domingo, 3 de agosto de 2025

O Cordeiro de Deus

    São João Batista, que segundo o próprio Jesus encerou os tempos da Lei e dos Profetas, ou seja, do Antigo Testamento (cf. Mt 11,13), foi quem O apresentou como o Cordeiro de Deus a seus seguidores, um dia depois de batizá-Lo. É leitura do Evangelho Segundo São João: "No dia seguinte, João viu Jesus que vinha a ele e disse: 'Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.'" Jo 1,29

    A simbologia do Cordeiro, no entanto, faz parte da tradição dos judeus desde o Livro de Gênesis, quando Deus poupou Abraão de sacrificar seu filho Isaque, apresentando-lhe um filhote de ovelha para ser oferecido em holocausto: "O anjo do Senhor, porém, gritou-lhe do Céu: 'Abraão! Abraão!' 'Eis-me aqui!' 'Não estendas tua mão contra o menino, e não lhe faças nada. Agora eu sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu próprio filho, teu único filho.' Abraão, levantando os olhos, viu atrás dele um cordeiro preso pelos chifres entre os espinhos, e tomando-o, ofereceu-o em holocausto em lugar de seu filho." Gn 22,11-13

    Contudo, Deus não poupou os primogênitos dos egípcios, quando por meio de pragas tentava convencer o Faraó a libertar Seu povo da escravidão em Egito. Nessa ocasião, o sangue de cordeiro serviu de sinal para proteger o povo de Israel, e marcou o início do Sacrifício da PáscoaÉ do Livro de Êxodo: "Moisés convocou todos anciãos de Israel e disse-lhes: 'Ide e escolhei um cordeiro por família, e sacrificá-lo-ás para a Páscoa. Depois disso, tomareis um feixe de hissopo, ensopá-lo-eis no sangue que estiver na bacia e com esse sangue aspergireis a verga e as duas ombreiras da porta. Nenhum de vós transporá o limiar de sua casa até a manhã. Quando o Senhor passar para ferir Egito, vendo o sangue sobre a verga e as duas ombreiras da porta, passará adiante e não permitirá ao destruidor entrar em vossas casas para ferir-vos. Observareis esse costume como uma perpétua instituição para vós e vossos filhos."Êx 12,21-24

    Embora fossem os tempos da passagem pelo deserto, que durou 40 anos (cf. Js 14,10), haveria um especial lugar para esse sacrifício, que além da celebração da Páscoa servia para o perdão dos pecados. Era uma sinalização para o futuro Templo de Jerusalém, como Deus mesmo determinou a Moisés no Livro de Levítico: "O sacerdote que fez a purificação apresentará o homem que há de ser purificado e todas essas coisas ao Senhor, à entrada da Tenda de Reunião. Tomará, em seguida, um dos cordeiros e oferecê-lo-á em sacrifício de reparação com a medida de óleo, e agitá-los-á como oferta diante do Senhor." Lv 14,11-12

    Séculos depois, porém, no Livro do Profeta Oseias, que será mencionado por Jesus (cf. Mt 12,7), Deus começou a contestar os sacrifícios por terem-se tornado um mecânico ritual em meio à completa corrupção de Israel: "Que te farei, Efraim? Que te farei, Judá? Vosso amor é como a nuvem da manhã, como o orvalho que logo se dissipa. Por isso é que Eu os castiguei pelos Profetas, matei-os pelas palavras de Minha boca, e Meu Juízo resplandece como o relâmpago, porque Eu quero o amor mais que os sacrifícios, e o conhecimento de Deus mais que os holocaustos." Os 6,4-6

    E no Livro do Profeta Isaías, o próprio Messias foi prescrito como o Cordeiro Imolado: "Foi maltratado e resignou-se. Não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma muda ovelha nas mãos do tosquiador. Ele não abriu a boca. Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender Sua causa quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo? Foi-Lhe dada sepultura ao lado de facínoras, e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em Sua boca nunca tenha havido mentira." Is 53,7-9

    Comparando-os a cordeiros prontos para um holocausto, é nessa condição que Jesus envia Seus seguidores, dos quais muitos foram brutalmente martirizados. Está no Evangelho Segundo São Lucas: "Ide! Eis que Eu vos envio como cordeiros entre lobos." Lc 10,3

    Pois é tão somente no Céu, onde a noiva, a Jerusalém Celestial devidamente receberá Jesus, que Deus Pai quer oferecer-nos o Eterno Banquete. Foi o texto ditado para que se registrasse no Livro do Apocalipse de São João: "Felizes os convidados para a ceia das Núpcias do Cordeiro." Ap 19,9

sábado, 2 de agosto de 2025

A Salvação vem dos Judeus

    A Carta de São Paulo aos Romanos diz dos judeus, e assim de Nosso Salvador, afirmando Sua divindade: "Eles são os israelitas. A eles foram dadas a Adoção, a glória, as Alianças, a Lei, o culto, as promessas e os patriarcas. Deles descende Cristo, segundo a carne, o Qual é, sobre todas coisas, Deus bendito para sempre. Amém." Rm 9,4-5

    Diz de sua bendita herança: "... quanto à eleição eles são muito queridos por causa de seus pais. Pois os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis." Rm 28b-29

    E dividindo o mundo entre judeus e gregos, ele vê prioridade: "Com efeito, não me envergonho do Evangelho, pois ele é uma força vinda de Deus para a Salvação de todo aquele que crê, em primeiro lugar ao judeu, e depois ao grego." Rm 1,16

    Por isso, no Livro de Atos dos Apóstolos, São Pedro exigia dos judeus, seus irmãos, o testemunho de Cristo. Pregou no dia do Pentecostes: "Foi em primeiro lugar para vós que Deus suscitou Seu Servo, para abençoar-vos, a fim de que cada um se aparte de sua iniquidade." At 3,26

    Ora, não resta dúvida que Deus entrou na História e conosco firmou Alianças, pois assim Ele vai identificar-Se a Jacó, no Livro de Gênesis, fazendo-lhe lembrar do que já tinha feito por seu avô, aqui chamado de pai, e por seu próprio pai, Isaque: "Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaque..." Gn 28,13

    Tal privilégio, porém, de ser chamado de povo de Deus, estava sujeito a algumas condições. No Livro de Deuteronômio, Moisés já dizia: "O Senhor confirmá-te-á como um povo consagrado a Ele, como te jurou, contanto que observes Suas ordens e andes pelos Seus caminhos. Todos povos da terra verão, então, que és marcado com o Nome do Senhor..." Dt 28,9-10a

    Com efeito, o próprio Jesus asseverou que a Nova Aliança traria uma ruptura. Ele disse aos religiosos de Jerusalém poucos dias antes de ser crucificado, no Evangelho Segundo São Mateus: "Por isso, digo-vos: sê-vos-á tirado o Reino de Deus, e será dado a um povo que produzirá os frutos dele." Mt 21,43

    Mesmo assim, referindo-Se à Revelação no Evangelho Segundo São João, Ele vai dizer à samaritana, que era um povo que se afastou dos israelitas, do Pai, de Sua história entre o povo judeu e de Si mesmo: "Vós adorais O que não conheceis. Nós adoramos O que conhecemos, porque a Salvação vem dos judeus." Jo 4,22

    E especificamente sobre Sua Missão, disse a uma estrangeira, que Lhe pedia por sua filha que estava possessa: "Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da Casa de Israel." Mt 15,24

    Mas após Sua Ascensão, e com a Unção do Divino Espírito, a missão dos Apóstolos abrangeria o mundo inteiro, como Ele mesmo prescreveu: "... mas descerá sobre vós o Espírito Santo e dá-vos-á força. E sereis Minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judeia e Samaria e até os confins do mundo." At 1,8

    De fato, como as profecia ditavam, em Jesus a Salvação seria anunciada não somente aos judeus, mas por toda Terra. O Livro do Profeta Isaías registrou esse diálogo entre o Pai e o Filho: "E agora o Senhor fala. Ele, que Me formou desde Meu Nascimento para ser Seu Servo, para trazer-Lhe de volta Jacó e reunir-Lhe Israel: 'Não basta que sejas Meu Servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os fugitivos de Israel. De Ti vou fazer a Luz das nações, para propagar Minha Salvação até os confins do mundo.'" Is 49,6

    E a Segunda Carta de São Pedro, ao dirigir-se aos não-judeus, usará esses termos: "... àqueles que, pela justiça do Nosso Deus e do Salvador Jesus Cristo, alcançaram uma tão preciosa quanto a nossa." 2 Pd 1,1b

    Contudo, ao Apóstolo dos Gentios foi revelado que os tempos dos não-judeus, ou seja, dos demais habitantes da Terra, para com a Santa Igreja Católica, também estão contados. Ele disse do total dos não-judeus que serão salvos: "... esta cegueira de uma parte de Israel só durará até que haja entrado a totalidade dos não-judeus." Rm 11,25

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Inviolável Projeto de Deus

    Deus vai executar Seu projeto do Reino dos Céus a despeito de qualquer contrariedade. No Evangelho Segundo São João, mesmo apresentando-Se como mero ser humano, Jesus dizia: "Em Verdade, não falei por Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele mesmo prescreveu-Me o que devo dizer e o que devo ensinar. E sei que Seu Mandamento é Vida Eterna." Jo 12,49-50a

    É o que também vemos na parábola das Bodas do Filho do Rei, que Nosso Salvador contou no Evangelho Segundo São Mateus. Referindo-Se à rejeição dos judeus a Cristo, Deus Pai mesmo vai dizer: "'O festim está pronto, mas os convidados não foram dignos. Ide às encruzilhadas e convidai para as bodas todos quantos achardes.' Espalharam-se eles pelos caminhos e reuniram todos quantos acharam, maus e bons, de modo que a sala do Banquete ficou repleta de convidados." Mt 22,8b-10

    Lembrando a promessa de Deus da eterna felicidade, a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios cita o Livro do Profeta Isaías: "É como está escrito: 'Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou' (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam." 1 Cor 2,9

    Por isso, a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios não se abalava com as constantes tribulações da vida cristã: "Sempre trazemos em nosso corpo os traços da Morte de Jesus, para que a Vida de Jesus também se manifeste em nosso corpo. Embora estando vivos, a toda hora somos entregues à morte por causa de Jesus, para que a Vida de Jesus também apareça em nossa carne mortal." 2 Cor 4,10-11

    A Carta de São Paulo aos Romanos explica: "Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em verdade, está morto pelo pecado, mas vosso espírito vive pela justificação. Se o Espírito d'Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a Vida a vossos corpos mortais, por Seu Espírito que em vós habita." Rm 8,10-11

    Ora, o Livro de Sabedoria já informava da imortalidade que por ela se alcança: "Ela mesma (Divina Sabedoria) vai à procura daqueles que dela são dignos. Ela aparece-lhes nos caminhos, cheia de benevolência, e vai ao encontro deles em todos seus pensamentos, porque, verdadeiramente, desde o começo, seu desejo é instruir, e desejar instruir-se é amá-la. Mas amá-la é obedecer a suas leis, e obedecer a suas leis é a garantia da imortalidade. Ora, a imortalidade faz habitar junto a Deus, assim o desejo da Sabedoria conduz ao Reino!" Sb 6,16-20

    E Jesus veio oferecer a dádiva maior que é Seu Santo Espírito, Aquele que sacia toda sede de justiça e de Vida: "... quem beber da água que Eu der, jamais terá sede. E essa água que Eu darei, virá a ser nele fonte de Água Viva, que jorrará até a Vida Eterna." Jo 4,14

    Ou, pela Comunhão da Santíssima Trindade, essa dádiva vem do próprio Jesus, como Ele garantiu a Suas ovelhas, ou seja, àqueles que Lhe obedecem: "Minhas ovelhas ouvem Minha voz, Eu conheço-as e elas seguem-Me. Eu dou-lhes a Vida Eterna. Elas jamais hão de perecer e ninguém as roubará de Minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão de Meu Pai." Jo 10,27-29

    São Pedro, portanto, não vacilava! Mesmo quando muitos discípulos de Jesus O abandonavam, por estranhar Seu Corpo e Seu Sangue que Ele ofereceu como alimento que leva ao Céu, o Príncipe dos Apóstolos bem sabia onde encontrar a Salvação: "Senhor, a quem iríamos? Tu tens as palavras da Vida Eterna." Jo 6,68b

    E assim ela também está na atitude de quem sinceramente busca conhecer a Deus e a Jesus, como Ele mesmo rezou ao Pai: "Ora, a Vida Eterna é esta: que conheçam a Ti, Único e Verdadeiro Deus, e a Jesus Cristo, que enviaste." Jo 17,3

    Mais propriamente, ainda segundo Sua Palavra, está no Santíssimo Sacramento: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a Vida Eterna, que o Filho do Homem vos dará." Jo 6,27

quinta-feira, 31 de julho de 2025

A Escravidão do Pecado

    A castidade é liberdade, e Nosso Salvador veio exatamente para libertar-nos do pecado. Está no Evangelho Segundo São João: "... Respondeu Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo. Portanto, se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres.'" Jo 8,34.36

    Por isso, exaltando a Paixão de Cristo, a Carta de São Paulo aos Romanos exorta: "Sabemos que nosso velho homem foi crucificado com Ele (Jesus), para que seja reduzido à impotência o corpo outrora subjugado ao pecado, e já não sejamos escravos do pecado. Pois quem morreu, libertado está do pecado." Rm 6,6-7

    Fala da 'servidão' a Deus: "Não sabeis que, quando vos ofereceis a alguém para lhe obedecer, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado para a morte, quer da obediência para a justiça? Graças a Deus, porém, que, depois de terdes sido escravos do pecado, obedecestes de coração à regra da Doutrina na qual tendes sido instruídos. E, libertados do pecado, tornastes-vos servos da justiça." Rm 6,16-18

    A Carta de São Paulo aos Gálatas, no mesmo sentido, convida-nos a passar da escravidão à caridade espiritual, que se expressa quando oferecemos nossa alma purificada àqueles que estão em volta, sem as máculas ou deformidades de tão vis pecados: "Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não abuseis, porém, da liberdade como pretexto para carnais prazeres. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros pela caridade..." Gl 5,13

    E pela infusão do Espírito de Deus no Pentecostes, ele assim celebrou a Nova Aliança, em contrate com o Antigo Testamento: "A Lei do Espírito de Vida libertou-me, em Jesus Cristo, da Lei do pecado e da morte. O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus fez. Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa Carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o Espírito." Rm 8,2-4

    Claro, na atualidade tal libertação não é fácil. Basta reparar na devassidão e em seus reflexos disseminados pela vigente cultura, para ter ideia do poder de dominação dos mais vulgares instintos. O Apóstolo dos Gentios diz: "Como não se preocupassem em adquirir conhecimento de Deus, Ele entregou-os a depravados sentimentos, e daí seu indigno procedimento. São repletos de toda espécie de malícia, perversidade, cobiça, maldade. Cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade. São difamadores, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, soberbos, altivos, inventores de maldades, rebeldes contra os pais. São insensatos, desleais, sem coração, sem misericórdia. Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus, que considera dignos de morte aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam, como também aplaudem os que as cometem." Rm 1,28-32

    E é certo, ademais, que muito se agravou o quadro das heresias, leia-se falsas religiões, que acobertam esta devassidão, e assim sobram falsos mestres. Aliás, como a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo profetizou: "Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a Sã Doutrina da Salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da Verdade, e atirar-se-ão às fábulas." 2 Tm 4,3-4

    Pois foi para vencer as fraquezas da carne, entre outras más inclinações, que Jesus nos enviou o Espírito da Promessa em Jerusalém, que nos reveste com 'a força do alto'. É do Evangelho Segundo São Lucas: "Eu mandá-vos-ei o Prometido de Meu Pai. Entretanto, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto." Lc 24,49

    Nosso Senhor atestou, no Evangelho Segundo São Mateus, esta moção e a chegada do Reino dos Céus, dizendo aos fariseus: "Mas se é pelo Espírito de Deus que expulso os demônios, então para vós chegou o Reino de Deus." Mt 12,28

quarta-feira, 30 de julho de 2025

"Tome Sua Cruz"

    Ei-nos diante de muito especial capítulo na vida dos cristãos, do qual muitos não querem tomar parte, e às vezes nem mesmo conhecimento. São palavras do próprio Jesus, no Evangelho Segundo São Mateus: "Se alguém quiser vir Comigo, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me." Mt 16,24

    A cruz significa, desde as mais simples contrariedades da vida, todo sofrimento físico, emocional e moral que pode afligir o ser humano pela aversão ao mundo, pelo amor à Verdade, ao anúncio da Salvação. É aí que a Carta de São Paulo aos Colossenses nos posiciona frente à dor, para que efetivamente sejamos a Santa Igreja Católica: "Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo em minha carne, por Seu Corpo que é a Igreja." Cl 1,24

    Seguir Jesus, pois, não se trata apenas de crer n'Ele, mas de empenhar-se, como Ele fez, em diminuir o sofrimento no mundo, e com Ele suportar toda dor de Sua Missão ainda inacabada. A Carta de São Paulo aos Filipenses diz: "... porque a vós é dado não somente crer em Cristo, mas ainda por Ele sofrer." Fl 1,29

    Nesse sentido, a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo vai exortá-lo: "Não te envergonhes, portanto, do testemunho de Nosso Senhor, nem de mim, Seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus." 2 Tm 1,8

    E repete o que pregava com São Barnabé (cf. At 14,22): "Pois todos aqueles que quiserem viver piedosamente, em Jesus Cristo, terão de sofrer a perseguição." 2 Tm 3,12

    Porque conhecer Cristo é assumir a condição que Ele nos confiou, ajudando a redimir a humanidade através do Sacramento da Penitência. Comungar verdadeiramente de Seu Sangue e Sua carne é conhecê-Lo nesses termos, como nosso Santo diz: "Anseio pelo conhecimento de Cristo... pela participação em Seus sofrimentos..." Fl 3,10

    A Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses revela: "De sorte que nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus, por vossa constância e fidelidade em meio a todas perseguições e tribulações que sofreis. Elas constituem um indício do justo Juízo de Deus, e de que sereis considerados dignos do Reino de Deus, pelo qual padeceis." 2 Ts 1,4-5

    Especificamente, a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios diz do Ministério dos Sacerdotes da Igreja Católica: "Mas em todas coisas apresentamo-nos como Ministros de Deus, por uma grande constância nas tribulações, nas misérias, nas angústias, nos açoites, nos cárceres, nos tumultos populares, nos trabalhos, nas vigílias, nas privações." 2 Cor 6,4-5

    Referindo-Se aos terríveis sofrimentos que os Apóstolos teriam, assim como tantos outros cristãos, entre os quais devemos incluir-nos, Jesus mesmo disse a São Tiago Maior e a São João Apóstolo no Evangelho Segundo São Marcos: "Vós bebereis o cálice que Eu devo beber, e sereis batizados no batismo em que Eu devo ser batizado." Mc 10,39

    Não haveremos nós, portanto, de beber desse cálice que agora, por crermos em Jesus, também nos é oferecido? Não é essa a vontade de Deus? Cristo não está presente nesse momento, sofrendo com quem sofre e esperando que com Ele compartilhemos de Sua dor? Em autêntico espírito de cristandade, a Primeira Carta de São Pedro luminosamente diz: "Nisto consiste a Graça: injustamente sofrer, suportando as aflições, com a consciência da presença de Deus." 1 Pd 2,19

    E recomenda: "E se o justo se salva com dificuldade, que será do ímpio e do pecador? Assim aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus, também encomendem suas almas ao Fiel Criador, praticando o bem." 1 Pd 4,18-19

    Porque, independente de nossos pecados, o sofrimento de viver nesse mundo de injustiças é uma inexorável realidade. Jesus não enganou ninguém, como se lê no Evangelho Segundo São João: "No mundo tereis aflições. Mas tende coragem!" Jo 16,33

terça-feira, 29 de julho de 2025

Santa Marta

    Na cena a seguir, o Evangelho Segundo São Lucas retrata o lado ativista de Santa Marta, que demasiadamente se apega ao trabalho e esquece a vida espiritual. Mas foi o generoso coração dessa mulher que viu em Jesus uma pessoa a ser acolhida em casa e na alma. Ela abriu-Lhe a porta porque O havia visto pregando, e foi tocada por Sua Palavra. Não resta dúvida, pois, que nossa Santa quis dar um bom acolhimento e uma boa refeição a Nosso Salvador e Seus Apóstolos. E de fato, não era pouco trabalho: eram ao menos 13 pessoas. Entretanto, sua irmã, Santa Maria de Betânia, não queria parar de ouvi-Lo. Estava espiritualmente transportada, o que é muito compreensível. O Amado Médico narra: "Estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia, onde uma mulher, chamada Marta, O recebeu em sua casa. Tinha ela uma irmã por nome Maria, que se assentou aos pés do Senhor para ouvi-Lo falar. Marta, toda preocupada na lida da casa, veio a Jesus e disse: 'Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe só a servir? Dize-lhe que me ajude.' Respondeu-lhe o Senhor: 'Marta, Marta, andas muito inquieta e preocupas-te com muitas coisas. No entanto, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada.'" Lc 10,38-42

    E é Santa Marta, como consta do Evangelho Segundo São João, que faz uma declaração de suma importância para o reconhecimento da divindade de Jesus. De fato, como ela vai dizer, só o São Pedro havia afirmado: '... Tu és o Cristo... (cf. Mt 16,16)'. E vai acrescentar algo que só ela disse: '... Aquele que devia vir ao mundo.' Ora, isto claramente foi-lhe revelado pelo Pai Celeste (cf. Mt 16,17). E nessa cena inverteram-se os papéis: É Santa Marta que esperançosamente vai ao encontro de Nosso Senhor, dizendo que Deus atenderia qualquer pedido Seu, enquanto Santa Maria de Betânia resignadamente fica em casa. Muito bom, pois, para quem inicialmente teria sido apenas uma 'ativista', como muitos incautos ainda a tratam. Está na passagem da Ressurreição de São Lázaro: "Ora, havia um doente, Lázaro, de Betânia, povoado de Maria e de sua irmã Marta. As duas irmãs, pois, mandaram dizer a Jesus: 'Senhor, aquele que Tu amas está enfermo.' A estas palavras, disse Jesus: 'Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a Glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus.' Ora, Jesus amava Marta, Maria, sua irmã, e Lázaro. Mas, embora tivesse ouvido que ele estava enfermo, ainda Se demorou dois dias no mesmo lugar. À chegada de Jesus, já havia quatro dias que Lázaro estava no sepulcro. Mal soube Marta da vinda de Jesus, saiu-Lhe ao encontro. Maria, porém, estava sentada em casa. Marta disse a Jesus: 'Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido! Mas também sei que tudo que agora pedires a Deus, Ele To concederá.' Disse-lhe Jesus: 'Teu irmão ressurgirá.' Respondeu-Lhe Marta:' Sei que há de ressurgir na Ressurreição do Último Dia.' Disse-lhe Jesus: 'Eu sou a Ressurreição e a Vida. Aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim, jamais morrerá. Crês nisto?' Respondeu ela: 'Sim, Senhor. Eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, Aquele que devia vir ao mundo.' 'Onde o pusestes?' Responderam-Lhe: 'Senhor, vinde ver.' Jesus pôs-Se a chorar. Observaram, então, os judeus: 'Vede como Ele o amava!' Novamente tomado de profunda emoção, Jesus foi ao sepulcro. Era uma gruta, coberta por uma pedra. Jesus ordenou: 'Tirai a pedra.' Disse-Lhe Marta, irmã do morto: 'Senhor, já cheira mal, pois há quatro dias que ele está aí...' Respondeu-lhe Jesus: 'Não te disse Eu: Se creres, verás a Glória de Deus?' Tiraram, pois, a pedra. Levantando Jesus os olhos ao alto, disse: 'Pai, rendo-Te graças porque Me ouviste. Eu bem sei que sempre Me ouves, mas assim falo por causa do povo que está em volta, para que creiam que Tu Me enviaste.' Depois destas palavras, exclamou em alta voz: 'Lázaro, vem para fora!' E o morto saiu, tendo os pés e as mãos ligados com faixas, e o rosto coberto por um sudário. Então ordenou Jesus: 'Desligai-o e deixai-o andar.' Muitos dos judeus que tinham vindo a Marta e Maria, e viram o que Jesus fizera, creram n'Ele." Jo 11,1.3-6.17.20-27.34-36.38-45

    Uma muito antiga tradição relata que Santa Marta, Santa Maria e São Lázaro teriam deixado Israel, fugindo dos judeus de Jerusalém, e se instalaram em França. De fato, São João Evangelista relata que a vida de São Lázaro estava em risco bem antes da perseguição iniciada com a morte de Santo Estevão (cf. At 1,8). Aliás, antes mesmo da Crucificação de Jesus, depois que decidiram matá-Lo (cf. Jo 5,18): "Mas os príncipes dos sacerdotes também resolveram tirar a vida de Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, se afastavam e acreditavam em Jesus." Jo 12,10-11

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Não ser Católico

    É não estar sob a Graça, que é exclusivamente dispensada pelos Sacerdotes da Santa Igreja Católica, mas tão somente sob a Misericórdia de Deus, pois a Graça é obtida através dos Sacramentos da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Primeira Carta de São Pedro diz sobre o imprescindível Sacerdócio da Igreja: "Como bons dispensadores das diversas Graças de Deus, cada um de vós ponha à disposição dos outros o dom que recebeu: a Palavra, para anunciar as mensagens de Deus, e o ministério, para exercê-lo com a divina força, a fim de que Deus, em todas coisas, seja glorificado por Jesus Cristo." 1 Pd 4,10-11

    No Evangelho Segundo São João, de fato, São João Batista já apontava a única e exclusiva origem da Graça: "João replicou: 'Ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão o que lhe foi dado do Céu.'" Jo 3,27

    O próprio Jesus disse aos Apóstolos porque a Igreja Católica seria bem sucedida: "Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu escolhi-vos e constituí-vos para que vades e produzais fruto, e vosso fruto permaneça." Jo 15,16a

    Pois só por Ele realmente se chega a Deus: "... ninguém vem ao Pai senão por Mim." Jo 14,6b

    Não é verdadeira, pois, a afirmação de que todas religiões estão certas, apesar de todas elas conterem centelhas da Luz de Deus. Como exemplo, e apontando uma única direção, Jesus mesmo apontou o erro dos samaritanos: "Vós adorais o que não conheceis. Nós adoramos o que conhecemos, porque a Salvação vem dos judeus." Jo 4,22

    Ora, mesmo tendo sido agraciado com uma visão de Jesus, São Paulo não saiu imediatamente pregando, mas por Ele foi submetido aos membros de Sua Igreja, para que através dela recebesse o Santo Paráclito. E, note-se, Nosso Salvador não o acusa de perseguir a Igreja, como ele fazia, mas a Si mesmo. É do Livro de Atos dos Apóstolos: "Saulo disse: 'Quem és, Senhor?' Respondeu Ele: 'Eu sou Jesus, a Quem tu persegues. Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer.' Ananias foi. Entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: 'Saulo, meu irmão, o Senhor, esse Jesus que te apareceu no caminho, enviou-me para que recobres a vista e fiques cheio do Espírito Santo.'" At 9,5.6b.17

    E só com a Igreja o Espírito Santo tem estado, desde o Pentecostes, sem jamais a abandonar, pois para isso foi enviado pelo Pai, a pedido de Jesus: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente." Jo 14,16

    Assim, não ser católico é não ter o Divino Paráclito, pois só e exclusivamente só à Igreja Jesus enviou o Espírito Santo, que é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade: "É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,17

    E sem Ele não há divina filiação, como a Carta de São Paulo aos Romanos diz: "Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele." Rm 8,9b

    Porque é por Ele que somos adotados pelo Pai: "Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o Espírito de Adoção, pelo qual clamamos: Aba! Pai!" Rm 8,15

    Este Apóstolo havia estabelecido uma clara distinção: "... pois todos que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." Rm 8,14

    E não ter o Divino Paráclito é não conhecer a Verdade, e assim a Revelação, o que inclui seus desdobramentos pelos séculos, como Nosso Salvador avisou: "Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda Verdade. Porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão." Jo 16,13

    Recusar-se a ouvir a Igreja, portanto, é excomunhão. Ele disse: "E se também se recusar a ouvir a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano" Mt 18,17

domingo, 27 de julho de 2025

Deus Espírito Santo

    A primeira citação do Divino Paráclito aparece logo nos primeiros versículos da Bíblia, no Livro de Gênesis: "No princípio, Deus criou os céus e a Terra. A Terra estava informe e vazia, as trevas cobriam o abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas." Gn 1,1-2

    Então, devemos perguntar-nos Quem é este Ser que o próprio Jesus equiparou a Si mesmo e ao inquestionável Pai, que sabemos que é Deus, reunindo todos sob um só Nome. Está no Evangelho Segundo São Mateus, quando Ele ordenou aos Apóstolos a instantes de Sua Ascensão: "Ide, pois, e ensinai a todas nações. Batizai-as em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo." Mt 28,19

    Ademais, temos que meditar por que, ao ser batizado por São João Batista, ou seja, ao iniciar Sua vida pública, além de ouvir-se a voz do Pai, Seu Espírito haveria de manifestar-Se sobre Jesus, se não fosse para demonstrar a plenitude de Deus Trino neste singular momento da Revelação, um dos poucos, na Bíblia, de conjunta manifestação das Três Pessoas de Deus: "Depois que Jesus foi batizado, logo saiu da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre Ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus. E do Céu baixou uma voz: 'Eis Meu muito Amado Filho, em Quem ponho Minha afeição.'" Mt 3,16-17

    Porque, após o Pentecostes, dia do nascimento da Santa Igreja Católica por obra do próprio Espírito Santo, São Pedro dá-nos uma expressa indicação da divindade do Santo Paráclito. No Livro de Atos dos Apóstolos, ao repreender um vacilante fiel, o Príncipe dos Apóstolos diz que ele não mentiu a um homem da Igreja, mas ao Espírito Santo, ou seja, mentiu ao próprio Deus: "Pedro, porém, disse: 'Ananias, por que Satanás tomou conta de teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e enganasses acerca do valor do campo? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus.'" At 5,3-4

    E mesmo antes do Pentecostes, pelos textos bíblicos é possível aferir Sua divindade, claramente expressa por Sua absoluta autonomia, como, no Livro de Jó, um de seus amigos disse: "Foi o Espírito de Deus que me fez, e o sopro do Todo-poderoso que me deu a vida." Jó 33,4

    O Livro de Sabedoria, ao discorrer sobre ela mesma, dá características de um ser claramente divino: "Há nela, com efeito, um inteligente espírito, santo, único, múltiplo, sutil, móvel, penetrante, puro, claro, inofensivo, inclinado ao bem, agudo, livre, benéfico, benévolo, estável, seguro, livre de inquietação, que tudo pode, que de tudo cuida, que penetra em todos espíritos: os inteligentes, os puros, os mais sutis." Sb 7,22-23

    É Ele que ilumina Seu próprio Reino de Sacerdotes, que é a Igreja Católica, para a perfeita interpretação da Revelação, cujo ápice está nas palavras de Jesus, que disse no Evangelho Segundo São João: "Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu Nome, ensiná-vos-á todas coisas e recordá-vos-á tudo que vos tenho dito." Jo 14,26

    E foi Ele Quem arrematou a Revelação, e assim tem conduzido a Santa Igreja em cada nova situação, nas "coisas que virão". Nosso Senhor disse os Apóstolos: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas agora não podeis suportá-las. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda Verdade, porque não falará de Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão." Jo 16,13

    Por isso, a Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses diz da Sã Doutrina e do poder da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos deu Seu Santo Espírito." 1 Ts 4,8

    A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios aponta-O como a única e mesma Pessoa de Deus a distribuir os próprios dons de Deus. É mais uma indicação de Sua total autonomia, mas, note-se, sempre para proveito da comunidade da Igreja. Quer dizer, não há dom fora da Igreja Católica: "A cada um é dada a manifestação do Espírito para comum proveito. Mas um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons, repartindo a cada um como Lhe apraz." 1 Cor 12,7.11

sábado, 26 de julho de 2025

Frutos do Reino dos Céus

    No Evangelho Segundo São Mateus, Jesus recomendou que acreditássemos e nos empenhássemos por uma vida em pleno compromisso com Deus: "Antes buscai o Reino de Deus e Sua justiça..." Mt 6,33

    De fato, Deus já concede experimentarmos os primeiros frutos desse Reino aqui na Terra, mas, por causa de uma verdadeira idolatria a fugazes prazeres, ainda temos um difícil caminho. A Carta de São Paulo aos Romanos discorre: "... nós, que temos as primícias do Espírito, gememos em nós mesmos, aguardando a adoção, a redenção de nosso corpo." Rm 8,23

    Essas primícias, contudo, em nada se confundem com os frutos do reino da injustiça: "O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, Paz e gozo no Espírito Santo." Rm 14,17

    Pois os frutos do Reino de Deus são inigualáveis, como Nosso Salvador assegura no Livro de Apocalipse de São João: "Ao vencedor darei de comer do fruto da árvore da Vida, que se acha no Paraíso de Deus." Ap 2,7

    Esses frutos são com perfeição representados pelo Pão do Céu, o Santíssimo Sacramento, e por uma nova e especial identidade: "Ao vencedor darei o escondido maná e entregá-lhe-ei uma branca pedra, na qual está escrito um novo nome que ninguém conhece, senão aquele que o receber." Ap 2,17

    São promessas de uma vida de Glória: "Sê fiel até a morte e dá-te-ei a Coroa da Vida." Ap 2,10

    Com efeito, Jesus promete um poder que vai vigorar ainda neste mundo, logo após nossa morte, como já é dado aos Santos: "Então ao vencedor, ao que praticar Minhas obras até o fim, dá-lhe-ei poder sobre as pagãs nações." Ap 2,26

    Poder esse que fará representar-se na singela forma de vestes de pureza e santidade: "O vencedor será assim revestido de brancas vestes. Jamais apagarei seu nome do livro da Vida, e proclamá-lo-ei diante de Meu Pai e de Seus anjos." Ap 3,5

    Isso já havia sido prometido através do Livro de Salmos, quando os sagrados autores dizem a Maria Santíssima sobre seus prediletos filhos, os Sacerdotes e os Santos: "Vosso trono, ó Deus, é eterno. De equidade é Vosso cetro real. ... posta-se a Vossa direita a Rainha, ornada de ouro de Ofir. Ouve, filha, vê e presta atenção: esquece teu povo e a casa de teu pai. De tua beleza encantar-Se-á o Rei. Ele é Teu Senhor, rende-Lhe homenagens. Tomarão teus filhos o lugar de teus pais, tu estabelecê-lo-ás príncipes sobre toda Terra. Celebrarei teu nome através das gerações. E os povos eternamente louvá-te-ão." Sl 44,7.10b-12.17-18

    E Nosso Senhor igualmente promete-nos uma especial função e lugar: "Farei do vencedor uma coluna no Templo de Meu Deus, de onde jamais sairá, e sobre ele escreverei o Nome de Meu Deus..." Ap 3,12

    Promete, aliás, o inimaginável: "Ao vencedor concederei assentar-se Comigo em Meu trono, assim como Eu venci e sentei com Meu Pai em Seu trono." Ap 3,21

    E o próprio Pai completa: "O vencedor herdará tudo isso. E Eu serei Seu Deus, e ele será Meu filho." Ap 21,6-7

    No Livro de Gênesis também temos algumas imagens do Céu. Ainda no Paraíso, Deus havia dado a Adão e Eva poder para dominar sobre tudo na Terra: "Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos animais que se movem pelo chão." Gn 1,28

    Lá não havia dor nem sofrimento, que só vieram ao mundo após o pecado, como foi dito a Eva: "Multiplicarei os sofrimentos de teu parto. Darás à luz com dores, teus desejos impeli-te-ão para teu marido, e tu estarás sob seu domínio." Gn 3,16

    Também não havia extenuantes trabalhos, como foi dito a Adão: "... maldita seja a Terra por tua causa. Dela com penosos trabalhos tirarás teu sustento todos dias de tua vida. Comerás teu pão com o suor de teu rosto..." Gn 3,17-19

sexta-feira, 25 de julho de 2025

São Tiago Maior, Apóstolo

    São Tiago Maior foi dos primeiros Apóstolos, e é chamado de Maior para diferenciar de São Tiago Menor, que era parente de Jesus, como o Evangelho Segundo São Marcos o nomeou ao relatar a Crucificação do Senhor: "Também se achavam ali umas mulheres, observando de longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé..." Mc 15,40

    Foi o primeiro mártir entre os Apóstolos. Após viagem em missão para anunciar a Vinda de Cristo em terras de Espanha, onde havia várias comunidades judaicas (cf. Rm 15,24), ele foi decapitado ao retornar a Jerusalém, pois, sereno e destemido, não mais admitia calar-se justamente na Cidade Santa, como o próprio Jesus não Se calou. Nosso Santo, pois, fielmente seguia o exemplo de Nosso Salvador e de São João Batista, e bravamente enfrentou o martírio. São Lucas, que não chegou a conhecê-lo, registrou no Livro de Atos dos Apóstolos: "Por aquele tempo, o rei Herodes tomou medidas visando maltratar alguns membros da Igreja. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João." At 12,1-2

    Por Jesus, este Apóstolo foi chamado junto a seu irmão, São João Evangelista, logo após os chamados de São Pedro e de Santo André, que eram seus companheiros de profissão e de cooperativa (cf. Lc 5,10): "Uns poucos passos mais adiante, (Jesus) viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam numa barca, consertando as redes. E logo os chamou." Mc 1,19

    Seu pai, aliás, além de líder na cooperativa pesqueira, como São Pedro que tinha a própria barca (cf. Lc 5,3), era homem de posses naquela pobre região, tinha empregados, o que explica a boa formação que ele e seu irmãos tiveram, a despeito do que pensavam os líderes judeus (cf. At 4,13): "Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus." Mc 1,20

    E desde então não mais parou de seguir o Divino Mestre. Esteve com Jesus na casa de São Pedro, em Cafarnaum, desde a primeira visita, após partirem de Nazaré (cf. Jo 2,12): "Assim que saíram da sinagoga, dirigiram-se com Tiago e João à casa de Simão e André." Mc 1,29

    Seu pai Zebedeu também era sacerdote, o que se deduz da amizade de seu irmão, o 'outro discípulo', com o sumo sacerdote, como vemos quando Jesus foi julgado pelo Sinédrio. É do Evangelho Segundo São João: "Mas o outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, saiu e falou à porteira, e esta deixou Pedro entrar." Jo 18,16b

    Rigoroso e sério, mereceu de Jesus um significativo apelido: "Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais (Jesus) pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão." Mc 3,17

    Isto deu-se por causa de um marcante episódio, quando Cristo e os Apóstolos não foram bem recebidos num povoado de samaritanos, e ele e seu irmão, enraivecidos, não se contiveram. É do Evangelho Segundo São Lucas: "'Senhor, queres que mandemos que desça fogo do Céu e os consuma?' Jesus voltou-Se e severamente repreendeu-os. 'Não sabeis de que Espírito sois animados. O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para salvá-las.'" Lc 9,54

    Nosso Santo fazia parte de um pequeno grupo mais íntimo de Jesus, junto a São Pedro e São João, seu irmão. Como exemplo, temos o momento em que Nosso Salvador os levou à montanha onde Se transfigurou, no último dia útil da semana em que foi reconhecido por São Pedro como o Messias. Lê-se no Evangelho Segundo São Mateus: "Seis dias depois, Consigo Jesus tomou Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha. Lá Se transfigurou na presença deles: Seu rosto brilhou como o sol, Suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. E eis que apareceram Moisés e Elias, conversando com Ele." Mt 17,1-3

    Tamanha intimidade tinham eles com Jesus que, num gesto de descabida pretensão, terminaram causando uma grande discussão entre os Apóstolos: "De Jesus aproximaram-se Tiago e João, filhos de Zebedeu, e disseram-Lhe: 'Mestre, queremos que nos concedas tudo que Te pedirmos. Concede-nos que nos sentemos em Tua Glória, um a Tua direita e outro a Tua esquerda.' Ouvindo isto, os outros dez começaram a indignar-se contra Tiago e João." Mc 10,35.37.41

quinta-feira, 24 de julho de 2025

As Virtudes

    O Livro de Sabedoria aponta quatro CARDEAIS VIRTUDES, aquelas que servem de base para todas outras: "E se alguém ama a justiça, seus trabalhos são virtudes; a Sabedoria ensina a temperança e a prudência, a justiça e a fortaleza. Não há nenhum bem que seja mais útil aos homens na vida." Sb 8,7

    A temperança, também chamada de moderação ou sobriedade, virtude que garante o domínio de si e coloca a vontade acima dos instintos, aparece numa proposta de ascese da Segunda Carta de São Pedro: "Por estes motivos, esforçai-vos quanto possível por unir a vossa a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o fraterno amor, e ao fraterno amor a caridade." 2 Pd 1,5-7

    A prudência é a virtude da reflexão, da ordem, do bom senso e do discernimento. Jesus mesmo apontou, no Evangelho Segundo São Mateus: "Aquele, pois, que ouve estas Minhas palavras e as põe em prática, é semelhante a um prudente homem que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa. Ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha." Mt 7,24-25

    A justiça é a virtude do compromisso moral com a Verdade, com a equidade, com a correção. A Carta de São Paulo aos Romanos afirma que só pela obediência a Deus se chega a Sua justiça: "Não sabeis que, quando vos ofereceis a alguém para obedecer-lhe, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado para a morte, quer da obediência para a justiça?" Rm 6,16

    A fortaleza é a virtude da firmeza e da perseverança, contra todas dificuldades. É por ela que se resiste ao medo, às injustiças e às tentações. Ela confere destemor perante a própria morte, como demonstram os mártires da Santa Igreja Católica. A Carta de São Paulo aos Filipenses referia-se a si mesmo: "Não é minha penúria que me faz falar. Aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei viver na penúria, e também sei viver na abundância. Estou acostumado a todas vicissitudes: a ter fartura e a passar fome, a ter abundância e a padecer necessidade. Tudo posso n'Aquele que me fortalece." Fl 4,11-13

    Por fim, a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios revela as três TEOLOGAIS VIRTUDES, que, ao contrário das morais virtudes, são dons de Deus: "Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a , a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor." 1 Cor 13,13

    A Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, a mais antiga delas, já velava pelas três: "Com efeito, diante de Deus, Nosso Pai, continuamente pensamos nas obras de vossa fé, nos sacrifícios de vosso amor e na firmeza de vossa esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo, sob o olhar de Deus, Nosso Pai." 1 Ts 1,3

    Em belíssima fórmula, e síntese, de seu cunho, ele pede-nos: "Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração." Rm 12,12

    A Primeira Carta de São João diz da fé: "Eis o amor a Deus: que guardemos Seus Mandamentos. E Seus Mandamentos não são penosos, porque todo aquele que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que vence o mundo: nossa fé." 1 Jo 5,3-4

    O Apóstolo dos Gentios diz da esperança: "O Deus da esperança encha-vos de toda alegria e de toda Paz em vossa fé, para que pela virtude do Espírito Santo transbordeis de esperança!" Rm 15,13

    E Nosso Salvador mesmo, rezando ao Pai pelos Apóstolos no Evangelho Segundo São João, diz do amor: "Manifestei-lhes Teu Nome, e ainda hei de manifestar-Lho, para que o amor com que Me amaste esteja neles..." Jo 17,26

    Enfim, falando das MORAIS VIRTUDES, São Paulo recomenda: "Além disso, irmãos, tudo que é verdadeiro, tudo que é nobre, tudo que é justo, tudo que é puro, tudo que é amável, tudo que é de boa fama, tudo que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos." Fl 4,8

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Imitadores de Deus

    Enquanto grande aspirante da santidade, a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios disse: "Tornai-vos meus imitadores, como eu o sou de Cristo." 1 Cor 11,1

    Disse mais a Carta de São Paulo aos Efésios: "Sede, pois, imitadores de Deus, como muito amados filhos." Ef 5,1

    E a Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses explicou: "E vós fizeste-vos imitadores nossos e do Senhor, ao receberdes a Palavra, apesar das muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo, de sorte que vos tornastes modelo para todos fiéis de Macedônia e de Acaia." 1 Ts 1,6-7

    No Evangelho Segundo São Lucas, de fato, Jesus garantiu: "O discípulo não é superior ao Mestre. Mas todo perfeito discípulo será como Seu Mestre." Lc 6,40

    Por isso, no Evangelho Segundo São Mateus, pedia: "Tomai Meu jugo sobre vós e aprendei de Mim, porque Eu sou manso e humilde de Coração, e achareis repouso para vossas almas." Mt 11,29

    Deu luminosos exemplos, como no Evangelho Segundo São João: "Logo, se Eu, Vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós também deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz, assim também façais vós." Jo 13,14-15

    E estabeleceu Seu amor como parâmetro: "Dou-vos um Novo Mandamento: amai-vos uns aos outros. Como Eu vos tenho amado, assim vós deveis amar uns aos outros." Jo 13,34

    Ora, Ele apontava Qual era Sua fonte de inspiração: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: de Si mesmo o Filho não pode fazer coisa alguma. Ele só faz o que vê o Pai fazer. E tudo que o Pai faz, também faz o Filho." Jo 5,19b

    Já havia dito no Sermão da Montanha: "Eu, porém, digo-vos: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, rezai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de Vosso Pai do Céu, pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos." Mt 5,44-45

    A Primeira Carta de São Pedro, pois, faz-nos recordar nossa real natureza, invocando o Livro de Levítico: "À maneira de obedientes filhos, já não vos amoldeis aos desejos que tínheis antes, no tempo de vossa ignorância. À exemplo da santidade d'Aquele que vos chamou, também sede vós Santos em todas vossas ações, pois está escrito: 'Sede Santos, porque Eu sou Santo (Lv 11,44).'" 1 Pd 1,14-16

    Porque o Pai quer oferecer-nos Sua santidade, como os seguidores da tradição de São Paulo diziam na Carta aos Hebreus: "Aliás, temos na Terra nossos pais que nos corrigem e, no entanto, os olhamos com respeito. Com quanto mais razão havemos de submeter-nos ao Pai de nossas almas, o Qual nos dará a Vida? Os primeiros educaram-nos para pouco tempo, segundo sua própria conveniência, ao passo que Este o faz para nosso bem, para comunicar-nos Sua Santidade." Hb 12,9-10

    E como poderíamos viver a sem assumir a paternidade que temos? A Primeira Carta de São João anima-nos: "Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus." 1 Jo 3,1

    Ora, ser acolhido por Deus como filhos é nossa maior realização. A Carta de São Paulo aos Romanos diz: "Por isso, a criação ansiosamente aguarda a manifestação dos filhos de Deus. Pois a criação foi sujeita à vaidade... todavia com a esperança de ser ela também libertada do cativeiro da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus." Rm 8,19-20a.21

    Eis que o Amado Discípulo aponta a verdadeira e divina filiação, e assim a santidade, pela perfeita ação do Espirito Santo em nós: "Todo aquele que é nascido de Deus não peca, porque nele reside o Divino Germe..." 1 Jo 3,9a

    A Carta de São Paulo aos Filipenses, no mesmo sentido, exorta-nos a uma verdadeira integridade de corpo e alma: "... a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes, filhos de Deus, íntegros em meio a uma depravada e maliciosa sociedade..." Fl 2,15