século e meio mais tarde, exercitava o povo no temor ao Senhor pedindo penitência: "Curvai-vos, curvai-vos, gente sem pudor, antes que nasça a sentença e o dia passe como a palha. Antes que caia sobre vós o ardor da ira do Senhor; antes que caia sobre vós o Dia da indignação do Senhor!" Sf 2,1-2

    Porque a ira de Deus, de tão real e efetiva, tem-se manifestado de tal forma que os maus anjos, Satanás entre eles, já foram punidos. Diz a Segunda Carta de São Pedro: "Pois se Deus não poupou os anjos que pecaram, mas precipitou-os nos tenebrosos abismos do inferno onde os reserva para o Julgamento..." 2 Pd 2,24

    Na parábola das ovelhas e dos cabritos, que consta do Evangelho segundo São Mateus, Jesus, dias antes de Sua última Páscoa, também Se pronunciou nesse sentido: "Retirai-vos de Mim, malditos! Ide para o eterno fogo destinado ao Demônio e aos seus anjos." Mt 25,41

    São João Batista também se pronunciou sobre a ira de Deus, e, como única solução, apontava para a Redenção oferecida na Pessoa de Cristo. É seu discurso antes de ser preso, quando soube que Jesus já havia iniciado Seu Ministério, como está no Evangelho de São João: "Aquele que crê no Filho tem a Vida Eterna. Quem não crê no Filho não verá a Vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus." Jo 3,36

    No mesmo sentido, a Carta de São Paulo aos Gálatas, chamando-os de insensatos por desvios já dentro do cristianismo, prega a purificação do corpo e da alma para que não mais ofendêssemos o Pai Celeste: "Mortificai vossos membros, pois, no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. Dessas coisas provém a ira de Deus sobre os descrentes." Cl 3,5-6

    Assim, pois, a Carta de São Paulo aos Romanos explica a paciência de Deus: "Ou desprezas as riquezas de Sua bondade, tolerância e longanimidade, desconhecendo que a bondade de Deus te convida ao arrependimento? Mas pela tua obstinação e impenitente coração, vais acumulando ira contra ti, para o Dia da Cólera e da revelação do justo Juízo de Deus..." Rm 2,4-5

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

São Judas Tadeu, Apóstolo

    Foi um dos mais reservados Apóstolos, de quem ficaram poucos registros, mas nem por isso se pode deduzir que tenha sido menos ativo. De fato, não é muito mencionado. E aparece nas listas dos Apóstolos nos Evangelhos sempre entre os últimos dos Doze. o Evangelho segundo São Mateus, por exemplo, escreveu: "Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 10,2-4

    E o Evangelho segundo São Lucas, que não o chama de Tadeu, mas de Judas, seu primeiro nome, e só o menciona à frente de Judas Iscariotes: "Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e dentre eles escolheu Doze, que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelota; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor." Lc 6,13-16

    Parente de Jesus, ele é citado como um de Seus irmãos nos Evangelhos segundo São Mateus e segundo São Marcos, dos quais reproduzimos o primeiro: "Não é este o Filho do carpinteiro? Não é Maria Sua mãe? Não são Seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?" Mt 13,55

    É São Judas que questiona Jesus, no Evangelho segundo São João, quanto à Sua maneira de manifestar-Se pessoa a pessoa, pois gostaria de vê-Lo manifestando-Se o quanto antes ao mundo todo, de forma gloriosa e em definitivo. Nessa passagem, fica evidente o respeito com que ele trata Jesus, chamando-O de Senhor, detalhe que também desmistifica a ideia de que seria Seu irmão, como pretendem alguns, e assim simplesmente pela absoluta falta de intimidade: "Pergunta-Lhe Judas, não o Iscariotes: 'Senhor, por que razão hás de manifestar-Te a nós e não ao mundo?' Respondeu-lhe Jesus: 'Se alguém Me ama, guardará Minha Palavra e Meu Pai amá-lo-á. E Nós viremos a ele, e nele faremos Nossa morada.'" Jo 14,22-23

    Ele ainda tem seu nome nas listas dos Onze presentes no Cenáculo, pouco antes da vinda do Espírito Santo por ocasião do Pentecostes, conforme o Livro dos Atos dos Apóstolos, onde mais uma vez São Lucas exclusivamente o indica como irmão de São Tiago Menor, não de Jesus, e de novo como o último deles, atrás até de São Simão Zelota, que dos Doze é o menos citado: "Tendo entrado no Cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelota, e Judas, irmão de Tiago." At 1,13

    Por fim, ele assina uma epístola na qual providencialmente se identifica com irmão de São Tiago Menor, assim como São Lucas o identificou por duas vezes. Essa passagem deixa ainda mais claro que ele não era irmão de Jesus, nem filho de Nossa Senhora ou sequer de São José. Como ele mesmo faz questão de apresentar-se, talvez justamente para esclarecer esse assunto, diz-se irmão de Tiago, filho da Maria esposa de Cleófas, ou Alfeu, seu equivalente hebraico, e parenta de Maria Santíssima. Ele não se identifica como irmão de Jesus, como seguramente faria se o fosse, mas como Seu servo: "Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago..." Jd 1,1

    A Carta de São Judas também não é extensa. Ele justifica-a apenas para corroborar o que 'os Apóstolos' ensinavam, como se não fosse um deles, para deixar seu testemunho sobre Cristo e já alertar das correntes heresias, exortando os fiéis a não desanimarem com o escárnio que sofriam. E deixa um importante registro de que a Revelação já estava encerrada, à qual só cabe ser explicitada, chamando-a de ''': "Caríssimos, estando eu muito preocupado em escrever-vos a respeito de nossa comum Salvação, senti a necessidade de dirigir-vos esta carta para exortar-vos a pelejar pela fé, de uma vez para sempre confiada aos Santos. Pois certos ímpios furtivamente se introduziram entre nós, os quais desde muito tempo estão destinados para este Julgamento. Eles transformam em dissolução a Graça de Nosso Deus, e negam Jesus Cristo, Nosso Único Mestre e Senhor. Mas vós, caríssimos, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas pelos Apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam: 'No fim dos tempos virão impostores, que viverão segundo suas ímpias paixões. Homens que semeiam a discórdia, homens sensuais que não têm o Espírito Santo.'" Jd 1,3-4.17-19

    Nela, demonstrando o mesmo respeito que se viu no Evangelho segundo São João, por seis vezes ele menciona o Nome de Jesus, e em todas chama-O de Cristo. E, como visto, também O chama de 'Nosso Único Mestre e Senhor', ou seja, nenhum resquício de familiar intimidade, muito menos de sanguínea irmandade.

São Simão Zelota, Apóstolo

    Certamente, o menos conhecido dentre os Doze Apóstolos. Na lista, sempre é citado entre os últimos pelos evangelistas, duas das três vezes à frente apenas de Judas Iscariotes, e no Evangelho segundo São Mateus é chamado de 'cananeu', por seu engajamento no movimento nacionalista de então: "Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 10,2-4

    Assim como o Evangelho segundo São Marcos, que serviu de texto base para os demais, o Evangelho segundo São Lucas aponta o apelido de zelota, em referência ao apaixonado zelo que seu grupo religioso tinha pelas Escrituras, desejosos de vê-las plenamente respeitadas: "Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e escolheu Doze dentre eles que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado zelota; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor." Lc 6,13-16

    Após esta citação, São Simão só mais uma vez será nominalmente citado, seja nos Evangelhos ou nos demais Livros do Novo Testamento: na lista dos Onze, já sem Judas Iscariotes, claro!, do Livro dos Atos dos Apóstolos, logo após a Ascensão de Jesus e pouco antes do Pentecostes, quando o Amado Médico de novo coloca-o, por algum motivo, à frente de ninguém menos que São Judas Tadeu, parente de Jesus: "Tendo entrado no Cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelota, e Judas, irmão de Tiago.Todos eles unanimemente perseveravam em oração, juntamente às mulheres, entre elas Maria, Mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele." At 1,13-14

    Mas como zelota, e assim íntimo companheiro de São Pedro, era ele que possuía a outra espada que os Apóstolos levavam, como vemos momentos antes de partirem para o Horto das Oliveiras, onde Jesus seria preso. O Divino Mestre havia ordenado: "Depois ajuntou: 'Quando vos mandei sem bolsa, sem mochila e sem calçado, faltou-vos porventura alguma coisa?' Eles responderam: 'Nada.' 'Mas agora', disse-lhes Ele, 'aquele que tem uma bolsa, tome-a. Aquele que tem uma mochila, igualmente tome-a. E aquele que não tiver uma espada, venda sua capa para comprar uma.' Eles replicaram: 'Senhor, eis aqui duas espadas!' 'Basta!', respondeu Ele." Lc 22,35-36.38

    De fato, uma das espadas era levada pelo Príncipe dos Apóstolos, como vemos no Evangelho segundo São João exatamente quando Jesus foi preso pelos guardas dos líderes judeus de Jerusalém: "Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. Mas Jesus disse a Pedro: 'Enfia tua espada na bainha! Não hei de beber o cálice que o Pai Me deu?" Jo 18,10-11

    Assim como São Tiago Menor e São Judas Tadeu, que eram parentes próximos de Jesus, e ainda São Tomé e Judas Iscariotes, de São Simão Zelota não ficou registrado em que momento ele passou a acompanhar Jesus, diferente do que acontece com os demais Apóstolos. Mas baseando-se no Evangelho de São João, é muito provável que ele também tenha sido convidado para as bodas de Caná, talvez pelo próprio São Pedro, e assim presenciado o milagre da transformação da água em vinho. Com efeito, nesta ocasião e pelo local, o Amado Discípulo, como ocular testemunha e de tão pontuais e cronológicos registros, dá a entender que o grupo dos Apóstolos já estava formado, exceto pela ausência de São Mateus, que só seria chamado em Cafarnaum (cf. Mc 2,14), onde Jesus foi morar após deixar Nazaré (cf. Mt 4,13): "Este foi o primeiro milagre de Jesus. Realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou Sua Glória, e Seus discípulos creram n'Ele." Jo 2,11

domingo, 27 de outubro de 2024

O Amor de Deus

    Sob forte inspiração, o Livro da Sabedoria belamente percebeu o amor de Deus: "Tendes compaixão de todos, porque Vós podeis tudo. E para que se arrependam, fechais os olhos aos pecados dos homens. Porque amais tudo que existe, e não odiais nada do que fizestes, porquanto, se o odiásseis, não o teríeis feito de modo algum. Como poderia subsistir qualquer coisa, se não o tivésseis querido, e conservar a existência, se por Vós não tivesse sido chamada? Mas poupais todos seres, porque todos são Vossos, ó Senhor, que amais a vida." Sb 11,23-26

    Por isso, o Livro dos Salmos cantaDeus, tem piedade de mim conforme Tua Misericórdia. Em Teu grande amor, cancela meu pecado." Sl 51,3

    E afere-lhe o justo valor: "Porque Vosso amor me é mais precioso que a vida..." Sl 63,4

    De fato, firmando a promessa da Nova Aliança, Deus mesmo disse ao povo de Israel no Livro do Profeta Isaías: "'Mesmo que as montanhas oscilassem e as colinas se abalassem, jamais Meu amor te abandonará e jamais Meu pacto de Paz vacilará,' diz o Senhor, que Se compadeceu de ti." Is 54,9-10

    Se vez e outra somos castigados, pois, se bem observarmos os acontecimentos, também é fácil atestar Sua infinita afabilidade. Ainda através deste Profeta, Ele mesmo afirmou: "Num acesso de cólera, volvi de ti Minha face. Mas em Meu eterno amor, de ti tenho compaixão." Is 54,8

    E Jesus, para que melhor vivamos, firmou esse parâmetro de amor na noite da Santa Ceia: "Este é Meu Mandamento: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amo." Jo 15,12

    Ele iria demonstrá-lo por Sua Paixão: "Ninguém tem maior amor que aquele que dá sua vida por seus amigos." Jo 15,13

    Mas também deixou patente que não podemos ser amados por Deus se não amarmos a Ele, Seu Filho: "Pois o próprio Pai vos ama, porque vós Me amastes e crestes que saí de Deus." Jo 16,27

    Por isso, ressaltando o valor da perseverança para que vençamos a insensibilidade, a inconstância e a faltosa consciência, Jesus recomendou-nos em ensinamentos finais: "Se guardardes Meus Mandamentos, sereis constantes em Meu amor, como Eu também guardei os Mandamentos de Meu Pai e persisto em Seu amor." Jo 15,10

    E a despeito dos insondáveis desígnios de Deus, alguma luz nos é dada sobre Sua didática quando lemos esta passagem do Livro dos Provérbios: "Meu filho, não desprezes a correção do Senhor, nem te espantes de que Ele te repreenda, porque o Senhor castiga aquele a quem ama, e pune o filho a quem muito estima." Pr 3,11-12

    Eis que na Carta de São Paulo aos Efésios, ele reza: "... que sejais poderosamente robustecidos por Seu Espírito em vista do crescimento do vosso homem interior. Que Cristo habite pela em vossos corações, arraigados e consolidados no amor, a fim de que possais, com todos cristãos, compreender qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, isto é, conhecer o amor de Cristo, que desafia todo conhecimento..." Ef 3,16-19

    Na Carta de São Tiago, este Apóstolo parente de Nosso Senhor, dizendo do Espírito Santo, justifica: "Todo aquele que quer ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus. Ou imaginais que em vão diz a Escritura: 'Sois amados até o ciúme pelo Espírito que em vós habita?'" Tg 4,4b-5

sábado, 26 de outubro de 2024

Novos Céus e Nova Terra

    Ainda no Livro do Profeta Isaías, sete séculos antes da Encarnação de Cristo, Deus prometeu: "... porque as desgraças de outrora serão esquecidas, já não lhes volverão ao espírito. Pois Eu vou criar novos céus e uma nova Terra. O passado já não será lembrado, já não volverá ao espírito, mas será experimentada a eterna alegria e felicidade daquilo que vou criar." Is 65,16-18a

    Ele promete, portanto, a verdadeira felicidade, quer dizer, os Céus, para nele Seus filhos vivam a eternidade: "'Pois, assim como os novos céus e a nova Terra que vou criar devem subsistir diante de Mim', declara o Senhor, 'assim devem subsistir vossa raça e vosso nome.'" Is 66,22

    Porque longe de atemorizar, a intenção de Deus ao revelar o fim dos tempos é exclusivamente garantir a realização de Sua justiça, e assim oferecer Consolação a Seu povo. Foi exatamente nestes termos que o Livro do Eclesiástico interpretou as visões do Profeta Isaías: "Por uma poderosa inspiração, ele viu o fim dos tempos, e consolou aqueles que choravam em Sião. Ele anunciou o futuro até a eternidade, assim como as coisas ocultas antes que se cumprissem." Eclo 48,27-28

    A Segunda Carta de São Pedro, pois, deu detalhes: "Naquele dia, os céus passarão com um assombroso estrondo, os abrasados elementos dissolver-se-ão, e será consumida a Terra com todas obras que ela contém. Uma vez que todas estas coisas hão de desagregar-se, considerai qual deve ser a santidade de vossa vida e de vossa piedade, enquanto esperais e apressais o Dia de Deus, esse Dia em que, inflamados, os céus hão de dissolver-se, e abrasados, os elementos hão de fundir-se! Nós, porém, segundo Sua promessa, esperamos novos céus e uma nova Terra, nos quais habitará a justiça." 2 Pd 3,10-13

    Jesus falou sobre idênticos e cósmicos fenômenos, que sucederiam a Grande Tribulação. Foi depois de Sua entrada messiânica em Jerusalém, sentado com os Apóstolos no Monte das Oliveiras, como narra o Evangelho segundo São Mateus: "Logo depois da tribulação daqueles dias, o sol vai ficar escuro, a lua não mais brilhará e as estrelas cairão do céu, e os poderes do espaço ficarão abalados." Mt 24,29

    E no Evangelho segundo São Lucas, também depois do Domingo de Ramos, Ele deu detalhes da reação da humanidade diante de tão estarrecedores acontecimentos: "Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas. E na Terra, as nações cairão em desespero, apavoradas com o barulho do mar e das ondas. Os homens desmaiarão de medo e ansiedade, pelo que vai acontecer ao Universo..." Lc 21,25-26

    Afirmou o próprio fim de todo Universo, em contraponto à perenidade de Sua Palavra. Está em Seus últimos ensinamentos na Cidade Santa: "Os céus e a Terra desaparecerão, mas Minhas palavras não desaparecerão." Lc 21,33

    Em perfeita concordância, o Príncipe dos Apóstolos vai reafirmar o poder do Verbo Encarnado, também indicando o final destino de tudo que conhecemos: "Mas os céus e a Terra que agora existem são guardados pela mesma Divina Palavra, e reservados para o fogo no Dia do Juízo e da perdição dos ímpios." 2 Pd 3,7

    De fato, São João Evangelista viu o cumprimento dessa promessa, como narra quase ao fim do Livro do Apocalipse: "Então vi um novo céu e uma nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira Terra desapareceram..." Ap 21,1

    E testemunhou mais esta visão: "Então Aquele que está assentado no trono disse: 'Eis que Eu renovo todas coisas.' Ainda disse: 'Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.' Novamente disse-me: 'Está pronto! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Começo e o Fim.'" Ap 21,5-6a

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Cristo, Nosso Advogado

    Se a ira de Deus parece por demais pesada, e Seus castigos causam algum pavor, convém que tenhamos sempre presente a flagelação que foi a Paixão de Cristo, Seu ato máximo de amor para redimir-nos e livrar-nos da perdição. Os seguidores da tradição de São Paulo escreveram na Carta aos Hebreus: "Por isso, Ele é o Mediador do Novo Testamento. Por Sua morte expiou os pecados cometidos no decorrer do Primeiro Testamento, para que os eleitos recebam a eterna herança que lhes foi prometida." Hb 9,15

    Devemos-Lhe, portanto, obediência: "E uma vez chegado ao fim de Sua vida terrena, tornou-Se Autor da Eterna Salvação para todos que Lhe obedecem..." Hb 5,9

    Pois depois de viver a condição humana, Ele sentou-Se à direita do Pai como Nosso Defensor: "Eis porque Cristo entrou, não em santuário feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do verdadeiro Santuário, mas no próprio Céu, para agora Se apresentar em nosso favor ante a face de Deus." Hb 9,24

    De fato, Sua chegada aos Céus foi precedida da expulsão de Satanás, porque tendo vencido o pecado, e pelo Mandamento do amor, Ele abriu-nos o Caminho da Redenção. No Livro do Apocalipse, São João Evangelista diz ter ouvido uma forte voz no Céu: "Agora chegou a Salvação, o poder e a realeza de Nosso Deus, assim como a autoridade de Seu Cristo, porque foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que dia e noite os acusava diante do Nosso Deus." Ap 12,10

    Essa é a razão pela qual a Primeira Carta de São João nos diz com carinho e esperança: "Filhinhos meus, isto escrevo-vos para que não pequeis. Mas se alguém pecar, temos um advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo." 1 Jo 2,1

    E a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo diz a Quem devemos gratidão: a Jesus, o Ser Humano. De fato, tal mediação já significou a própria Salvação, pois Jesus é Deus, e sendo Deus não precisaria interceder: "Porque há um só Deus e há um só Mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, um Homem que como resgate Se entregou por todos." 1 Tm 2,5-6a

    Pois mesmo entre nem sempre compreensíveis desígnios, essa é a essência do projeto do Pai, como está na Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses: "Porquanto Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a Salvação por Nosso Senhor Jesus Cristo." 1 Ts 5,9

    E voltando a falar de Jesus, o Último Apóstolo diz: "É Ele que nos liberta da futura ira." 1 Ts 1,10

    Ora, Jesus deixou claro qual era Sua Missão já no episódio que deu nome aos irmãos 'Boanerges', numa das vezes que subiu a Jerusalém. Foi registrado no Evangelho segundo São Lucas: "Enviou diante de Si mensageiros que, tendo partido, entraram em uma povoação dos samaritanos para arranjar-Lhe pousada. Mas não O receberam, por Ele dar mostras que ia para Jerusalém. Vendo isto, Tiago e João disseram: 'Senhor, queres que mandemos que desça fogo do Céu e os consuma?' Jesus voltou-Se e severamente repreendeu-os: 'Não sabeis de que espírito sois animados. O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para salvá-las.' Foram, então, para outra povoação." Lc 9,52-56

    Contudo, apontando os desmandos dos religiosos de Sua época, Nosso Salvador não deixou de pronunciar os oito retumbantes 'Ai de vós', dois quais aqui citamos os três primeiros. São palavras do Evangelho segundo São Mateus: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Vós fechais aos homens o Reino dos Céus. Vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar. Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Devorais as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso, sereis castigados com muito maior rigor. Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, dele fazeis um filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos." Mt 23,13-15

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Bem perto de Deus

    Os dois discípulos, que no Domingo da Ressurreição partiram para Emaús, atestaram o efeito da Palavra de Jesus, mesmo quando Ele ainda não Se tinha identificado. É uma das últimas cenas do Evangelho segundo São Lucas: "Não se nos abrasava o coração quando pelo caminho Ele falava e explicava as Escrituras?" Lc 24,32b

    No Evangelho segundo São Marcos, após entrar em Jerusalém no Domingo de Ramos, quando foi questionado por um escriba sobre o mais importante Mandamento, Jesus, depois de responder, atestou que ele conhecia a Graça de Deus, pelo comentário que fez, e disse-lhe em significativo elogio: "Não estás longe do Reino de Deus." Mc 12,34

    E assim, em avançada etapa de Sua Missão, Ele anunciou a sutil instauração do Reino dos Céus: "O Reino de Deus não virá de um ostensivo modo. Nem se dirá: 'Ei-lo aqui'; ou: 'Ei-lo ali'. Pois o Reino de Deus já está no meio de vós." Lc 17,20-21

    Disse, ademais, da Comunhão como Pai que Sua Ressurreição provaria aos Apóstolos, assim como da Comunhão dos Santos. Eram Suas últimas palavras depois da Santa Ceia, como lemos no Evangelho segundo São João: "Naquele dia conhecereis que estou em Meu Pai, e vós em Mim e Eu em vós." Jo 14,20

    Pela Sacramento da Comunhão, portanto, usufruímos de Sua presença como Ele garantiu à Igreja pouco antes de Sua Ascensão aos Céus. É do Evangelho segundo São Mateus: "Ensinai-as a observar tudo que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos dias, até o fim do mundo." Mt 28,20

    De fato, Deus mesmo distinguia entre Sua forte presença e Sua Onipresença, falando no Livro do Profeta Jeremias: "'Porventura Eu sou Deus apenas quando estou perto?', Oráculo do Senhor. 'Não O sou também quando de longe?" Jr 23,23

    Eis que o Livro dos Salmos canta: "O Senhor aproxima-Se dos que O invocam, daqueles que O invocam com sinceridade." Sl 144,18

    Nestes termos falava da necessária contrição: "O Senhor está perto dos contritos de coração, e salva os que têm o espírito abatido. O Senhor livra a alma de Seus servos. Não será punido quem a Ele se acolhe." Sl 33,19.23

    E reconhece o Templo de Jerusalém, hoje representado pela Igreja, como adequado lugar para este contato: "Vinde, exultantes entrai em Sua presença! Cantando entrai sob Seus pórticos, com cânticos vinde a Seus átrios! Glorificai-O e bendizei Seu Nome..." Sl 99,2.4

    Mas depois da Vinda do Salvador, a Carta de São Paulo aos Efésios diz do correto meio: "Em Cristo, pela que n'Ele temos, conseguimos plena liberdade para confiantemente aproximarmo-nos de Deus." Ef 3,12

    E na Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo, instando-o a pregar, ele invocava a real presença de Deus, por saber sempre estar diante de Seus olhos: "Eu conjuro-te em presença de Deus e de Jesus Cristo..." 2 Tm 4,1a

    Ora, pela Comunhão da Santíssima Trindade, esta também é a condição do Espírito Santo entre nós. Jesus afirmou a momentos de seguirem para o Horto das Oliveiras, onde seria preso: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,16-17

    Porque só com a total libertação promovida pelo Santo Paráclito, podemos servir a Deus em santidade, como previu o sacerdote Zacarias, pai de São João Batista, ainda no início do Novo Testamento: "... libertados de inimigas mãos, possamos servi-Lo em santidade e justiça, em Sua presença, todos dias de nossa vida." Lc 1,74-75

    Por isso, a Carta de São Tiago garante: "Aproximai-vos de Deus, e Ele aproximar-Se-á de vós." Tg 4,8a

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Visões e Aparições (II)

    No Novo Testamento, as revelações começam com a aparição do Arcanjo São Gabriel ao sacerdote Zacarias, para anunciar o nascimento de São João Batista, seu filho. É do Evangelho segundo São Lucas: "Apareceu-lhe, então, um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do incenso. Vendo-o, Zacarias ficou perturbado e o temor assaltou-o. Mas o anjo disse-lhe: 'Não temas, Zacarias, porque foi ouvida tua oração: Isabel, tua mulher, dá-te-á um filho, e chamá-lo-ás João." Lc 1,11-13

    Seis meses depois, este mesmo Arcanjo vai aparecer a Nossa Senhora, para anunciar-lhe o Nascimento de Nosso Salvador: "No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria. Entrando onde ela estava, disse-lhe: 'Ave, cheia de Graça, o Senhor é contigo.'" Lc 1,26-28

    E assim, na noite de Natal, uma multidão de anjos apareceu a pastores da cidade de Belém, lugar de recenseamento de São José, para que fossem adorar o Menino Jesus: "Havia nos arredores uns pastores, que durante as vigílias da noite guardavam seu rebanho nos campos. Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a Glória do Senhor refulgiu ao redor deles, e tiveram grande temor. O anjo disse-lhes: 'Não temais! Eis que vos anuncio uma Boa Nova que será alegria para todo o povo: hoje, na Cidade de Davi, vos nasceu um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto servi-vos-á de sinal: achareis um Recém-Nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura.' E subitamente ao anjo juntou-se uma multidão do Celeste Exército, que louvava a Deus e dizia: 'Glória a Deus no mais alto dos Céus, e Paz na Terra aos homens, objetos da divina benevolência.'" Lc 2,8-14

    A vida pública de Jesus começa com Seu Batismo por São João Batista, quando Lhe apareceu o Espírito Santo e se ouviu a voz do Pai, ou seja, uma manifestação da Santíssima Trindade. O Evangelho segundo São Mateus anotou: "Da Galileia, foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de por ele ser batizado. Depois que Jesus foi batizado, logo saiu da água, e eis que os Céus se abriram e viu-se sobre Ele descer, em forma de pomba, o Espírito de Deus. E do Céu baixou uma voz: 'Eis Meu Amado Filho, em quem ponho Minha afeição." Mt 3,13.16-17

    Depois de ser tentado no deserto, Nosso Salvador foi socorrido por Seus anjos: "Em seguida, o Demônio deixou-O, e os anjos aproximaram-se d'Ele para servi-Lo." Mt 4,11

    Em Sua transfiguração, seis dias depois de anunciar Sua Paixão, apareceram-Lhe Moisés e Elias, que foram vistos por São Pedro, São Tiago Maior e São João Apóstolo. Era, assim como em Seu Batismo, mais uma simultânea manifestação da Santíssima Trindade, pois a nuvem é uma das formas assumidas pelo Espírito Santo: "Seis dias depois, Consigo Jesus tomou Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha. Lá Se transfigurou em presença deles: Seu rosto brilhou como o sol, Suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com Ele." Mt 17,1-3

    E segundo o Evangelho segundo São João, após ressuscitar e aparecer a Santa Maria Madalena, a São Pedro e a dois discípulos que partiram para Emaús, Jesus apareceu ao Colégio dos Apóstolos: "Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-Se em meio a eles. Disse-lhes Ele: 'A Paz esteja convosco!'" Jo 20,19

    No caminho de Damasco, ademais, Jesus apareceu ao Último Apóstolo, à época chamado Saulo, um fariseu que, segundo ele mesmo, prendia e açoitava cristãos (cf. At 22,19). A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios aponta: "E por último de todos, também apareceu a mim, como a um abortivo. Porque eu sou o menor dos Apóstolos, e não sou digno de ser chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus." 1 Cor 15,8-9

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Visões e Aparições (I)

    Temos uma religião inteiramente revelada: toda Doutrina da Igreja Católica foi revelada pelo próprio Deus. Ora, nós acolhemos a Revelação em sua plenitude, que nada mais é que obra de visões e aparições. Tanto que, não ter visões no Antigo Testamento era sinal de más relações com Deus, como lemos no Primeiro Livro do Profeta Samuel: "O jovem Samuel servia ao Senhor sob os olhos de Heli. A Palavra do Senhor era rara naqueles dias, e as visões não eram frequentes." 1 Sm 3,1

    Nessa atmosfera é prometido o Pentecostes, como o Profeta Joel anunciou, quando pela ação do Espírito Santo na Igreja as visões se tornariam abundantes. Deus disse-lhe: "Depois disso, acontecerá que derramarei Meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões. Farei aparecer prodígios no céu e na Terra, sangue, fogo e turbilhões de fumo." Jl 3,1.3

    O Livro das Lamentações, escrito depois da destruição de Jerusalém e do Templo, quando o povo de Israel foi levado ao exílio na Babilônia, também se ressente de seu tempo: "Mesmo os Profetas não mais recebem as visões do Senhor." Lm 2,9b

    Devia mesmo ser muito grave castigo, especificamente segundo o Livro do Profeta Amós, de mais de 100 anos antes deste flagelo: "Porque o Senhor Javé nada faz sem revelar Seu segredo aos Profetas, Seus servos." Am 3,7

    E o Livro dos Provérbios, que começou a ser escrito ainda no tempo do rei Salomão, atestava a importância que têm essas divinas interveniências: "Por falta de visão, o povo vive sem freios..." Pr 29,18a

    De fato, o povo tinha suas culpas, como se vê no Livro do Profeta Isaías, poucas décadas depois de Amós: "'Ai dos rebeldes filhos', diz o Senhor, 'eles seguem um plano que não vem de Mim. Concluem alianças sem Meu consentimento, acumulando, assim, falta sobre falta. Porque este é um povo rebelde, são mentirosos filhos, filhos que se recusam a ouvir as instruções do Senhor. Eles dizem aos videntes: 'Não vejais.' E aos Profetas: 'Não nos anuncieis a Verdade! Dizei-nos coisas agradáveis, profetizai-nos fantasias.'" Is 30,1-2.9-10

    Ora, Deus apareceu por várias vezes a Abraão, instruindo-o, como antes de destruir Sodoma e Gomorra: "O Senhor apareceu a Abraão nos carvalhos de Mambré, quando ele estava assentado à entrada de sua tenda, no maior calor do dia. Abraão levantou os olhos e viu três Homens de pé diante dele. No mesmo instante, levantou-se da entrada de sua tenda, veio-Lhes ao encontro e prostrou-se por terra. E Ele disse-lhe: 'Voltarei à tua casa dentro de um ano, a esta época, e Sara, tua mulher, terá um filho.'" Gn 18,1-2.10

    Também apareceu a Jacó, neto da Abraão, e numa das vezes para confirmar-lhe o nome de Israel: "Quando Jacó voltou de Padã-Arã, Deus novamente apareceu-lhe e abençoou-o. 'Teu nome,' disse-lhe Ele, 'é Jacó. Tu, porém, não te chamarás mais assim, mas Israel.' E chamou-o Israel." Gn 35,9-10

    Mas, nesses assuntos, Moisés realmente era um privilegiado: "Quando Moisés se dirigia para a Tenda, todo mundo levantava-se, cada um diante da entrada de sua tenda, para segui-lo com os olhos até que entrasse na Tenda. E logo que ele acabava de entrar, a coluna de nuvem descia e punha-se à entrada da Tenda, e o Senhor entretinha-Se com Moisés. O Senhor entretinha-Se com Moisés face-a-face, como um homem fala com seu amigo." Ex 33,8-9.11a

    Séculos depois, porém, o sacerdote e Profeta Ezequiel foi encarregado por Deus para desmentir os falsos profetas, ainda no exílio da Babilônia: "A Palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: 'Filho do homem, profetiza contra os profetas israelitas que pretendem profetizar, dize àqueles que profetizam de sua própria cabeça: Escutai a Palavra do Senhor!' Eis o que diz o Senhor Javé: 'Ai dos insensatos profetas que seguem sua própria inspiração sem terem tido visão alguma. Assim como chacais nos esconderijos, tais são teus profetas, ó Israel. Não é verdade que não tendes senão ineptas visões, e não fazeis senão enganadoras predições quando dizeis: Oráculo do Senhor, quando Eu não falei coisa alguma?'" Ez 13,1-4.7

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

O Purgatório

 

    Referindo-Se ao Juízo Particular e ao Juízo Final, Jesus falou em duas oportunidades para o perdão, afirmando que certos pecados, sem o necessário arrependimento, não terão perdão automático pela Divina Misericórdia. O Evangelho segundo São Mateus registrou: "Todo aquele que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste nem no vindouro século." Mt 12,32

    Também claramente apontou que há maiores e menores punições, diferente do inferno, onde a punição é total, e do Céu, onde não há punições. É do Evangelho segundo São Lucas: "Aquele servo que conheceu a vontade de Seu Senhor, mas não se preparou e não agiu conforme Sua vontade, será açoitado muitas vezes. Todavia, aquele que não a conheceu e tiver feito coisas dignas de chicotadas, será açoitado poucas vezes." Lc 12,47-48a

    E no Livro do ApocalipseSão João Evangelista assim explica a diferença entre os Santos e os que ainda estão purificando-se, quando o termo 'mil anos' significa um perfeito, completo período, o tempo para a total purificação da alma: "Os outros mortos não tornaram à vida até que se completassem os mil anos. Esta é a Primeira Ressurreição. Feliz e Santo é aquele que toma parte na Primeira Ressurreição!" Ap 20,5-6a

    Com efeito, o Purgatório era uma cogitação teológica recorrente entre o povo judeu, como vemos no Segundo Livro dos Macabeus. Diz de Judas Macabeus, o líder judeu que pôs fim a dominação dos gregos em Israel: "Mas se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que piedosamente morrem, esse era um bom e religioso pensamento. Eis porque ele pediu um expiatório sacrifício: para que os mortos fossem livres de suas faltas." 2 Mc 12,45-46

    Mas há muito, desde o Livro do Deuteronômio, temos outra sentença de Deus, pronunciada depois do anúncio da Vinda do Cristo, que indica até onde vai Seu fogo purificador. Eis o Purgatório: "O fogo de Minha ira está a arder, e vai queimar até à mansão dos mortos..." Dt 32,22

    E conforme a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, aqueles que, mesmo tendo edificado suas vidas em Cristo, não alcançarem a imediata Redenção, serão purificados por um fogo devorador: "Agora, se alguém edifica sobre este fundamento (Cristo), com ouro, ou com prata, ou com preciosas pedras, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O Dia do Juízo demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém de alguma maneira passando através do fogo." 1 Cor 3,12-16

    Ora, ao falar do imorredouro 'verme' do pecado, Nosso Salvador mesmo havia dito do processo da Salvação, aqui na Terra ou no Purgatório. O Evangelho segundo São Marcos diz: "Porque todo homem será salgado pelo fogo." Mc 9,46

    E como parece bastante óbvio, não se pode chegar aos Céus sem uma completa purificação da alma. Foi o que apontaram os seguidores de São Paulo, ao falar do necessário processo de santificação na Carta aos Hebreus: "Procurai a Paz com todos e ao mesmo tempo a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor." Hb 12,14

    Pois, segundo a Primeira Carta de São Pedro, no Reino de Deus não há lugar para impureza alguma, porque em Cristo renascemos "... para uma incorruptível, incontaminável e imarcescível herança, reservada para vós nos Céus..." 1 Pd 1,4

    De fato, se houvesse apenas Céu e inferno como destinos após a morte, Deus não teria porque Se compadecer dos mortos, pois, depois de julgados, ou eles já estariam totalmente salvos ou condenados para sempre. Mas está no Livro de Rute, uma estrangeira que se converteu ao Deus de Israel: "Noemi disse à nora (Rute): 'Que ele (Booz) seja abençoado por Javé, que não deixa de ter Misericórdia dos vivos e dos mortos.'" Rt 2,20