segunda-feira, 10 de julho de 2023

A Violência nos Desígnios de Deus

 

    Além de toda violência usada contra os inimigos de Israel, e por isso chamado de Senhor dos Exércitos, Deus disse dos castigos que jurava contra Seu próprio povo: "Farei cair sobre vós a espada para vingar Minha Aliança. Se vos ajuntardes em vossas cidades, lançarei a peste no meio de vós e sereis entregues nas mãos de vossos inimigos. Tirá-vos-ei o pão, vosso sustentáculo, de tal sorte que dez mulheres o cozerão em um só forno e vos entregarão por peso. Comereis e não ficareis saciados. Se, apesar disso, não Me ouvirdes, e ainda Me resistirdes, marcharei contra vós em Meu furor e castigá-vos-ei sete vezes mais, por causa de vossos pecados. Comereis a carne de vossos filhos e de vossas filhas." Lv 26,23-29

    E como sinal de seriedade, a Aliança de Deus com Abraão, ao conceder-lhe a Terra Santa, já havia envolvido alguns sacrifícios: "'Toma uma novilha de três anos,' respondeu-lhe o Senhor, 'uma cabra de três anos, um cordeiro de três anos, uma rola e um pombinho.' Abrão tomou todos esses animais, e dividiu-os pelo meio, colocando suas metades uma defronte da outra, mas não cortou as aves." Gn 15,9-10

    No mesmo sentido, alguns séculos mais tarde, no Egito, a libertação do povo judeu não foi nem um pouco pacifista. E uma vez mais temos em cena a imolação de primogênito, agora levada a termo. Deus diz: "Naquela noite, passarei através do Egito. E ferirei os primogênitos no Egito, tanto os dos homens como os dos animais, e exercerei Minha justiça contra todos deuses do Egito. Eu sou o Senhor." Ex 12,12

    Sem embargo, nessa região e atmosfera de constantes convulsões dos primeiros séculos, muitos dos Salmos insistentemente falam de ódio aos inimigos. E têm frequentes pedidos de vingança: "Pela vossa bondade, destruí meus inimigos e exterminai todos que me oprimem, pois sou Vosso servo." Sl 142,12

    Ora, se Deus poupou Isaac, pois havia pedido seu sacrifício a Abraão, seu pai, enquanto primogênitos não poupou São João Batista nem o próprio Jesus, que tiveram trágicos fins. Nosso Salvador, aliás, previa este destino para Seus opositores: "Quanto aos que Me odeiam, e que não Me quiseram por Rei, trazei-os e massacrai-os em Minha presença." Lc 19,27

    De fato, Ele alertava a Igreja de sua difícil ventura"Não julgueis que vim trazer a Paz à terra. Vim trazer não a Paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa." Mt 10,34-36

    O inferno também não é exatamente um lugar de amenidades, como vemos o juízo de Deus na parábola dos talentos: "Mau e preguiçoso servo! Sabias que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei. ... esse inútil servo, jogai-o nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes." Mt 25,26.30

    São Paulo, ademais, apontou o Mistério do Mal, pelo qual se tem a impressão de que o Maligno prevalece no mundo: "Porque o mistério da iniquidade já está em ação, apenas esperando o afastamento daquele que o detém." 2 Ts 2,7

    O Inimigo, com efeito, após a Ascensão de Jesus destila toda sua fúria contra os filhos da Santíssima Virgem, ou seja, a Igreja: "Este, então, irritou-se contra a Mulher e foi fazer guerra ao resto de seus filhos, aos que guardam os Mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus." Ap 12,17