Não se pode tentar a Deus, d'Ele exigindo uma prova. O Livro da Sabedoria recomenda aos líderes das nações: "Amai a justiça, vós que governais a terra, tende para com o Senhor perfeitos sentimentos e procurai-O na simplicidade do coração, porque Ele é encontrado pelos que não O tentam e Se revela aos que não Lhe recusam sua confiança. Com efeito, os tortuosos pensamentos afastam de Deus, e Seu poder, posto à prova, triunfa dos insensatos." Sb 1,1-3
No deserto, Jesus mesmo foi tentado por Satanás, e mostrou como reagir. O Evangelho de São Mateus registrou: "O Demônio transportou-O à Cidade Santa, colocou-O no mais alto lugar do Templo e disse-Lhe: 'Se és Filho de Deus, lança-Te abaixo, pois está escrito: A Seus anjos deu Ele ordens a teu respeito; protegê-te-ão com as mãos, com cuidado, para não machucares teu pé em pedra alguma (Sl 90,11s).' Disse-lhe Jesus: 'Também está escrito: Não tentarás o Senhor Teu Deus (Dt 6,16).'" Mt 4,5-7
Com efeito, como o Livro de Judite revela, esta viúva e improvável heroína havia repreendido os anciãos da cidade de Betúlia: "Quem sois vós para provocar o Senhor? Não é esse o meio de atrair Sua Misericórdia, antes o de excitar Sua cólera e acender Seu furor. Vós impusestes ao Senhor um prazo para exercer Sua Misericórdia, e fixaste-Lhe um dia ao vosso arbítrio!" Jt 8,11-13
E no Livro de Números, mesmo tendo Moisés intercedido pelos israelitas, que por insensatez reclamavam da vida no deserto, Deus jurou que os revoltosos não passariam o rio Jordão: "Mas pela Minha Vida e pela Minha Glória, que enche toda Terra, nenhum dos homens que viram Minha Glória e os prodígios que fiz no Egito e no deserto, que Me provocaram já dez vezes e não Me ouviram, verá a terra que prometi com juramento a seus pais. Nenhum daqueles que Me desprezaram a verá." Nm 14,21-23
Esse episódio serviria de exemplo pelos séculos, como uma advertência do Senhor. O Livro dos Salmos cantou estas palavras de Deus: "Não vos torneis endurecidos como em Meribá, como no dia de Massá no deserto, onde vossos pais Me provocaram e Me tentaram apesar de terem visto Minhas obras. Durante quarenta anos desgostou-Me aquela geração, e Eu disse: 'É um povo de desviado coração, que não conhece Meus desígnios.' Por isso, jurei em Minha cólera: 'Não hão de entrar no lugar de Meu repouso.'" Sl 94,8-11
No entanto, ele também anotou Sua paciência: "Mas suas palavras enganavam, e mentiam-Lhe com sua língua. Seus corações não falavam com franqueza, não eram fiéis à Sua Aliança. Mas Ele, por compaixão, perdoava-lhes a falta e não os exterminava. Muitas vezes reteve Sua cólera, não Se entregando a todo Seu furor. Sabendo que eles eram simples carne, um só sopro, que passa sem voltar. Quantas vezes no deserto O provocaram, e na solidão O afligiram! E recomeçaram a tentar a Deus, a exasperar o Santo de Israel." Sl 77,36-41
A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios lembrou um destes acontecimentos: "Nem tentemos o Senhor, como alguns deles O tentaram, e pereceram mordidos pelas serpentes." 1 Cor 10,9
O Livro do Profeta Malaquias igualmente aponta a paciência de Deus, e acusa aqueles que se iludem com o mal, que parece prevalecer: "Dissestes: 'É trabalho perdido servir a Deus. Que ganhamos com a obediência às Suas ordens e com as procissões de luto diante do Senhor dos Exércitos? Agora temos por ditosos os arrogantes, e prosperam os que cometem a iniquidade. Até ousam tentar a Deus, e escapam ao castigo.'" Ml 3,14-15