quinta-feira, 20 de março de 2025

A Gula

    A Carta de São Paulo aos Romanos acertadamente coloca a bebida junto aos pecados da gula, aos quais também se incluem as drogas: "A noite está quase passando, o dia vem chegando: abandonemos as obras das trevas e vistamos as armas da Luz. Honestamente procedamos, como em pleno dia: nada de glutonerias e bebedeiras..." Rm 13,12-13

    E ao exortar-nos à constante vigilância, em Suas últimas pregações Jesus deixou uma palavra sobre esse assunto, um dos três mais graves do fim dos tempos, avisando deste Dia, seja pelo Juízo Particular ou pelo Final, em que haveremos de prestar contas a Deus. O Evangelho segundo São Lucas anotou: "Velai sobre vós mesmos, para que vossos corações não se tornem pesados com a devassidão, com a embriaguez e com as preocupações da vida. Para que Aquele Dia não vos apanhe de improviso." Lc 21,34

    Realmente pregava a temperança"Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, e não andeis com vãs preocupações. Porque os homens do mundo é que se preocupam com todas estas coisas. Mas Vosso Pai bem sabe que precisais de tudo isso." Lc 12,29-30

    Ele evocou uma expressiva passagem do Livro de Deuteronômio, ao ser tentado pelo Demônio no deserto, que Lhe sugeria transformar pedras em pães. Está no Evangelho segundo São Mateus: "Jesus respondeu: 'Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda Palavra que procede da boca de Deus (Dt 8,3).'" Mt 4,4

    E no Pai Nosso ensinou-nos a pedir, além do diário Pão da Vida Eterna, tão somente o bastante para o presente dia, ou seja, com autêntica frugalidade: "O Pão Nosso de cada dia dai-nos hoje..." Mt 6,11

    Já a Primeira Carta de São Pedro recomendou a sobriedade como constante postura espiritual, e abertamente disse o porquê: "Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o Demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar." 1 Pd 5,8

    O Livro de Eclesiástico, pois, já ensinava: "Nunca sejas guloso em banquete algum. Não te lances sobre tudo que se serve, pois o excesso no alimento é causa de doença e a intemperança leva à cólica. Pela insaciável gula muitos pereceram. Quem é sóbrio, porém, prolonga a vida." Eclo 37,32-34

    Assim como os Provérbios: "Ouve, meu filho: sê sábio, dirige teu coração pelo reto caminho. Não te juntes aos bebedores de vinho, com aqueles que devoram carnes, pois o ébrio e o glutão se empobrecem e a sonolência se veste com andrajos." Pr 23,19-21

    E fulmina: "Zombeteiro é o vinho e amotinadora a cerveja. Quem quer que a isso se apegue não será sábio." Pr 20,1

    Ora, o Livro do Profeta Isaías advertia: "Ai daqueles que desde a manhã procuram a bebida, e que à noite se retardam nas excitações do vinho! Amantes da cítara e da harpa, do tamborim e da flauta, e do vinho em seus banquetes, mas para as obras do Senhor não têm sequer um olhar, e não enxergam a obra de Suas mãos." Is 5,11-12

    Aliás, segundo o Livro do Profeta Ezequiel, o grande pecado de Sodoma não teria sido o que mais comumente se conhece, mas uma consequência de outros: "O crime da tua irmã Sodoma era este: opulência, glutoneria, indolência, ociosidade..." Ez 16,49

    E no Livro de Tobias, a ele e a seu pai Tobit, o Arcanjo São Rafael, bem depois da reconstrução de Jerusalém, seguiu recomendando uma prática que Nosso Salvador iria consagrar: "Boa coisa é a oração acompanhada de jejum..." Tb 12,8

    Ora, assim a temperança, também chamada de moderação ou sobriedade, já era demonstrada pelo povo de Israel nas práticas de jejum feitas desde os primeiros tempos. No deserto, após a saída de Egito, Deus determinou a Moisés no Livro de Números: "No dia dez desse sétimo mês, tereis uma santa assembleia, um jejum e a suspensão de todo servil trabalho." Nm 29,7