quinta-feira, 28 de agosto de 2025

A interpretação das Escrituras dada por Deus

 

    Muitos aventuram-se a 'interpretar' a Bíblia. Mas cabe perguntar: isso é minimamente sensato? Sabendo que as Sagradas Escrituras são registros do processo de Revelação que remonta 3 milênios, e levaram ao menos 13 séculos para serem escritas, poderíamos desprezar tudo que foi revelado simultaneamente aos fatos, somado ao que, por ação do Espírito Santo, já foi inspirado, meditado e assimilado desde então? É razoável que uma simples pessoa, ou mesmo um grupo delas, se dê a tamanha revisão histórica e doutrinária? Há alguma humildade ou prudência nisso? Os seguidores da tradição de São Paulo já provocavam Carta aos Hebreus, para despertar incautos: "... cercados como estamos de uma tal nuvem de testemunhas..." Hb 12,1a

    E a Primeira Carta de São João diz da postura da Santa Igreja Católica desde seu nascimento, no dia de Pentecostes: "Aceitamos o testemunho dos homens." 1 Jo 5,9a

    Pois foi o que Jesus garantiu, no Evangelho Segundo São João, referindo-Se à comunidade cristã que Ele mesmo havia reunido e que os Apóstolos manteriam: "Se guardaram Minha Palavra, também hão de guardar a vossa." Jo 15,20b

    No Evangelho Segundo São Lucas, Ele até advertiu: "Quem vos ouve, a Mim ouve. Quem vos rejeita, a Mim rejeita. E quem Me rejeita, rejeita Aquele que me enviou." Lc 10,16

    Ora, Nosso Salvador dava aos Sagrados Livros uma única e linear interpretação, sempre no sentido Cristocêntrico (cf. Jo 5,39), como fez perante os dois discípulos que partiram para Emaús no Domingo da Ressurreição: "E começando por Moisés, percorrendo todos Profetas, explicava-lhes o que d'Ele se achava dito em todas Escrituras." Lc 24,27

    Também o fez quando apareceu ao Colégio dos Apóstolos pela primeira vez, neste mesmo dia: "Isto é o que Eu vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo que de Mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos." Lc 24,44

    E foi assim que a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo se estabeleceu, porque aos Apóstolos foi confiada a Palavra da Salvação, ainda que não tivesse sido escrita. O Amado Médico diz dos fiéis desde os primeiríssimos dias, no Livro de Atos dos Apóstolos, mencionando os quatro constitutivos da Santa Missa: "Perseveravam eles na Doutrina dos Apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações." At 2,42

    A Segunda Carta de São Pedro, pois, falando sobre São Paulo e suas cartas, denunciou as heresias que a seu tempo já se inventava: "É o que ele faz em todas suas cartas, nas quais fala sobre estes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os ignorantes ou pouco fortalecidos espíritos deturpam para sua própria ruína, como também fazem com as demais Escrituras." 2 Pd 3,16

    Mais que outros atos de fé, de fato, Nosso Senhor mesmo exigia fidelidade à divina inspiração. É do Evangelho Segundo São Mateus: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, contudo sem deixar o restante." Mt 23,23

    Pois só há uma forma de entender o que diz a Bíblia: sob a guia do Espírito de Deus, tomando Cristo como essência da Revelação e meditando a inspiração por Ele concedida a São Pedro, da qual a Sagrada Tradição, as Escrituras e o Magistério da Igreja se compõem. Com efeito, só ao Príncipe dos Apóstolos Jesus fez essa promessa: "Eu dá-te-ei as chaves do Reino dos Céus..." Mt 16,19

    Porque Nosso Senhor sempre usou do auxílio do Divino Paráclito para transmitir Suas revelações aos Apóstolos, como São Lucas afirmou: "... contei toda sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus, depois de ter dado pelo Espírito Santo Suas instruções aos Apóstolos que escolhera, desde o princípio até o dia em que foi arrebatado." At 1,1-2

    Por isso, sem deixar de recordar os auxílios do Divino Paráclito, a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo faz essa referência às divinas revelações transmitidas pelos Apóstolos aos bispos da Igreja, que desde então as detêm e retransmitem: "Toma por modelo os salutares ensinamentos que de mim recebeste sobre a fé e o amor a Jesus Cristo. Guarda o Precioso Depósito, pela virtude do Espírito Santo que habita em nós." 2 Tm 1,14