domingo, 22 de dezembro de 2024

O Mistério de Cristo

    Antes da Ressurreição e da Ascensão ao Céu, o mais grandioso fenômeno realizado por Jesus diante dos Apóstolos certamente foi a Transfiguração, quando plenamente lhes manifestou Sua divina condição. Por isso, pediu que os Apóstolos aguardassem o devido tempo para começar a divulgá-la. O Evangelho segundo São Mateus assim narrou, referindo-se ao dia em que Jesus foi identificado por São Pedro como o Cristo: "Seis dias depois, Consigo Jesus tomou Pedro, Tiago e João, seu irmão, e à parte conduziu-os a uma alta montanha. Lá Se transfigurou em presença deles: Seu rosto brilhou como o sol, Suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. E eis que apareceram Moisés e Elias, conversando com Ele. E quando desciam, Jesus fez-lhes esta proibição: 'Não conteis a ninguém o que vistes, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos.'" Mt 17,2-3.9

    Mas mesmo tendo esperado o oportuno momento, não foi fácil divulgar tão desconcertante Revelação. Num suspiro, a Carta de São Paulo aos Colossenses fala dos esforços que ele fazia para anunciar a Encarnação do Cristo àqueles que não o conheciam. Sem dúvida, o maior Mistério de Deus: "Tudo sofro para que seus corações sejam reconfortados, e que, estreitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos de uma plenitude de inteligência, para conhecerem o Mistério de Deus, isto é, Cristo, no Qual estão escondidos todos tesouros da Sabedoria e da ciência." Cl 2,2-3

    E sabendo que tinha em mãos uma tarefa que ia muito além de suas capacidades, humildemente pedia por orações: "Também orai por nós. Pedi a Deus que dê livre curso à nossa palavra, para que possamos anunciar o Mistério de Cristo." Cl 4,3

    Desta forma, o Evangelho, tanto quanto o próprio Cristo, é uma manifestação de divinos mistérios, como a Carta de São Paulo aos Efésios afirma ao final: "E também orai por mim, para que me seja dado corajosamente anunciar o mistério do Evangelho..." Ef 6,19

    Jesus mesmo havia dito que só revelaria o Pai a quem Ele quisesse, de onde se entende que Ele O revela de pessoa em pessoa. É do Evangelho segundo São Lucas: "Ninguém conhece quem é o Filho, senão o Pai, nem quem é o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho quiser revelá-Lo." Lc 10,22

    Em igual sentido, a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios afirma que só se pode dar conta de que Jesus é Deus com o auxílio da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade: "... ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, senão sob a ação do Espírito Santo." 1 Cor 12,3

    Nosso Salvador, portanto, promete manifestar-Se de um em um aos que O amam, falando em particular a cada coração. Foi logo depois da Santa Ceia, no Evangelho segundo São João: "Aquele que tem Meus Mandamentos e os guarda, esse é que Me ama. E aquele que Me ama será amado por Meu Pai, e Eu amá-lo-ei e a ele manifestar-Me-ei." Jo 14,21

    Movido por sincera curiosidade, nessa mesma ocasião São Judas Tadeu perguntou o porquê de Suas manifestações pessoais: "Pergunta-Lhe Judas, não o Iscariotes: 'Senhor, por que razão hás de manifestar-Te a nós e não ao mundo?'" Jo 14,22

    Mas Ele tão somente respondeu garantindo vir com o Pai morar no coração de quem O Ama, ou seja, sem fazer menção, nessa resposta, à Parusia, ou seja, Sua Definitiva Volta: "Respondeu-lhe Jesus: 'Se alguém Me ama, guardará Minha Palavra e Meu Pai amá-lo-á. E Nós viremos a ele e nele faremos Nossa morada.'" Jo 14,23

    Por vezes, de fato, deixou de fora a multidão: "Os discípulos aproximaram-Se d'Ele, então, para dizer-Lhe: 'Por que lhes falas em parábolas?' Respondeu Jesus: 'Porque a vós é dado compreender os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não.'" Mt 13,10-11

    E já havia dito ainda na sinagoga de Cafarnaum: "Ninguém pode vir a Mim se o Pai, que Me enviou, não o atrair." Jo 6,44a