segunda-feira, 7 de abril de 2025

Cristo, o Templo de Jerusalém e a Igreja

    A relação entre Cristo, o Tabernáculo, o Templo de Jerusalém e a Santa Igreja Católica em muito excede nosso entendimento. Sem dúvida, as Tábuas da Lei, as Escrituras e sobremaneira o Evangelho compõem um único e especialíssimo patrimônio: é a Revelação, a Palavra de Deus, a ser transmitida (cf. Sl 77,5). Mas, enquanto tal, também é o próprio Verbo Encarnado (cf. Jo 1,14), isto é, Nosso Senhor Jesus Cristo! No Evangelho segundo São João, Ele disse: "'Destruí vós este Templo, e Eu reerguê-Lo-ei em três dias.' Os judeus replicaram: 'Em quarenta e seis anos foi edificado este Templo, e Tu hás de levantá-lo em três dias?!' Mas Ele falava do Templo de Seu Corpo." Jo 2,19b-21

    Porém, no Evangelho segundo São Mateus, também deixou evidente que é maior que ele: "Não lestes na Lei que, nos dias de sábado, os sacerdotes transgridem no Templo o descanso do sábado e não se tornam culpados? Ora, Eu declaro-vos que aqui está Quem é maior que o Templo." Mt 12,5-6

    E a Carta de São Paulo aos Efésios vai dizer sobre Sua Igreja: "... Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela Água do Batismo com a Palavra, para a Si mesmo apresentá-la toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito, mas santa e irrepreensível. Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja." Ef 5,25-27.32

    Diz mais: "É n'Ele (Cristo) que todo o edifício, harmonicamente disposto, levanta-se até formar um Templo Santo no Senhor. É n'Ele que conjuntamente vós também entrais, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus." Ef 2,21-22

    Pois a Igreja é o próprio Corpo Místico de Cristo, como São Paulo diz: "... Cristo é o Chefe da Igreja, Seu Corpo, da qual Ele é o Salvador." Ef 5,23b

    Ele afirma a plenitude da Igreja, dizendo que o Pai: "... sujeitou a Seus pés todas coisas, e constituiu-O Chefe Supremo da Igreja, que é Seu Corpo, o receptáculo d'Aquele que todas coisas preenche sob todos aspectos." Ef 1,22-23

    Ora, Deus mesmo havia prometido ainda no Livro de Levítico: "Porei Meu Tabernáculo no meio de vós, e Minha alma não vos rejeitará. Andarei entre vós: serei Vosso Deus e vós sereis Meu povo." Lv 26,11-12

    Desde a História do Patriarcas, pois, Ele havia sinalizado para essa habitação, o que se deu inicialmente em Betel, uma cidade da antiga Samaria. É do Livro de Gênesis: "Despertando de seu sono, Jacó exclamou: 'Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!' E cheio de pavor, ajuntou: 'Quão terrível é este lugar! É nada menos que a Casa de Deus. Aqui é a Porta do Céu.'" Gn 28,16-17

    A Tenda, pois, que guardava a Arca da Aliança, era onde Deus Se manifestava, conforme o Livro de Êxodo: "Moisés foi levantar a Tenda a alguma distância fora do acampamento. E chamou-a Tenda de Reunião. Quem queria consultar o Senhor, dirigia-se à Tenda de Reunião, fora do acampamento. O Senhor entretinha-Se face a face com Moisés, como um homem fala com seu amigo." Êx 33,7.11a

    E o Primeiro Livro de Crônicas diz que foi de Davi a ideia de edificar um Templo ao Senhor, após se estabelecer em Jerusalém: "Quando Davi se instalou em sua casa, disse ao Profeta Natã: 'Eis que moro numa casa de cedro e a Arca da Aliança do Senhor está debaixo de uma Tenda.'" 1 Cro 17,1

    Veio então o tempo em que Salomão, um dos filhos de Davi, pôde realizar tal projeto, como o Primeiro Livro de Reis traz: "No ano quatrocentos e oitenta depois da saída dos filhos de Israel do Egito, Salomão, no quarto ano de seu reinado, no mês de Ziv, que é o segundo mês, empreendeu a construção do Templo do Senhor." 1 Rs 6,1

    Mas foi em Jesus, não em Salomão, que se realizou o Reino Eterno, como foi dito através do Profeta Natã: "É Ele que Me construirá uma Casa e para sempre firmarei Seu Trono. Serei para Ele um Pai, e Ele será para Mim um Filho." 1 Cro 17,12-13a

    Na Jerusalém Celestial, porém, não mais haverá Templo, pois sua transfiguração, ou a da Igreja, na própria Pessoa de Deus já se terá completado. Diz São João Evangelista: "Nela não vi, porém, templo algum, porque o Senhor Deus Dominador é Seu Templo, assim como o Cordeiro." Ap 21,22

domingo, 6 de abril de 2025

Deus busca Salvar a Todos

    O Livro de Salmos canta a universalidade do amor de Deus: "O Senhor é clemente e compassivo, longânime e cheio de bondade. O Senhor é bom para com todos, e Sua Misericórdia estende-se a todas Suas obras." Sl 144,8-9

    E o sagrado autor do Livro de Sabedoria observou: "Porque se os inimigos de Vossos filhos, dignos de morte, Vós os haveis castigado com tanta prudência e longanimidade, dando-lhes tempo e ocasião para emendarem-se, com quanto cuidado não julgareis Vós Vossos filhos, a cujos antepassados concedestes com juramento Vossa Aliança, repleta de ricas promessas?" Sb 12,20-21

    De fato, no Livro de Jó, enquanto ele se deixava levar pelo desespero, um amigo tratou de alertá-lo: "Pois Deus fala de uma maneira e de outra e não prestas atenção. Por meio de sonhos, de noturnas visões, quando um profundo sono pesa sobre os homens, enquanto estão adormecidos em seus leitos, então lhes abre os ouvidos e os assusta com Suas aparições, a fim de desviá-los do pecado e de preservá-los do orgulho, para salvar-lhes a alma do fosso, e suas vidas, da mortífera flecha." Jó 33,14-18

    Sem dúvida, Deus mesmo falou no Livro do Profeta Ezequiel: "'Terei Eu prazer com a morte do malvado?' Oráculo do Senhor Javé. 'Antes não desejo Eu que ele mude de proceder e viva?'" Ez 18,23

    Por isso, a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo exorta: "Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, súplicas, ações de graças por todos homens... Isto é bom e agradável diante de Deus, Nosso Salvador, o Qual deseja que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade." 1 Tm 2,1.3-4

    Ele pregou aos gregos em Atenas, no Areópago, como o Livro de Atos dos Apóstolos apontou: "Deus, porém, não levando em conta os tempos da ignorância, agora convida a todos homens, de todos lugares, a arrependerem-se. Porquanto fixou o Dia em que há de julgar o mundo com justiça, pelo Ministério de um Homem que para isso destinou. A todos deu como garantia disso o fato de tê-Lo ressuscitado dentre os mortos." At 17,30-31

    Pois assim ele justifica a esperança, ressaltando a importância da Graça dada pela unção da Santa Igreja Católica: "Eis uma verdade absolutamente certa e digna de : se nos afadigamos e sofremos ultrajes, é porque pusemos nossa esperança em Deus Vivo, que é o Salvador de todos homens, sobretudo dos fiéis." 1 Tm 4,9-10

    Em admoestações, portanto, a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios pedia absoluto comedimento: "Não vos torneis causa de escândalo, nem para os judeus, nem para os gentios, nem para a Igreja de Deus. Fazei como eu: em todas circunstâncias procuro agradar a todos. Não busco meus próprios interesses, mas os interesses dos outros, para que todos sejam salvos." 1 Cor 10,32-33

    O próprio Jesus, para melhor explicar os procedimentos do Pai, deu esse exemplo logo no Sermão da Montanha, ou seja, no início de Sua Missão. É do Evangelho segundo São Mateus: "... Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos." Mt 5,45

    Disse o mesmo falando sobre a característica pureza das crianças, visando protegê-las dos escândalos da devassidão dos adultos: "Assim é a vontade de Vosso Pai celeste, que não se perca um só destes pequeninos." Mt 18,14

    E no Evangelho segundo São João, disse de Sua morte na Cruz: "E quando Eu for levantado da Terra, a Mim atrairei todos homens." Jo 12,32

    Está na Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios: "De fato, Cristo morreu por todos..." 2 Cor 5,15a

    E a Carta de São Paulo aos Romanos vai repetir: "Aquele que não poupou Seu próprio Filho, mas que por todos nós O entregou, como com Ele também não nos dará todas coisas?" Rm 8,32

    Por fim, a Primeira Carta de São João afirma: "Ele (Cristo) é a expiação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo mundo." 1 Jo 2,2

sábado, 5 de abril de 2025

Mistérios

    A palavra 'mysterion', do grego, foi traduzida para o latim em duas palavras: sacramento e mistério. A Revelação, pois, é a expressão de Deus que nos dá a conhecer Seus mistérios. Eles são, portanto, visíveis sinais de Suas invisíveis manifestações, isto é, continuam mesmo sendo mistérios, o que é muito adequado, pois a realidade que vivemos se dá nesse limiar: do visível para o invisível. Na Carta aos Hebreus, os seguidores da tradição de São Paulo dizem do ministério de Moisés: "Foi pela que ele deixou Egito, não temendo a cólera do rei, com tanta segurança como estivesse vendo o invisível." Hb 11,27

    Nesse sentido, a Carta de São Paulo aos Efésios diz: "Lendo-me, podereis entender a compreensão que me foi concedida do Mistério de Cristo, que em outras gerações não foi manifestado aos homens da maneira como agora tem sido revelado pelo Espírito a Seus santos Apóstolos e profetas." Ef 3,4-5

    Enquanto Sacramentos, ministrá-los é a razão de ser da Santa Igreja Católica, e o primeiríssimo deles é o Santíssimo Sacramento. Jesus instituiu-o na noite em que iniciaria Sua Paixão, como o Evangelho segundo São Lucas narrou: "Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-O e deu-lhO, dizendo: 'Isto é Meu Corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de Mim.' Do mesmo modo tomou o cálice, depois de cear, dizendo: 'Este Cálice é a Nova Aliança em Meu Sangue, que é derramado por vós.'" Lc 22,19-20

    A Vida Eterna, pois, tem início no Batismo, que Jesus também expressamente ordenou, pouco antes de Sua Ascensão, no Evangelho segundo São Mateus: "Ide, pois, e ensinai a todas nações. Batizai-as em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo." Mt 28,19

    Depois temos o Sacramento da Reconciliação, igualmente chamado de Sacramento do Arrependimento, da Penitência ou da Confissão, cuja autoridade para perdoar foi dada por Jesus exclusivamente a Sua Igreja. E note-se, tão importante é este Sacramento para a Salvação das almas que Ele tratou de instituí-lo logo em Sua primeira aparição ao Colégio dos Apóstolos, no Evangelho segundo São João: "Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,22-23

    Em seguida vem a Sacramento da Crisma, ou seja, o Sacramento da Confirmação do Batismo, uma prática desde os primeiros dias da Igreja, claramente diferente do Batismo, e que só pode ser realizado pelos bispos, isto é, pelos sucessores dos Apóstolos, ou Sacerdotes por eles designados. É leitura do Livro de Atos dos Apóstolos: "Os Apóstolos que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria recebera a Palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. Estes, assim que chegaram, fizeram oração pelos novos fiéis a fim de receberem o Espírito Santo, visto que não havia descido ainda sobre nenhum deles, mas apenas tinham sido batizados em Nome do Senhor Jesus. Então os dois Apóstolos lhes impuseram as mãos e receberam o Espírito Santo." At 8,14-17

    Ainda temos o Sacramento do Matrimônio, definitivamente indissolúvel a despeito da prática de muitas 'igrejas', que Jesus fez questão de mencioná-lo como inalienável parte do projeto de Deus, desde a Criação, pois citou o Livro de Gênesis: "Os fariseus vieram perguntar-Lhe para pô-Lo à prova: 'É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer?' Respondeu-lhes Jesus: 'Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e unir-se-á à sua mulher. E os dois formarão uma só carne (Gn 2,24)? Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu.'" Mt 19,3-6

    E o Sacramento da Unção dos Enfermos, que em caso de pacientes terminais é chamada de Extrema Unção. Ele também foi ministrado pelos Apóstolos desde que Jesus os enviou pela primeira vez, como se lê no Evangelho segundo São Marcos: "Eles partiram e pregaram a penitência. Expeliam numerosos demônios, ungiam com óleo a muitos enfermos e curavam-nos." Mc 6,12-13

    Por fim, temos o Sacramento da Ordem, enquanto serviço do mistério da Comunhão, que é um dom de Deus pela Salvação dos irmãos. Foi o que Jesus pediu a São Pedro a momentos de partirem para o Horto das Oliveiras, onde Ele começaria a agonizar: "... Eu roguei por ti, para que tua confiança não desfaleça. E tu, por tua vez, confirma teus irmãos." Lc 22,32

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Metas Espirituais Propostas por Jesus

    Não resta dúvida de que Jesus elevou à excelência a espiritualidade dos que realmente professam em Deus. Para começar, durante a Santa Ceia, Nosso Salvador pediu que cultuássemos Seu Sacrifício, graças ao qual temos a remissão dos pecados e o Alimento da Vida Eterna. É do Evangelho segundo São Lucas: "Fazei isto em memória de Mim." Lc 22,19b

    Realmente falava de outra Vida, como disse após a multiplicação de pães e peixes, no Evangelho segundo São João: "Então Jesus lhes disse: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos. Assim como o Pai, que Me enviou, vive, e Eu vivo pelo Pai, aquele que comer Minha Carne também viverá por Mim.'" Jo 6,53.57

    Pregava os mais profundos valores da Lei de Deus, como quando sentenciou líderes religiosos judeus em Jerusalém em Sua última Páscoa, no Evangelho segundo São Mateus: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade." Mt 23,23a

    Emblematicamente, Ele questionou os religiosos judeus no Templo de Jerusalém: "Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros e não buscais a Glória que é só de Deus?" Jo 5,44

    Para nossa mais profunda reflexão sobre Suas Palavras, Ele revelou-Se Deus, essencial às nossas vidas, e exortou que mantivéssemos incondicional Comunhão com Ele. Foi na última noite entre os Apóstolos: "Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo se não permanecer na videira. Assim também vós: tampouco podeis dar fruto se em Mim não permanecerdes." Jo 15,4

    Logo no Sermão da Montanha, Ele apontou falsos religiosos como exemplos a serem definitivamente ultrapassados: "Digo-vos, pois, se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus." Mt 5,20

    E como se viu, Suas metas são elevadas. Aliás, máximas: "Portanto, sede perfeitos, assim como Vosso Pai Celeste é perfeito." Mt 5,48

    Mostrou o estreito caminho a ser seguido, que por muitos é preterido: "Entrai pela estreita porta, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e são muitos que por ela entram!" Mt 7,13

    Ensinava aparentes absurdos desde o início de Sua Missão: "... amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos maldizem e rezai pelos que vos injuriam." Lc 6,27-28

    Acenava, desta forma, para uma vida terrena cheia de adversidades: "Se alguém quiser vir Comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me." Mt 16,24

    E lembrou a Divina Misericórdia, pregando comedimento no proceder para com o próximo: "Sede misericordiosos, como Vosso Pai é também misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; dai, e sê-vos-á dado." Lc 6,36-38

    Ele pediu perseverança na oração: "Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que sempre é necessário orar, sem jamais deixar de fazê-lo." Lc 18,1

    Pregou a caridade, que representará a própria Salvação do cristão, como disse na parábola das ovelhas e dos cabritos, analogia do Juízo Final: "Perguntá-Lhe-ão os justos: 'Senhor, quando foi que Te vimos com fome e Te demos de comer, com sede e Te demos de beber? Quando foi que Te vimos peregrino e Te acolhemos, nu e Te vestimos? Quando foi que Te vimos enfermo ou na prisão e fomos visitar-Te?' Responderá o Rei: 'Em Verdade, Eu declaro-vos: todas vezes que a um destes Meus pequeninos irmãos fizestes isto, foi a Mim mesmo que o fizestes." Mt 25,37-40

    Estabeleceu, enfim, a pureza e a inocência como modelo dos que ressuscitarão para a Vida Eterna: "Em Verdade, declaro-vos: se não vos transformardes e não vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus. Aquele que se fizer humilde como esta criança será o maior no Reino dos Céus, e aquele que em Meu Nome recebe a um menino como este, é a Mim que recebe." Mt 18,3-6

quinta-feira, 3 de abril de 2025

A Ira

    No Sermão da Montanha, que o Evangelho segundo São Mateus apontou, Jesus vai ampliar a abrangência da Lei, ou seja, do Antigo Testamento, tratando de pormenores: "Ouvistes o que foi dito aos antigos: 'Não matarás, mas quem matar será castigado pelo Juízo do Tribunal.' Mas Eu digo-vos: todo aquele que se irar contra seu irmão será castigado pelos juízes." Mt 5,21-22a

    Pregava mesmo a resistência zero: "Tendes ouvido o que foi dito: 'Olho por olho, dente por dente.' Eu, porém, digo-vos: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra.Mt 5,38-39

    Ele demonstrava, pois, ser muito mais exigente, condenando toda e qualquer palavra de ofensa que restasse sem arrependimento: "Aquele que disser a seu irmão: 'Idiota', será castigado pelo Grande Conselho. Aquele que lhe disser: 'Louco', será condenado ao fogo da geena." Mt 5,22b

    Ora, Ele ensinou-nos a rezar no Pai Nosso, pedindo um perdão na proporção daquele que oferecemos: "... perdoai nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido." Mt 6,12

    A Carta de São Tiago, pois, afirma nossas imperfeições em comparação ao Divino Juízo: "Já o sabei, meus diletíssimos irmãos: todo homem deve ser pronto para ouvir, porém tardo para falar e tardo para irar-se. Porque a ira do homem não cumpre a justiça de Deus." Tg 1,19-20

    De fato, desde o Livro de Deuteronômio que a justiça feita pelas próprias mãos já vinha sendo contestada por Deus: "... a Mim pertencem a vingança e as represálias..." Dt 32,35

    E o Livro de Salmos canta o exemplo do Pai: "O Senhor é bom e misericordioso, lento para a cólera e cheio de clemência." Sl 102,8

    O Livro de Eclesiástico, por sua vez, apontava a estultice da ira: "Cólera e furor são ambos execráveis; o homem pecador alimenta-os em si mesmo." Eclo 27,33

    Já o Livro de Provérbios bem sabia que a divina justiça era melhor caminho que o ódio: "A vida está na vereda da justiça; o caminho do ódio, porém, conduz à morte." Pr 12,28

    Por isso, louvava o autocontrole: "Um sábio sabe conter sua cólera, e tem por honra passar por cima de uma ofensa." Pr 19,11

    Eis que a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo vai pedir: "Quero, pois, que os homens rezem em todo lugar, levantando limpas mãos, superando todo ódio e ressentimento." 1 Tm 2,8

    A Carta de São Paulo aos Efésios pede temperança e lembra nosso dever de não guardar rancor por nem um dia: "Mesmo em cólera, não pequeis. Não se ponha o sol sobre vosso ressentimento." Ef 4,26

    E exorta: "Toda amargura, ira, indignação, gritaria e calúnia sejam desterradas de vosso meio, bem como toda malícia. Antes, sede bondosos e compassivos uns com os outros. Perdoai-vos uns aos outros, como Deus também vos perdoou, em Cristo." Ef 4,31-32

    A Segunda Carta de São Pedro, falando da grave justiça de Deus, vai dizer: "Portanto, caríssimos, esperando estas coisas, esforçai-vos em ser por Ele achados sem mácula e irrepreensíveis na Paz." 2 Pd 3,14

    Ora, no Evangelho segundo São João, o próprio Jesus ofereceu Seu grande lenitivo: "Deixo-vos a Paz, dou-vos Minha Paz. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe vosso coração, nem se atemorize!" Jo 14,27

    Eis o que Ele anunciou, e também desde o Sermão da Montanha. Ou seja, desde o início de Sua Missão: "Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a Terra!" Mt 5,5

    E a Primeira Carta de São João cravou: "Quem não ama, permanece na morte. Quem odeia seu irmão, é assassino. E sabeis que a Vida Eterna não permanece em nenhum assassino." 1 Jo 3,14a-15

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Fé e Razão

 

    Em sua Encíclica e Razão, vemos que o amado Papa São João Paulo II bem atendia ao concurso da lógica na compreensão da Palavra de Deus, pois fielmente seguia a recomendação do Divino Mestre que evocou o Livro de Deuteronômio, quando posto à prova por um doutor da Lei no Evangelho segundo São Mateus. Ele recita, pois, o imprescindível "entendimento": "Respondeu Jesus: 'Amarás o Senhor Teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu entendimento (Dt 6,5).'" Mt 22,37

    Ou a esta recomendação da Primeira Carta de São Pedro, a quem sucedeu como Bispo de Roma: "Estai sempre prontos a responder, para vossa defesa, a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito." 1 Pd 3,15

    Nesta encíclica, ele menciona uma bela síntese da Missão do Messias, da Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II: "Cristo Senhor, 'na própria revelação do mistério do Pai e de Seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe sua sublime vocação' (Gaudium et spes), que é participar no mistério da trinitária vida de Deus." E oportunamente cita o Livro de Provérbios: "O Senhor é Quem dirige os passos do homem. Como poderá o homem compreender seu próprio destino?" Pr 20,24

    Também citou a Carta de São Paulo aos Efésios, para tratar da patente realidade que é a Divina Revelação: "Aprouve a Deus, em Sua bondade e Sabedoria, revelar-Se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da Sua vontade." Ef 1,9

    E completa: "Pela fé, o homem presta assentimento a este divino testemunho. Isto significa que plena e integralmente reconhece a Verdade de tudo que foi revelado, porque é o próprio Deus que o garante..."

    Porque a fé é a mais elevada capacidade humana: "No acreditar é que a pessoa realiza o mais significativo ato da sua existência..."

    Para que se chegue ao auto-conhecimento, então, ao qual a própria Revelação abre caminho, ele viu e resumiu o processo em três passos: "A primeira regra é ter em conta que o conhecimento do homem é um caminho que não permite descanso; a segunda nasce da consciência de que não se pode percorrer tal caminho com o orgulho de quem pensa que tudo seja fruto de conquista pessoal; a terceira regra funda-se no 'temor a Deus', de Quem a razão deve reconhecer tanto a soberana transcendência como o solícito amor no governo do mundo."

    Ora, falando sobre seu colaborador Epafras, a Carta de São Paulo aos Colossenses diz que a verdadeira só se alcança pela clareza de entendimento: "Ele não cessa de lutar por vós em suas orações, para que, numa perfeita e plena convicção, permaneçais plenamente submissos à divina vontade." Cl 4,12b

    Já a Carta de São Paulo aos Romanos fazia uma construtiva crítica que à passional religiosidade dos judeus, que seguiam renegando o Cristo: "Pois lhes dou testemunho de que têm zelo por Deus, mas um zelo sem discernimento." Rm 10,2

    Autêntico pastor, porque testemunha de Cristo, ele dizia sobre os cristãos da cidade de Laodiceia e todos aqueles que ainda não o conheciam pessoalmente: "Tudo sofro para que seus corações sejam reconfortados e que, estreitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos de plenitude de inteligência para conhecerem o Mistério de Deus, isto é, Cristo, no Qual estão escondidos todos tesouros da Sabedoria e da ciência." Cl 2,2-3

    Até advertia de esotéricas especulações: "Vede que ninguém vos engane com falsas e vãs filosofias, fundadas em humanas tradições, em elementos do mundo, e não em Cristo." Cl 2,8

    Afirmava que o bom entendimento se obtém pelo bem ouvir do autêntico Evangelho: "Logo, a provém da pregação, e a pregação exerce-se em razão da Palavra de Cristo." Rm 10,17

    Ora, a instantes de Sua Ascensão aos Céus, Jesus determinou a transmissão da Palavra a todas nações, mas, foi claro, em sua inteireza!: "Ensinai-as a observar tudo que vos prescrevi." Mt 28,20a

terça-feira, 1 de abril de 2025

A Vaidade

    A vaidade, o orgulho ou a soberba foi o verdadeiro pecado original, quando Eva e Adão acharam que, comendo o fruto da árvore da ciência, poderiam saber por si mesmos o que é certo e errado, desprezando os Mandamentos de Deus. O Livro de Gênesis narra: "'Oh, não!', respondeu a Serpente, 'Vós não morrereis! Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão. E sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal.'" Gn 3,4-5

    Por isso, foi tão preciso o conselho, no Livro de Tobias, que ele recebe seu pai Tobit: "Nunca permitas que o orgulho domine teu espírito ou tuas palavras, porque ele é a origem de todo mal." Tb 4,14

    Ela, contudo, tem várias outras formas de expressão, como Deus falou no Livro do Profeta Jeremias: "Eis o que diz o Senhor: 'Não se envaideça o sábio do saber, nem o forte de sua força, e não se orgulhe o rico da riqueza!'" Jr 9,22

    O Livro de Eclesiástico, por usa vez, sugere sugere a humildade do silêncio como modo de despertar os corações: "Ouve em silêncio, e tua modéstia provocará a benevolência." Eclo 32,9

    E com absoluta clareza, via as trevas como destino do impenitente: "Para o mal do orgulhoso não existe remédio, pois uma planta de pecado está enraizada nele, e ele não compreende." Eclo 3,30

    Ciente do perigo desse pecado, o Livro de Salmos pede a Deus: "Também preservai Vosso servo do orgulho. Não domine ele sobre mim, então serei íntegro e limpo de grave falta." Sl 18,14

    Por isso, o Livro do Profeta Isaías predisse contra toda jactância: "A pretensão dos mortais será humilhada, o orgulho dos homens será abatido." Is 2,17

    Ora, Jesus pregou a negação de si mesmo, convidando ao caminho da Cruz desde que foi identificado como Cristo por São Pedro. Está no Evangelho segundo São Mateus: "Se alguém quiser vir Comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me." Mt 16,24b

    Ele deixou esse ensinamento à Santa Igreja, no Evangelho segundo São Lucas: "Assim vós, depois de terdes feito tudo que vos foi ordenado, também dizei: 'Somos inúteis servos. Apenas fizemos o que devíamos fazer.'" Lc 17,10

    E referindo-Se à soberba disfarçada em forma de caridade, Nosso Salvador aconselhou a todos: "Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto a Vosso Pai que está no Céu." Mt 6,1

    Já a Carta de São Paulo aos Colossenses vê no apego a bens materiais a causa dessas ilusões: "Desencaminham-se estas pessoas em suas próprias visões, cheias do vão orgulho de seu materialista espírito..." Cl 2,18

    A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, em censura, fala do poder que o anúncio da Palavra de Deus lhe confere contra a arrogância: "Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo." 2 Cor 10,5

    Conhecedor das verdadeiras bênçãos, pois, a Carta de São Paulo aos Romanos pedia: "Em virtude da Graça que me foi dada, recomendo a todos e a cada um: não façam de si próprios uma opinião maior que convém, mas um razoavelmente modesto conceito, de acordo com o grau de fé que Deus lhes distribuiu." Rm 12,3

    Na Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo, ele também se pronunciou sobre o exibicionismo feminino como vaidade, lembrando da autêntica religiosidade ao falar à comunidade cristã: "Do mesmo modo, quero que as mulheres usem honesto traje, ataviando-se com modéstia e sobriedade. Seus enfeites consistam não em primorosos penteados, ouro, pérolas, vestidos de luxo, e sim em boas obras, como convém a mulheres que professam a piedade." 1 Tm 2,9-10

    E revelou que a vaidade foi o pecado de Satanás: "... para não acontecer que, ofuscado pela vaidade, venha a cair na mesma condenação que o Demônio." 1 Tm 3,6