domingo, 31 de agosto de 2025

A Sagrada Tradição

    Ainda que os Evangelhos não estivessem escritos, desde os primeiros anos da Igreja já se consolidava a Tradição que viria ser chamada de Sagrada. Ela representa exatamente o entendimento que Jesus e o Divino Espírito nos deixaram das Escrituras. E é o respeito a essa Tradição que a Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses exigiu: "Intimamo-vos, irmãos, em Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que eviteis a convivência de todo irmão que leve vida ociosa e contrária à Tradição que de nós tendes recebido." 2 Ts 3,6

    Na Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo, de fato, ele refere-se à Sagrada Tradição como o 'Depósito', e apela à Graça: "Timóteo, guarda o Depósito. Evita o irreverente palavreado e as objeções dessa falsa ciência, pois alguns a professaram e se desviaram da . A Graça esteja convosco." 1 Tm 6,20

    E a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo cita essa Tradição de ainda mais bela forma, 'Precioso Depósito', sem deixar de mencionar o Autor dessa virtude: "Toma por modelo os salutares ensinamentos que de mim recebeste sobre a fé e o amor a Jesus Cristo. Guarda o Precioso Depósito, pela virtude do Espírito Santo que em nós habita." 2 Tm 1,13

    Não por acaso, a Carta de São Paulo aos Colossenses rebate as meramente humanas tradições, que são errôneas interpretações das Escrituras: "Estai de sobreaviso, para que ninguém vos engane com filosofias e vãos sofismas baseados nas humanas tradições, nos rudimentos do mundo, em vez de apoiar-se em Cristo." Cl 2,8

    E usando de toda sua autoridade, diz o mesmo a São Timóteo, alertando-o quanto ao grupo que realmente transmitia a Sã Doutrina, ou seja, o Colégio dos Apóstolos: "Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste e creste. Sabes de quem aprendeste." 2 Tm 3,14

    Mas as distorções dos Sagrados Livros não eram nenhuma novidade. Citando palavras de Deus ditas no Livro do Profeta Isaías, Nosso Salvador já as denunciava a Seu tempo, como acusou fariseus e escribas no Evangelho Segundo São Marcos: "Jesus disse-lhes: 'Isaías com muita razão profetizou de vós, hipócritas, quando escreveu: "Este povo honra-Me com os lábios, mas seu coração está longe de Mim. Em vão, pois, prestam-Me culto, porque ensinam humanos doutrinas e preceitos (Is 29,13)." Deixando o Mandamento de Deus, apegai-vos à tradição dos homens.'" Mc 7,6-8

    A Sagrada Tradição, porém, foi transmitida desde os Apóstolos aos primeiros bispos, presbíteros e diáconos, e assim segue sendo até hoje, tal qual o Apóstolo dos Gentios instruiu São Timóteo: "O que de mim ouviste em presença de muitas testemunhas, confia-o a fiéis homens que, por sua vez, sejam capazes de instruir a outros." 2 Tm 2,2

    A Carta de São Paulo a São Tito diz o mesmo: "Eu deixei-te em Creta para acabares de organizar tudo e estabeleceres anciãos em cada cidade, de acordo com as normas que te prescrevi." Tt 1,5

    Ele assim se refere à preparação dos bispos: "Ao contrário, seja hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente, firmemente apegado à Doutrina da fé tal como foi ensinada, para poder exortar segundo a Sã Doutrina e rebater aqueles que a contradizem." Tt 1,8-9

    E como não escreveu Evangelho, valeu-se de suas cartas para transmitir a Revelação. Seguiu creditando, entretanto, exclusivamente ao Divino Paráclito essa distinta formação doutrinária que vem dos Apóstolos. Está na Carta de São Paulo aos Efésios: "Foi por revelação que me foi manifestado o mistério que acabo de esboçar. Lendo-me, podereis entender a compreensão que me foi concedida do Mistério de Cristo, que em outras gerações não foi manifestado aos homens da maneira como agora tem sido revelado pelo Espírito a Seus Santos Apóstolos e profetas." Ef 3,3-5

    Aliás, sempre foi assim desde o Antigo Testamento, como o Livro de Neemias diz sobre o comportamento dos judeus antes do exílio de Babilônia, em oração ao Senhor: "Vossa paciência para com eles durou muitos anos. Vós fazíeis-lhes admoestações pela inspiração de Vosso Espírito, que animava Vossos Profetas." Ne 9,30a

sábado, 30 de agosto de 2025

Igreja Viva

    Longe de literais ou pessoais interpretações das Sagradas Escrituras (cf Pd 2,20), o verdadeiro cristão tem que acolher o que tem sido revelado pelo Espírito Santo, pois Jesus prometeu à Santa Igreja Católica, e só à ela, nas pessoas dos Apóstolos, a especialíssima assistência do Divino Paráclito, que jamais a abandonaria, por um instante sequer. Está no Evangelho Segundo São João: "E Eu rogarei ao Pai e Ele dá-vos-á outro Consolador, para que convosco fique eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,16-17

    Assim, quem mentia a São Pedro, representante máximo da nascente comunidade cristã, mentia ao Espírito Santo, ou seja, ao próprio Deus, como se lê no Livro de Atos dos Apóstolos: "Pedro, porém, disse: 'Ananias, por que Satanás tomou conta de teu coração, para mentires ao Espírito Santo e enganares acerca do valor do campo? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus!'" At 5,3.4b

    E São Paulo fala Quem investe nossos Sacerdotes, como disse aos anciãos de Éfeso, implicitamente afirmando a Divindade de Jesus: "Cuidai de vós mesmos e de todo rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com Seu próprio Sangue." At 20,28

    A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios também deixou claro que a Palavra de Deus não pode ser corretamente interpretada sem a ajuda do Divino Paráclito, e que o Ministério Católico não é de mera letra escrita mas da inspiração do Santo Paráclito: "Não que sejamos capazes por nós mesmos de ter algum pensamento, como de nós mesmos. Nossa capacidade vem de Deus. Ele é que nos fez aptos para sermos Ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." 2 Cor 3,5-6

    A Santa Igreja vive, portanto, porque se alimenta do Pão da Vida Eterna, como Nosso Senhor prometeu: "Como o Pai, que Me enviou, vive, e Eu vivo pelo Pai, assim aquele que comer Minha Carne também viverá por Mim." Jo 6,57

    E a Primeira Carta de São João arremata, dizendo da missão dada aos Apóstolos: "E o testemunho é este: Deus deu-nos a Vida Eterna, e esta Vida está em Seu Filho. Quem possui o Filho possui a Vida, quem não tem o Filho de Deus não tem a Vida." 1 Jo 5,11-12

    No mesmo sentido, a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo diz que a Igreja Católica, instantemente inspirada pelo Espírito de Cristo (cf. Jo 16,13), é viva, é a guardiã da Verdade: "Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na Casa de Deus, que é a Igreja de Deus Vivo, coluna e sustentáculo da Verdade." 1 Tm 3,15

    Ora, a Igreja nasceu exatamente com a Vinda do Espírito de Deus, e católica, quer dizer, universal, falando ao mundo inteiro: "Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um impetuoso vento, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem." At 2,1-4

    Pois ser movido pelo Espírito de Deus é a condição de ser de todo cristão. Foi Jesus que o afirmou, invocando o Livro do Profeta Zacarias e o Livro do Profeta Isaías, e o Amado Discípulo tratou de explicar: "Quem crê em Mim, como a Escritura diz: 'De seu interior manarão rios de Água Viva (Zc 14,8; Is 58,11).' Dizia isso, referindo-Se ao Espírito que haviam de receber aqueles que n'Ele cressem, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que Jesus ainda não tinha sido glorificado." Jo 7,38-39

    Por isso, para salvar almas e para formar o Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, desde sua primeira pregação, no dia de Pentecostes, o Príncipe dos Apóstolos já convocava o povo à Confissão a ao Batismo, e prometia-lhes: "Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo." At 2,38

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Martírio de São João Batista

    A exemplo da Crucificação de Jesus, o cruel destino que teve São João Batista ficou para sempre gravado na memória da humanidade: a história do Profeta do Altíssimo, mártir defensor do Sacramento do Matrimônio. É leitura do Evangelho Segundo São Marcos: "Pois o próprio Herodes mandara prender João e acorrentá-lo no cárcere, por causa de Herodíades, mulher de seu irmão Filipe, com a qual ele se tinha casado. João tinha dito a Herodes: 'Não te é permitido ter a mulher de teu irmão.'" Mc 6,17-18

    Nosso Santo, pois, ousou levantar a voz para denunciar o adultério do rei, e ironicamente acabou assassinado não por sua vontade, pois ele o temia, mas por astúcia de sua côrte, lugar não raramente constituído, frequentado e assediado por pessoas da pior espécie. A 'nobreza', por vezes, representa o que um povo tem de pior: "Por isso, Herodíades odiava-o e queria matá-lo, não o conseguindo, porém. Porque Herodes respeitava João, sabendo que era um justo e santo homem. Protegia-o e, quando o ouvia, sentia-se embaraçado. Mas, mesmo assim, de boa mente ouvia-o. Chegou, no entanto, um favorável dia em que Herodes, por ocasião de seu natalício, deu um banquete aos grandes de sua corte, a seus oficiais e aos principais de Galileia. A filha de Herodíades apresentou-se e pôs-se a dançar, com grande satisfação de Herodes e de seus convivas. Disse o rei à moça: 'Pede-me o que quiseres, e eu dá-te-ei.' E jurou-lhe: 'Tudo que me pedires, dá-te-ei, ainda que seja a metade de meu reino.' Ela saiu e perguntou a sua mãe: 'Que hei de pedir?' E a mãe respondeu: 'A cabeça de João Batista.' Apressadamente tornando a entrar à presença do rei, exprimiu-lhe seu desejo: 'Quero que me dês, sem demora, a cabeça de João Batista.' O rei entristeceu-se. Todavia, por causa de sua promessa e dos convivas, não quis recusar. Sem tardar, enviou um carrasco com a ordem de trazer a cabeça de João. Ele foi, decapitou João no cárcere, trouxe sua cabeça num prato e deu-a à moça, e esta entregou-a a sua mãe.'" Mc 6,19-28

    E São Marcos assim encerra seu relato: "Ouvindo isto, seus discípulos foram tomar seu corpo e depositaram-no num sepulcro." Mc 6,29

    O Evangelho Segundo São Mateus complementa: "Depois foram dar a notícia a Jesus." Mt 14,12

    Mas São João Batista não se arrependeu de ter condenado nem a devassidão do rei nem a corrupção dos costumes, que tanto imperava na côrte e como na sociedade judaica, inclusive entre religiosos. Sua pregação era clara e contundente: "Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham a seu batismo, disse-lhes: 'Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da vindoura cólera? Dai, pois, frutos de verdadeira penitência. Não digais dentro de vós: 'Nós temos a Abraão por pai!' Pois eu vos digo: Deus é poderoso para destas pedras suscitar filhos a Abraão.'" Mt 3,7-9

    Tudo isso era demais, inaceitável para São João Batista. Cioso de maiores responsabilidades, após anunciar o Cristo não lhe restava outra coisa senão continuar vivendo o que pregava: negar a si mesmo. Ele afirmou-o quando vieram dizer-lhe que os discípulos de Jesus estavam batizando (cf. Jo 4,2) e que muita gente ia a Ele, como está no Evangelho Segundo São João: "Importa que Ele cresça e que eu diminua." Jo 3,30

    Vemos, então, que o Batista não poderia simplesmente passar por esse mundo, como muitos de nós pretendemos. E seu destino, que não nos enganemos, não foi a desgraça de uma horrível morte, mas a Eterna Glória. Sim, Glória, como foi a de Cristo, que disse ao aproximar-se o momento de Seu Martírio: "Respondeu-lhes Jesus: 'É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado. Presentemente, Minha alma está perturbada. Mas que direi? Pai, salva-Me desta hora? Mas é exatamente para esta hora que Eu vim.'" Jo 12,23.27

    Não importava ao Batista, portanto, a violência ou a humilhação desse batismo, mas seu compromisso com a Verdade, com Deus. E tenhamos presente que ele não tinha ciência de que também estava precedendo o Messias em Sua Paixão. Ou seja, candidatou-se antes d'Ele, não viu Seu exemplo para só depois acreditar e segui-Lo, como foi o caso dos Apóstolos e deve ser o de todos nós, como a Primeira Carta de São João bem prescreveu: "Nisto temos conhecido o amor: (Jesus) deu Sua Vida por nós. Nós também devemos dar nossa vida por nossos irmãos." 1 Jo 3,16

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

A interpretação das Escrituras dada por Deus

 

    Muitos aventuram-se a 'interpretar' a Bíblia. Mas cabe perguntar: isso é minimamente sensato? Sabendo que as Sagradas Escrituras são registros do processo de Revelação que remonta 3 milênios, e levaram ao menos 13 séculos para serem escritas, poderíamos desprezar tudo que foi revelado simultaneamente aos fatos, somado ao que, por ação do Espírito Santo, já foi inspirado, meditado e assimilado desde então? É razoável que uma simples pessoa, ou mesmo um grupo delas, se dê a tamanha revisão histórica e doutrinária? Há alguma humildade ou prudência nisso? Os seguidores da tradição de São Paulo já provocavam Carta aos Hebreus, para despertar incautos: "... cercados como estamos de uma tal nuvem de testemunhas..." Hb 12,1a

    E a Primeira Carta de São João diz da postura da Santa Igreja Católica desde seu nascimento, no dia de Pentecostes: "Aceitamos o testemunho dos homens." 1 Jo 5,9a

    Pois foi o que Jesus garantiu, no Evangelho Segundo São João, referindo-Se à comunidade cristã que Ele mesmo havia reunido e que os Apóstolos manteriam: "Se guardaram Minha Palavra, também hão de guardar a vossa." Jo 15,20b

    No Evangelho Segundo São Lucas, Ele até advertiu: "Quem vos ouve, a Mim ouve. Quem vos rejeita, a Mim rejeita. E quem Me rejeita, rejeita Aquele que me enviou." Lc 10,16

    Ora, Nosso Salvador dava aos Sagrados Livros uma única e linear interpretação, sempre no sentido Cristocêntrico (cf. Jo 5,39), como fez perante os dois discípulos que partiram para Emaús no Domingo da Ressurreição: "E começando por Moisés, percorrendo todos Profetas, explicava-lhes o que d'Ele se achava dito em todas Escrituras." Lc 24,27

    Também o fez quando apareceu ao Colégio dos Apóstolos pela primeira vez, neste mesmo dia: "Isto é o que Eu vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo que de Mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos." Lc 24,44

    E foi assim que a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo se estabeleceu, porque aos Apóstolos foi confiada a Palavra da Salvação, ainda que não tivesse sido escrita. O Amado Médico diz dos fiéis desde os primeiríssimos dias, no Livro de Atos dos Apóstolos, mencionando os quatro constitutivos da Santa Missa: "Perseveravam eles na Doutrina dos Apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações." At 2,42

    A Segunda Carta de São Pedro, pois, falando sobre São Paulo e suas cartas, denunciou as heresias que a seu tempo já se inventava: "É o que ele faz em todas suas cartas, nas quais fala sobre estes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os ignorantes ou pouco fortalecidos espíritos deturpam para sua própria ruína, como também fazem com as demais Escrituras." 2 Pd 3,16

    Mais que outros atos de fé, de fato, Nosso Senhor mesmo exigia fidelidade à divina inspiração. É do Evangelho Segundo São Mateus: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, contudo sem deixar o restante." Mt 23,23

    Pois só há uma forma de entender o que diz a Bíblia: sob a guia do Espírito de Deus, tomando Cristo como essência da Revelação e meditando a inspiração por Ele concedida a São Pedro, da qual a Sagrada Tradição, as Escrituras e o Magistério da Igreja se compõem. Com efeito, só ao Príncipe dos Apóstolos Jesus fez essa promessa: "Eu dá-te-ei as chaves do Reino dos Céus..." Mt 16,19

    Porque Nosso Senhor sempre usou do auxílio do Divino Paráclito para transmitir Suas revelações aos Apóstolos, como São Lucas afirmou: "... contei toda sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus, depois de ter dado pelo Espírito Santo Suas instruções aos Apóstolos que escolhera, desde o princípio até o dia em que foi arrebatado." At 1,1-2

    Por isso, sem deixar de recordar os auxílios do Divino Paráclito, a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo faz essa referência às divinas revelações transmitidas pelos Apóstolos aos bispos da Igreja, que desde então as detêm e retransmitem: "Toma por modelo os salutares ensinamentos que de mim recebeste sobre a fé e o amor a Jesus Cristo. Guarda o Precioso Depósito, pela virtude do Espírito Santo que habita em nós." 2 Tm 1,14

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Espírito de Comunhão

    Se a Comunhão com Deus e com nossos irmão é possível, isto dá-se por Aquele que promove a Unidade da Igreja através da Santa Eucaristia. A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios reza: "A Graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a Comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!" 2 Cor 13,13

    Devemos ajudar uns aos outros, portanto, unidos pelo Espírito em oração, como a Carta de São Judas traz: "Mas vós, caríssimos, mutuamente edificai-vos sobre o fundamento de vossa santíssima . Orai no Espírito Santo." Jd 20

    De fato, conforme a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17

    Pois a Unção do Espírito de Deus nos conduz a Verdade, como a Primeira Carta de São João afirma: "Vós, porém, tendes a Unção do Santo e sabeis todas coisas. ... a Unção que d'Ele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine. Mas como Sua Unção vos ensina todas coisas, assim é ela verdadeira e não mentira. Permanecei n'Ele, como ela vos ensinou." 1 Jo 2,20.27

    Os dons do Santo Paráclito, de fato, têm por inarredável fim conduzir-nos à Unidade da fé, pois para isso somos inspirados por um só Espírito, como o Apóstolo dos Gentios prega: "Há diversidade de dons, mas um só Espírito. Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só Corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres. E todos fomos impregnados do mesmo Espírito." 1 Cor 12,4.13

    Porque a Missão da Santa Igreja Católica é a adoção, pelo Santo Paráclito (cf. Rm 8,15), e elevação dos filhos de Deus, como os seguidores da tradição de São Paulo atestaram na Carta aos Hebreus: "Porque aqueles que uma vez foram iluminados, saborearam o dom celestial, participaram dos dons do Espírito Santo..." Hb 6,4

    E a Carta de São Paulo aos Romanos afirma o diferencial que se estabeleceu pelo Pentecostes, dia no nascimento da Igreja Católica, contrastando o Antigo e o Novo Testamento: "A Lei do Espírito de Vida libertou-me, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte. ... pois todos aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." Rm 8,2.14

    Porque testemunhar Jesus é uma questão de obediência, a Deus e à Verdade. Apontando Jesus como o Salvador, São Pedro afirmou perante o Sinédrio, no Livro de Atos dos Apóstolos: "Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,32

    E a Santa Igreja vive porque se alimenta do Pão da Vida Eterna, pois, no Evangelho Segundo São João, Jesus advertia: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos." Jo 6,53b

    É o que a Carta de São Paulo aos Gálatas conclui: "Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim." Gl 2,20a

    Ele garante: "Se o Espírito d'Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a Vida a vossos corpos mortais por Seu Espírito, que em vós habita. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer. Mas se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis..." Rm 8,11.13

    Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, portanto, guarda a Sã Doutrina por Sua virtude, que age em Seu Sacerdotes e fiéis. Referindo-se à Revelação, a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo recomenda : "Guarda o Precioso Depósito, pela virtude do Espírito Santo que em nós habita." 2 Tm 1,14

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Revestir-se de Cristo

    Invocando o Criador a Criação (cf. Gn 1,26), a Carta de São Paulo aos Efésios prega: "... revesti-vos do novo homem, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade." Ef 4,24

    De fato, tomando Deus mesmo como modelo, a Carta de São Paulo aos Colossenses diz que assim devemos restaurar-nos: "Vós despiste-vos do velho homem, com seus vícios, e revestiste-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento." Cl 3,9-10

    E essa Graça, que precisa ser efetivamente vivenciada, é adquirida desde o Batismo. Lê-se na Carta de São Paulo aos Gálatas: "Todos vós que fostes batizados em Cristo, revestiste-vos de Cristo." Gl 3,27

    Guardá-la, pois, deve ser nosso combate nesse errante mundo, como a Carta de São Paulo aos Romanos exorta-nos: "... revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não façais caso da carne nem lhe satisfaçais aos apetites." Rm 13,14

    De fato, as promessas de Vida Eterna são representadas por outras vestes, mais que especiais, iguais às do próprio Jesus, como Ele mesmo revelou no Livro do Apocalipse de São João, dizendo ao anjo de uma dioceses: "Todavia, tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes. Comigo andarão vestidas de branco, porque o merecem. O vencedor será assim revestido de brancas vestes. Jamais apagarei seu nome do Livro da Vida, e proclamá-lo-ei diante de Meu Pai e de Seus anjos." Ap 3,4-5

    Ora, essa é a atual aparência de Nossa Mãe Celeste, desde sua chegada aos Céus: "Em seguida, apareceu um grande sinal no Céu: uma Mulher revestida do sol, tendo a lua debaixo de seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Ela deu à luz um Filho, um Menino, Aquele que deve reger todas pagãs nações com cetro de ferro. Mas Seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e de Seu trono." Ap 12,1.5

    Pois conforme o Apóstolo dos Gentios, aqueles que verdadeiramente amam a Cristo devem trazer em si Sua imagem e Sua Glória, pois Deus "... os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre uma multidão de irmãos. E aqueles que predestinou, também os chamou; e aqueles que chamou, também os justificou; e aqueles que justificou, também os glorificou." Rm 8,29-30

    Com efeito, este é um indizível dom que Jesus deu aos Apóstolos, e assim à Santa Igreja Católica, que é a própria prova do Advento do Messias e do amor de Deus. Isso foi-nos revelado quando Ele rezou ao Pai a Oração da Unidade, no Evangelho Segundo São João: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim. Para que sejam perfeitos na Unidade, e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,22-23

    E tal deve ser nossa postura em todas circunstâncias, conforme a Carta de São Paulo aos Filipenses: "Fazei todas coisas sem murmurações nem críticas, a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes, íntegros filhos de Deus em meio a uma depravada e maliciosa sociedade, onde brilhais como luzeiros no mundo, a ostentar a Palavra da Vida." Fl 2,14-16a

    Porque essas 'vestes espirituais' deixam claros sinais em nossa alma, que fortemente transparecem em nosso jeito de agir, ainda segundo ele: "Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada Misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência." Cl 3,12

    Ora, Jesus exortou-nos, no Sermão da Montanha, atribuindo a nós uma propriedade que sabemos ser Sua. É do Evangelho Segundo São Mateus: "Vós sois a Luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha, nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do caixote, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem Vosso Pai que está nos Céus." Mt 5,14-16

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

A Força do Alto

    É o poder que se faz representar pela autoridade que Jesus deu à Santa Igreja Católica, desde sua fundação no dia de Pentecostes, quando derramou o Espírito Santo sobre os Apóstolos. No Evangelho Segundo São Lucas, pedindo que eles permanecessem em Jerusalém, pouco dias antes Ele assegurou: "Eu mandá-vos-ei o Prometido de Meu Pai. Entretanto, permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do alto." Lc 24,49

    Literalmente disse que essa é a força que constitui Suas testemunhas por toda Terra, pois Sua Igreja é efetivamente católica, quer dizer, universal. Está no Livro de Atos dos Apóstolos: "... mas descerá sobre vós o Espírito Santo e dá-vos-á força, e sereis Minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judeia e Samaria e até os confins do mundo." At 1,8

    As autênticas testemunhas de Cristo, de fato, atestam o poder do Santo Paráclito, como a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios registrou: "Minha palavra e minha pregação longe estavam da persuasiva eloquência da Sabedoria. Antes, eram uma demonstração do Espírito e do poder divino..." 1 Cor 2,4

    Invocando a própria queda das muralhas de Jericó (cf. Js 6,20), a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios diz mais: "Não são carnais as armas com as quais lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações. Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo." 2 Cor 10,4-5

    Tomando como exemplo as armas de um guerreiro, a Carta de São Paulo aos Efésios faz uma pertinente comparação com nossas 'armas espirituais': "Tomai, portanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos maus dias e manter-vos inabaláveis no cumprimento de vosso dever. Ficai alerta, à cintura cingidos com a Verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da Paz. Sobretudo, embraçai o escudo da , com que possais apagar todos inflamados dardos do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da Salvação e a espada do Espírito, isto é, a Palavra de Deus." Ef 6,13-17

    Porque o poder de Cristo estava até em Suas vestes. Ao tocá-las, a mulher que tinha hemorragia havia doze anos foi instantaneamente curada, como está no Evangelho Segundo São Marcos: "Jesus imediatamente percebeu que d'Ele saíra uma força e, voltando-Se para o povo, perguntou: 'Quem tocou Minhas vestes?'" Mc 5,30

    E ela não foi a única: "Onde quer que Ele entrasse, fosse nas aldeias ou nos povoados, ou nas cidades, punham os enfermos nas ruas e pediam-Lhe que os deixassem tocar ao menos na orla de Suas vestes. E todos aqueles que tocavam em Jesus ficavam sãos." Mc 6,56

    E a Santa Igreja é feita de novas criaturas, que vivem uma condição além da carne como o próprio Cristo viveu. O Apóstolo dos Gentios atestou: "De fato, Cristo morreu por todos para que os vivos não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou. Assim, doravante, não conhecemos ninguém conforme a natureza humana. E se uma vez conhecemos Cristo segundo a carne, agora já não O conhecemos assim. Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criatura. O velho mundo desapareceu. Tudo agora é novo." 2 Cor 5,15-17

    Ora, fulgurantes eram as vestes do anjo que apareceu a Santa Maria Madalena diante do Santo Sepulcro, no Domingo da Ressurreição. O Evangelho Segundo São Mateus apontou: "E eis que houve um violento tremor de terra. Um anjo do Senhor desceu do Céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela. Resplandecia como relâmpago, e suas vestes eram brancas como a neve." Mt 28,2-3

    Entretanto, essa é a promessa que Jesus faz a todos que guardam Seus Mandamentos, falando de Si em terceira Pessoa: "Então, no Reino de Seu Pai, os justos resplandecerão como o sol." Mt 13,43

    Pois a Glória que Jesus deu aos Apóstolos (cf. Jo 17,22) semelhantemente estará estampada em Seus fiéis, conforme a Carta de São Paulo aos Colossenses: "Quando Cristo, vossa Vida, aparecer em Seu triunfo, então vós também aparecereis com Ele, revestidos de Glória." Cl 3,4

domingo, 24 de agosto de 2025

São Bartolomeu Apóstolo

    Foi um dos primeiros Apóstolos, só precedido por Santo André, São João, São Pedro e São Filipe, nessa ordem. E foi o Evangelho Segundo São João que narrou o encontro de São Bartolomeu, a quem chamava de Natanael, com Jesus, dois dias depois de Batismo do Senhor por São João Batista, nas águas do Jordão: "No dia seguinte, tinha Jesus a intenção de dirigir-Se a Galileia. Encontra Filipe e diz-lhe: 'Segue-Me.' Filipe era natural de Betsaida, cidade de André e Pedro. Filipe encontra Natanael e diz-lhe: 'Achamos Aquele de Quem Moisés escreveu na Lei e que os Profetas anunciaram: é Jesus de Nazaré, filho de José.' Respondeu-lhe Natanael: 'Pode, porventura, vir boa coisa de Nazaré?' Filipe retrucou: 'Vem e vê.' Jesus vê Natanael, que Lhe vem ao encontro, e diz: 'Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade.' Natanael pergunta-Lhe: 'De onde me conheces?' Respondeu Jesus: 'Antes que Filipe te chamasse, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira.' Falou-Lhe Natanael: 'Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel.' Jesus replicou-lhe: 'Crês só porque te disse: 'Eu vi-te debaixo da figueira'? Verás coisas maiores que esta.' E ajuntou: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem." Jo 1,45-51

    Natanael (cf. Nm 2,5) é o nome hebraico equivalente a Bartolomeu, do grego, que é o usado nos Evangelhos sinóticos quando mencionam a relação dos Apóstolos. Muito provavelmente é a contração da expressão Bar Ptolomeu, ou seja, filho de Ptolomeu, usada em lugar do nome próprio pelos judeus. E Ptolomeu era nome comum entre os gregos, assim como André e Filipe, que também eram usados por judeus em Galileia, pois viviam sob forte influência helênica. E obedecendo a ordem de encontros registrada pelo Amado Discípulo, ele sempre está entre os primeiros, e também sempre logo após São Filipe (cf. Mc 3,18 e Lc 6,14). Ou seja, é invariavelmente o segundo, do segundo dos três grupos de quatro Apóstolos. O Evangelho Segundo São Mateus apontou: "Jesus reuniu Seus Doze discípulos. Conferiu-lhes o poder de expulsar os imundos espíritos e de curar todo mal e toda enfermidade. Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 10,1-4

    Como visto acima, após uma demonstração da clarividência de Nosso Senhor, São João Apóstolo apresenta-o como o primeiro a declará-Lo como o Filho de Deus, precedendo o próprio São Pedro (cf. Mt 16,16), mas é provável, tanto quanto a afirmação de São Filipe, já chamando Jesus de Messias ao convidar São Bartolomeu, que ele o tenha dito por espanto, sem uma perfeita consciência, uma forte convicção do que falava. E nessa mesma passagem, vemos que São Bartolomeu, como a maioria dos judeus à época, alimentava um declarado preconceito contra Galileia e qualquer de suas cidades, como Nazaré. Mesmo sendo ele mesmo galileu (cf. Jo 21,2)! Era, de fato, muito pobre lugar, depois de Samaria para quem parte de Jerusalém, também habitado por sírios e gregos, e de maioria pagã. O preconceito de São Bartolomeu, porém, não o impediu de chamar Jesus de Salvador, ainda que ele o tenha feito de um ímpeto.

    São João Evangelista também teve o cuidado de identificar o local de nascimento deste Santo, o que explica seu conhecimento, e preconceito, para com Nazaré. É na cena da segunda pesca miraculosa, que aconteceu depois da Ressurreição de Jesus: "Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná de Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois de Seus discípulos." Jo 21,2

    Tal registro reflete a distinção com que São Bartolomeu era tratado, e como São João o conhecia e estimava. Foi feito por ocasião da solene investidura do Pontificado de São Pedro, quando Jesus confiou ao Príncipe dos Apóstolos, de cordeiros a ovelhas, ou seja, de Sacerdotes a fiéis, todo Seu rebanho. Portanto, junto aos bem letrados filhos do sacerdote Zebedeu, sempre íntimos de Jesus (cf. Mt 5,37;17,1 e Mc 14,33), e ao inteligente e especulativo São Tomé, São Bartolomeu foi privilegiada testemunha, digna da importância deste fato: "Disse-lhes Simão Pedro: 'Vou pescar.' Responderam-lhe eles: 'Nós também vamos contigo.' Partiram e entraram na barca. Chegada a manhã, Jesus estava na praia. Esta já era a terceira vez que Jesus Se manifestava a Seus discípulos, depois de ter ressuscitado. Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: 'Simão, filho de João, amas-Me mais que a estes?' Respondeu ele: 'Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo.' Disse-lhe Jesus: 'Apascenta Meus cordeiros. Apascenta Minhas ovelhas." Jo 20,3a.4a.14-15.17b

    Leitor e observador das Sagradas Escrituras, São Bartolomeu era contemplativo, e seguia São João Batista antes do início da vida pública de Nosso Senhor, como mostra a passagem do Evangelho que vimos: estava em retiro espiritual na área de atuação do Batista, sentado debaixo de uma figueira às margens do Jordão. E já havia conquistado a companhia e o coração de São Filipe, que também era estudioso e contemplativo, além de exigente e pragmático judeu (cf. Jo 6,5). Por fim, o melhor testemunho sobre nosso Santo é do próprio Jesus, citado acima, que nele viu um "... verdadeiro israelita, no qual não há falsidade." Jo 1,47

sábado, 23 de agosto de 2025

Nascidos do Espírito Santo

    O Espírito Santo é o Guia da Santa Igreja Católica para a eternidade, como Jesus declarou  na última noite entre os Apóstolos. Está no Evangelho Segundo São João: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,16-17

    A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios diz que Ele é nossa garantia para entrarmos no Reino dos Céus: "Aquele que nos formou para este destino é Deus mesmo, que por penhor nos deu Seu Espírito." 2 Cor 5,5

    Ele é nosso selo, concedido pela pregação de Cristo, segundo a Carta de São Paulo aos Efésios: "N'Ele (Jesus) vós, depois de terdes ouvido a Palavra da Verdade, o Evangelho de vossa Salvação no qual tendes crido, também fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido, que é o penhor da nossa herança..." Ef 1,13-14a

    No Livro de Atos dos Apóstolos, São Pedro explicou diante do Sinédrio como O recebemos: "... o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,32

    Porque sendo Deus, o Espírito Santo, pelo Qual devemos renascer no ventre da Mãe Celeste (cf. Ap 12,17), nos revela e nos convida a Sua total autonomia. Não por acaso, Jesus, em conversa com o fariseu Nicodemos, que O seguiria (cf. Jo 7,50), comparou os filhos de Deus ao vento: "O vento sopra onde quer. Ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito." Jo 3,8

    E a Carta de São Paulo aos Romanos apropriadamente fala em Espírito de Adoção: "Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para ainda viverdes no temor, mas recebestes o Espírito de Adoção pelo qual clamamos: 'Aba! Pai!' O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus." Rm 8,15-16

    Pois ainda segundo nosso Apóstolo, Ele é a única maneira de alcançarmos a Glória, a divina Adoção: "... pois todos aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." Rm 8,14

    Assim, ele segue, é o projeto do Pai realizado através de Nosso Salvador, o Filho de Deus e Nosso Modelo (cf. Rm 8,29): "Em Seu amor, predestinou-nos para sermos adotados como Seus filhos por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de Sua livre vontade..." Ef 1,5

    Falando sobre a moção interior do Santo Paráclito, a Primeira Carta de São João assim explica a condição dos Santos, pois o Espírito Santo também é Deus: "Todo aquele que é nascido de Deus não peca, porque o Divino Germe nele reside... aquele que é gerado de Deus acautela-se, e o Maligno não o toca." 1 Jo 3,9a;5,18b

    Recomenda e explica: "Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus." 1 Jo 4,7

    Diz daqueles que seguem a Sã Doutrina, ou seja, daqueles que obedecem à Igreja Católica: "Se sabeis que Ele (Deus) é justo, também sabei que todo aquele que pratica a justiça é nascido d'Ele." 1 Jo 2,29

    E garante: "... porque todo aquele que nasceu de Deus, vence o mundo." 1 Jo 5,4a

    Olhando o futuro, ele anuncia a indizível Graça do pleno retorno à gloriosa filiação e à semelhança de Deus: "Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto O veremos como Ele é." 1 Jo 3,2

    Essa é a santidade semeada em nós por Cristo através dos Sacramentos, desde o Batismo, conforme a Carta de São Paulo aos Colossenses: "Vós despiste-vos do velho homem com seus vícios e revestiste-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento." Cl 3,10

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Nossa Senhora Rainha

 

    A coroação de Nossa Senhora não é dúvida para ninguém, pois o Livro de Apocalipse de São João, Apóstolo que foi incumbido por Jesus da guarda de Sua Mãe e Nossa Mãe (cf. Jo 19,27), registrou uma visão na qual ela se apresentou coroada: "Em seguida, apareceu no Céu um grande sinal: uma Mulher revestida do sol, tendo a lua debaixo de seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. " Ap 12,1

    Ora, é claro que esta Mulher é Maria porque se lê versículos adiante: "Ela deu à luz um Filho, um Menino, Aquele que deve reger todas pagãs nações com cetro de ferro. Mas Seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e de Seu trono." Ap 12,5

    E nós proclamamos a Santíssima Virgem como Rainha para mais exaltar o Reino de Seu Filho, do qual ela é a primeiríssima integrante. Sem dúvida, foi primeiramente a Nossa Senhora que o Arcanjo São Gabriel anunciou o início do eterno reinado de Cristo, cujo sinal neste mundo é a Santa Igreja Católica (cf. Jo 17,22-23). O Evangelho Segundo São Lucas anotou suas palavras: "Eis que conceberás e darás à luz um Filho, e Lhe porás o Nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus dá-Lhe-á o trono de Seu pai Davi. Ele reinará eternamente na Casa de Jacó, e Seu Reino não terá fim." Lc 1,31-33

    Com efeito, o reinado de Nossa Mãe Celeste já havia sido profetizado no Livro de Salmos, quando os sagrados autores disseram que seus prediletos filhos, os Santos e os Sacerdotes, reinariam sobre a Terra e seu Santíssimo Nome seria eternamente celebrado por todos povos: "Vosso trono, ó Deus, é eterno, de equidade é Vosso cetro real. ... posta-se a Vossa direita a Rainha, ornada de ouro de Ofir. Ouve, filha, vê e presta atenção: esquece teu povo e a casa de teu pai. De tua beleza encantar-Se-á o Rei. Ele é Teu Senhor, rende-Lhe homenagens. Tomarão teus filhos o lugar de teus pais, tu estabelecê-lo-ás príncipes sobre toda Terra. Celebrarei teu nome através das gerações. E os povos eternamente louvar-te-ão." Sl 44,7.10b-12.17-18

    Nos demais textos bíblicos, temos a pré-figura de Maria Mãe Rainha na pessoa da rainha Betsabé, que era a mãe do rei Salomão, a quem ele tratou com especial deferência, fazendo-a sentar a sua direita como era do hábito dos reis de Israel, dado que tinham muitas esposas. É leitura do Primeiro Livro de Reis: "Betsabé foi, pois, ter com o rei... O rei levantou-se para ir-lhe ao encontro, fez-lhe uma profunda reverência e sentou-se no trono. Mandou colocar um trono para sua mãe, e ela sentou-se a sua direita..." 1 Rs 2,19

    A mãe do rei Jeconias, seguindo essa tradição, igualmente era tratada com tal deferência, como se lê no Livro do Profeta Jeremias: "Eis o teor da carta que o Profeta Jeremias endereçou de Jerusalém aos demais anciãos cativos, aos sacerdotes e Profetas, e a todo povo deportado por Nabucodonosor para Babilônia, depois que o rei Jeconias, a rainha-mãe, os eunucos, os chefes de Judá e Jerusalém e os carpinteiros e serralheiros deixaram Jerusalém." Jr 29,1-2

    O Livro de Cânticos dos Cânticos também fala da especialíssima Rainha, e Rainha dos anjos, aí chamados de Exército, como o próprio Deus é chamado de Senhor dos Exércitos (ex. 1 Sm 1,11). De fato, nesses divinos reflexos de poder e Glória é impossível não ver Maria, a predileta de Deus, conforme Palavra d'Ele, e a bem-aventurada por profecia dela mesma (cf. Lc 1,48): "Há sessenta rainhas, oitenta concubinas, e inumeráveis jovens mulheres. Uma, porém, é Minha pomba, uma só Minha perfeita. Ela é a única de sua mãe, a predileta daquela que a deu à luz. Ao vê-la, as donzelas proclamam-na bem-aventurada, rainhas e concubinas louvam-na. Quem é esta que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um Exército em ordem de batalha?" Ct 6,8-10

    Pois o Livro de Apocalipse igualmente fala de tronos e do poder de julgar que são dados aos Santos, cujas almas já estão no Céu, assim como do reinado deles, sempre pela espiritual Comunhão promovida pelo Filho de Deus. Assim, como a Santíssima Mãe não reinaria e não teria um trono? "Também vi tronos, sobre os quais se sentaram aqueles que receberam o poder de julgar: eram as almas daqueles que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus... Feliz e Santo é aquele que toma parte na Primeira Ressurreição! Sobre eles a segunda morte não tem poder, mas serão Sacerdotes de Deus e de Cristo. Com Ele reinarão durante os mil anos." Ap 20,4.6

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Filhos para Obedecer

    Para que vivamos uma boa relação com Deus, basta que sejamos obedientes e confiemos, porque tudo está muito além de nossas capacidades para que tentemos compreender cada detalhe ou a integridade do Divino Projeto. Ou seja, fora o que nos foi dado conhecer pela Revelação, devemos tão somente crer, como a Carta de São Paulo aos Efésios reza ao Pai: "Àquele que, pela virtude que em nós opera, pode fazer infinitamente mais que tudo quanto pedimos ou entendemos..." Ef 3,20

    E nosso conhecimento, sem a Luz de Deus, é pura cisma, precisamente o pecado cometido por Eva, e em seguida por Adão. Ora, o pleno conhecimento, sem que seja necessário ouvir a Deus, foi a oferta que a Serpente lhe fez no proibido fruto da ciência do bem e do mal. É do Livro de Gênesis: "Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos abrir-se-ão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal." Gn 3,5

    Na verdade, nós devemos sim desejar 'ser deuses', ou seja, a perfeição, mas aquela oferecida por Deus, que é conforme a Revelação, como a São Pedro foi dado reconhecer Cristo no Nazareno. O Evangelho Segundo São Mateus apontou: "Então lhe disse Jesus: 'Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas Meu Pai que está nos Céus.'" Mt 16,17

    Para tanto Jesus edificou a Santa Igreja Católica, que nos comunica Sua divina maturidade. O Apóstolo dos Gentios ensina: "A uns Ele constituiu Apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo." Ef 4,11-13

    E nela devemos aguardar o cumprimento dos planos do Pai, como a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios revelou: "Pois nosso conhecimento é limitado. Limitada também é nossa profecia. Mas, quando vier a perfeição, desaparecerá o que é limitado." 1 Cor 13,9-10

    Por essa razão, ainda segundo ele, foi dada à Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo a Unção do Divino Paráclito, uma garantia da Vida Eterna: "... fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido, que é o penhor de nossa herança, enquanto esperamos a completa Redenção daqueles que Deus adquiriu para o louvor de Sua Glória." Ef 1,13b-14

    Pois Cristo, que nos reúne em Seu amor, para sempre deve ser nossa reflexão e contemplação, além de exclusiva fonte de Sabedoria. A Carta de São Paulo aos Colossenses confidencia, dizendo daqueles que ainda não conhecia: "Tudo sofro para que seus corações sejam reconfortados e que, estreitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos de uma plenitude de inteligência, para conhecerem o mistério de Deus, isto é, Cristo, no Qual estão escondidos todos tesouros de Sabedoria e de ciência." Cl 2,2-3

    Porque, obedecendo aos Mandamentos, temos o precioso auxílio do Divino Paráclito, como o Príncipe dos Apóstolos afirmou perante o Sinédrio, afirmando a Ressurreição e da Ascensão do Senhor, bem como a Salvação que Ele concede aos arrependidos pela Confissão dos pecados. Está no Livro de Atos dos Apóstolos: "Destes fatos nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,32

    Não por acaso, a Primeira Carta de São Pedro assim se dirige aos fiéis: "... eleitos segundo a presciência de Deus Pai e santificados pelo Espírito, para obedecer a Jesus Cristo e receber sua parte da aspersão de Seu Sangue." 1 Pd 1,2a

    E a Carta de São Paulo aos Romanos rende graças a Deus, reafirmando a missão da Igreja Católica: "Àquele que é poderoso para confirmar-vos, segundo meu Evangelho, na pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério em segredo guardado durante séculos, mas agora manifestado por ordem do Eterno Deus e, por meio das Proféticas Escrituras, dado a conhecer a todas nações, a fim de levá-las à obediência da ..." Rm 16,25-26