quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Santo André Apóstolo

 

    O irmão de São Pedro é considerado o 'protocletos', que em grego significa 'primeiro convocado'. Religioso e sensível, já era discípulo de São João Batista quando Jesus Se apresentou para ser batizado. E entre os Apóstolos, também é o primeiro a afirmar e a anunciar Jesus como o Messias, além de convocar um novo discípulo, o próprio São Pedro. São João Evangelista narrou esse episódio: "No seguinte dia, lá estava João outra vez com dois de seus discípulos. E ao avistar Jesus, que ia passando, disse: 'Eis o Cordeiro de Deus.' Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. Voltando-Se Jesus, e vendo que O seguiam, perguntou-lhes: 'Que procurais?' Disseram-Lhe: 'Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?' 'Vinde e vede', respondeu-lhes Ele. Foram aonde Ele morava e com Ele ficaram aquele dia. Era cerca da décima hora. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que O tinham seguido. Logo foi ele, então, à procura de seu irmão e disse-lhe: 'Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo).' Levou-o a Jesus, e Jesus, nele fixando o olhar, disse: 'Tu és Simão, filho de João. Serás chamado Cefas (que quer dizer pedra)!'" Jo 1,35-42

    Por essa frase, vemos que Jesus demonstra conhecer São Pedro e também seu pai, portanto, também pai de Santo André. Sinal de Sua Onisciência? Como São Filipe, Santo André e São Pedro eram de Betsaida, nome que significa 'casa da pesca', lugar próximo a Cafarnaum e ao Mar da Galileia: "Filipe era natural de Betsaida, cidade de André e Pedro." Jo 1,44

    Sabemos que, junto ao irmão, Santo André fazia parte de uma colônia de pescadores, mas, após Se retirar para o deserto por 40 dias, Jesus retornou e convidou-os para que pescassem almas: "Desde então, Jesus começou a pregar: 'Fazei penitência, pois o Reino dos Céus está próximo!' Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão (chamado Pedro) e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. E disse-lhes: 'Vinde após Mim, e fá-vos-ei pescadores de homens.' Na mesma hora, abandonaram suas redes e seguiram-nO." Mt 4,17-20

    Santo André era solteiro e morava com São Pedro, cuja casa foi dote de casamento, pois morava com a sogra: "Dirigiram-se para Cafarnaum. E já no dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e pôs-Se a ensinar. Assim que saíram da sinagoga, dirigiram-se com Tiago e João à casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama, com febre, e sem tardar falaram-Lhe a respeito dela. Aproximando-Se Ele, tomou-a pela mão e levantou-a. Imediatamente a febre deixou-a e ela pôs-se a servi-los." Mc 1,21.29-31

    Na lista dos Apóstolos, Santo André aparece em segundo lugar nos Evangelhos de São Mateus e São Lucas, atrás apenas do irmão, o Príncipe dos Apóstolos: "Naqueles dias, Jesus retirou-Se a uma montanha para rezar, e aí passou toda noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e escolheu Doze dentre eles, que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelota; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor." Lc 6,12-16

    E é através de Santo André que São Filipe dá um importantíssimo recado a Jesus, quando Nosso Salvador percebe que Seu Nome já havia chegado a países vizinhos, e por isso anuncia a chegada de Sua hora: "Havia alguns gregos entre os que subiram para adorar durante a festa. Estes aproximaram-se de Filipe (aquele de Betsaida da Galileia) e rogaram-lhe: 'Senhor, quiséramos ver Jesus.' Filipe foi e falou com André. Então André e Filipe disseram-no ao Senhor. Respondeu-lhes Jesus: 'É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado. Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só. Se morrer, produz muito fruto.'" Jo 12,20-24

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Jesus desmistificou

 

    Dentre tantos outros aperfeiçoamentos de vida espiritual promovidos por Jesus, quantidade e qualidade de ensinamentos que só podem ser explicadas por Sua divina natureza, reconhece-se que Ele também aprimorou a por trazê-la para o campo de concretas atitudes. Para começar, Ele mesmo, sendo Deus, viveu, anunciou o amor e morreu como mero ser humano. São João Evangelista testemunhou: "E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós." Jo 1,14

    E ainda mais forte demonstração foi aceitar a pura e crua realidade, não importa quão difícil, como desígnio de Deus, como se viu em Sua Paixão: "Meu Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice! Todavia, não se faça o que Eu quero, mas sim o que Tu queres." Mt 26,39b

    Não Lhe bastava, pois, que seguíssemos os Mandamentos! Pedia mesmo que nos entregássemos à evangélica pobreza e tudo confiássemos à Divina Providência, como recomendou ao rico jovem: "Disse-Lhe o jovem: 'Tenho observado tudo isto desde minha infância. Que ainda me falta?' Respondeu Jesus: 'Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me!'" Mt 19,20-21

    Noutra passagem, em mais uma magistral síntese do que representam as Escrituras, Ele anunciou a chamada 'lei de ouro', e falava apenas de atitudes, não de fé: "Tudo que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a Lei e os Profetas." Mt 7,12

    Na parábola do bom samaritano, quando atribuiu um bom exemplo justamente ao povo mais menosprezado pelos judeus, Jesus questionou um doutor da Lei, levando-o a deduzir a excelência da compaixão, e recomendou sua prática: "'Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?' Respondeu o doutor: 'Aquele que usou de Misericórdia para com ele.' Então Jesus lhe disse: 'Vai, e faze o mesmo.'" Lc 10,36-37

    Ressaltando o autêntico amor ao próximo, na parábola do Juízo Final Ele concede a Salvação apenas aos que usam de concretos gestos. Vale notar, mesmo falando sobre tão importante tema, que Ele nada disse sobre fé ou prática religiosa: "Vinde, benditos de Meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e deste-Me de comer; tive sede e deste-Me de beber; era peregrino e acolheste-Me; nu e vestiste-Me; enfermo e visitaste-Me; estava na prisão e viestes a Mim. Em Verdade, Eu declaro-vos: todas vezes que fizestes isso a um destes Meus pequeninos irmãos, foi a Mim mesmo que o fizestes.’" Mt 25,34-36

    Ele não Se referia só aos pobres. Há muitos à nossa volta, carentes de quem lhes sirva: "Logo, se Eu, Vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós também deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz, assim vós também façais. Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob condição de praticá-las.'" Jo 13,14-15.17

    E ao tratar de leis religiosas, Ele coloca o cuidar do ser humano em primeiro lugar, como quando defendeu os Apóstolos que debulhavam espigas de trigo pelo caminho, por não terem o que comer: "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado..." Mc 2,27

    Santa Missa, portanto, não é um encontro de 'puritanos', mas de arrependidos pecadores que em mútuo acolhimento revivem e atualizam o Sacrifício Pascal. Ele disse: "Os sãos não precisam de médico, mas os enfermos. Não vim chamar os justos, mas os pecadores." Mc 2,17

domingo, 26 de novembro de 2023

Cristo Rei

 

    Reinado de Cristo já está em vigor e sempre foi uma certeza, embora muitos teimem em não aceitar. De fato, ao ser inquirido por Pilatos, Jesus disse a Verdade: "'Meu Reino não é deste mundo. Se Meu Reino fosse deste mundo, Meus súditos certamente teriam pelejado para que Eu não fosse entregue aos judeus.' Então Lhe perguntou Pilatos: 'És, portanto, Rei?' Respondeu Jesus: 'Sim, Eu sou Rei. É para dar testemunho da Verdade que nasci e vim ao mundo. Todo aquele que é da Verdade, ouve Minha voz.'" Jo 18,36-37

    Pois o Arcanjo São Gabriel, falando sobre Jesus, já havia revelado a Nossa Senhora: "Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus dá-Lhe-á o trono de Seu pai Davi. Reinará eternamente na Casa de Jacó, e Seu Reino não terá fim." Lc 1,32-33

    E esse foi o reconhecimento feito por São Bartolomeu Apóstolo, ao atestar o poder de onisciência de Jesus, logo no primeiro instante em que O encontrou: "Falou-Lhe Natanael: 'Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel.'" Jo 1,49

    Sua instituição, no entanto, já se havia dado no próprio Céu, feita por Deus Pai, como o Profeta Daniel viu: "Sempre olhando a noturna visão, vi um Ser, semelhante ao Filho do Homem, vir sobre as nuvens do Céu: dirigiu-Se para o lado do Ancião, diante de Quem foi conduzido. A Ele foram dados império, Glória e realeza, e todos povos, todas nações e todas línguas serviram-nO. Seu domínio será eterno, nunca cessará, e Seu Reino jamais será destruído." Dn 7,13-14

    O Rei Davi até cogitou essa proposição, mas Deus mesmo interveio e determinou sobre a Igreja, ou seja, o Corpo Místico de Cristo: "Quando Davi se instalou em sua casa, disse ao Profeta Natã: 'Eis que moro numa casa de cedro e a Arca da Aliança do Senhor está debaixo de uma tenda.' Natã respondeu: 'Faze o que teu coração te sugere, porque Deus está contigo.' Mas, na seguinte noite, a Palavra de Deus foi dirigida a Natã, nestes termos: 'Vai e dize a Davi, Meu servo: Eis o que diz o Senhor: Não és tu que Me construirás a Casa em que habitarei. Quando teus dias se acabarem e tiveres ido juntar-te a teus pais, levantarei tua posteridade após ti, num de teus filhos, e firmarei Seu Reino. É Ele que Me construirá uma Casa e firmarei Seu Trono para sempre. Serei para Ele um Pai, e Ele será para Mim um Filho; e nunca retirarei d'Ele Meu favor como retirei daquele que reinou antes de ti. Eu estabelecê-Lo-ei em Minha Casa e em Meu Reino para sempre, e Seu Trono será firme por todos séculos.'" 1 Cro 17,1-3.11-14

    O próprio Jesus, aliás, afirmou esta invencibilidade através da Igreja, que é a representação material e espiritual de Seu Reino: "As portas do inferno não prevalecerão contra ela." Mt 16,18b

    Ora, Ele garantiu que Seu Reino já se faz sensivelmente presente entre nós: "O Reino de Deus não virá de ostensivo modo. Nem se dirá: Ei-lo aqui; ou: Ei-lo ali. Pois o Reino de Deus já está no meio de vós." Lc 17,20b-21

    E como portentoso e cósmico sinal, sábios reis de pagãs nações, inspirados pelo Espírito Santo, viram e seguiram a Estrela que anunciava a vinda do 'Rei dos judeus': "Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do Oriente a Jerusalém. Perguntaram eles: 'Onde está o Rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos Sua Estrela no Oriente e viemos adorá-Lo.'" Mt 2,1-2

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Não há Deus sem Jesus

     Jesus, sem dúvida, 'interpôs-Se' entre Deus e o mundo, apresentou-Se como o único caminho que leva ao Pai: "Ninguém vem ao Pai senão por Mim." Jo 14,6b

    Afirmou que só era possível conhecer o Pai se Ele O revelasse: "Ninguém conhece o Filho, senão o Pai. E ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-Lo." Mt 11,27b

    Nas palavras de São João Evangelista, as próprias visões que até então se tinha de Deus seriam meras representações, e só em Jesus chegariam à plenitude: "Ninguém jamais viu Deus. O Único Filho, que está no seio do Pai, foi Quem O revelou." Jo 1,18

    Só por Jesus, portanto, devemos viver, porque assim é o projeto do Pai: "Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em ter-nos enviado ao mundo Seu Único Filho, para que por Ele vivamos." 1 Jo 4,9

    São Paulo, invocando Sua Paixão, diz o mesmo, pois a Comunhão dos Santos envolve a igreja itinerante, que está na terra, e a santificante, que está no Purgatório: "Ele morreu por nós, a fim de que nós, quer em estado de vigília, quer de sono, vivamos em união com Ele." 1 Ts 5,10

    E segundo São João Batista, só através da manifestação de Jesus que podemos atestar a veracidade de Deus: "Aquele que recebe Seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro." Jo 3,33

    Nosso Salvador, porém, foi ainda mais longe e deu-nos um novo conceito de Deus, que mais tarde seria entendido como a Santíssima Trindade: "Eu e o Pai somos Um." Jo 10,30

    Ele explicava-Se nestes termos: "Aquele que crê em Mim, crê não em Mim, mas n'Aquele que Me enviou. E aquele que Me vê, vê Aquele que Me enviou." Jo 12,44b-45

    E denunciando o ódio que o mundo tem a Deus, sentenciou: "Se Eu não viesse e não lhes tivesse falado, não teriam pecado. Mas agora não há desculpa para seu pecado. Se Eu não tivesse feito entre eles obras, como nenhum outro fez, não teriam pecado. Mas agora as viram e odiaram a Mim e a Meu Pai. Foi, porém, para que se cumpra a Palavra que está escrita em Sua Lei: 'Odiaram-Me sem motivo (Sl 34,19; 68,5).'" Jo 15,22.24-25

    Até explicou o porque da confusão que os judeus de Jerusalém viviam: "Respondeu Jesus: 'Não conheceis nem a Mim nem a Meu Pai. Se Me conhecêsseis, certamente também conheceríeis a Meu Pai.'" Jo 8,19b

    Ainda disse que, por Sua Palavra, que corresponde ao veredicto, o Pai seria honrado: "Porque o Pai não julga ninguém, mas entregou todo Julgamento ao Filho. Desse modo, todos honrarão o Filho, bem como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, não honra o Pai, que O enviou." Jo 5,22-23

    Rejeitar a Igreja, pois, que é o sustentáculo da Verdade, é rejeitar Deus: "Quem vos ouve, a Mim ouve. E quem vos rejeita, a Mim rejeita. E quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou." Lc 10,16

    E assim Ele resumiu a obra da Redenção, após oferecer Seu Corpo como alimento: "Perguntaram-Lhe: 'Que faremos para praticar as obras de Deus?' Respondeu-lhes Jesus: 'A obra de Deus é esta: que creiais n'Aquele que Ele enviou.'" Jo 6,28-29

Um Retrato de São Paulo

 

    Foi na carta escrita à igreja de Filipos, que fica na Grécia, mas à época sob domínio dos macedônios, a primeira cidade da Europa a receber o Evangelho, que São Paulo nos deixou um mais conciso retrato de sua santidade. Além de exalar avançada espiritualidade, ele menciona o que é considerado o primeiro registro da hierarquia da Igreja, já se consolidando nas primeiras décadas. Ele diz na saudação inicial: "Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos santos em Jesus Cristo, que se acham em Filipos, com epíscopos e diáconos..." Fl l,1

    E vai citar o pretório, que era o tribunal romano, deixando claro que estava preso: "Em todo pretório e por toda parte tornou-se conhecido que é por causa de Cristo que estou preso." Fl 1,13

    Apesar disso, nosso Santo não está triste, ou sequer contrariado. É a carta em que mais fala em alegria! Mais vezes até que na Segunda aos Coríntios, que é bem mais extensa! Ainda nos primeiros versículos, ele inscreve: "Em todas minhas orações, sempre rezo com alegria por todos vós, recordando-me da cooperação que haveis dado na difusão do Evangelho, desde o primeiro dia até agora." Fl 1,4-5

    No último capítulo, ele torna a exortar e insiste: "Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!" Fl 4,4

    E, estejamos certos, ele não falava de alegria por vão entusiasmo, pois já estamos diante de um Paulo preparado, que profetiza o próprio martírio: "Meu ardente desejo e minha esperança são que em nada serei confundido, mas que, hoje como sempre, Cristo será glorificado em meu corpo (disto tenho toda certeza), quer por minha vida quer por minha morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro." Fl 1,20-21

    Então pede pela união entre os discípulos e assim pela Unidade da Igreja, pois sabia que esse era o mais brilhante sinal que os seguidores do Nazareno poderiam dar: "Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela  do Evangelho..." Fl 1,27

    Na verdade, ele tão somente lembrava uma condição que Jesus havia firmado: "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." Jo 13,35

    E, em tocante modéstia, o Último Apóstolo implorava por essa unidade em nome da Comunhão que com eles tinha, como uma consolação pelas tribulações que passava: "Se me é possível, pois, alguma consolação em Cristo, algum caridoso estímulo, alguma comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, completai minha alegria permanecendo unidos. Tende um mesmo amor, uma só alma e os mesmos pensamentos. Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos." Fl 2,1-3

    Alertava-os, ademais, do Caminho da Cruz: "... porque a vós é dado não somente crer em Cristo, mas ainda sofrer por Ele." Fl 1,29

    Por ter perfeitamente entendido, e na própria carne, a mensagem de Jesus, ele aproveita para pregar humildade e obediência. Eis uma parte do 'Hino Cristológico', que ele recita: "Sendo Ele de divina condição, não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-Se aos homens. E sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-Se ainda mais, tornando-Se obediente até a morte, e morte de Cruz." Fl 2,6-8

domingo, 19 de novembro de 2023

A Encarnação do Cristo (II)

 

    A Encarnação do Cristo assim foi descrita por São João Evangelista: "E o Verbo fez-Se carne, e habitou entre nós. E vimos Sua Glória, a Glória que o Único Filho recebe de Seu Pai, cheio de Graça e de Verdade." Jo 1,14

    Como se vê, o Verbo, ou seja, a Palavra de Deus, é o próprio Jesus. E o mistério da Comunhão da Santíssima Trindade, aqui mencionados apenas o Pai e o Filho, existe 'desde o início dos tempos'. São João tentou descrevê-lo: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto a Deus, e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito." Jo 1,1.3

    Seu Nascimento, portanto, era o pleno cumprimento de mais uma profecia, pois Maria era da tribo de Davi: "Este Evangelho outrora prometera Deus por Seus Profetas, na Sagrada Escritura, acerca de Seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor, descendente de Davi quanto à carne..." Rm 1,2-3

    E ainda que São José não fosse Seu pai biológico, igualmente tinha essa ascendência: "Também José subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, a Judeia, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi... " Lc 2,4

    Entretanto, do povo escolhido por Deus para ser mensageiro da Salvação, muitos não acolheram o Cristo, talvez por ser 'humano demais', ou ainda, haveria 'dois deuses'? Imaginem então a compreensão da Terceira Pessoa, o Espírito Santo? Mas, quanto ao Jesus humano, Deus não nos fez à Sua imagem e semelhança? "Estava no mundo e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O reconheceu. Veio para o que era Seu, mas os Seus não O receberam. Mas a todos aqueles que O receberam, aos que creem em Seu Nome, deu-lhes o poder de tornarem-se filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus." Jo 1,10-13

    Os imundos espíritos, contudo, prontamente reconheciam-nO e tentavam revelar Sua identidade: "De muitos saíam demônios, dizendo aos gritos: 'Tu és o Filho de Deus.' Mas Ele severamente repreendia-os, não lhes permitindo falar, porque sabiam que Ele era o Cristo." Lc 4,4

    O povo de Jerusalém, vendo Seus milagres e como Ele deixava sem palavras os religiosos, também começou a desconfiar de Sua verdadeira identidade: "Algumas das pessoas de Jerusalém diziam: 'Não é Este Aquele a Quem procuram tirar a vida? Todavia, ei-Lo que fala em público e não Lhe dizem coisa alguma. Porventura reconheceram as autoridades que Ele é o Cristo?'" Jo 7,26

    Sua Revelação, porém, tinha que ser completa, e Ele começou a interrogar os fariseus sobre o Messias: "Que pensais vós do Cristo?" Mt 22,42

    Mas já havia perguntado aos próprios Apóstolos o que eles pensavam sobre Sua Pessoa: "E vós, quem dizeis que Eu sou?" Lc 9,20a

    São Pedro, sempre o primeiro, respondeu: "O Cristo de Deus." Lc 9,20b

    A Verdade é que, para melhor interpretação dos fatos e das Escrituras, acolher Sua Revelação essencialmente passa pela Vontade de Deus, como Ele mesmo ensina: "Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o atrair..." Jo 6,44

sábado, 18 de novembro de 2023

A Encarnação do Cristo (I)

 

    São Paulo ensina que o Cristo, enquanto Servo Sofredor, é uma transcendente promessa de Deus, e Sua Missão consiste em exortar-nos à que tudo suporta. Por isso, a Igreja anuncia-O "... conforme a revelação do mistério, durante séculos guardado em segredo. Mas agora manifestado por ordem do Eterno Deus e, por meio das proféticas Escrituras, dado a conhecer a todas nações, a fim de levá-las à obediência da fé." Rm 16,25-26

    Assim, por Graça do Espírito Santo, os esforços dos Apóstolos em muito ultrapassaram os meramente humanos limites. De fato, à exceção de São João Evangelista, todos eles foram martirizados, inclusive São Paulo, que dizia sobre aqueles a quem ainda não tinha pregado: "Tudo sofro para que seus corações sejam reconfortados e que, estreitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos de uma plenitude de inteligência para conhecerem o Mistério de Deus, isto é, Cristo, no Qual estão escondidos todos tesouros da Sabedoria e da ciência." Cl 2,2-3

    E não deixou de n'Ele ver, para além da imagem, a própria plenitude de Deus: "Porque a Deus aprouve n'Ele fazer habitar toda plenitude..." Cl 1,19

    Atestando a superioridade da Nova Aliança, ele coloca o Antigo Testamento em seu devido lugar por força da manifestação de Deus na Pessoa de Jesus, que claramente foi preservada para um tempo em que a humanidade melhor pudesse acolher Seus ensinamentos: "... as Escrituras limitam-se a dar o conhecimento do pecado. Mas agora... manifestou-se a justiça de Deus, predita pela Lei e pelos Profetas... a obra da Redenção. Deus destinou o Cristo para ser, por Seu Sangue, instrumento de expiação... deixando sem castigo os pecados anteriormente cometidos, no tempo de Sua tolerância." Rm 3,20-21.24-26

    Pois como os seguidores de sua tradição revelam, Deus tudo criou tomando o Cristo como medida, e Sua Palavra, fonte de Salvação, é o maior sinal de Seu poder: "Muitas vezes e de diversos modos, outrora falou Deus aos nossos pais pelos Profetas. Ultimamente falou-nos por Seu Filho, que constituiu universal herdeiro, por Quem criou todas coisas. Esplendor da Glória de Deus e imagem de Seu ser, Ele sustenta o universo com o poder de Sua Palavra." Hb 1,1-4

    Assim pôs termo ao exagerado valor que se dá à terrena vida, pois através de Sua Paixão somos animados à Vida Eterna por Seu Santo Espírito. O Apóstolo dos Gentios escreve: "Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em verdade, está morto pelo pecado, mas o espírito vive pela justificação. Se o Espírito d'Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a Vida a vossos corpos mortais, por Seu Espírito que em vós habita." Rm 8,10-11

    Ora, os divinos desígnios acatados por Jesus são cabais demonstrações que nos ensinam a viver nossa condição em plenitude, isto é, abraçando a necessária espiritualidade, inarredável dimensão da vida. Ele mesmo afirmou: "Eu vim para que as ovelhas tenham Vida, e para que a tenham em abundância." Jo 10,10b

    E em importantíssimo capítulo, Ele disse do Mistério do Sacrifício Pascal: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos." Jo 6,53b

terça-feira, 14 de novembro de 2023

As Heresias

 

    Desde o tempo dos Apóstolos, a Igreja enfrenta movimentos e correntes de pensamento que renegam partes da Verdade revelada pelo Velho Testamento e pelo próprio Jesus. Foram várias heresias, muitas das quais ainda hoje estão presentes em 'igrejas' e 'opiniões' que tentam se impor sem o devido estudo ou esclarecimento. Abaixo estão as históricas e mais frequentes:

    Docetismo: alguns cristãos do século II acreditavam e divulgavam que Jesus nunca teria vivido num corpo humano, mas tão somente num corpo espiritual, e que a crucificação foi só um fenômeno aparente. Está na Bíblia - No Domingo da Ressurreição, Jesus apareceu aos Apóstolos e disse-lhes: "Vede Minhas mãos e Meus pés. Sou Eu mesmo! Apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho." Lc 24,39

    - Gnosticismo: de antiga prática, muitas correntes filosófica-religiosas sincretizavam nomes e conceitos, pagãos e sagrados, e estiveram mais ativas no século II. Valentin, que se dizia um gnóstico cristão, na verdade um neoplatônico, pregava que o Cristo era um ser celestial que se uniu a Jesus, um ser meramente humano. Está na Bíblia - Pouco antes de ser preso, Jesus disse aos Apóstolos: "Presentemente, Minha alma está perturbada. Mas que direi?... Pai, salva-Me desta hora?... Mas é exatamente para isso que vim." Jo 12,27

    - Sabelianismo: no fim do século II, Sabélio, padre e teólogo, negava o conceito da Santíssima Trindade, pois, para ele, Pai, Filho e Espírito Santo seriam exatamente a mesma Pessoa de Deus, apresentando-Se de diferentes 'modos'. Por isso, essa heresia também foi chamada de Modalismo. Seus seguidores ainda eram chamados de noecianos, porque Noeto havia sido o mestre de Sabélio e o verdadeiro mentor dessa teoria. Está na Bíblia - São Marcos assim narrou o Batismo de Jesus, quando a Santíssima Trindade Se manifestou: "No momento em que Jesus saía da água, João viu os Céus abertos e sobre Ele descer o Espírito em forma de pomba. E ouviu-se dos Céus uma voz: 'Tu és Meu amado Filho. Em Ti ponho Minha afeição.'" Mc 1,10-11

    - Adocionismo: no século III, Paulo de Samósata, eleito Bispo de Antioquia através de apoio político, difundia que Jesus nasceu humano e só Se teria tornado divino ao ser batizado por São João Batista, momento em que teria sido 'adotado' como Filho de Deus, daí o termo adocionismo. Está na Bíblia - Aos doze anos, Jesus disse a Nossa Senhora e a São José: "Por que Me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na Casa de Meu Pai?" Lc 2,49

    - Maniqueísmo: Mani, profeta da Assíria no século III, apresentou-se como inspirado pelo Espírito Santo para depurar as grandes religiões: hinduísmo, zoroastrismo, budismo, judaísmo e cristianismo. Delas criou uma sincrética filosofia, na qual a realidade seria dualista e estaria dividida entre Deus e o Diabo, Luz e Trevas. A matéria seria essencialmente má, e o espírito, essencialmente bom. Está na Bíblia - Jesus ofereceu-nos Seu Sangue e Sua Carne e prometeu ressuscitar nossos corpos: "Então Jesus lhes disse: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos. Quem come Minha Carne e bebe Meu Sangue tem a Vida Eterna. E Eu ressuscitá-lo-ei no Último Dia." Jo 6,53-54

    - Novacianismo: na metade do século III, Novaciano, padre romano, opôs-se a eleição do Papa Cornélio. Acusava-o de afrontar a Doutrina da Igreja por perdoar os cristãos batizados que, durante a perseguição do Imperador Décio, foram capturados e, sob ameaças de morte, tinham renegado a  e oferecido sacrifícios a deuses pagãos. Está na Bíblia - Jesus ensinou aos Apóstolos: "Se teu irmão pecar, repreende-o. Se se arrepender, perdoa-lhe. Se pecar sete vezes no dia contra ti, e sete vezes no dia vier procurar-te, dizendo: 'Estou arrependido', perdoá-lo-ás." Lc 17,3-4

    Arianismo: no século IV, Ário, Bispo de Alexandria, negava que Jesus fosse consubstancial ao Pai, ou seja, Ele não seria Deus, mas tão somente um subordinado a Ele. Dizia, entretanto, que o Cristo era uma criatura pré-existente, "criada do nada", "a primeira e mais excelsa criatura de Deus" e que Ele havia encarnado em Jesus. Está na Bíblia - Jesus disse: "Eu e o Pai somos um." Jo 10,30

    - Macedonianismo: na segunda metade do século IV, o Patriarca de Constantinopla, Macedônio I, negava que o Espírito Santo fosse Deus, o que fez com que ele e seus seguidores recebessem a alcunha de 'adversários do Espírito'. Acreditavam que o Divino Paráclito era uma criatura do Filho, para servir a Ele e ao Pai. Está na Bíblia - Em conversa com Nicodemos, Jesus testemunhou a unicidade e a divina autonomia do Espírito Santo: "O vento sopra onde quer. Ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito." Jo 3,8

    Apolinarianismo: no fim do século IV, Apolinário de Laodiceia explicava a natureza de Jesus como um corpo humano com mente divina. Seu espírito teria sido substituído pelo Verbo, ou seja, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Negava, portanto, a humanidade de Cristo, cujo Corpo seria apenas um veículo. Está na Bíblia - Jesus disse ao instituir a Eucaristia: "Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-O e deu-lhO, dizendo: 'Isto é Meu Corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de Mim.'" Lc 22,19

    Pelagianismo - no início do século V, Pelágio da Bretanha, monge ascético, defendia que o homem não depende de Deus para ser salvo, ou seja, não precisaria da Divina Graça. Para ele, o ser humano nasce 'moralmente neutro', e assim renegava o conceito do pecado originalEstá na Bíblia - Jesus pregava: "Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanecer em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto. Porque sem Mim nada podeis fazer." Jo 15,5

    Nestorianismo: Nestório, monge e Patriarca de Constantinopla do século V, ensinava que a natureza humana de Jesus não se unia à Sua natureza divina, e por isso Maria não poderia ser chamada de Mãe de DeusEstá na Bíblia - Santa Isabel disse à Nossa Senhora, por ocasião de sua visita: "Donde me vem esta honra de vir a mim a Mãe de Meu Senhor?" Lc 1,43

    Monofisismo: era uma teoria cristológica que afirmava que Jesus tinha apenas a natureza divina, portanto, nada de humano. Êutiques, celibatário sacerdote muito respeitado em Constantinopla, levantou imprudentemente essa ideia logo depois da condenação de Nestório. Está na Bíblia - Jesus morreu na Cruz: "Chegando, porém, a Jesus, como O vissem já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-Lhe o lado com uma lança e imediatamente saiu Sangue e Água." Jo 19,33-34

    - Cisma do Oriente: no século XI, os Patriarcas vinculados a Constantinopla proclamaram definitivamente não reconhecer a supremacia do Papa sobre a Igreja. Muito ambicioso, para acirrar a intriga e provocar a ruptura com o Papado, Fócio insidiosamente invocou a questão 'Filioque', até então uma irresoluta divergência doutrinária entre Roma e Constantinopla sobre a procedência do Espírito Santo, que o Oriente dizia proceder apenas do Pai, e não do Filho. Está na Bíblia - Jesus disse aos Apóstolos: "Entretanto, digo-vos a Verdade: convém a vós que Eu vá! Porque, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se Eu for, enviá_Lo-ei." Jo 6,7

    - Valdenses e albigenses: no fim do século XII, Pedro Valdo, um comerciante de Lyon que havia renunciado à sua fortuna, dizia que os cristãos não precisavam dos Sacerdotes da Igreja para salvarem-se, mas tão somente de oração e dos ensinamentos de Jesus. Ele influenciou outro movimento no sul da França, os albigenses, que se dividiam entre os 'perfeitos', pessoas que viviam em constante penitência, e os 'crentes', que acreditavam que só havia uma única absolvição dos pecados por toda vida, não podendo o cristão tornar a pecar. Está na Bíblia - Jesus disse aos Apóstolos: "Quem vos ouve, a Mim ouve. E quem vos rejeita, a Mim rejeita. E quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou." Lc 10,16

domingo, 12 de novembro de 2023

A Comunhão dos Santos

 

    A Comunhão Eucarística, isto é, o Sacramento do Pão e do Vinho, verdadeiramente Corpo e Sangue de Cristo, simboliza, além de nossa perfeita união com Deus, nossa vida em plena união com nossos irmãos em Cristo. Assim formamos a Igreja, que vive três estágios: a Igreja itinerante, nós na Terra; a Igreja santificante, os mortos no Purgatório; e a Igreja glorificante, aqueles que já contemplam a face de Deus, junto a Seus anjos.

    Pois foi pela Igreja que Jesus Se ofereceu em Sacrifício, para que pudéssemos comungar das coisas de Deus: santidade, eternidade e divindade. São Paulo escreveu aos efésios: "Maridos, amai vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela Água do Batismo com a Palavra, para a Si mesmo apresentá-la toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito, mas santa e irrepreensível." Ef 5,25-27

    E é isso que a Igreja é: a Comunhão dos Santos. E Santos são os verdadeiros fiéis, todos eles, não apenas os canonizados, isto é, aqueles que com certeza a Igreja pode afirmar que já estão nos Céus. Jesus expressamente falou dessa Comunhão, dizendo de Sua Ressurreição: "Naquele dia, conhecereis que estou em Meu Pai, vós em Mim e Eu em vós." Jo 14,20

    Os carismas, portanto, são dádivas para que sirvamos à comunidade de fé, como o Apóstolo dos Gentios escreveu: "Há diversidade de dons, mas um só Espírito. Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor. A cada um é dada a manifestação do Espírito para comum proveito." 1 Cor 12,7

    E a finalidade última de nossas vocações é o fortalecimento da Igreja, que, depois da Hóstia Consagrada, é a segunda representação do Corpo Místico de Cristo. Este Apóstolo diz: "Assim, uma vez que aspirais aos dons espirituais, procurai tê-los em abundância para edificação da Igreja." 1 Cor 14,12

    Argumenta: "Porque, como o corpo é um todo tendo muitos membros, e todos membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo. Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só Corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres. E todos fomos impregnados do mesmo Espírito." 1 Cor 12,12-13

    E denuncia: "Ele (Cristo) é a Cabeça do Corpo, da Igreja. Desencaminham-se estas pessoas em suas próprias visões e, cheias do vão orgulho de seu materialista espírito, não se mantêm unidas à Cabeça, da qual todo o Corpo, pela união das junturas e articulações, se alimenta e cresce conforme um crescimento disposto por Deus." Cl 1,18;2,18b-19

    Assim, na Pessoa de Jesus e pela ação do Santo Paráclito é edificada a Igreja: "Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos Santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. É n'Ele que todo edifício, harmonicamente disposto, se levanta até formar um Templo Santo no Senhor. É n'Ele que também vós entrais, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus." Ef 2,19-22

    E que Cristo, Autor da , jamais abandona Sua Igreja, como Ele mesmo garantiu: "Eis que convosco estou todos dias, até o fim do mundo.'" Mt 28,20b

sábado, 11 de novembro de 2023

Os Milagres de Cristo

 

    Os milagres realizados por Jesus foram tão verazes e evidentes que, aparentemente, ocorreriam até mesmo sem Sua ciência, como que por mera propriedade de Sua natureza divina. Contudo, por Sua Onisciência, Ele sabia muito bem o que estava acontecendo, e consentia nessas Graças. No caso da mulher hemorroíssa, porém, esperando que ela testemunhasse a Graça alcançada, Jesus quis ver quem O havia tocado, não escondendo que d'Ele saía 'uma força' quando operava milagres: "Jesus replicou: 'Alguém Me tocou, porque percebi que de Mim saiu uma força!' A mulher viu-se descoberta e foi tremendo, e prostrou-se a Seus pés. E declarou diante de todo povo o motivo porque O havia tocado, e como logo ficara curada. Jesus disse-lhe: 'Minha filha, tua te salvou. Vai em Paz.'" Lc 8,46-48

    Assim se explica porque Ele era seguido por multidões: "Jesus percorria toda Galileia, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas doenças e enfermidades entre o povo. Sua fama espalhou-se por toda Síria: traziam-lhe os doentes e os enfermos, os possessos, os lunáticos, os paralíticos. E Ele a todos curava. Grandes multidões acompanharam-no da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e dos países do outro lado do Jordão." Mt 4,23-25

    Isso teve início ainda em Cafarnaum, à frente da casa de São Pedro: "Pela tarde, apresentaram-Lhe muitos possessos de demônios. Com uma palavra Ele expulsou os espíritos, e curou todos enfermos." Mt 8,16

    E depois que daí partiu, já não podia entrar em cidades ou aldeias: "Este homem, porém, logo que se foi, começou a propagar e divulgar o acontecido, de modo que publicamente Jesus não podia entrar numa cidade. Conservava-Se fora, em despovoados lugares, e de toda parte vinham ter com Ele." Mc 1,45

    Pois muita gente, profundamente impressionada com tantas maravilhas que viam, ficava divagando sobre Sua Pessoa: "Muitos do povo, porém, creram n'Ele e perguntavam: 'Quando vier o Cristo, fará mais milagres que Este faz?'" Jo 7,31

    Mas para os líderes religiosos de Israel a situação estaria fugindo ao controle. Temiam que os romanos vissem em Jesus o início de uma rebelião, da qual seriam cúmplices. E mais uma vez eram os milagres de Jesus que incendiavam a multidão: "Os pontífices e os fariseus convocaram o conselho e disseram: 'Que faremos? Esse homem multiplica os milagres. Se O deixarmos proceder assim, todos crerão n'Ele, e os romanos virão e arruinarão nossa cidade e toda nação.'" Jo 11,47-48

    Tantos foram Seus prodígios que São João Evangelista se viu obrigado a registrar: "Fez Jesus, na presença de Seus discípulos, ainda muitos outros milagres que não estão escritos neste livro. Jesus fez muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever." Jo 20,30; 21,25

    E após ressuscitar, Jesus investiu Seus Apóstolos e discípulos com autoridade e poder. Essa é Sua força que permanece entre os homens para a edificação de Sua Igreja, que tem a notória função de confirmar Sua divindade: "'Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão demônios em Meu Nome, falarão novas línguas, manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal. Imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados.' Os discípulos partiram e pregaram por toda parte. O Senhor cooperava com eles, e confirmava Sua Palavra com os milagres que a acompanhavam." Mc 16,17-18.20

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Morrer em Cristo

 

    Livro da Vida ensina que, antes mesmo de criar Eva, Deus teria advertido Adão ao colocá-lo no jardim do Paraíso: "Deu-lhe este preceito: 'Podes comer do fruto de todas árvores do jardim, mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Porque no dia em que dele comeres, indubitavelmente morrerás.'" Gn 2,16-17

    O livro da Sabedoria, entretanto, viu não apenas o pecado da soberba de Eva e Adão, em querer conhecer do bem e do mal menosprezando os divinos preceitos, mas também a culpa de outra de Suas criaturas: "É por inveja do Demônio que a morte entrou no mundo..." Sb 2,24

    De toda forma, os Salmos cantam: "É penoso para o Senhor ver morrer Seus fiéis." Sl 115,6

    E não só a morte dos fiéis. Deus mesmo disse através do Profeta Ezequiel: "'Terei Eu prazer com a morte do malvado?', Oráculo do Senhor Javé. 'Não desejo Eu, antes, que ele mude de proceder e viva?'" Ez 18,23

    A morte, em si, é descrita por Deus como um encontro com nossos falecidos parentes. Ele diz a Davi: "Quando teus dias se acabarem, e tiveres ido juntar-te a teus pais..." 1 Cro 17,4

    O livro da Sabedoria, com efeito, não via a morte como um fim, nem seu império sobre a terra. Por este sagrado autor, o Espírito Santo já prenunciava a excelência da divina justiça e a imortalidade, confirmada pela Boa Nova de Jesus: "Deus não é o autor da morte, a perdição dos vivos não Lhe dá alegria alguma. Ele criou tudo para a existência, e as criaturas do mundo devem cooperar para a Salvação. Nelas nenhum princípio é funesto, e a morte não é a rainha da terra, porque a justiça é imortal." Sb 1,13-15

    E pontualmente diz dos incrédulos: "... eles desconhecem os segredos de Deus, não esperam que a santidade seja recompensada e não acreditam na glorificação das puras almas. Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e fê-lo à imagem de Sua própria natureza." Sb 2,22-23

    São Paulo, pois, sintetiza: "Porque o salário do pecado é a morte..." Rm 6,23

    E São Tiago Menor, mencionando a má propensão da carne, dá os detalhes: "A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado. E o pecado, uma vez consumado, gera a morte." Tg 1,15

    Mas eis que o Apóstolo dos Gentios ensina: "Irmãos, não queremos que ignoreis coisa alguma a respeito dos mortos, para que não vos entristeçais, como os outros homens que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, também cremos que Deus levará com Jesus os que n'Ele morreram." 1 Ts 4,13-14

    Ele faz uma revelação sobre o Grande Dia: "Quando for dado o sinal, à voz do Arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá do Céu, e aqueles que morreram em Cristo ressurgirão primeiro." 1 Ts 4,16

    Pois após a passagem de Cristo entre nós, e pelo anúncio da Salvação através da Santa Cruz, já temos a certeza do imediato resgate de nossas almas. São João Evangelista registrou no livro do Apocalipse: "Eu ouvi uma voz do Céu, que dizia: 'Escreve: Felizes os mortos que doravante morrem no Senhor. Sim', diz o Espírito, 'descansem de seus trabalhos, porque suas obras os seguem.'" Ap 14,13

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Os Anjos do Apocalipse

 

    A grande marca do livro do Apocalipse é a intensa participação dos anjos nas visões que teve São João Evangelista. E é igualmente tão grandiosa que às vezes se confunde com a manifestação do próprio Cristo, como acontece, aliás, com Deus em várias passagens do Antigo Testamento. É o que vemos logo nas primeiras linhas: "Revelação de Jesus Cristo, que Lhe foi confiada por Deus para manifestar a Seus servos o que em breve deve acontecer. Ele, por Sua vez, por intermédio de Seu anjo, comunicou a Seu servo João, o qual atesta, como Palavra de Deus, o testemunho de Jesus Cristo e tudo que viu. Num domingo, fui arrebatado em êxtase..." Ap 1,1-2.10

    Tão expressivo sinal indica que também é intensa a participação deles em nossas vidas, mesmo que nós, cegos pelas coisas desse mundo, não a percebamos. É precisamente este o caso de nosso Anjo da Guarda, e, como o Apocalipse ensina, vemos que cada igreja, seja paróquia ou diocese, tem seu anjo. Jesus disse: "Eis o mistério das sete estrelas que viste em Minha mão direita e dos sete candelabros de ouro: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candelabros, as sete igrejas." Ap 1,20

    Tanto que São João, que para isso foi convocado, passou a escrever as mensagens não diretamente às igrejas, mas primeiro a seus anjos. Tal detalhe, entretanto, revela que eles não sabem de tudo. Jesus ordenou-lhe: "Ao anjo da igreja de Éfeso, escreve..." Ap 2,1

    E ante a presença dos Santos, todos os anjos juntam-se para louvar a Deus, que é o celeste ritual do qual temos nossa Santa Missa: "Depois disso, vi uma grande multidão, que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua. Conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de brancas vestes e palmas na mão, e bradavam em alta voz: 'A Salvação é obra de Nosso Deus, que está assentado no trono, e do Cordeiro.' E todos anjos que estavam ao redor do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres prostravam-se de face em terra diante do trono e adoravam a Deus, dizendo: 'Amém, louvor, Glória, Sabedoria, ação de graças, honra, poder e força ao Nosso Deus pelos séculos dos séculos! Amém.'" Ap 7,9-12

    Os anjos que assistem diretamente a Deus, pertencentes a outra hierarquia, têm como missão anunciar com trombetas os castigos que vão assolar a Terra: "Eu vi os sete anjos que assistem diante de Deus. Foram-lhes dadas sete trombetas." Ap 8,2

    Como especialíssimo capítulo, a chegada de Jesus ao Céu significou a possibilidade de vitória do ser humano sobre o pecado, e nessa ocasião, por Ele e por nós combateram São Miguel Arcanjo e seus Exércitos: "Houve uma batalha no Céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate, mas não prevaleceram, e já não houve lugar no Céu para eles. Então foi precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na terra, e com ele seus anjos. Eu ouvi no Céu uma forte voz que dizia: 'Agora chegou a Salvação, o poder e a realeza de Nosso Deus, assim como a autoridade de Seu Cristo, porque foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que dia e noite os acusava diante do Nosso Deus.'" Ap 12,7-11

    Também é um anjo que anunciará a Triunfal Volta de Jesus, e o início do Juízo Final: "Vi, então, outro anjo que voava pelo meio do Céu, tendo um Eterno Evangelho para anunciar aos habitantes da terra e a toda nação, tribo, língua e povo. Clamava em alta voz: 'Temei a Deus e dai-Lhe glória, porque é chegada a hora de Seu Julgamento. Adorai Aquele que fez o Céu e a terra, o mar e as fontes.'" Ap 14,6-7

terça-feira, 7 de novembro de 2023

As Imagens

 

    É fato que nos primórdios Deus proibiu o uso de imagens, mas assim fez claramente para vedar qualquer culto a outros deuses que não a Ele mesmo, como acontecia na época do paganismo. Ou seja, Ele proibiu imagens de deuses: "Não terás outros deuses diante de Minha face. Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos Céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto." Ex 20,3-5a

    Uma imagem, portanto, só representa um mal quando é tratada como o próprio Deus, posta em Seu lugar. Se a imagem representasse um mal em si mesma, Ele não teria ordenado a confecção de querubins para a Arca da Aliança, como vemos no livro do Êxodo: "Farás dois querubins de ouro. E fa-los-ás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro, fixando-os de modo a formar uma só peça com as extremidades da tampa. Terão esses querubins suas asas estendidas para o alto, e protegerão com elas a tampa, sobre a qual terão a face inclinada." Ex 25,18-20

    Por isso, ao construir o Templo de Jerusalém, Salomão permitiu-se incluir imagens, o que jamais foi contestado, seja pelos religiosos, seja por Deus mesmo: "Fez no Santuário dois querubins de pau de oliveira, que tinham dez côvados de altura. Cada uma das asas dos querubins tinha cinco côvados, o que fazia dez côvados da extremidade de uma asa à extremidade da outra. Nos painéis enquadrados de molduras, havia leões, bois e querubins, assim como nas travessas. Por cima e por baixo dos leões e dos bois pendiam grinaldas, em forma de festões." 1 Rs 6,23-24;7,29

    Quanto às imagens de Jesus, especificamente, devemos ter presente que Ele é a plena manifestação de Deus, Revelação que vai muito além das palavras que a descrevem. Afirmativamente, Ele é o próprio Deus em Pessoa, dando-Se a conhecer à humanidade, e não apenas uma representação de Deus Pai. Temos, assim, baseado em relatos das pessoas que O viram, a real e fidedigna imagem de Deus, e não de ‘outros deuses’ como proíbe o primeiro Mandamento. Ele mesmo disse a São Filipe Apóstolo: "Há tanto tempo que estou convosco e não Me conheceste, Filipe! Aquele que Me viu, também viu o Pai. Como, pois, dizes: 'Mostra-nos o Pai?'..." Jo 14,9

    Assim a imagem do Cristo não é apenas um modelo visual, mas o modelo de vida para os filhos de Deus, como São Paulo escreve: "Aqueles que Ele de antemão distinguiu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Este seja o Primogênito entre uma multidão de irmãos." Rm 8,29

    E mais uma vez ele insiste no fato de que, através da Glória de Cristo, já nos foi dada a perfeita imagem de Deus Pai: "... para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo obcecou a tal ponto que não percebem a Luz do Evangelho, onde resplandece a Glória de Cristo, que é a imagem de Deus." 2 Cor 4,4

    Ele expressamente diz: "Ele (Cristo) é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda Criação." Cl 1,15

    Eis que o Apóstolo dos Gentios cobra dos gálatas uma consciência digna da Pessoa de Jesus, Deus Encarnado, Cuja imagem já lhes havia sido apresentada: "Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou, ante cujos olhos foi apresentada a imagem de Jesus Cristo crucificado?" Gl 3,1